PARE, LEIA E PENSE!
O movimento chamado de dispensacionalismo surgiu
em meados do século passado na Inglaterra, através do grupo que levou o nome de Irmãos ou Irmãos
de Plymouth, por ter nesta cidade seu quartel general. Seu principal
expoente foi John Nelson Darby (1800-1882), um irlandês que, insatisfeito com a
Igreja Anglicana, da qual era ministro (cura), juntou-se ao grupo dos Irmãos em
1827. Por volta de 1830 Darby já era o principal líder dos Irmãos,
dada a sua capacidade de organização e a sua proficiência em escrever.
I. Características
Principais Desse Grupo:
a) Ênfase
dada às reuniões semanais de estudo bíblicos e celebração da Ceia do Senhor,
associada a um desprezo por qualquer tipo de organização denominacional ou
forma de culto. Os Irmãos rejeitavam
qualquer sistema clerical ou de classe ministerial, insistindo que estavam
regressando à forma simples de culto e governo eclesiástico dos
apóstolos.
b) Embora não fosse o tema principal no começo, não
tardou para que a doutrina da volta de Cristo ocupasse o centro dos estudos e,
com ela, surgisse com grande ímpeto o desenvolvimento de um novo modelo de
interpretação bíblica. Darby e seus seguidores passaram a alardear que haviam
“redescoberto verdades” que foram desconhecidas ao longo de toda a história,
desde os dias apostólicos, as quais teriam ficado à margem do ensino
tradicional do Cristianismo histórico. Fazia
parte desse novo modelo àquilo que passou a ser chamado até hoje, nos círculos
dispensacionalistas, de “interpretação literal das profecias” e de que devemos
também nos ocupar neste trabalho.
II. A Propagação em Relação ao
Dispensacionalismo:
Esse novo modo de interpretação bíblica,
especialmente de profecias, ganhou popularidade rapidamente nos círculos
evangélicos, graças ao grande trabalho de divulgação que dele foi feito pelo
próprio Darby e por seus seguidores, e
graças, principalmente, ao grande volume de livros, panfletos e artigos sobre o
assunto que foram, desde então, escritos e ainda continuam sendo. Grandes
movimentos, como o das Conferências Evangelísticas de Dwight L. Moody, eram
virtualmente controlados por dispensacionalistas. A escola fundada por Moody,
que passou a chamar-se Instituto Bíblico Moody, assim como diversas outras
escolas teológicas, como o atual Seminário Teológico de Dallas, passaram a ser
verdadeiros centros de doutrinação dispensacionalistas, nos Estados
Unidos.
O mesmo se dá hoje no Brasil, especialmente com os
institutos bíblicos chamados de interdenominacionais, de modo geral. Outro
fator que muito contribuiu para a difusão do pensamento dispensacionalistas foi
à publicação da chamada Bíblia
de Referência de Scofield,
em 1909, a qual já vendeu mais de dois milhões de cópias desde então. A Bíblia de
Scofield ou, mais corretamente, a Bíblia de Referência de Scofield é,
na verdade, uma edição da Versão King James, com anotações feitas
por Scofield, na linha de interpretação dispensacionalistas.
William E. Cox afirma que “o pai do
dispensacionalismo, Darby, assim como seus ensinos, provavelmente não seriam
conhecidos hoje, não fosse por seu devoto seguidor, Scofield”.
Cyrus Ingerson Scofield (1843 - 1921) nasceu
nos Estados Unidos (morreu aos 78 anos) e foi, até sua conversão em 1879 (36
anos), advogado e político. Três
anos após sua conversão foi ordenado ministro congregacional, sem qualquer
formação teológica, e foi assim, sem formação teológica, que escreveu sua Bíblia
de Referência.
Os estudiosos e historiadores do Cristianismo são
unânimes em afirmar que a Bíblia de Scofieldtrouxe benefícios de
uma certa ordem, pois estimulou o interesse pelo estudo bíblico e o respeito
pela autoridade da Palavra de Deus, numa época em que a Alta Crítica e a
teologia liberal atacavam o Livro Sagrado. Scofield era, de qualquer forma, um
conservador, no sentido em que acreditava na inspiração e na inerrância da
Bíblia. Mas não resta dúvidas de que trouxe também seríssimos prejuízos à
Igreja de Cristo, na medida em que, desviando-se da linha histórica de
interpretação bíblica, popularizou e erigiu à posição de quase dogma, em muitos
círculos cristãos, uma hermenêutica falha e um conceito falso a respeito do
modo de Deus tratar com os homens, a respeito da salvação e, especialmente, a
respeito da Igreja de Cristo.
III. O Dispensacionalismo Não Está Ligado a
UM Grupo em Particular:
O Dispensacionalismo não se constitui propriamente
numa denominação e, embora tenha surgido com os Irmãos, que são
hoje um pequeno grupo, não se restringe a eles nem a qualquer denominação, em
particular. Há dispensacionalistas hoje em, praticamente, todos os ramos do
Protestantismo e até naqueles onde a sua presença representa uma negação de
certos princípios doutrinários distintivos, como no caso do Presbiterianismo,
por contraditório que possa parecer.
Acreditamos que não há presbiterianos dispensacionalistas,
mas certamente há dispensacionalistas presbiterianos. No primeiro caso estamos
usando a palavra “presbiteriano” com conotação teológica e, no segundo, com
conotação denominacional.
IMPORTANTE: O Dispensacionalismo tem sido geralmente, confundido
com o Pré-milenismo, mas não são a mesma coisa. Todo dispensacionalista é,
necessariamente, pré-milenista, mas nem todo pré-milenista é necessariamente
dispensacionalista.
É preciso dizer, também, que há pelo menos Três Tipos de Dispensacionalismo, com marcantes diferenças entre si:
1. Ultra-Dispensacionalismo, desenvolvido
por E. W. Bullinger (1837-1913), que faz distinção entre a “Igreja Apostólica
Pentecostal” do livro de Atos e a “Igreja-Mistério Paulina”, das Epístolas da
Prisão, que ele chama de “igreja corpo” e “igreja noiva”, respectivamente.
Bullinger ainda faz distinção entre essas duas igrejas e a de Mateus 16, que
Jesus chamou de “minha igreja” e que, segundo ele, será uma igreja judaica
remanescente no futuro. O ultra-dispensacionalismo é, segundo Allis, o método
levado ao extremo ou às suas últimas conseqüências. OBS: Para
Bullinger há três tipos de igrejas.
2. Dispensacionalismo Clássico: é
representado por C. I. Scofield e por Lewis S. Chafer, fundador do Seminário de
Dallas, e segundo o qual o
plano de Deus para com Israel é puramente terreno e para com a Igreja,
celestial; há dois modos de salvação (obras no VT e fé no NT) e, segundo Chafer,
dois Novos Pactos. Este foi o tipo de
dispensacionalismo que prevaleceu desde o século passado até meados deste (1800
a 1950).
3. Neo-Dispensacionalismo: é
agora defendido por homens como Charles C. Ryrie, John F. Walvoord e J. Dwight
Pentecost, segundo o qual Israel
e a Igreja se ajuntarão após o milênio; há um só modo de salvação em ambos os
Testamentos (fé) e um só Pacto. É a linha atual do Seminário de Dallas.
IV. As Sete (oito) Dispensações:
Aliás, vem daí, desse ensino, o termo “dispensacionalismo” pelo qual o sistema é conhecido. Embora a
palavra “dispensação” signifique literalmente “administração” ou “mordomia”
derivada de –oikonomia Ef. 3:2), ela é empregada pelos
dispensacionalistas para designar:
“Um período de tempo durante o qual o homem é
testado quanto à sua obediência a alguma revelação específica da vontade de
Deus”, segundo a própria definição de
Scofield (que é a mesma do “Dicionário Aurélio”). É dito que cada uma dessas
dispensações termina com o fracasso humano e o inevitável juízo de Deus. Diz
Scofield:
Esses períodos se distinguem nas Escrituras por uma
mudança no método divino de tratar a humanidade, ou parte dela, no que se
refere a estas duas grandes verdades: pecado e responsabilidade humana. Cada Dispensação pode ser considerada como uma
prova para o homem natural e termina sempre em juízo, demonstrando assim o seu
completo fracasso. Cinco dessas dispensações, ou períodos de tempo, já se
consumaram. Estamos vivendo na sexta, cujo término, segundo tudo faz crer, está
para breve. A sétima, ou a última, ficará para o futuro - É o Milênio.
V. As Chamadas Dispensações São as
Seguintes:
1ª) Da Inocência, que começou com a criação de Adão, e terminou
com a sua expulsão do Éden;
2ª) Da Consciência, que começou com a expulsão do Jardim (consciência do bem e do mal) e terminou com o dilúvio;
3ª) Do Governo Humano, que começou com o dilúvio e terminou com a confusão das línguas;
4ª) Da Promessa, que começou com Abraão e terminou com a escravidão no Egito;
5ª) Da Lei, que começou no Sinai e terminou com a expulsão de Israel e Judá da terra de Canaã;
6ª) Da Graça, a atual, que começou com a morte de Cristo e terminará com o arrebatamento da Igreja;
7ª) Do Reino, que começará com a Segunda Vinda de Cristo e terminará com o juízo do Grande Trono Branco - é também chamada de Dispensação do Milênio.
2ª) Da Consciência, que começou com a expulsão do Jardim (consciência do bem e do mal) e terminou com o dilúvio;
3ª) Do Governo Humano, que começou com o dilúvio e terminou com a confusão das línguas;
4ª) Da Promessa, que começou com Abraão e terminou com a escravidão no Egito;
5ª) Da Lei, que começou no Sinai e terminou com a expulsão de Israel e Judá da terra de Canaã;
6ª) Da Graça, a atual, que começou com a morte de Cristo e terminará com o arrebatamento da Igreja;
7ª) Do Reino, que começará com a Segunda Vinda de Cristo e terminará com o juízo do Grande Trono Branco - é também chamada de Dispensação do Milênio.
VI. A Hermenêutica Dispensacionalista:
a) Em Relação à Salvação Durante os Períodos:
Vetero e Neo-Testamentário:
Este é um dos pontos mais delicados do sistema dispensacionalista e aquele em que tem havido mais hesitação e duplicidade. Embora neguem que o sistema ensine a salvação à parte da fé, não se pode deixar de entender isso nas declarações de seus expositores, pelo menos os do dispensacionalismo clássico. Há até quem alegue que as sete dispensações acabam criando sete diferentes planos de salvação. A rígida distinção entre Israel e Igreja e lei e graça leva o dispensacionalista a conclusões indesejáveis, mas inevitáveis, no que diz respeito ao modo de salvação.
Embora dispensacionalistas atuais reclamem que os
críticos desse sistema são injustos ao atribuir-lhe dois diferentes modos de
salvação, como na seguinte citação de Ryrie feita por Gunn, segundo a qual “nem
os mais antigos nem os mais novos dispensacionalistas ensinam dois modos de
salvação, e não é justo tentar fazê-los ensinar assim repetimos:- não se pode
entender de outra forma as palavras de L. S. Chafer, (Ryrie
foi aluno de Chafer no Seminário de Dallas) que
passamos a citar”:
Deve-se observar aqui uma distinção entre os homens
justos do Velho Testamento e os justificados de acordo com o Novo Testamento.
De acordo com o Velho Testamento, os homens eram justos porque eram verdadeiros
e fiéis na guarda da Lei Mosaica. Os
homens eram, portanto, justos por causa de suas próprias obras para com Deus,
ao passo que a justificação do Novo Testamento é a obra de Deus para com o
homem, em resposta à fé (Rom. 5: 1).
Os ensinos do reino, como a Lei de Moisés, são
baseados em um pacto de obras. Os ensinos da graça, por outro lado, são
baseados num pacto de fé. Em um dos casos, a justiça é requerida; no outro, ela
é provida, quer imputada e comunicada ou, então, operada interiormente
(infundida). Uma é uma bênção a ser conferida por causa de uma vida perfeita, a
outra é uma vida a ser vivida por causa de uma bênção perfeita já recebida.
Bem antes de Chafer, Scofield já
havia escrito em sua “Bíblia Anotada” as seguintes palavras: “Como uma
dispensação, a graça começa com a morte e ressurreição de Cristo. O ponto de teste não é mais a obediência legal como
à condição de salvação, mas a aceitação ou rejeição de Cristo, com as boas
obras como fruto da salvação”.
A dedução lógica extraída desta afirmação é de que,
antes da “Graça” as pessoas eram salvas pela obediência à lei, mas agora, pela
aceitação de Cristo. A expressão “não é mais” indica que antes o era, no
entender de Scofield.
Perguntas Para os Dispensacionalistas:
1. Se
a salvação era alcançada através da obediência a Lei, e muitos foram salvos por
obedecer a Lei, qual a necessidade de haver uma nova dispensação? E outra, qual
a necessidade da vinda de Cristo?
2. Se
o homem no seu estado original, ou seja, no seu estado perfeito pecou, qual
sentido faz esse homem caído continuar a ser testado? (Pois não é este o
propósito das dispensações?)
3. É certo que alguns dispensacionalistas já admitem que os crentes do V.T., foram salvos pela Graça. Mas, isto não seria contraditório, já que a Graça segundo eles mesmos só aparecem a partir do N.T.?
3. É certo que alguns dispensacionalistas já admitem que os crentes do V.T., foram salvos pela Graça. Mas, isto não seria contraditório, já que a Graça segundo eles mesmos só aparecem a partir do N.T.?
4. Na
concepção Reformada todos os salvos, em todas as Épocas, quer passada, presente
ou futura, são somente em Cristo (Lc.24: 13-35). No V.T., os sacrifícios já
representavam Cristo. Em nenhum lugar das Escrituras fala de alguém que foi
salvo porque cumpriu com a Lei. Isto significa que a para alguém ser salvo,
necessariamente houve a Graça por parte de Deus, assim também, hoje ainda há a
Lei de Deus.
b) O Conceito de Israel e Igreja:
1. O texto de I Cor. 10: 32 diz: “Não vos torneis
causa de tropeço nem para judeu, nem para gentios, nem tão pouco para a igreja
de Deus”.
A simples menção de três grupos aí é suficiente para um dispensacionalista concluir que a própria Bíblia divide a humanidade em três partes distintas e se dirige a essas partes (grupos) separadamente, de maneira sistemática, e que esse texto fornece a “chave para todo estudo e interpretação da Bíblia”.
“Manejar bem a palavra da verdade” (II Tim. 2:5), conforme a interpretação dispensacionalista,
é estudar a Bíblia desta maneira, dispensacionalmente. M. R. DeHaan, um
pregador de rádio que muito contribuiu para a divulgação desse sistema nos
Estados Unidos, relacionou MANEJAR com Cortar de Maneira Correta, e relacionou
o termo aos sacrifícios do Antigo Testamento.
:
Quando o ofertante trazia um cordeiro ou outro sacrifício qualquer, o mesmo era dividido em três partes (exceto no caso da oferta queimada, que era posta inteira sobre o altar). Uma parte era oferecida a Deus, outra parte era oferecida àquele que trouxera a oferta, enquanto que a terceira partilha cabia ao sacerdote. É dessa prática que foi emprestada a expressão “que maneja bem”. Significa simplesmente, dar a cada qual o que lhe pertence de direito. Ora, no estudo da Bíblia você deve ser muito cauteloso em dar à Igreja aquilo que pertence ao Corpo de Cristo, a Israel aquilo que pertence a Israel, e aos gentios aquilo que pertence aos gentios. Assim como o sacrifício era dividido ou cortado em três partes, também a Bíblia informa-nos que existem três espécies de povos neste mundo na presente dispensação.
:
Quando o ofertante trazia um cordeiro ou outro sacrifício qualquer, o mesmo era dividido em três partes (exceto no caso da oferta queimada, que era posta inteira sobre o altar). Uma parte era oferecida a Deus, outra parte era oferecida àquele que trouxera a oferta, enquanto que a terceira partilha cabia ao sacerdote. É dessa prática que foi emprestada a expressão “que maneja bem”. Significa simplesmente, dar a cada qual o que lhe pertence de direito. Ora, no estudo da Bíblia você deve ser muito cauteloso em dar à Igreja aquilo que pertence ao Corpo de Cristo, a Israel aquilo que pertence a Israel, e aos gentios aquilo que pertence aos gentios. Assim como o sacrifício era dividido ou cortado em três partes, também a Bíblia informa-nos que existem três espécies de povos neste mundo na presente dispensação.
Analisando esse sistema de interpretação, William
E. Cox diz que alguém que tomasse cada versículo da Bíblia e o atribuísse a uma
dessas três categorias - judeu gentio e cristão, e publicasse a Bíblia em três
seções separadas, estaria prestando um serviço valioso, se esse fosse o método
correto de se manejar (dividir) bem a Palavra de Deus.
INFELIZMENTE, noto que todos os livros de Historia da Igreja,
relatam o inicio da Igreja a partir do livro de Atos, ou seja, após o
Pentecostes. Todavia, na concepção Reformada a Igreja é fruto desde a criação.
Isso não significa que todos os autores são dispensacionalistas, mas, penso que
os mesmos deveriam trazer pelo menos uma nota de roda pé, mostrando a concepção
reformada em relação à concepção que a mesma tem do inicio da Igreja.
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Rev. José Roberto de Souza é Pastor da Igreja Presbiteriana do Ibura, Recife/PE; Professor e Coord. do Departamento de História da Igreja no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN);Especialista em História da Religião e da Arte (UFRPE); Mestrando em Teologia e História.
Rev. José Roberto de Souza é Pastor da Igreja Presbiteriana do Ibura, Recife/PE; Professor e Coord. do Departamento de História da Igreja no Seminário Presbiteriano do Norte (SPN);Especialista em História da Religião e da Arte (UFRPE); Mestrando em Teologia e História.
Extraído do site: http://www.eleitosdedeus.org/dispensacionalismo/dispensacionalismo-jose-roberto.html#IDComment138885566#ixzz1IK1IqMdn
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Fonte:http://introduoteologica.blogspot.com.br/2011/04/dispensacionalismo.html
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