Seja você um estudioso da história, um admirador de figuras inspiradoras ou simplesmente alguém com sede de conhecimento, esta página é o seu portal para o fascinante mundo das biografias.
Nesta página, você encontrará um portal completo dedicado às biografias, de servos de Deus que marcaram a história. Prepare-se para se encantar com histórias de superação, conquistas extraordinárias e momentos marcantes que moldaram o destino de indivíduos e do mundo ao seu redor.
Nesta página você encontrará biografias de homens e mulheres de Deus que fizeram difernça neste mundo.
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J.C. Ryle, 200 anos
INTRODUÇÃO
Em 10 de maio de 1816 nasceu em Macclesfield, Cheshire, Inglaterra, um dos autores evangélicos mais admirados: o bispo anglicano de Liverpool John Charles Ryle. Um número incontável de pessoas se beneficiaram de seus escritos ao longo dos anos. Em seu próprio tempo foi muito apreciado por seus contemporâneos. Spurgeon o considerava como “o melhor homem que estava na Igreja da Inglaterra”. Ryle foi recomendado muito efusivamente por autores tais como J. I. Packer e Martyn Lloyd-Jones, entre outros. Seus trabalhos foram traduzidos em muitas línguas, incluindo o português. Ainda hoje podemos nos beneficiar, duzentos anos após o seu nascimento, e perguntar sobre algumas das razões que fizeram seus livros tão populares na comunidade evangélica. É também interessante podermos tirar algumas lições do seu trabalho que podem nos ajudar. Muitas das questões que preocupavam Ryle, e as respostas dadas, são ainda muito relevantes hoje em dia. Mas, primeiro, vamos rever por um momento um pouco de sua vida.
BREVE ESBOÇO BIOGRÁFICO
J.C. Ryle veio de uma família muito próspera economicamente. Seu avô e seu pai tinham tido muito sucesso comercialmente. Com o passar do tempo, seu pai entrou em um negócio bancário que também estava florescendo. John Charles, que era o filho mais velho, poderia estudar em locais de prestígio como Eton e depois Oxford. Ryle se tornou um cristão em 1837. Até então ele tinha recebido as verdades do cristianismo nominal e externamente, mas no verão daquele ano experimentou o novo nascimento de Cristo descrito em João 3. Em seu depoimento, ele deixou registrado para os seus filhos uma breve autobiografia, onde enfatiza a sua profunda convicção de pecado, quão precioso era Cristo, e o grande valor da Bíblia para orientar a sua vida. Mas a falência atingiu sua família em 1841, perdendo sua casa e toda a fortuna da família. Este evento marcou a sua vida de uma forma muito especial, porque nesse mesmo ano Ryle tomou a decisão de entrar no ministério da Igreja da Inglaterra. Seu primeiro pastorado começou em 1842 em Fawley, Hants, embora ao longo de sua vida, ele tenha pastoreado congregações em muitas outras partes da Inglaterra. Em 1845 casou-se com Matilda Plumptre. Este ano também é importante porque ele começou a publicar seus primeiros tratados, que são agrupadas, e formam os capítulos de seus muitos livros. Sua primeira filha, Georgina, nasceu em 1847. No ano seguinte, sua esposa morreu. Em 1850 ele se casou novamente. Sua nova esposa, Jessy Walker, lhe deu quatro filhos: Isabelle, Reginald, Herbert e Arthur. Em 1851 começou a publicação de seus tratados e mensagens em forma de livro. Depois de dez anos do segundo casamento e depois de uma longa doença, sua segunda esposa faleceu. Em 1861 casou-se com Henrietta Clowes. Em 1865 publica o comentário expositivo do Evangelho de João. Este será o primeiro de uma série sobre os quatro Evangelhos, parte das obras mais apreciadas por muitos leitores de Ryle. Em 1868 publica o seu livro sobre os líderes cristãos do século XVIII. Ryle é já bem conhecido, por isso recebe muitos convites para pregar em muitos outros lugares na Inglaterra, incluindo Oxford, Londres e Cambridge. Entre 1877 e 1879 seus trabalhos mais famosos são publicados, incluindo Santidade ou caminhos antigos. Com 63 anos é eleito primeiro bispo de Liverpool. Em 1889, sua terceira esposa morre. Dez anos mais tarde pregou o seu último sermão. Ele morreu em 10 de junho de 1900 em Lowestoft, Inglaterra.
A IMPORTÂNCIA CRUCIAL DA HISTÓRIA
A primeira lição que podemos aprender com Ryle tem a ver com a história. Devemos lembrar que a fé cristã é uma fé histórica. Deus revelou-nos no tempo e no espaço, através de pessoas que viveram e eventos que tiveram lugar na história. Além disso, as Escrituras são abundantes em exortações para não esquecer a história da intervenção de Deus em favor do seu povo: Deuteronômio 5:15; 7:18; 15:15; 24:18, etc. Uma das passagens que eu gosto a este respeito é a de Josué 4, o sucessor de Moisés ordena que um representante de cada uma das tribos de Israel pegue uma pedra do leito do Jordão, v. 5. Josué toma e levanta em Gilgal um memorial para as gerações futuras, vv. 20.21. Seu propósito era para lembrar que Deus, como fizera no Mar Vermelho, secou o Jordão diante do seu povo, vv. 22.23, de modo que eles poderiam mover-se para tomar posse da terra prometida. Assim, as pessoas não deveriam esquecer de que foi pela mão poderosa de Deus que o povo pode atravessar o Jordão e, dessa maneira, não poderiam se afastar dele v. 24.
Da mesma forma, Ryle acreditava ser essencial recordar a história da Reforma Protestante no século XVI, os puritanos, que considerava os mais fieis expositores bíblicos a “mente das Escrituras” e o Grande Despertar Evangélico do século XVIII daqueles grandes homens que Deus levantaou como George Whitefield e os irmãos Wesley, entre muitos outros. Ele considerou isso importante, porque, como Israel no passado, é fácil esquecermos esses poderosos eventos e significativos atos de Deus para o seu povo. Os escritos do bispo evangélico estão imbuídos com os princípios da Reforma. Percebemos o declínio da Reforma em sua denúncia clara dos perigos do catolicismo romano para a saúde espiritual das almas. Poucos autores se expressam de modo tão claro sobre os ensinamentos da Igreja Católica Romana como Ryle. A importância dos Puritanos também está presente em seu trabalho, em sua análise rigorosa dos textos bíblicos e aplicação do ensino à vida dos crentes. O renascimento também aparece em seus escritos, não só para lembrar os líderes o mesmo, mas também através do estilo prático e direto lembra os pregadores do Grande Despertamento. A primeira lição, portanto, que Ryle transmite é para não esquecer nossa identidade evangélica. Ryle presta muita atenção à Reforma na Inglaterra e os homens que Deus levantou nesse momento. Ele também escreveu sobre os pregadores do avivamento. Ele não queria que seus compatriotas esquecessem o que Deus tinha feito para o Reino Unido. Quanto a nós, é essencial ler sobre a nossa história evangélica, conhecer bem o nosso passado: a Reforma na Europa, mas também a Reforma na Espanha e o que aconteceu com ela.
DOUTRINA E VIDA
Ao longo de seu ministério pastoral como um pregador e escritor, Ryle não deixou de sublinhar que o carácter essencial do cristianismo também é doutrinário. Para Ryle, a importância da Reforma Protestante, os Puritanos ou o Grande Despertamento foi o fato de que eles eram movimentos do Espírito de Deus em que foram redescobertos, e a relevância para a vida cristã das doutrinas essenciais da Escritura foi mostrada. E este é apenas o outro aspecto que eu acho que ele mostra hoje: A ênfase colocada na doutrina e o propósito prático que isso tem. Mas a doutrina não é um mero conhecimento frio, seco e acadêmico da Bíblia. É basicamente a forma como o Deus vivo opera em Seu povo, para salvar e transformar. A doutrina, pela presença do Espírito Santo, traz vida espiritual. Isso é muito claro nas Escrituras; a fé tem um conteúdo a confessar e que Deus usa para nos fazer bem: 1 Timóteo 4: 13-16; 2 Timóteo 1: 13,14; 1 João 4: 1-6; Rm 10: 8-14, etc. A doutrina tem um propósito prático, salva e nos santifica, tornando-nos úteis para a glória de Deus: Romanos 6: 17-19.
Nesse sentido, a Reforma foi um retorno aos ensinamentos das Escrituras que haviam sido enterrados e marginalizados pela Igreja medieval. Os puritanos também mostraram a amplitude e a profundidade da Bíblia e como ela é aplicada de forma eficaz na vida cotidiana. Os grandes pregadores mostraram como a proclamação do evangelho pode, com a bênção de Deus, alterar o curso das nações. Ryle temia o abandono desses ensinamentos que tinham trazido tantas coisas boas, por isso uma e outra vez em seu ministério alertara sobre os perigos do esquecimento da glória da fé cristã. Ryle refletiu na exortação de Paulo em Atos 20: 28-32. Da mesma forma, hoje deve ficar claro que as diferenças com o catolicismo romano são doutrinárias. Não podemos enganar-nos quanto ao que acreditamos e porque acreditamos nisso. Devemos também enfatizar a importância prática da doutrina. Temos de ser diferentes, e a conversão tem de ser vista em nossas vidas. Esse é o grande legado do puritanismo que Ryle tem renovado e constantemente enfatizado em seu ministério. Ao mesmo tempo, temos de incentivar a paixão pela pregação do evangelho, uma nota distintiva dos tempos de reavivamento.
Nada melhor, então, para ler esses escritos Ryle e ser beneficiados com as doutrinas bíblicas e sua relevância para a nossa vida cristã. Ao contrário de outros bons autores, há muitos títulos de Ryle em português, por isso é relativamente fácil ter acesso aos mesmos. Seu estilo simples e direto, sempre com base no texto bíblico, faz com que seja uma delícia de ler. Ryle sempre desafia os seus leitores, o que é sempre conveniente.
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José Moreno Berrocal
Em 10 de maio de 1816 nasceu em Macclesfield, Cheshire, Inglaterra, um dos autores evangélicos mais admirados: o bispo anglicano de Liverpool John Charles Ryle. Um número incontável de pessoas se beneficiaram de seus escritos ao longo dos anos. Em seu próprio tempo foi muito apreciado por seus contemporâneos. Spurgeon o considerava como “o melhor homem que estava na Igreja da Inglaterra”. Ryle foi recomendado muito efusivamente por autores tais como J. I. Packer e Martyn Lloyd-Jones, entre outros. Seus trabalhos foram traduzidos em muitas línguas, incluindo o português. Ainda hoje podemos nos beneficiar, duzentos anos após o seu nascimento, e perguntar sobre algumas das razões que fizeram seus livros tão populares na comunidade evangélica. É também interessante podermos tirar algumas lições do seu trabalho que podem nos ajudar. Muitas das questões que preocupavam Ryle, e as respostas dadas, são ainda muito relevantes hoje em dia. Mas, primeiro, vamos rever por um momento um pouco de sua vida.
BREVE ESBOÇO BIOGRÁFICO
J.C. Ryle veio de uma família muito próspera economicamente. Seu avô e seu pai tinham tido muito sucesso comercialmente. Com o passar do tempo, seu pai entrou em um negócio bancário que também estava florescendo. John Charles, que era o filho mais velho, poderia estudar em locais de prestígio como Eton e depois Oxford. Ryle se tornou um cristão em 1837. Até então ele tinha recebido as verdades do cristianismo nominal e externamente, mas no verão daquele ano experimentou o novo nascimento de Cristo descrito em João 3. Em seu depoimento, ele deixou registrado para os seus filhos uma breve autobiografia, onde enfatiza a sua profunda convicção de pecado, quão precioso era Cristo, e o grande valor da Bíblia para orientar a sua vida. Mas a falência atingiu sua família em 1841, perdendo sua casa e toda a fortuna da família. Este evento marcou a sua vida de uma forma muito especial, porque nesse mesmo ano Ryle tomou a decisão de entrar no ministério da Igreja da Inglaterra. Seu primeiro pastorado começou em 1842 em Fawley, Hants, embora ao longo de sua vida, ele tenha pastoreado congregações em muitas outras partes da Inglaterra. Em 1845 casou-se com Matilda Plumptre. Este ano também é importante porque ele começou a publicar seus primeiros tratados, que são agrupadas, e formam os capítulos de seus muitos livros. Sua primeira filha, Georgina, nasceu em 1847. No ano seguinte, sua esposa morreu. Em 1850 ele se casou novamente. Sua nova esposa, Jessy Walker, lhe deu quatro filhos: Isabelle, Reginald, Herbert e Arthur. Em 1851 começou a publicação de seus tratados e mensagens em forma de livro. Depois de dez anos do segundo casamento e depois de uma longa doença, sua segunda esposa faleceu. Em 1861 casou-se com Henrietta Clowes. Em 1865 publica o comentário expositivo do Evangelho de João. Este será o primeiro de uma série sobre os quatro Evangelhos, parte das obras mais apreciadas por muitos leitores de Ryle. Em 1868 publica o seu livro sobre os líderes cristãos do século XVIII. Ryle é já bem conhecido, por isso recebe muitos convites para pregar em muitos outros lugares na Inglaterra, incluindo Oxford, Londres e Cambridge. Entre 1877 e 1879 seus trabalhos mais famosos são publicados, incluindo Santidade ou caminhos antigos. Com 63 anos é eleito primeiro bispo de Liverpool. Em 1889, sua terceira esposa morre. Dez anos mais tarde pregou o seu último sermão. Ele morreu em 10 de junho de 1900 em Lowestoft, Inglaterra.
A IMPORTÂNCIA CRUCIAL DA HISTÓRIA
A primeira lição que podemos aprender com Ryle tem a ver com a história. Devemos lembrar que a fé cristã é uma fé histórica. Deus revelou-nos no tempo e no espaço, através de pessoas que viveram e eventos que tiveram lugar na história. Além disso, as Escrituras são abundantes em exortações para não esquecer a história da intervenção de Deus em favor do seu povo: Deuteronômio 5:15; 7:18; 15:15; 24:18, etc. Uma das passagens que eu gosto a este respeito é a de Josué 4, o sucessor de Moisés ordena que um representante de cada uma das tribos de Israel pegue uma pedra do leito do Jordão, v. 5. Josué toma e levanta em Gilgal um memorial para as gerações futuras, vv. 20.21. Seu propósito era para lembrar que Deus, como fizera no Mar Vermelho, secou o Jordão diante do seu povo, vv. 22.23, de modo que eles poderiam mover-se para tomar posse da terra prometida. Assim, as pessoas não deveriam esquecer de que foi pela mão poderosa de Deus que o povo pode atravessar o Jordão e, dessa maneira, não poderiam se afastar dele v. 24.
Da mesma forma, Ryle acreditava ser essencial recordar a história da Reforma Protestante no século XVI, os puritanos, que considerava os mais fieis expositores bíblicos a “mente das Escrituras” e o Grande Despertar Evangélico do século XVIII daqueles grandes homens que Deus levantaou como George Whitefield e os irmãos Wesley, entre muitos outros. Ele considerou isso importante, porque, como Israel no passado, é fácil esquecermos esses poderosos eventos e significativos atos de Deus para o seu povo. Os escritos do bispo evangélico estão imbuídos com os princípios da Reforma. Percebemos o declínio da Reforma em sua denúncia clara dos perigos do catolicismo romano para a saúde espiritual das almas. Poucos autores se expressam de modo tão claro sobre os ensinamentos da Igreja Católica Romana como Ryle. A importância dos Puritanos também está presente em seu trabalho, em sua análise rigorosa dos textos bíblicos e aplicação do ensino à vida dos crentes. O renascimento também aparece em seus escritos, não só para lembrar os líderes o mesmo, mas também através do estilo prático e direto lembra os pregadores do Grande Despertamento. A primeira lição, portanto, que Ryle transmite é para não esquecer nossa identidade evangélica. Ryle presta muita atenção à Reforma na Inglaterra e os homens que Deus levantou nesse momento. Ele também escreveu sobre os pregadores do avivamento. Ele não queria que seus compatriotas esquecessem o que Deus tinha feito para o Reino Unido. Quanto a nós, é essencial ler sobre a nossa história evangélica, conhecer bem o nosso passado: a Reforma na Europa, mas também a Reforma na Espanha e o que aconteceu com ela.
DOUTRINA E VIDA
Ao longo de seu ministério pastoral como um pregador e escritor, Ryle não deixou de sublinhar que o carácter essencial do cristianismo também é doutrinário. Para Ryle, a importância da Reforma Protestante, os Puritanos ou o Grande Despertamento foi o fato de que eles eram movimentos do Espírito de Deus em que foram redescobertos, e a relevância para a vida cristã das doutrinas essenciais da Escritura foi mostrada. E este é apenas o outro aspecto que eu acho que ele mostra hoje: A ênfase colocada na doutrina e o propósito prático que isso tem. Mas a doutrina não é um mero conhecimento frio, seco e acadêmico da Bíblia. É basicamente a forma como o Deus vivo opera em Seu povo, para salvar e transformar. A doutrina, pela presença do Espírito Santo, traz vida espiritual. Isso é muito claro nas Escrituras; a fé tem um conteúdo a confessar e que Deus usa para nos fazer bem: 1 Timóteo 4: 13-16; 2 Timóteo 1: 13,14; 1 João 4: 1-6; Rm 10: 8-14, etc. A doutrina tem um propósito prático, salva e nos santifica, tornando-nos úteis para a glória de Deus: Romanos 6: 17-19.
Nesse sentido, a Reforma foi um retorno aos ensinamentos das Escrituras que haviam sido enterrados e marginalizados pela Igreja medieval. Os puritanos também mostraram a amplitude e a profundidade da Bíblia e como ela é aplicada de forma eficaz na vida cotidiana. Os grandes pregadores mostraram como a proclamação do evangelho pode, com a bênção de Deus, alterar o curso das nações. Ryle temia o abandono desses ensinamentos que tinham trazido tantas coisas boas, por isso uma e outra vez em seu ministério alertara sobre os perigos do esquecimento da glória da fé cristã. Ryle refletiu na exortação de Paulo em Atos 20: 28-32. Da mesma forma, hoje deve ficar claro que as diferenças com o catolicismo romano são doutrinárias. Não podemos enganar-nos quanto ao que acreditamos e porque acreditamos nisso. Devemos também enfatizar a importância prática da doutrina. Temos de ser diferentes, e a conversão tem de ser vista em nossas vidas. Esse é o grande legado do puritanismo que Ryle tem renovado e constantemente enfatizado em seu ministério. Ao mesmo tempo, temos de incentivar a paixão pela pregação do evangelho, uma nota distintiva dos tempos de reavivamento.
Nada melhor, então, para ler esses escritos Ryle e ser beneficiados com as doutrinas bíblicas e sua relevância para a nossa vida cristã. Ao contrário de outros bons autores, há muitos títulos de Ryle em português, por isso é relativamente fácil ter acesso aos mesmos. Seu estilo simples e direto, sempre com base no texto bíblico, faz com que seja uma delícia de ler. Ryle sempre desafia os seus leitores, o que é sempre conveniente.
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José Moreno Berrocal
A Vida do Rev. José Manoel da Conceição
Por Alderi Souza de Matos

Por Alderi Souza de Matos
José Manoel da Conceição nasceu na cidade de São Paulo em 11 de março de 1822, tendo sido batizado treze dias depois. Era filho do português Manoel da Costa Santos e da brasileira Cândida Flora de Oliveira Mascarenhas. Dois anos mais tarde, a família mudou-se para Sorocaba, onde o menino foi criado e educado por seu tio-avô, o padre José Francisco de Mendonça. Desejoso de seguir o sacerdócio, foi para São Paulo, onde freqüentou o curso anexo da Academia Jurídica e estudou teologia (1840- 1842). Conheceu o frei Joaquim do Monte Carmelo, que foi seu amigo e defensor até o final da vida. Em abril de 1842 recebeu as ordens menores da Igreja Católica, inclusive a de subdiácono. Pouco depois, ele e o tio-avô apoiaram a Revolução Liberal, o que retardou a sua ordenação. Passou a exercer as suas atividades religiosas em Ipanema, localidade próxima de Sorocaba, onde foi instalada a primeira fundição de ferro do Brasil.
Desde os dezoito anos travou contato com a Bíblia, descobrindo conflitos entre os seus ensinos e certas práticas e doutrinas católicas. Certa vez, ao repreender o seu professor de desenho, o francês Carlos Leão Baillot, por tê-lo visto andar na igreja com o boné na cabeça, ouviu dele palavras que nunca esqueceu: “Menino, aprende em tua Bíblia a distinguir a alegoria da religião. O fim da Bíblia é ensinar-nos a amar a Deus sobre tudo e depois amarmo-nos uns aos outros como bons irmãos, filhos de um só Pai que está no céu. Ouves, meu menino?” Relacionou-se com protestantes e sentiu-se atraído por eles, levado pelo bom testemunho de suas vidas religiosas. Em Ipanema, visitou a família inglesa Godwin e as casas dos alemães, impressionando-se com a maneira respeitosa como guardavam o domingo e com a prática da leitura da Bíblia e de livros religiosos. Fez amizade com o médico dinamarquês Dr. João Henrique Teodoro Langaard, com quem aprendeu alemão, história e geografia.
Em 1844 e 1845, Conceição foi sucessivamente ordenado diácono e presbítero da Igreja Romana, sendo enviado para Limeira. Começou a pregar mensagens evangélicas e a incentivar o povo a ler a Bíblia, sendo apelidado de “padre protestante”. Preocupado com a situação, o bispo D. Manoel Joaquim Gonçalves de Andrade passou a transferi-lo com freqüência de uma paróquia para outra: Piracicaba, Monte-Mór, Limeira outra vez, Taubaté, Ubatuba, Santa Bárbara e por fim Brotas, onde chegou em 1860. Nesses anos, Conceição traduziu para os editores protestantes do Rio de Janeiro, os irmãos Laemmert, algumas obras que também o influenciaram, como a Nova História Sagrada do Antigo e Novo Testamento, traduzida em Ubatuba (1856). Esses editores faziam vir da Europa livros que ele encomendava e lhe ofereciam outros, conhecendo as suas tendências reformistas.
No primeiro semestre de 1863, Conceição escreveu ao novo bispo, D. Sebastião Pinto do Rego, sobre as suas lutas espirituais e foi nomeado vigário da vara, um cargo administrativo sem funções sacerdotais. Comprou um sítio junto ao rio Corumbataí, perto de Rio Claro, para onde se mudou. No final do mesmo ano, recebeu a visita do Rev. Alexander Latimer Blackford, missionário presbiteriano que acabara de mudar-se para São Paulo e ouvira falar do padre que tinha idéias protestantes. Seguiu-se uma correspondência assídua entre os dois, até que, no dia 19 de maio de 1864, Conceição chegou a São Paulo para encontrar-se com Blackford. Conheceu a esposa deste, Elizabeth, que o convidou sem rodeios a se tornar protestante. Depois de várias palestras longas e proveitosas com o missionário, o sacerdote voltou para casa no dia 24 decidido a abraçar a fé evangélica. Na volta, passou por Campinas e levou a irmã Gertrudes do Amaral – Tudica (1849-1923), com apenas quinze anos, que fora educada pela família Bierrenbach. Foram para Rio Claro, onde Gertrudes se casou no início de junho com José Rufino de Cerqueira Leite – Nhô Zé (1844-1907), irmão do futuro pastor Antônio Pedro.
No dia 23 de setembro, Conceição tornou a ir a São Paulo e foi hospedado por Blackford. Dois dias depois, um domingo, participou pela primeira vez de um culto protestante. No dia 28, obteve uma audiência com o bispo e lhe comunicou que estava deixando o sacerdócio e a Igreja Católica Romana. Uma semana mais tarde, em 4 de outubro, partiu com o missionário para o Rio de Janeiro, deixando em mãos de um amigo a carta de renúncia que devia ser entregue a D. Sebastião. Sua chegada à capital do império causou sensação e quando pregou pela primeira vez, no dia 9, a sala ficou repleta. Fez amizade imediata com o Rev. Ashbel Simonton, que ainda sentia a morte da esposa ocorrida há três meses. No dia 23 de outubro de 1864, Conceição fez a sua pública profissão de fé e foi batizado pelo Rev. Blackford. O Rev. Simonton proferiu breves palavras e o ex-padre explicou aos presentes o passo que havia dado. A série de conferências que fez foi o seu primeiro trabalho como evangélico. Sendo culto e eloqüente, a sua conversão causou consternação no clero católico. Passou a colaborar com os missionários na redação do jornal Imprensa Evangélica, cujo primeiro número foi lançado ao público no dia 5 de novembro.
Pouco depois, sem avisar, Conceição partiu repentinamente, regressando a Brotas, onde viviam a irmã Gertrudes e seu esposo José Rufino. Debatia-se com uma grave crise de consciência por causa da sua vida anterior. Depois de algumas viagens com os missionários e de muitos esforços pacientes dos mesmos no sentido de tranqüilizá-lo, superou o sentimento de culpa que o atormentava. Foi então, em meados de 1865, que escreveu a sua bela e inspiradora Profissão de Fé Evangélica. No dia 13 de novembro daquele ano, graças ao seu trabalho evangelístico e à colaboração dos missionários, foi organizada a Igreja Presbiteriana de Brotas, a primeira do interior do Brasil. Blackford recebeu por profissão de fé onze pessoas da família Gouvêa e batizou dez crianças. Conceição apresentou a mensagem e fez uma tocante oração de encerramento.
Nos meses seguintes foram recebidos na igreja vários familiares seus, inclusive Gertrudes e José Rufino, bem como outros membros da família Cerqueira Leite. Desde fins de 1863, Conceição vinha distribuindo folhetos e Bíblias em Brotas e expondo suas dúvidas e novas convicções às famílias Gouvêa e Cerqueira Leite. Em abril e maio de 1865 acompanhara o Rev. George Chamberlain em Brotas e em outubro e novembro, o Rev. Blackford, pregando e ensinando na vila e nos sítios. Outro irmão do ex-padre que veio a se converter foi Venceslau da Costa Santos (Nhô Lau), nascido em 28 de setembro de 1846, que foi presbítero, residiu em Boa Vista do Jacaré e outros locais, e faleceu na Fazenda Olivete, em Torrinha, em junho de 1941. Era casado com Adelaide, filha de Remígio de Cerqueira Leite, um dos irmãos de Antônio Pedro.
No dia 16 dezembro de 1865, os Revs. Simonton, Blackford e Francis Schneider organizaram na cidade de São Paulo o Presbitério do Rio de Janeiro, composto das Igrejas do Rio, São Paulo e Brotas. José Manoel da Conceição foi examinado acerca das suas convicções e considerado apto. No dia seguinte, um domingo, pregou pela manhã o sermão de prova sobre Lucas 4.18-19 e à tarde foi ordenado ministro do evangelho. Blackford fez as perguntas de praxe e Simonton discursou com base em 2 Coríntios 5.20, saudando e exortando o novo pastor. Pouco depois da sua ordenação, Conceição deu início às suas famosas viagens evangelísticas, que eventualmente o levaram até Itapeva (sul de São Paulo), Brotas (oeste), Campanha (sul de Minas) e Barra do Piraí (Vale do Paraíba). Visitou as cidades e vilas onde havia sido pároco e muitas outras, plantando as sementes de futuras igrejas. O Rev. George Landes, em um folheto sobre a evangelização do Paraná, diz que certa vez Conceição visitou a vila de Castro, onde uma de suas irmãs era professora, e pregou em Ponta Grossa.
Em 28 de fevereiro de 1866, dois meses e meio após a ordenação, Conceição partiu de São Paulo pela estrada do sul, passando por Cotia, Una, Piedade, São Roque e Sorocaba, e retornou à capital. A seguir, foi novamente a Sorocaba, onde pregou por muitos dias a auditórios sempre crescentes, e distribuiu Bíblias, folhetos e muitos exemplares daImprensa Evangélica. O primeiro culto foi realizado na casa da família Bertoldo. A seguir, Conceição foi a Porto Feliz, Rio Claro e Brotas, onde pregou na companhia de Schneider e Chamberlain. Após recuperar-se de um problema de saúde, foi para Rio Claro, onde muitas pessoas o ouviram, inclusive o vigário local. Esteve em Limeira, Campinas, Belém de Jundiaí (Itatiba) e Bragança, onde Blackford foi encontrá-lo em 25 de maio. Pregaram a auditórios de cem a duzentas pessoas, sem incidentes. Voltando a São Paulo, tomou a estrada do Rio de Janeiro no início de junho, passando pela Penha, São Miguel, Jacareí e São José dos Campos. Pregou a muitas pessoas no Hotel Figueira, sendo essa possivelmente a primeira vez que a fé evangélica foi anunciada naquela cidade. A seguir passou por Caçapava, Taubaté (onde fora vigário), Pindamonhangaba, Aparecida, Guaratinguetá, Lorena, Queluz, Resende, Barra Mansa e Piraí, onde tomou o trem, chegando ao Rio em 29 de junho para a reunião do presbitério, ao qual prestou relatório. Todo esse enorme trabalho foi realizado em apenas quatro meses, sendo a maior parte do trajeto percorrida a pé.
No ano presbiterial de 1866-1867, após retornar a São Paulo, pregou nas cidades onde já estivera e em muitas outras. Escrevendo em 30 de agosto, o aspirante ao ministério Antônio Pedro afirmou: “O nome do padre José Manoel está espalhado pelo universo; não há lugar onde se passe que não falem em seu nome”. Passou dois meses em Brotas, que também recebeu a visita de Blackford, Emanuel Pires e Schneider. Em janeiro e fevereiro de 1867, visitou vários pontos do Vale do Paraíba na companhia de Blackford. Em março, seguiu para Minas Gerais na companhia de Miguel Torres, visitando Ouro Fino, Borda da Mata, Pouso Alegre e Santana do Sapucaí. Em Borda da Mata, pregou três vezes no sítio de Antônio Joaquim de Gouvêa, parente dos crentes de Brotas. As sete reuniões realizadas em Pouso Alegre foram muito concorridas. Em 23 de abril de 1867 o jornal Correio Paulistano publicou a “Sentença de Excomunhão e Exautoração” contra o ex-padre. No mês seguinte, os jornais publicaram a resposta do Rev. Conceição, um verdadeiro manifesto evangélico. Em junho ele publicou a sentença e a respectiva resposta em um livreto que teve grande divulgação. Seguiu então novamente para o Rio de Janeiro. Tendo chegado pouco antes da reunião do presbitério (11 a 16 de julho), pregou em Copacabana, São Cristóvão, Cascadura, Maxambomba, Macacos e Serra, estações da estrada de ferro. Na reunião presbiterial, leu um texto intitulado “O Brasil necessita da pregação do evangelho?”
Como a sua saúde inspirava cuidados, os missionários o incentivaram a ir aos Estados Unidos, o que ele fez no início de agosto, lá permanecendo quase um ano. Partiu em 3 de agosto no navio Eclipse e chegou a Nova York em 12 de setembro. Apresentou ao Dr. David Irving, secretário da Junta de Missões, uma carta de recomendação de Simonton, e passou alguns dias com Chamberlain, que angariava donativos para a construção do templo do Rio. Este o levou para conhecer as igrejas portuguesas de Springfield e Jacksonville, no Illinois, nas quais Conceição trabalhou durante oito meses e onde aplicou os seus conhecimentos de medicina. Iria corresponder-se com essas igrejas até pouco antes do seu falecimento. As mesmas haviam enviado ao Brasil o Rev. Emanuel Pires e logo enviaram os Revs. Robert Lenigton e João Fernandes Dagama. Nessa estadia nos Estados Unidos, Conceição fez a revisão de uma tradução do Novo Testamento para a Sociedade Bíblica Americana e traduziu artigos e folhetos para a Sociedade Americana de Tratados. De regresso a Nova York, Irving e Chamberlain o acompanharam ao vapor Mississippi, no qual embarcou no dia 23 de junho de 1868, chegando ao Rio de Janeiro em 20 de julho. No dia 1° de agosto, embarcou com Blackford e Schneider para Santos, a fim de participar da reunião do presbitério em São Paulo (5 a 8 de agosto).
Após a reunião presbiterial, Conceição tomou o caminho do sul, passando por Cotia, São Roque, Sorocaba, Campo Largo, Alambari e Itapetininga. No início de outubro retornou a São Paulo e foi para o Rio de Janeiro. Acompanhou Chamberlain no vapor Parati ao litoral fluminense, visitando Angra dos Reis e Parati. Dali subiram a serra, passando por Cunha e Lorena, onde houve perseguição. Seguiu então para São Paulo, visitando as principais cidades e vilas do Vale do Paraíba. Na capital paulista, foi hospedado pelos Revs. Pires e McKee. No dia 15 de janeiro de 1869 partiu para Atibaia, Bragança, Amparo e Socorro. Esteve também em São José dos Campos e outros locais. Em julho voltou a São Paulo para a 5ª reunião do Presbitério do Rio de Janeiro (12-18 de agosto), a última a que compareceu. O trabalho havia mudado durante a sua ausência no exterior. A ênfase era outra: não mais o febril desbravamento, mas a consolidação em torno de alguns centros. Seu relatório foi considerado demasiado longo e recebido com certo desinteresse.
A partir de agosto de 1869, Conceição voltou a ser um solitário. Não se sentia atraído pelas estruturas e formalidades eclesiásticas. Preferia continuar viajando e pregando, apesar da saúde cada vez mais precária. Nunca mais teve companheiros de estrada; nunca mais compareceu ao presbitério nem lhe prestou relatório. Tornou-se um estranho para os próprios amigos, que raramente sabiam onde ele se achava. Era afligido periodicamente por sérias crises de depressão, que foram, no dizer de um autor, o seu “espinho na carne”. Em 21 de setembro de 1869, escreveu de São Paulo à irmã e ao cunhado dizendo-se doente “com umas feridas grandes e dolorosas” e impossibilitado de viajar. Em 6 de março de 1870 ministrou a Ceia na Igreja de São Paulo em companhia do Rev. McKee e no dia 14 oficiou no sepultamento do Rev. William D. Pitt. Em julho de 1872 esteve no Rio de Janeiro; em agosto e setembro foi visto em Queluz e depois em Caldas, Campanha e outros pontos de Minas; de outubro a dezembro andou por Areias e Mambucaba, no litoral de São Paulo. No primeiro semestre de 1873, esteve em Queluz, São Paulo, Rio de Janeiro, Piraí, Campo Belo e Caraguatatuba, entre outros locais. Tornou-se uma figura lendária nas estradas. Em muitos lugares, enfrentou tremendas perseguições e injúrias. Em Pindamonhangaba, um homem foi ouvi-lo para o insultar, mas a prédica versou sobre o Filho Pródigo e ele chorava a ausência de um filho querido. Numa fazenda, o dono o interrompeu, perseguiu-o pela estrada com um chicote e açulou os cães contra ele, deixando-o gravemente ferido. Em 1872, na cidade de Campanha, foi apedrejado por uma turba e deixado como morto na estrada.
O Rev. Conceição exerceu o seu ministério de maneira sacrificial e abnegada. Seu método era ir de vila em vila e de casa em casa, pregando, lendo e expondo a Bíblia. Vivia como um nômade, pregando em toda parte e experimentando toda sorte de privações, que lhe prejudicaram a saúde. Passava a noite em qualquer lugar que lhe oferecessem e, em sinal de reconhecimento, servia de enfermeiro a algum doente ou prestava pequenos serviços, como varrer e lavar. Alimentava-se de maneira frugal e o seu único vestuário era o que lhe cobria o corpo. Nas longas peregrinações, ocupava as horas vagas escrevendo a lápis sermões, traduzindo artigos e fazendo anotações curiosas sobre tudo o que observava. Quando se demorava por algum tempo em algum local onde podia dispor de comodidade, passava a limpo os seus sermões, hinos, notas e traduções, empregando em tudo muito método, clareza e uma bela caligrafia. Todos esses papéis ele levava consigo embrulhados em um pano, até poder dar-lhes o destino apropriado, enviando uns aos amigos e outros à redação da Imprensa Evangélica. Tinha uma presença nobre e atraente, voz harmoniosa, grande eloqüência e pureza de vida. O pouco que possuía, dava aos pobres.
Na reunião do presbitério em agosto de 1873, decidiu-se que Conceição devia fixar residência no Rio de Janeiro para cuidar da saúde. Em dezembro, ele finalmente dirigiu-se só e a pé para aquela cidade, onde o Rev. Blackford alugara uma casa aprazível em Santa Teresa para ele descansar. Perto de Piraí, indo à estação da via férrea, anoiteceu e ele buscou abrigo numa casa à beira da estrada. Um policial, vendo-o descalço e mal-vestido, o levou preso como indigente. Nos três dias que passou na prisão, gastou os seus últimos recursos, tendo de seguir a pé para a capital. Ao aproximar-se da cidade, às quatro horas da tarde do dia 24, caiu desfalecido à beira do caminho, na estrada da Pavuna. Foi levado para a enfermaria militar do Campinho, onde recebeu carinhosa assistência. Mudaram-lhe as roupas e lhe deram um caldo; só respondia com monossílabos e movimentos da cabeça. Pediu para “ficar só com Deus”. Naquela madrugada, 25 de dezembro de 1873, o Rev. Conceição morreu enquanto dormia. O major Augusto Fausto de Souza, diretor da enfermaria militar, e o subdelegado Honório Gurgel do Amaral coordenaram os preparativos para o enterro. Ia ser sepultado como indigente quando chegou o futuro candidato ao ministério Cândido Joaquim de Mesquita, enviado pelo Rev. Blackford em busca de notícias. No mesmo dia, o Rev. Conceição foi sepultado condignamente no cemitério da matriz de Irajá.
O bispo D. Pedro Maria de Lacerda soube do ocorrido e repreendeu com veemência os sacerdotes responsáveis pelo sepultamento, que alegaram não saber que se tratava do excomungado José Manoel da Conceição. Três anos mais tarde, antes de vencido o prazo legal de cinco anos, seus ossos foram exumados e transferidos para São Paulo, sendo sepultados ao lado do túmulo de Simonton, no Cemitério dos Protestantes. Sua lápide tem dois versículos que bem descrevem o seu ministério: “Não me envergonho do Evangelho de Cristo” (Rm 1.16) e “Me alegro nos sofrimentos por seu corpo, que é a igreja” (Cl 1.24). O diretor da enfermaria militar, major Fausto de Souza, anos depois veio a converter-se e escreveu uma biografia desse herói da fé, publicada na Imprensa Evangélica de janeiro e fevereiro de 1884, na forma de suplemento, sob o título “Ex-padre José Manoel da Conceição”.
Conceição deixou muitos filhos espirituais, cujos descendentes atuam até hoje na Igreja Presbiteriana do Brasil. Dois exemplos entre tantos, além dos Gouvêa e dos Cerqueira Leite, são as famílias Barbosa Martins (Rev. Wadislau Martins Gomes) e Campos (D. Aurora de Campos Kerr, Rev. Heber Carlos de Campos). Colaborou na Imprensa Evangélica com artigos e sermões, alguns dos quais foram reproduzidos em um suplemento do Brasil Presbiteriano em 1972, no sesquicentenário do seu nascimento (“A devoção doméstica”, “A ilustração”, “O evangelho”, “O endurecimento do coração” e “A última ceia do Senhor”). Deixou também alguns hinos, dentre os quais “Amar-te, Jesus, e crer-te”, “Oh! Se me fora possível”, “Dou de mão à vaidade” e “Escreve tu com própria mão”, o escrito “As exéquias de Abraão Lincoln, presidente dos Estados Unidos” (1865) e algumas cartas. Era versado em matemáticas e ciências físicas e naturais; conhecia francês, inglês, latim e alemão.
Em sua homenagem, a instituição fundada em 1928 pelo Rev. William A. Waddell em Jandira, nos arredores de São Paulo, recebeu o nome de Instituto José Manoel da Conceição, nome esse preservado atualmente no seminário presbiteriano situado no bairro do Campo Belo, na capital paulista. Em Votorantim, cidade próxima de Sorocaba, a igreja presbiteriana está em uma avenida que leva o seu nome, na qual também se encontra o seu busto. Como bem apontou o seu biógrafo, Rev. Boanerges Ribeiro, a maior contribuição do ex-sacerdote foi a proposta de um modelo brasileiro para a reforma da vida religiosa do seu país. Outro estudioso, Paul E. Pierson, um ex-missionário no Brasil, também destacou as características de Conceição que o qualificavam para fazer uma síntese entre o cristianismo evangélico e a cultura brasileira, em contraste com os seus colegas estrangeiros e mesmo brasileiros. Fonte: http://www.mackenzie.com.br/10177.htm
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Jerônimo Gueiros – “O Leão do Norte”
Biografia
Jerônimo de Carvalho Silva Gueiros (1880-1953)
Pastor, professor, jornalista e poeta – “O Leão do Norte”
Rev. Jerônimo Gueiros
Esse personagem foi um dos mais influentes líderes presbiterianos do Nordeste na primeira metade do século 20, tendo se destacado como ardoroso defensor da ortodoxia. Jerônimo de Carvalho Silva Gueiros nasceu no dia 30 de setembro de 1880, dia dedicado a “São Jerônimo”, na localidade de Queimadas de Santo Antônio (Jurema), município de Quipapá, em Pernambuco. Era o décimo dos 12 filhos e o mais novo dos filhos homens de Francisco de Carvalho da Silva Gueiros (1829-1906) e Rita Francisca da Silva Gueiros (1838-1912). Seu pai descendia de uma antiga família pernambucana com raízes na região de Garanhuns. O avô de Francisco, Manoel da Silva Gueiros, foi o primeiro a ter esse sobrenome, uma possível corruptela de “Queirós”.
O menino viveu até os quatro anos no vilarejo de Salobro, município de Pesqueira, e então por mais dois anos em Palmeira dos Índios, Alagoas. Em 1886, a família retornou para Garanhuns, onde Jerônimo estudou na escola particular do professor João Randal e nas escolas estaduais de Dona Aninha e do professor Joaquim Correia. Posteriormente, também frequentou o Colégio Acioly. Até 1894, sua educação foi pouco além de ler, escrever e fazer contas. Após a abolição da escravatura, ele e o irmão Antônio tiveram de trabalhar como marceneiros para o sustento da família. Também trabalhou como cigarreiro, chegando a fabricar 1.200 cigarros em um só dia. No início da adolescência, tinha uma vida desregrada, entregando-se à bebida e aos jogos de azar.
A vida da família mudou radicalmente com a chegada dos primeiros missionários protestantes a Garanhuns. Em maio de 1894, veio à cidade o jovem pastor Henry John McCall (1868-1960), que havia chegado a Recife no ano anterior, a serviço da missão congregacional “Help for Brazil”. Tendo sido acometido de uma “febre biliosa”, foi levado pelo Sr. David Law e sua esposa, membros da igreja congregacional, a Garanhuns, conhecida por seu clima saudável e ameno. Nessa ocasião, McCall realizou pregações públicas durante uma semana, às quais compareceram Francisco Gueiros e seus cinco filhos. Mais tarde, o missionário lembrou que eles estavam de chapéu na cabeça e, quando ele começou a ler a Bíblia, cada vez que aparecia o nome de Deus, os moços se descobriam em sinal de respeito, porém imediatamente tornavam a pôr o chapéu. Eles e outros jovens tinham sido insuflados pelo pároco local contra o pregador, dizendo que ele era “inimigo de Deus e de Nossa Senhora”.
O Rev. McCall falou tantas vezes o nome de Jesus Cristo e de Deus que os rapazes se cansaram de tirar e pôr o chapéu. Ao contrário do que imaginavam, perceberam que o missionário se revelava amigo de Deus, de modo que, quando a multidão por trás deles começou a gritar e lançar insultos, exigiram silêncio. Quando o adolescente Jerônimo voltou para casa, disse à mãe que o pregador anunciava uma salvação alcançada somente por meio de “Nosso Senhor”, e que ele aceitara essa salvação. Dona Rita respondeu: “Filho, essa é a minha religião. Você não sabe que sempre fui devota de Nosso Senhor?”. Anos antes, quando a família deixou a vila de Salobro, um professor ali residente ofertara a ela um exemplar do Novo Testamento. Desse modo foram convertidos inicialmente o filho mais novo e a genitora da numerosa família.
Jerônimo Gueiros (1880-1953)
Jerônimo só aceitou plenamente o evangelho no ano seguinte, com a chegada do Rev. Dr. George William Butler e sua esposa D. Rena, que foram iniciar o trabalho presbiteriano em Garanhuns por insistência de McCall. Esse casal exerceu forte influência sobre o jovem, que foi batizado em 6 de janeiro de 1895. Passou então a pregar o evangelho aos pais e aos irmãos, até que todos se converteram. Frequentou a escola que D. Rena montou em sua própria residência para os rapazes da igreja nascente, sendo muito dedicado aos estudos e um verdadeiro autodidata. Entre outras matérias, aprendeu inglês, o que lhe abriu novas oportunidades intelectuais. Sentindo a vocação ministerial, tornou-se pregador leigo, ao lado do presbítero Antônio Vera Cruz, como auxiliar do Rev. Butler. Desse trabalho de evangelização resultaram as igrejas de Catonho, Canhotinho, Cachoeira Dantas, Gileá e outras.
A seguir, continuou os estudos no colégio evangélico e na incipiente escola teológica do Rev. Martinho de Oliveira, que substituiu o Dr. Butler quando este se transferiu para a vizinha cidade de Canhotinho. Foi o primeiro aluno do que viria a ser o Seminário Presbiteriano do Norte. Aos 19 anos, foi eleito presbítero da igreja de Garanhuns e, no dia 15 de setembro de 1901, aos 21 anos, foi ordenado ao ministério pelo Presbitério de Pernambuco. Na ocasião, leu perante o presbitério a tese “O destino do homem”.
Desde 1899, vinha dando assistência à igreja de Fortaleza, no Ceará, na ausência do Rev. Reginald P. Baird. Retornando a Fortaleza após a ordenação, manteve por três meses, pela imprensa, uma polêmica com o seminarista José de Arimateia Cisne acerca da Eucaristia. Em 23 de dezembro de 1903, casou-se em Garanhuns com Cecília Barbosa de Frias, que havia conhecido na igreja e no colégio do Rev. Martinho. Logo após o casamento, o presbitério o designou para pastorear a igreja de Natal, onde permaneceu até o início de 1909. Além do pastorado, dedicou-se ao magistério particular e público. Foi redator de O Século, periódico da igreja e da missão norte-americana, fundado em 1895 pelo Rev. William Calvin Porter. Publicou no jornal A Imprensa uma série de artigos sob o título “Estudos de filologia e gramática”.
Por razões de saúde, ausentou-se de Natal em janeiro de 1909, deixando para trás uma igreja com 300 membros e 12 congregações em todo o estado. Regressou a Garanhuns, levando consigo, mediante permissão do presbitério, a tipografia na qual imprimia o jornal O Século. O primeiro número do jornal publicado em Pernambuco saiu em 1º de fevereiro, com o nome modificado para Norte Evangélico, que foi mantido por 50 anos. Esse periódico resultou da fusão de O Século com o jornal Imprensa Evangélica, publicado em Salvador pelo Rev. Matatias Gomes dos Santos. Nessa época, também lecionou no Seminário Teológico de Garanhuns e dirigiu o Colégio 15 de Novembro. Tendo recuperado a saúde, reassumiu em 1912 o pastorado da igreja de Natal. Fundou com o Rev. Calvin Porter uma escola para rapazes chamada Externato Natalense, na qual estudou João Café Filho (1899-1970), futuro Presidente da República. Também fundou a Escola Eliza Reed e reorganizou o Instituto Pestalozzi, onde lecionou português por vários anos. Foi professor da Escola Normal do Rio Grande do Norte, primeiro interinamente e depois como titular, tendo feito concurso para a cadeira de português em fevereiro de 1919. O texto da prova prática resultou no livro Infinito pessoal.
No ano seguinte, sua fama de bom professor levou o governador de Pernambuco, Dr. José Bezerra Cavalcanti, a convidá-lo para dirigir a Escola Normal do Recife, para onde se mudou a fim de assumir o cargo. O convite a um pastor protestante para exercer função tão importante na educação pública causou escândalo nos meios católicos. De imediato, o Rev. Jerônimo se propôs a criar um novo trabalho presbiteriano na cidade, iniciando uma escola dominical em sua residência. No dia 27 de fevereiro de 1921, mediante autorização do presbitério, foi organizada nas dependências do Colégio Agnes Erskine a 2ª Igreja Presbiteriana de Recife, embora, na verdade, já existissem outras três na cidade: a 1ª Igreja, Areias e Campo Alegre. Por algum tempo, o Rev. Jerônimo também assumiu o pastorado da igreja de Campo Alegre e da 1ª Igreja. Iniciou congregações que mais tarde se tornaram as igrejas de Tejipió (1948) e da Madalena (1951). Em 1922, ao falar no Instituto de Ciências e Letras de Pernambuco, demonstrou preocupações sociais, condenando a injusta exploração de trabalhadores por industriais ricos.
A 2ª Igreja passou por vários endereços, até que, em 15 de novembro de 1947, foi inaugurado o majestoso templo da Rua Formosa, depois Avenida Conde da Boa Vista. A construção, supervisionada pelo arquiteto e presbítero Diniz Prado de Azambuja Neto, foi inteiramente concluída em maio de 1949, sendo que, no dia 3 de julho, adotou-se o nome Igreja Presbiteriana da Boa Vista. O Dr. Diniz foi ordenado em 24 de janeiro de 1949, passando a colaborar no pastorado das igrejas de Tejipió e da Boa Vista. Ao lado de outras atividades, o Rev. Jerônimo foi secretário geral da Associação Cristã de Moços (ACM), que oferecia cursos profissionalizantes, entre os quais datilografia, algo muito valorizado na época. Lecionou no Colégio Americano Batista e fundou o Instituto de Assistência e Educação, que mais tarde recebeu o seu nome. Foi membro das diretorias do Seminário do Sul (Campinas) e do Seminário do Norte (Recife). Deste último também foi reitor e professor.
O ilustre ministro caracterizou-se por sua postura doutrinária e eclesiástica fortemente conservadora. Envolveu-se em polêmicas contra o sabatismo, o pentecostalismo, o espiritismo e o liberalismo teológico, combatendo de modo intransigente tudo o que lhe parecia errôneo. Em dezembro de 1937, quando foi aprovada uma constituição para a Igreja Presbiteriana do Brasil, ele se tornou um dos líderes da oposição ao documento. Em especial, objetou contra o diaconato feminino e alegou que a Constituinte havia se reunido de forma irregular. Antevendo um possível desligamento da denominação, levou a igreja da Boa Vista a reformar seus estatutos para adquirir autonomia jurídica. Publicou sobre a questão o livreto “Firmeza doutrinária da Igreja Presbiteriana da Boa Vista”. A situação somente se tranquilizou em 1950, quando foi aprovada a atual Constituição da IPB. À semelhança do seu sobrinho Israel Gueiros, o Rev. Jerônimo nutriu fortes simpatias pelo movimento fundamentalista de Carl McIntire, a quem recepcionou em sua igreja em 1951.
Apesar de seu firme apego à fé evangélica, teve bom relacionamento com católicos de Recife, inclusive com representantes do clero. No final da vida, em um poema dedicado a Maria, descreveu-a em termos evangélicos como a mãe de Cristo. Porém, levado pelos arroubos de poeta afirmou que ela foi “a mãe da salvação”. Algumas freiras da cidade, conhecidas como “Irmãs Doroteias”, com quem mantinha amigável correspondência, imaginaram que ele voltara a encarar a Virgem Maria dentro da perspectiva católica romana. Sabendo-o já bem enfermo, enviaram-lhe um rosário, fazendo votos de que regressasse à igreja católica. Apressou-se então a devolver o rosário às bondosas freiras, escrevendo-lhes uma longa carta na qual agradeceu o gesto de amor cristão e ao mesmo tempo reiterou por completo sua fé evangélica.
Em 15 de setembro de 1951, a igreja da Boa Vista comemorou festivamente o jubileu ministerial de seu ilustre pastor. O Supremo Concílio, reunido em Jandira (SP), enviara uma saudação especial, subscrita por 45 pastores e presbíteros. Seis meses depois, em abril de 1952, sua saúde começou a declinar devido ao coração debilitado e a uma úlcera gástrica. Desobedecendo às ordens médicas, continuou a pregar. Seu último sermão foi proferido na Igreja Presbiteriana de Areias, encerrando uma reunião do Presbitério de Pernambuco. Falou sobre o tema “Tudo novo” (2Co 5.17). No final de março de 1953, pressentindo a morte, convocou pela última vez o conselho da igreja, para uma tocante despedida.
Seu último soneto, “Prece final”, tem os seguintes versos: “Chegou da vida a hora tormentosa / Quando a procela agita o meu batel. / Estende-me, Senhor, mão poderosa! / Ampara-me nesta hora tão cruel! // Por mim já revelaste mão bondosa, / Salvando-me por Cristo, o Emanuel. / Atende, agora, a prece fervorosa / Que te ergo, angustiado, Deus fiel! // Permite-me acabar minha carreira, / E no combate ao mal prevalecer. / Concede-me que a fé eu guarde inteira / Até que o prêmio eu possa receber. // Extingue minha dor, minha canseira / Pois creio em teu amor e teu poder!”. Nos seus últimos dias (30.03.1953), ditou e assinou uma declaração sobre sua firmeza na fé que havia pregado em toda a carreira ministerial.
Faleceu em sua residência às 2 horas da madrugada do dia 7 de abril de 1953 (dia do aniversário da esposa), aos 73 anos. Nos funerais, na igreja e no Cemitério de Santo Amaro, falaram os Revs. Israel Furtado Gueiros, Diniz Prado de Azambuja Neto, Benjamim Moraes (presidente do Supremo Concílio), Othon Guanaes Dourado (deão do Seminário do Norte), Josibias Fialho Marinho e outros oradores. O governador do estado, Dr. Etelvino Lins, esteve presente às cerimônias. O afamado Dr. Munguba Sobrinho, pastor da Igreja Batista da Capunga, proferiu eloquente oração fúnebre que foi publicada no Suplemento Literário do Diário de Pernambuco (19.04.1953). O nome do finado pastor foi dado a diversas escolas e logradouros públicos do Nordeste. Dona Cecília faleceu em novembro de 1963.
O casal Gueiros teve doze filhos: Esdras (advogado e ministro do Tribunal Federal de Recursos), Alda (esposa do pastor batista Adrião Bernardes, falecida antes que o pai), Neemias (brilhante advogado e professor de direito civil conhecido no exterior, tendo representado o Brasil na ONU, na área de direito comercial internacional), Rubem (funcionário do IBGE e assistente da diretoria da Mercedes Benz do Brasil), Helena (esposa do médico Dr. Orlando de Vasconcelos), Álvaro (bancário no Rio de Janeiro), Jerocílio (governador do então Território do Rio Branco), Célia (esposa do advogado e industrial Nilson F. Coelho, da Bahia), Luci (casada com o advogado Evandro Gueiros Leite, ministro do Superior Tribunal de Justiça), Jenílio (funcionário do IBGE), Jerônimo Júnior (bancário no Rio de Janeiro) e Clarindo (gerente da Standard Oil no Rio de Janeiro).
O Rev. Jerônimo Gueiros foi mestre do vernáculo, orador fluente, autor de muitos trabalhos, hinólogo e poeta. Foi membro do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico de Pernambuco e da Academia Pernambucana de Letras (cadeira 11, tendo como patrono o General Abreu e Lima). Colaborou com os diários Jornal do Recife, Jornal do Comércio, A Província e Diário de Pernambuco. Nos dois últimos, redigiu a seção “Disciplina da Linguagem”, cujas lições foram transmitidas pela Rádio Clube de Pernambuco. Entre elas se incluem seus trabalhos “Filologia e gramática – supostos galicismos” e “O português falado no Brasil”.
Escreveu vários livros, opúsculos e artigos, como O espiritismo analisado, Projeções de minha vida – letras, história e controvérsia (coletânea de estudos, 1952), “Minha conversão”, “Igreja Presbiteriana da Boa Vista (síntese histórica)”, “O destino da mulher”, “Religiões acatólicas em Pernambuco”, “A Reforma e o cristianismo”, “A Bíblia e a cultura humana”, “Influência da Bíblia na cultura nacional” (onde fala de inúmeros personagens do protestantismo brasileiro), “Deus conosco” e “Nós pregamos a Cristo crucificado”. Durante a 1ª Guerra Mundial, escreveu uma pequena peça teatral de caráter pacifista, “A paz e a guerra ante a história e a razão”, publicada no Norte Evangélico e encenada em muitas igrejas.
Produziu também os seguintes escritos de controvérsia: “A eucaristia”, “A pedra fundamental da igreja”, “A Bíblia e a ciência”, “Deus revelado”, “Modernismo teológico e fundamentalismo cristão”, “Razões de meu silêncio”, “Perigos dos últimos tempos”, “Firmeza doutrinária da Igreja Presbiteriana da Boa Vista”, “O Brasil ameaçado”, “Firmeza e ortodoxia”, “A heresia pentecostal” e “O perigo do erro à sombra da verdade”. Neste último trabalho, dirigiu fortes críticas a alguns escritos do colega Miguel Rizzo Júnior, nos quais viu a defesa de um misticismo extrabíblico e a colocação da experiência acima da doutrina. Redigiu várias pastorais do Presbitério de Pernambuco e do Sínodo Setentrional, entre as quais “Mensagem de paz e fraternidade às igrejas presbiterianas do Brasil – a propósito da fé que professamos” (1950).
Jerônimo Gueiros teve atuação contínua e destacada nos concílios da IPB. Foi relator da Comissão do Hinário da Assembleia Geral. Como subsídio, publicou a coletânea Novo Hinário, reunindo produções suas, de Cecília Siqueira, Antônio Almeida e outros. A edição de 1935 chegou a 220 cânticos. O Hinário Presbiteriano tem treze hinos seus, entre os quais “Graças te rendemos” (56), “Eis-me aqui, Senhor bondoso” (344) e “Da Bíblia a luz celeste” (371). No Hinário Evangélico estão dez hinos de sua lavra, dos quais os mais conhecidos são “Redime o tempo” (287) e “Glória sem par” (465). O Rev. Reginaldo José de Pinho Borges, ex-pastor da Igreja Presbiteriana da Boa Vista, publicou muitos poemas de seu digno antecessor.
Fontes
Lessa, Anais, p. 536, 542. · Ferreira, História da IPB, I:453, 460-62, 552, 556; II:102, 109, 112, 114s, 209, 252-56, 274s, 282, 328. · O Puritano, 10.11.1951, p. 8; · Despertador, jul 1955, p. 1-3. · Israel F. Gueiros, “Jerônimo Gueiros, o lutador”, Norte Evangélico, abril de 1953. · Braga, Música sacra evangélica no Brasil, p. 337s. · Igreja Presbiteriana do Recife (1878-1978) – anais do centenário. · Brasil Presbiteriano, nov 1959, p. 3; set 1980, p. 1; out 1980, p. 16; nov 1980, p. 16; dez 1993, p. 10; maio 1997, p. 18. · Pierson, Younger church, p. 150, 209. · Reginaldo José de Pinho Borges, A saga do carvalho (Recife, 2001). · Reginaldo José de Pinho Borges e Mirian Machado, Memórias (Recife, 2006). · David Gueiros Vieira, Trajetória de uma família, p. 259-271. · Samuel Gueiros, “Resgatando a memória presbiteriana – Rev. Prof. Jerônimo Gueiros – resenha biográfica”, manuscrito (Fortaleza, 2008). · Alderi Matos, “Família Gueiros”, Brasil Presbiteriano, jan 2011, p. 3.
(Do livro “Os Consolidadores da Obra Presbiteriana no Brasil”, 2014)
© Alderi Souza de Matos – Instituto Presbiteriano Mackenzie – Usado com permissão
Ilustração: Lucas Nasto – © 2016 de hinologia.org
Fonte: ADMINISTRADOR HC · PUBLICADO 04/05/2015 · ATUALIZADO 02/06/2017
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Zwinglio e a sua importância para a Reforma Protestante
Neste ano, em comemoração aos 500 anos da Reforma, Lutero e Calvino são figuras que serão lembradas por sua imensa contribuição a causa. Sem dúvida, são os grandes nomes do que veio ser posteriormente chamado de protestantismo, todavia, outros homens também têm a sua importância. Dentre eles um que foi contemporâneo de Lutero e que antecedeu Calvino ao levar os postulados reformados à Suíça. Este homem foi Ulrico Zwinglio.
Nascido em 1º de janeiro de 1484 — apenas dois meses após o nascimento de Lutero — na vila de Wildhaus, no Cantão de St. Gall, nordeste da Suíça, sendo o terceiro filho de uma família com sete irmãos e duas irmãs. Sua educação foi a melhor possível, lhe conferindo um altíssimo nível acadêmico. Estudou na Universidade de Viena e na Universidade da Basileia. Foi instruído em latim, música, dialética, filosofia escolástica, astronomia, física e os clássicos antigos. Influenciado pelo movimento humanista, bastante popular entre os eruditos de sua época, tornou-se Mestre em Artes no ano de 1506, com apenas 22 anos de idade. Músico talentoso, tocava alaúde, harpa, violino, flauta, gaita de foles e trompa de caça.
Após atingir o grau de mestre, Zwinglio foi ordenado ao sacerdócio. Tornou-se pároco na cidade de Glarus, onde serviu como pastor e se colocou contra os mercenários, homens que por dinheiro se alistavam em exércitos estrangeiros. Mudou-se então para Einsiedeln em 1516 e dois anos mais tarde para Zurique. Ainda em Einsiedein, tomou conhecimento de Erasmo de Roterdã e através da sua tradução grega do Novo Testamento passou a pregar sermões que iam contra muitas práticas da Igreja Católica Romana, sobretudo a venda das indulgências, condenadas por Zwinglio antes mesmo de Lutero se opor a elas. Zwinglio e Erasmo acabaram se tornando amigos, embora o semipelagianismo, defendido por Erasmo, tenha sido rejeitado pelo reformador suíço.
Mesmo sendo um erudito e tendo uma experiência pastoral por anos, Zwinglio tinha uma mente humanista e seu cristianismo era de assentimento intelectual. Durante esse tempo, caiu na prática da fornicação, e anos mais tarde, arrependido deste pecado, ainda sentia a afetação de sua vida pregressa. A conversão de Zwinglio se dá paulatinamente, quando o mesmo se torna sacerdote na principal igreja de Zurique. Cada vez mais discordante das doutrinas papais e mergulhando na Escritura para rebater os papistas, Zwinglio tornou-se um expositor bíblico e sua exposição contínua do Novo Testamento, que durou quatro anos (só deixando de explanar o Apocalipse) foi lhe impactando, vendo a necessidade de ter uma fé cada vez mais pura e centrada na Escritura. Assim como o culto também deveria refletir esta mesma pureza.
Após ter sido curado de uma peste, Zwinglio adota uma postura mais sistemática como reformador. O cristianismo, que já estava em sua cabeça, havia descido ao coração, fazendo com que ele buscasse apaixonadamente purificar a Igreja das tradições não escriturísticas. Liderando um grupo ávido por reforma, Zwinglio convocava os magistrados da cidade e expunha os erros doutrinários do catolicismo romano. Os magistrados, por sua vez, organizavam um debate com a presença de um sacerdote católico, e os argumentos deveriam ser retirados apenas da Escritura. Assim a Reforma foi avançando na Suíça, pois os debates eram facilmente vencidos, e práticas tais como a quaresma, o celibato obrigatório, o jejum como penitência e devoção as imagens foram abolidas, tidas como sendo não bíblicas. Além disso, a Bíblia passou a ser traduzida para o vernáculo. Nem sempre Zwinglio era o principal debatedor, mas ele estava envolvido em todas as disputas e num período de sete anos, em 1530, Zurique, Berna, Basiléia e a maioria do norte e leste da Suíça romperam com o catolicismo romano. Incluindo Genebra, cidade que posteriormente influenciou outros países e a partir do ministério de João Calvino e da Academia por este fundada, levou as doutrinas reformadas para toda a Europa.
Graças a estes debates, temos a primeira confissão de fé reformada, que são os Sessenta e Sete Artigos de Fé escritos por Zwinglio, redigida antes do embate em Zurique (1523). Eis alguns trechos:
“Todo que diz que o Evangelho é nada sem a sanção da Igreja, erra e blasfema contra Deus”.
“Que Cristo é o único eterno sumo sacerdote; disto nós deduzimos que todo aquele que pretende ser sumo sacerdote se opõe à honra e poder de Cristo; de fato, ele o rejeita”.
“Tudo que Deus permite ou que ele não proibiu é permitido. Disto nós aprendemos que é próprio para qualquer um se casar”.
“As verdadeiras Escrituras Sagradas nada sabem de um purgatório após esta vida”.
“Todos os superiores clericais devem se humilhar instantaneamente e levantar somente a cruz de Cristo, e não a caixa de dinheiro. Do contrário eles perecerão; o machado é deitado na raiz da árvore”.
O que hoje soa com certa normalidade, na época foi muito ousado, pois, ir de encontro à doutrina da infalibilidade papal era digno de excomunhão e martírio. Outro documento importante, elaborado nesse mesmo contexto são as Dez Teses de Berna (1528), quando a cidade adota as premissas reformadas. Vejamos algumas das teses adotadas: “A Igreja de Cristo não pode fazer nenhuma lei ou mandamento aparte da Palavra de Deus. Deste modo, as tradições humanas não devem ser-nos exigidas se elas não estiverem fundamentadas na Palavra de Deus”.
“Que o corpo e sangue de Cristo é recebido, essencialmente e corporeamente, no pão da Eucaristia é impossível de se provar a partir da Escritura Sagrada”.
“A adoração de imagens é uma prática contrária à Escritura, tanto nos livros do Antigo como no Novo Testamento. Deste modo, como as imagens desonram a si mesmas, e são um perigo, deveriam ser abolidas como objetos de adoração”.
Como podemos ver, a sua influência foi gigantesca, todavia, sua ação como reformador foi interrompida quando morreu numa batalha envolvendo católicos e protestantes. Hanko descreve como se deu a sua morte, em 1531, quando tinha 47 anos de idade:
Zwinglio estava se inclinando para consolar um soldado morrendo, quando foi atingido na cabeça com uma pedra. Ele conseguiu se levantar mais uma vez, mas repetidos golpes e um ferimento de lança deixaram-no morrendo. Vendo suas feridas, ele gritou: “O que importa esta desgraça? Eles podem matar o corpo, mas não podem matar a alma”. Pelo resto do dia ele ficou deitado debaixo de uma árvore de peras, com as mãos postas como em oração e os olhos fixos no céu. No final da tarde alguns soldados dispersos do exército vitorioso pediram-lhe para confessar seus pecados a um padre. Ele balançou sua cabeça indicando sua recusa. Porém, pouco depois um dos homens, à luz da sua tocha, o reconheceu e o matou com a espada, gritando: “Morra herege obstinado!”.
Alegres com sua morte, os soldados esquartejaram seu corpo, queimaram os pedaços por heresia, misturaram as cinzas com as cinzas de porcos, e as espalharam aos quatro ventos. Assim morreu uma das fiéis testemunhas de Deus.
Mesmo tendo sido um importante reformador, Zwinglio tende a ser subestimado e quase sempre é retratado em poucas páginas nos livros que tratam da história da Reforma. Geralmente, ele é citado à sombra de Lutero, sobre a controvérsia da Ceia. Enquanto o reformador alemão ensinava a consubstanciação - a presença de Cristo nos elementos - o reformador suíço defendia um caráter memorialista. Talvez George (1994) esteja certo ao dizer que
As razões dessa desatenção são óbvias. Zuínglio compôs todos os seus escritos reformados apressadamente, em menos de uma década. Foi ofuscado durante sua vida pelo grande Lutero e sucedido pelo mais eficaz Calvino, que impeliu um estudioso a conferir-lhe o título de “terceiro homem” da Reforma. Zuínglio nunca escreveu nada comparável às Institutas. A maioria de seus sermões foi entregue improvisadamente; apenas alguns foram revisados mais tarde para a publicação. Da mesma maneira, suas conversas informais perderam-se para a posteridade, por falta de admiradores devotados que anotassem cada palavra sua.
Mas, apesar de não ter a mesma reputação de Lutero e Calvino, não ter gerado um segmento teológico que levasse seu nome e ter uma compreensão não ortodoxa em algumas doutrinas, tal como a ideia de que pode haver salvação entre pagãos que desconhecem o evangelho por completo. Zwinglio é um gigante da fé e merece ser assim lembrado nos anais da eclesiologia protestante, pois foi um pioneiro da tradição reformada.
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Referências:
GEORG, Thimoty. Teologia dos Reformadores. São Paulo: Vida Nova, 1994.
HANKO, Herman. Retrato de Santos Fiéis. Fireland, 2013.
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Autor: Pr. Thiago Oliveira
Divulgação: Bereianos
HERÓIS DA FÉ
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Hudson Taylor – Missionário na China
Introdução
James Hudson Taylor, nasceu em 1832, na cidade de Barnsley, em Yorkshire, na Inglaterra. Era de família metodista, e recebeu muita influência espiritual de seus pais e avós, bem como seus irmãos William e Amélia. Seu pai, um farmacista, sempre teve preocupação com a condição espiritual da China, e sempre que tinha oportunidade, realizava reuniões especiais para discutir como poderia ajudar aquele tão grande país.
Quando Hudson tinha apenas cinco anos, ele disse ao seu pai: “Quando eu crescer serei um missionário na China”. Apesar desta afirmação, os anos de adolescência de Hudson foram conturbados, e as influências de amigos não lhe ajudaram. Porém, sua mãe e irmã não cessavam de interceder por ele.
James Hudson Taylor, nasceu em 1832, na cidade de Barnsley, em Yorkshire, na Inglaterra. Era de família metodista, e recebeu muita influência espiritual de seus pais e avós, bem como seus irmãos William e Amélia. Seu pai, um farmacista, sempre teve preocupação com a condição espiritual da China, e sempre que tinha oportunidade, realizava reuniões especiais para discutir como poderia ajudar aquele tão grande país.
Quando Hudson tinha apenas cinco anos, ele disse ao seu pai: “Quando eu crescer serei um missionário na China”. Apesar desta afirmação, os anos de adolescência de Hudson foram conturbados, e as influências de amigos não lhe ajudaram. Porém, sua mãe e irmã não cessavam de interceder por ele.
Quando Hudson tinha apenas cinco anos, ele disse ao seu pai: “Quando eu crescer serei um missionário na China”. Apesar desta afirmação, os anos de adolescência de Hudson foram conturbados, e as influências de amigos não lhe ajudaram. Porém, sua mãe e irmã não cessavam de interceder por ele.
Conversão e Chamada
Em junho de 1849, aos dezessete anos, ao ler um folheto escrito pelo seu pai acerca da obra de Cristo, Hudson compreendeu o plano da salvação, e como resultado, entregou sua vida a Jesus. Neste mesmo ano, sentiu a chamada do Senhor para trabalhar como missionário na China. Ao dizer sim à chamada, começou a se preparar em todos os aspectos de sua vida, a fim de atingir o objetivo de evangelizar a China. Logo começou a aprender o Mandarim através de uma cópia do Evangelho de Lucas. Hudson também soube da grande necessidade de médicos na China, e assim começou a estudar medicina, a fim de estar preparado para o campo em que iria trabalhar.
Seu treinamento médico começou na cidade de Hull e continuou em Londres. Além disso, estudou Teologia, Latim e Grego. Por saber que deveria depender totalmente de Deus para o seu sustento diário na China, Hudson muitas vezes colocava-se em situações para provar sua própria fidelidade e confiança em Deus. Enquanto estava em Hull, vivia basicamente se alimentando de aveia e arroz, e grande parte do seu salário ofertava para a obra do Senhor. Um certo dia, quando evangelizava os pobres, um certo homem lhe pediu que fosse orar por sua esposa que estava morrendo em casa. Ao chegar ali, viu uma casa cheia de crianças passando fome, e a mãe que estava muito enferma. Compadecido daquela situação, depois de orar, tirou do seu bolso a única moeda que tinha, o sustento da semana, e ofereceu ao casal. Milagrosamente, naquele mesmo dia, alguém lhe procurou e trouxe um envelope cheio de dinheiro. Esta experiência ensinou a Hudson Taylor que Deus era o seu provedor.
Em junho de 1849, aos dezessete anos, ao ler um folheto escrito pelo seu pai acerca da obra de Cristo, Hudson compreendeu o plano da salvação, e como resultado, entregou sua vida a Jesus. Neste mesmo ano, sentiu a chamada do Senhor para trabalhar como missionário na China. Ao dizer sim à chamada, começou a se preparar em todos os aspectos de sua vida, a fim de atingir o objetivo de evangelizar a China. Logo começou a aprender o Mandarim através de uma cópia do Evangelho de Lucas. Hudson também soube da grande necessidade de médicos na China, e assim começou a estudar medicina, a fim de estar preparado para o campo em que iria trabalhar.
Seu treinamento médico começou na cidade de Hull e continuou em Londres. Além disso, estudou Teologia, Latim e Grego. Por saber que deveria depender totalmente de Deus para o seu sustento diário na China, Hudson muitas vezes colocava-se em situações para provar sua própria fidelidade e confiança em Deus. Enquanto estava em Hull, vivia basicamente se alimentando de aveia e arroz, e grande parte do seu salário ofertava para a obra do Senhor. Um certo dia, quando evangelizava os pobres, um certo homem lhe pediu que fosse orar por sua esposa que estava morrendo em casa. Ao chegar ali, viu uma casa cheia de crianças passando fome, e a mãe que estava muito enferma. Compadecido daquela situação, depois de orar, tirou do seu bolso a única moeda que tinha, o sustento da semana, e ofereceu ao casal. Milagrosamente, naquele mesmo dia, alguém lhe procurou e trouxe um envelope cheio de dinheiro. Esta experiência ensinou a Hudson Taylor que Deus era o seu provedor.
Partida Para China
No dia 19 de setembro de 1853, com 21 anos, e associado à Sociedade de Evangelização Chinesa, Hudson Taylor partiu para a China a bordo do navio de carga chamado Dumfries. Após seis longos meses de viagem com intempéries e perigos de morte, ele chega finalmente em Xangai. Ao juntar-se com outros missionários ingleses, residentes daquela mesma cidade, Hudson notou a grande deficiência da evangelização no interior do país. Nesta época, a China estava passando por momentos tumultuosos, e Xangai havia sido tomada por rebeldes. Por isso, todos os missionários estavam nas cidades da costa, e envolvidos mais com o comércio e a política externa, do que verdadeiramente com a evangelização da nação.
Ponderando tudo isso em seu coração, Hudson decidiu que haveria de trabalhar no interior da China, onde o evangelho não tinha sido levado. Assim, ele começou o seu trabalho distribuindo literatura e porções bíblicas para as vilas ao redor de Xangai, sendo uma delas Sungkiang. Ao estar no meio do povo, ele notou como as pessoas o olhavam diferente por causa de sua roupa ocidental. Sendo assim, ele decidiu adotar os costumes da terra, vestindo-se como um chinês, deixando seu cabelo crescer e fazendo uma trança, como os outros chineses. Este ato conquistou o respeito de muitos chineses, porém, para os missionários ocidentais, uma falta de senso.
Em 1856, Hudson começou a trabalhar na cidade proeminente de Ningpo. Ali, se casou em janeiro de 1858 com a senhorita Maria J. Dyer, filha de missionários, porém órfã, que trabalhava numa escola para meninas. Um ano depois, Hudson assumiu a direção da Missão Hospitalar de Londres em Ningpo. Não só Deus o prosperou, como muitos dos doentes aceitaram a Jesus e se recuperaram de suas enfermidades. Ele começou a orar por mais missionários para o país.
No dia 19 de setembro de 1853, com 21 anos, e associado à Sociedade de Evangelização Chinesa, Hudson Taylor partiu para a China a bordo do navio de carga chamado Dumfries. Após seis longos meses de viagem com intempéries e perigos de morte, ele chega finalmente em Xangai. Ao juntar-se com outros missionários ingleses, residentes daquela mesma cidade, Hudson notou a grande deficiência da evangelização no interior do país. Nesta época, a China estava passando por momentos tumultuosos, e Xangai havia sido tomada por rebeldes. Por isso, todos os missionários estavam nas cidades da costa, e envolvidos mais com o comércio e a política externa, do que verdadeiramente com a evangelização da nação.
Ponderando tudo isso em seu coração, Hudson decidiu que haveria de trabalhar no interior da China, onde o evangelho não tinha sido levado. Assim, ele começou o seu trabalho distribuindo literatura e porções bíblicas para as vilas ao redor de Xangai, sendo uma delas Sungkiang. Ao estar no meio do povo, ele notou como as pessoas o olhavam diferente por causa de sua roupa ocidental. Sendo assim, ele decidiu adotar os costumes da terra, vestindo-se como um chinês, deixando seu cabelo crescer e fazendo uma trança, como os outros chineses. Este ato conquistou o respeito de muitos chineses, porém, para os missionários ocidentais, uma falta de senso.
Em 1856, Hudson começou a trabalhar na cidade proeminente de Ningpo. Ali, se casou em janeiro de 1858 com a senhorita Maria J. Dyer, filha de missionários, porém órfã, que trabalhava numa escola para meninas. Um ano depois, Hudson assumiu a direção da Missão Hospitalar de Londres em Ningpo. Não só Deus o prosperou, como muitos dos doentes aceitaram a Jesus e se recuperaram de suas enfermidades. Ele começou a orar por mais missionários para o país.
Volta à Inglaterra
Depois de estar sete anos na China, Hudson regressou à Inglaterra por motivos de saúde. Ao partir em 1860 para a Inglaterra, não imaginava que estaria seis anos longe do campo. Apesar da distância, o seu coração estava ligado à China. De frente a um mapa da nação, todos os dias ele orava, pedindo que Deus enviasse pessoas dispostas a ganhar as almas chinesas. Juntamente com o Sr. F. Gough, Hudson fez a revisão do Novo Testamento para o chinês e escreveu vários artigos sobre as missões na China.
Depois de estar sete anos na China, Hudson regressou à Inglaterra por motivos de saúde. Ao partir em 1860 para a Inglaterra, não imaginava que estaria seis anos longe do campo. Apesar da distância, o seu coração estava ligado à China. De frente a um mapa da nação, todos os dias ele orava, pedindo que Deus enviasse pessoas dispostas a ganhar as almas chinesas. Juntamente com o Sr. F. Gough, Hudson fez a revisão do Novo Testamento para o chinês e escreveu vários artigos sobre as missões na China.
Os Anos de Provação
Ao recrutar alguns missionários, Taylor viu a necessidade de ter uma missão que suportasse e direcionasse esses novos missionários no interior da China. Para este fim, é que a “Missão para o Interior da China” foi fundada. Durante o tempo que esteve na Inglaterra, enviou cinco obreiros para a China, e em 1864, Hudson pediu a Deus 24 missionários, dois para cada província já evangelizada no interior e dois para a Mongólia. Deus assim cumpriu o seu desejo, e em 26 de maio de 1866, Hudson e Maria, seus quatro filhos e os 24 missionários estavam embarcando no navio Lammermuir em direção à China.
Estabelecidos em Ningpo e em Hangchow, o trabalho missionário começou a se expandir para o sul da província de Chekiang. Dez anos depois, o norte de Kiangsu, o oeste de Anhwei e o sudeste de Kiangsi tinham sido alcançados.
Em um período de três anos, Hudson sofreu a perda de sua filha mais velha Gracie, seu filho Samuel, seu filho recém-nascido, e em julho de 1870, sua esposa também morre de cólera. Mesmo passando por este vale, Hudson Taylor não desistiu de sua chamada para a grande China.
Ao recrutar alguns missionários, Taylor viu a necessidade de ter uma missão que suportasse e direcionasse esses novos missionários no interior da China. Para este fim, é que a “Missão para o Interior da China” foi fundada. Durante o tempo que esteve na Inglaterra, enviou cinco obreiros para a China, e em 1864, Hudson pediu a Deus 24 missionários, dois para cada província já evangelizada no interior e dois para a Mongólia. Deus assim cumpriu o seu desejo, e em 26 de maio de 1866, Hudson e Maria, seus quatro filhos e os 24 missionários estavam embarcando no navio Lammermuir em direção à China.
Estabelecidos em Ningpo e em Hangchow, o trabalho missionário começou a se expandir para o sul da província de Chekiang. Dez anos depois, o norte de Kiangsu, o oeste de Anhwei e o sudeste de Kiangsi tinham sido alcançados.
Em um período de três anos, Hudson sofreu a perda de sua filha mais velha Gracie, seu filho Samuel, seu filho recém-nascido, e em julho de 1870, sua esposa também morre de cólera. Mesmo passando por este vale, Hudson Taylor não desistiu de sua chamada para a grande China.
Novos Horizontes
Em 1871, quando voltava para visitar o restante de seus filhos que haviam sido enviados à Inglaterra, Taylor teve a oportunidade de viajar com uma grande amiga e missionária na China, Jennie Faulding, com a qual se casou em 1872 na Inglaterra. Entre 1876 e 1878 muitos outros missionários vieram dar o seu apoio no campo, vindos de todas as partes do mundo. Hudson esteve por alguns meses acometido de uma enfermidade na coluna, a qual o paralisou, porém, ainda na cama, ele conseguiu enviar dezoito novos missionários para a China. Milagrosamente, depois de muitas orações, Deus o curou e ele voltou a caminhar com saúde completa.
Em 1882, Hudson orou ao Senhor por 70 missionários, e fielmente Deus proveu os missionários e o suporte para cada um deles. Em 1886, Hudson toma outro passo de fé, e pede ao Senhor 100 missionários. Milagrosamente, 600 candidatos se escreveram vindos da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda, se prontificando para o trabalho. Em novembro de 1887, Hudson anuncia alegremente a partida dos cem missionários para a China.
O trabalho da Missão se espalhou por todo o interior do país, segundo o desejo de Hudson Taylor, e no final do século, metade de todos os missionários evangélicos do país estavam ligados à Missão.
Em outubro de 1888, depois de haver visitado os Estados Unidos e Canadá, Hudson parte mais uma vez em direção à China, acompanhado de sua esposa e mais 14 missionários. Durante os próximos quinze anos, Hudson despendeu o seu tempo visitando a América, Europa e Oceania, recrutando missionários para China. O desafio agora não era apenas de cem, mas de mil missionários.
Em 1871, quando voltava para visitar o restante de seus filhos que haviam sido enviados à Inglaterra, Taylor teve a oportunidade de viajar com uma grande amiga e missionária na China, Jennie Faulding, com a qual se casou em 1872 na Inglaterra. Entre 1876 e 1878 muitos outros missionários vieram dar o seu apoio no campo, vindos de todas as partes do mundo. Hudson esteve por alguns meses acometido de uma enfermidade na coluna, a qual o paralisou, porém, ainda na cama, ele conseguiu enviar dezoito novos missionários para a China. Milagrosamente, depois de muitas orações, Deus o curou e ele voltou a caminhar com saúde completa.
Em 1882, Hudson orou ao Senhor por 70 missionários, e fielmente Deus proveu os missionários e o suporte para cada um deles. Em 1886, Hudson toma outro passo de fé, e pede ao Senhor 100 missionários. Milagrosamente, 600 candidatos se escreveram vindos da Inglaterra, da Escócia e da Irlanda, se prontificando para o trabalho. Em novembro de 1887, Hudson anuncia alegremente a partida dos cem missionários para a China.
O trabalho da Missão se espalhou por todo o interior do país, segundo o desejo de Hudson Taylor, e no final do século, metade de todos os missionários evangélicos do país estavam ligados à Missão.
Em outubro de 1888, depois de haver visitado os Estados Unidos e Canadá, Hudson parte mais uma vez em direção à China, acompanhado de sua esposa e mais 14 missionários. Durante os próximos quinze anos, Hudson despendeu o seu tempo visitando a América, Europa e Oceania, recrutando missionários para China. O desafio agora não era apenas de cem, mas de mil missionários.
Sua Última Viagem
Em abril de 1905, com 73 anos, Hudson Taylor faz a sua última viagem à China. Sua esposa Jennie havia falecido, e ele tinha passado o inverno na Suécia. Seu filho Howard, que era médico, juntamente com sua esposa, decidiram acompanhar Hudson nesta viagem. Ao chegar em Xangai, ele visita o cemitério de Yangchow, onde sua esposa Maria e quatro de seus filhos foram sepultados, durante o seu trabalho naquele grande país. Após haver percorrido todos as missões estabelecidas pela sua pessoa, Hudson Taylor, estabelecido agora na cidade de Changsa, deitou-se numa tarde de 1905 para descansar, e deste sono acordou nas mansões celestiais.
A voz que cinquenta e dois anos atrás havia dito a Hudson Taylor: “Vai à China”, agora estava dizendo: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco fostes fiel, sobre muito te colocarei; ENTRA NO GOZO DO TEU SENHOR!”
Em abril de 1905, com 73 anos, Hudson Taylor faz a sua última viagem à China. Sua esposa Jennie havia falecido, e ele tinha passado o inverno na Suécia. Seu filho Howard, que era médico, juntamente com sua esposa, decidiram acompanhar Hudson nesta viagem. Ao chegar em Xangai, ele visita o cemitério de Yangchow, onde sua esposa Maria e quatro de seus filhos foram sepultados, durante o seu trabalho naquele grande país. Após haver percorrido todos as missões estabelecidas pela sua pessoa, Hudson Taylor, estabelecido agora na cidade de Changsa, deitou-se numa tarde de 1905 para descansar, e deste sono acordou nas mansões celestiais.
A voz que cinquenta e dois anos atrás havia dito a Hudson Taylor: “Vai à China”, agora estava dizendo: “Bem está, servo bom e fiel. Sobre o pouco fostes fiel, sobre muito te colocarei; ENTRA NO GOZO DO TEU SENHOR!”
George Müller – O apóstolo da fé
“Pela fé, Abel… Pela fé, Noé… Pela fé, Abraão…” Assim é que o Espírito Santo conta as incríveis proezas que Deus fez por intermédio dos homens que ousavam confiar unicamente nEle. Foi no século XIX que Deus acrescentou o seguinte a essa lista: “Pela fé, George Müller levantou orfanatos, alimentou milhares de órfãos, pregou a milhões de ouvintes ao redor do globo e ganhou multidões de almas para Cristo”.
George Müller nasceu em 1805, de pais que não conheciam a Deus. Com a idade de dez anos, foi enviado a uma universidade, a fim de preparar-se para pregar o evangelho, não, porém, com o alvo de servir a Deus, mas para ter uma vida cômoda.
Aos vinte anos de idade, contudo, houve uma completa transformação na vida desse moço. Assistiu a um culto onde os cristãos, de joelhos, pediam que Deus fizesse cair a Sua bênção sobre a reunião. Ficou profundamente comovido com o ambiente espiritual a ponto de buscar também a presença de Deus.
Foi nesses dias, depois de sentir-se chamado para ser missionário, que passou dois meses hospedado no orfanato do famoso A. H. Frank. Mais ou menos no mesmo tempo em que George Müller hospedou-se no orfanato, um certo dentista, o senhor Graves, abandonou as suas atividades que davam um salário de 7.500 dólares por ano, a fim de ser missionário na Pérsia, confiando só nas promessas de Deus para suprir todo o seu sustento.
Logo depois chegou a reconhecer o erro, mais ou menos universal, de ler muito acerca da Bíblia e quase nada da Bíblia. Esse livro tornou-se a fonte de toda a sua inspiração e o segredo do seu maravilhoso crescimento espiritual. “O Senhor me ajudou a abandonar os comentários e a usar a simples leitura da Palavra de Deus como meditação. O resultado foi que, quando, a primeira noite, fechei a porta do meu quarto para orar e meditar sobre as Escrituras, aprendi mais em poucas horas do que antes durante alguns meses”. E acrescentou: “A maior diferença, porém, foi que recebi, assim, força verdadeira para a minha alma”.
George Müller achava quase impossível ajuntar e guardar dinheiro para qualquer imprevisto, e não ir direto a Deus. “Sem me aperceber, tenho sido levado a confiar no braço da carne, mas o melhor é ir diretamente ao Senhor”.
Certo dia, quando só restavam oito xelins, Müller pediu ao Senhor que lhe desse dinheiro. Esperou muitas horas sem qualquer resposta. Então chegou uma senhora e perguntou: – “O irmão precisa de dinheiro?” Foi uma grande prova de sua fé, porém, o pastor respondeu: – “Minha irmã, eu disse aos irmãos, quando abandonei meu salário, que só informaria o Senhor a respeito de minhas necessidades”. – “Mas”, respondeu a senhora, “Ele me disse que lhe desse isto”, e colocou 42 xelins na mão do pregador.
Nessa ocasião, George Müller fez para si a seguinte regra, da qual nunca mais se desviou: “Não nos endividaremos, porque achamos que tal coisa não é bíblica (Rm. 13:8). Assim sempre saberemos quanto realmente possuímos e quanto temos o direito de gastar”.
Um outro segredo que o levou a alcançar tão grande bênção de confiar em Deus, foi a sua resolução de usar o dinheiro que recebia somente para o fim a que era destinado.
“Sentindo grande necessidade ontem de manhã, fui dirigido a pedir com insistência a Deus e, em resposta, à tarde, um irmão me deu dez libras”. Muitos anos antes de sua morte, afirmou que, até aquela data, tinha recebido da mesma forma 5.000 vezes a resposta, sempre no mesmo dia em que fazia o pedido.
Era seu costume, e recomendava também aos fiéis, guardar um livro. Numa página assentava seu pedido com a data e no lado oposto a data em que recebera a resposta. Desse modo, foi levado a desejar respostas concretas aos seus pedidos e não havia dúvida acerca dessas respostas.
“Ao orar, estava lembrado de que pedia a Deus o que parecia impossível receber dos fiéis, mas que não era demasiado para o Senhor conceder”. Ele orava com noventa pessoas sentadas às mesas: “Senhor, olha para as necessidades de teu servo”. Essa foi uma oração que Deus abundantemente respondeu. Antes de morrer, testificou que, pela fé, alimentava 2.000 órfãos, e nenhuma refeição se fez com atraso de mais de 30 minutos.
Muitas pessoas perguntavam a George Müller como conseguia ele saber a vontade de Deus, pois nada fazia sem antes ter a certeza da vontade do Senhor. Ele respondia:
1) “Procuro manter o coração em tal estado que ele não tenha qualquer vontade própria no caso. De dez problemas, já temos a solução de nove, quando conseguimos ter um coração entregue para fazer a vontade do Senhor, seja essa qual for. Qaundo chegamos verdadeiramente a tal ponto, estamos, quase sempre, perto de saber qual é a Sua vontade.
2) “Tenho o coração entregue para fazer a vontade do Senhor, não deixo o resultado ao mero sentimento ou a uma simples impressão. Se o faço, fico sujeito a grandes enganos”.
3) “Procuro a vontade do Espírito de Deus por meio de Sua Palavra. É essencial que o Espírito e a Palavra acompanhem um ao outro. Se eu olhar para o Espírito, sem a Palavra, fico sujeito, também, a grandes ilusões”.
4) “Depois considero as circunstâncias providenciais. Essas, ao lado da Palavra de Deus e do Seu Espírito, indicam claramente a Sua vontade”.
5) “Peço a Deus em oração para que me revele a Sua própria vontade”.
6) “Assim, depois de orar a Deus, estudar a Palavra e refletir, chego à melhor resolução deliberada que posso com a minha capacidade e conhecimento; se eu continuar a sentir paz, no caso, depois de duas ou três petições mais, sigo conforme essa direção. Nos casos mínimos e nas transações de maior responsabilidade, sempre acho esse método eficiente”.
George Müller, três anos antes de sua morte, escreveu: “Não me lembro, em toda a minha vida de cristão, num período de 69 anos, de que eu jamais buscasse, SINCERAMENTE E COM PACIÊNCIA, saber a vontade de Deus pelo ENSINAMENTO DO ESPÍRITO SANTO POR INTERMÉDIO DA PALAVRA DE DEUS, e que não fosse guiado certo. Se me faltava, porém, SINCERIDADE DE CORAÇÃO E PUREZA PERANTE DEUS, ou se eu não olhava para Deus, com PACIÊNCIA, ou se eu preferia o CONSELHO DO PRÓXIMO AO DA PALAVRA DO DEUS VIVO, então errava gravemente”.
Em resposta a muitos que queriam saber como o cristão pode adquirir tão grande fé, deu as seguintes regras:
1) “Lendo a Bíblia e meditando sobre o texto lido, chega-se a conhecer a Deus, por meio da oração”.
2) “Procurar manter um coração íntegro e uma boa consciência”.
3) Se desejamos que nossa fé cresça, não devemos evitar aquilo que a prove e por meio do que ela seja fortalecida”.
“Ainda mais um ponto: para que a nossa fé se fortaleça, é necessário que deixemos Deus agir por nós ao chegar a hora da provação, e não procurar a nossa própria libertação”.
(Extraído da Revista Plenitude, Ano 5, nº 31, de agosto de 1986).
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A Vida de George Whitefield (1714-1770)
“Pela fé, Abel… Pela fé, Noé… Pela fé, Abraão…” Assim é que o Espírito Santo conta as incríveis proezas que Deus fez por intermédio dos homens que ousavam confiar unicamente nEle. Foi no século XIX que Deus acrescentou o seguinte a essa lista: “Pela fé, George Müller levantou orfanatos, alimentou milhares de órfãos, pregou a milhões de ouvintes ao redor do globo e ganhou multidões de almas para Cristo”.
George Müller nasceu em 1805, de pais que não conheciam a Deus. Com a idade de dez anos, foi enviado a uma universidade, a fim de preparar-se para pregar o evangelho, não, porém, com o alvo de servir a Deus, mas para ter uma vida cômoda.
Aos vinte anos de idade, contudo, houve uma completa transformação na vida desse moço. Assistiu a um culto onde os cristãos, de joelhos, pediam que Deus fizesse cair a Sua bênção sobre a reunião. Ficou profundamente comovido com o ambiente espiritual a ponto de buscar também a presença de Deus.
Foi nesses dias, depois de sentir-se chamado para ser missionário, que passou dois meses hospedado no orfanato do famoso A. H. Frank. Mais ou menos no mesmo tempo em que George Müller hospedou-se no orfanato, um certo dentista, o senhor Graves, abandonou as suas atividades que davam um salário de 7.500 dólares por ano, a fim de ser missionário na Pérsia, confiando só nas promessas de Deus para suprir todo o seu sustento.
Logo depois chegou a reconhecer o erro, mais ou menos universal, de ler muito acerca da Bíblia e quase nada da Bíblia. Esse livro tornou-se a fonte de toda a sua inspiração e o segredo do seu maravilhoso crescimento espiritual. “O Senhor me ajudou a abandonar os comentários e a usar a simples leitura da Palavra de Deus como meditação. O resultado foi que, quando, a primeira noite, fechei a porta do meu quarto para orar e meditar sobre as Escrituras, aprendi mais em poucas horas do que antes durante alguns meses”. E acrescentou: “A maior diferença, porém, foi que recebi, assim, força verdadeira para a minha alma”.
George Müller achava quase impossível ajuntar e guardar dinheiro para qualquer imprevisto, e não ir direto a Deus. “Sem me aperceber, tenho sido levado a confiar no braço da carne, mas o melhor é ir diretamente ao Senhor”.
Certo dia, quando só restavam oito xelins, Müller pediu ao Senhor que lhe desse dinheiro. Esperou muitas horas sem qualquer resposta. Então chegou uma senhora e perguntou: – “O irmão precisa de dinheiro?” Foi uma grande prova de sua fé, porém, o pastor respondeu: – “Minha irmã, eu disse aos irmãos, quando abandonei meu salário, que só informaria o Senhor a respeito de minhas necessidades”. – “Mas”, respondeu a senhora, “Ele me disse que lhe desse isto”, e colocou 42 xelins na mão do pregador.
Nessa ocasião, George Müller fez para si a seguinte regra, da qual nunca mais se desviou: “Não nos endividaremos, porque achamos que tal coisa não é bíblica (Rm. 13:8). Assim sempre saberemos quanto realmente possuímos e quanto temos o direito de gastar”.
Um outro segredo que o levou a alcançar tão grande bênção de confiar em Deus, foi a sua resolução de usar o dinheiro que recebia somente para o fim a que era destinado.
“Sentindo grande necessidade ontem de manhã, fui dirigido a pedir com insistência a Deus e, em resposta, à tarde, um irmão me deu dez libras”. Muitos anos antes de sua morte, afirmou que, até aquela data, tinha recebido da mesma forma 5.000 vezes a resposta, sempre no mesmo dia em que fazia o pedido.
Era seu costume, e recomendava também aos fiéis, guardar um livro. Numa página assentava seu pedido com a data e no lado oposto a data em que recebera a resposta. Desse modo, foi levado a desejar respostas concretas aos seus pedidos e não havia dúvida acerca dessas respostas.
“Ao orar, estava lembrado de que pedia a Deus o que parecia impossível receber dos fiéis, mas que não era demasiado para o Senhor conceder”. Ele orava com noventa pessoas sentadas às mesas: “Senhor, olha para as necessidades de teu servo”. Essa foi uma oração que Deus abundantemente respondeu. Antes de morrer, testificou que, pela fé, alimentava 2.000 órfãos, e nenhuma refeição se fez com atraso de mais de 30 minutos.
Muitas pessoas perguntavam a George Müller como conseguia ele saber a vontade de Deus, pois nada fazia sem antes ter a certeza da vontade do Senhor. Ele respondia:
1) “Procuro manter o coração em tal estado que ele não tenha qualquer vontade própria no caso. De dez problemas, já temos a solução de nove, quando conseguimos ter um coração entregue para fazer a vontade do Senhor, seja essa qual for. Qaundo chegamos verdadeiramente a tal ponto, estamos, quase sempre, perto de saber qual é a Sua vontade.
2) “Tenho o coração entregue para fazer a vontade do Senhor, não deixo o resultado ao mero sentimento ou a uma simples impressão. Se o faço, fico sujeito a grandes enganos”.
3) “Procuro a vontade do Espírito de Deus por meio de Sua Palavra. É essencial que o Espírito e a Palavra acompanhem um ao outro. Se eu olhar para o Espírito, sem a Palavra, fico sujeito, também, a grandes ilusões”.
4) “Depois considero as circunstâncias providenciais. Essas, ao lado da Palavra de Deus e do Seu Espírito, indicam claramente a Sua vontade”.
5) “Peço a Deus em oração para que me revele a Sua própria vontade”.
6) “Assim, depois de orar a Deus, estudar a Palavra e refletir, chego à melhor resolução deliberada que posso com a minha capacidade e conhecimento; se eu continuar a sentir paz, no caso, depois de duas ou três petições mais, sigo conforme essa direção. Nos casos mínimos e nas transações de maior responsabilidade, sempre acho esse método eficiente”.
George Müller, três anos antes de sua morte, escreveu: “Não me lembro, em toda a minha vida de cristão, num período de 69 anos, de que eu jamais buscasse, SINCERAMENTE E COM PACIÊNCIA, saber a vontade de Deus pelo ENSINAMENTO DO ESPÍRITO SANTO POR INTERMÉDIO DA PALAVRA DE DEUS, e que não fosse guiado certo. Se me faltava, porém, SINCERIDADE DE CORAÇÃO E PUREZA PERANTE DEUS, ou se eu não olhava para Deus, com PACIÊNCIA, ou se eu preferia o CONSELHO DO PRÓXIMO AO DA PALAVRA DO DEUS VIVO, então errava gravemente”.
Em resposta a muitos que queriam saber como o cristão pode adquirir tão grande fé, deu as seguintes regras:
1) “Lendo a Bíblia e meditando sobre o texto lido, chega-se a conhecer a Deus, por meio da oração”.
2) “Procurar manter um coração íntegro e uma boa consciência”.
3) Se desejamos que nossa fé cresça, não devemos evitar aquilo que a prove e por meio do que ela seja fortalecida”.
“Ainda mais um ponto: para que a nossa fé se fortaleça, é necessário que deixemos Deus agir por nós ao chegar a hora da provação, e não procurar a nossa própria libertação”.
(Extraído da Revista Plenitude, Ano 5, nº 31, de agosto de 1986).
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Pregador ao ar livre
Mais de 100 mil homens e mulheres rodeavam o pregador, há mais de duzentos anos, em Cambuslang, Escócia. As palavras do sermão, vivificadas pelo Espírito Santo, ouviam-se distintamente em todas as partes que formavam esse mar humano. É-nos difícil fazer uma idéia do vulto da multidão de 10 mil penitentes que responderam ao apelo para se entregarem ao Salvador. Estes acontecimentos servem-nos como um dos poucos exemplos do cumprimento das palavras de Jesus: "Na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque vou para meu Pai" (João 14.12).
Havia "como um fogo ardente encerrado nos ossos" deste pregador, que era Jorge Whitefield. Ardia nele um zelo santo de ver todas as pessoas libertas da escravidão do pecado. Durante um período de vinte e oito dias fez a incrível façanha de pregar a 10 mil pessoas diariamente. Sua voz se ouvia perfeitamente a mais de um quilômetro de distância, apesar de fraco de físico e de sofrer dos pulmões.Não havia prédio no qual coubessem os auditórios e, nos países onde pregou, armava seu púlpito nos campos, fora das cidades. Whitefield merece o título de príncipe dos pregadores ao ar livre, porque pregava em média dez vezes por semana, e isso fez durante um período de trinta e quatro anos, em grande parte sob o teto construído por Deus -os céus.
A vida de Jorge Whitefield era um milagre. Nasceu em uma taberna de bebidas alcoólicas. Antes de completar três anos, seu pai faleceu. Sua mãe casou-se novamente, mas a Jorge foi permitido continuar os estudos na escola. Na pensão de sua mãe, fazia a limpeza dos quartos, lavava roupa e vendia bebidas no bar. Estranho que pareça e apesar de não ser salvo, interessava-se grandemente pela leitura das Escrituras, lendo a Bíblia até alta noite preparando sermões. Na escola era conhecido como orador: Sua eloqüência era natural e espontânea, um dom extraordinário de Deus, dom que possuía sem ele mesmo saber.
Custeou os próprios estudos em Pembroke College, Oxford, servindo como garçom em um hotel. Depois de estar algum tempo em Oxford, ajuntou-se ao grupo de estudantes a que pertenciam João e Carlos Wesley. Passou muito tempo, como os demais do grupo, jejuando e esforçando-se para mortificar a carne, a fim de alcançar a salvação, sem compreender que "a verdadeira religião é a união da alma com Deus e a formação de Cristo em nós."
Acerca da sua salvação, escreveu algum tempo antes de morrer: "Sei o lugar onde... Todas as vezes que vou a Oxford, sinto-me impelido a ir primeiro a este lugar onde Jesus se revelou a mim, pela primeira vez, e me deu o novo nascimento".
Com a saúde abalada, talvez pelo excesso de estudo, Jorge voltou a casa para recuperá-la. Resolvido a não cair no indiferentismo, inaugurou uma classe bíblica para jovens que, como ele, desejavam orar e crescer na graça de Deus. Visitavam diariamente os doentes e os pobres e, freqüentemente, os prisioneiros nas cadeias, para orarem com eles e prestarem-lhes qualquer serviço manual que pudessem. Jorge tinha no coração um plano que consistia em preparar cem sermões e apresentar-se para ser separado para o ministério. Porém quando havia preparado apenas um sermão, seu zelo era tanto, que a igreja insistia em ordená-lo, tendo penas vinte e um anos apesar de ser regra não aceitar ninguém para tal cargo, com menos de 23 anos.
O dia antes da sua separação para o ministério, passou-o em jejum e oração. Acerca desse fato, ele escreveu: "À tarde, retirei-me para um alto, perto da cidade, onde orei com instância durante duas horas, pedindo a meu favor e também por aqueles que estavam para ser separados comigo. No domingo, levantei-me de madrugada e orei sobre o assunto da epístola de Paulo a Timóteo, especialmente sobre o preceito: 'Ninguém despreze a tua mocidade'. Quando o ancião me impôs as suas mãos, se meu vil coração não me engana, ofereci todo o meu espírito, alma e corpo para o serviço no santuário de Deus... Posso testificar; perante os céus e a terra, que dei-me a mim mesmo, quando o ancião me impôs as mãos, para ser um mártir por aquele que foi pregado na cruz em meu lugar".
Os lábios de Whitefield foram tocados pelo fogo divino do Espírito Santo na ocasião da sua separação para o ministério. No domingo seguinte, naquela época de gelo espiritual, pregou pela primeira vez. Alguns se queixaram de que quinze dos ouvintes enlouqueceram ao ouvirem o sermão. O ancião, porém, compreendendo o que se passava, respondeu que seria muito bom, se os quinze não se esquecessem da sua "loucura" antes de chegar o outro domingo.
Whitefield nunca se esqueceu nem deixou de aplicar a si as seguintes palavras do Doutor Delaney: "Desejo, todas as vezes que subir ao púlpito, considerar essa oportunidade como a última que me é dada de pregar, e a última dada ao povo de ouvir". Alguém assim escreveu sobre uma de suas pregações: "Quase nunca pregava sem chorar e sei que as suas lágrimas eram sinceras. Ouvi-o dizer: 'Vós me censurais porque choro. Mas, como posso conter-me, quando não chorais por vós mesmos, apesar das vossas almas mortais estarem a beira da destruição? Não sabeis se estais ouvindo o último sermão, ou não, ou se jamais tereis outra oportunidade de chegar a Cristo!" Chorava, às vezes, até parecer que estava morto e custava a recuperar as forças. Diz-se que os corações da maioria dos ouvintes eram derretidos pelo calor intenso de seu espírito, como prata na fornalha do refinador.
Quando estudante no colégio de Oxford, seu coração ardia de zelo e pequenos grupos de alunos se reuniam no seu quarto, diariamente; eles eram movidos, como os discípulos logo depois do derramamento do Espírito Santo, no Pentecoste. O Espírito continuou a operar poderosamente nele e por ele durante o resto da sua vida, porque nunca abandonou o costume de buscar a presença de Deus. Dividia o dia em três partes: oito horas sozinho com Deus e em estudos, oito horas para dormir e as refeições, oito horas para o trabalho entre o povo. De joelhos, lia, e orava sobre as leituras das Escrituras e recebia luz, vida e poder. Lemos que numa das suas visitas aos Estados Unidos, "passou a maior parte da viagem a bordo, sozinho em oração". Alguém escreveu sobre ele: "Seu coração encheu-se tanto dos céus que anelava por um lugar onde pudesse agradecer a Deus; e sozinho, durante horas, chorava comovido pelo amor consumidor do seu Senhor". Suas experiências no ministério confirmavam a sua fé na doutrina do Espírito Santo, como o Consolador ainda vivo, o poder de Deus operando atualmente entre nós.
A pregação de Jorge Whitefield era feita de forma tão vivida que parecia quase sobrenatural. Conta-se que, certa vez pregando a alguns marinheiros, descreveu um navio perdido num furacão. Tudo foi apresentado em manifestações tão reais que, quando chegou ao ponto de descrever o barco afundando, alguns marinheiros pularam dos assentos, gritando: "Às baleeiras! Às baleeiras!". Em outro sermão falou acerca dum cego andando na direção dum precipício desconhecido. A cena foi tão real que, quando o pregador chegou ao ponto de descrever a chegada do cego à beira do profundo abismo, o camareiro-mor, Chesterfield, que assistia, deu um pulo gritando: "Meu Deus! ele desapareceu!"
O segredo, porém, da grande colheita de almas salvas não era a sua maravilhosa voz nem a sua grande eloqüência. Não era também porque o povo tivesse o coração aberto para receber o Evangelho, porque era tempo de grande decadência espiritual entre os crentes.
Também não foi porque lhe faltasse oposição. Repetidas vezes Whitefield pregou nos campos, porque as igrejas fecharam-lhe as portas. Às vezes nem os hotéis queriam aceitá-lo como hóspede. Em Basingstoke foi agredido a pauladas. Em Staffordshire atiraram-lhe torrões de terra. Em Moorfield destruíram a mesa que lhe servia de púlpito e arremessaram contra ele o lixo da feira. Em Evesham, as autoridades, antes de seu sermão, ameaçaram prendê-lo, se pregasse. Em Exeter, enquanto pregava a dez mil pessoas, foi apedrejado de tal forma que pensou haver chegado para ele a hora, como o ensangüentado Estevão, de ser imediatamente chamado à presença do Mestre. Em outro lugar, apedrejaram-no novamente, até ficar coberto de sangue. Verdadeiramente levava no corpo, até a morte, as marcas de Jesus.
O segredo de tais frutos na sua pregação era o seu amor para com Deus. Quando ainda muito novo, passava noites inteiras lendo a Bíblia, que muito amava. Depois de se converter, teve a primeira daquelas experiências de sentir-se arrebatado, ficando a sua alma inteiramente aberta, cheia, purificada, iluminada da glória e levada a sacrificar-se, inteiramente, ao seu Salvador. Desde então nunca mais foi indiferente em servir a Deus, mas regozijava-se no alvo de trabalhar de toda a sua alma, e de todas as suas forças, e de todo seu entendimento. Só achava interesse nos cultos e escreveu para sua mãe que nunca mais voltaria ao seu emprego. Consagrou a vida completamente a Cristo. E a manifestação exterior daquela vida nunca excedia a sua realidade interior, portanto, nunca mostrou cansaço nem diminuiu a marcha durante o resto de sua vida.
Apesar de tudo, ele escreveu: "A minha alma era seca como o deserto. Sentia-me como encerrado dentro duma armadura de ferro. Não podia ajoelhar-me sem estar tomado de grandes soluços e orava até ficar molhado de suor... Só Deus sabe quantas noites fiquei prostrado, de cama, gemendo, por causa do que sentia, e ordenando, em nome de Jesus, que Satanás se apartasse de mim. Outras vezes passei dias e semanas inteiros prostrado em terra, suplicando para ser liberto dos pensamentos diabólicos que me distraíam. Interesse próprio, rebelião, orgulho e inveja me atormentavam, um após outro, até que resolvi vencê-los ou morrer. Lutei até Deus me conceder vitória sobre eles".
Jorge Whitefield considerava-se um peregrino errante no mundo, procurando almas. Nasceu, criou-se e diplomou-se na Inglaterra. Atravessou o Atlântico treze vezes. Visitou a Escócia quatorze vezes. Foi ao País de Gales várias vezes. Visitou uma vez a Holanda. Passou quatro meses em Portugal. Nas Bermudas, ganhou muitas almas para Cristo, como nos demais lugares onde trabalhou.
Acerca do que sentiu em uma das viagens à colônia da Geórgia, Whitefield escreveu: 'Foram-me concedidas manifestações extraordinárias do alto. Cedo de manhã, ao meio-dia, ao anoitecer e à meia-noite, de fato durante o dia inteiro, o amado Jesus me visitava para renovar-me o coração. Se certas árvores perto de Stonehourse pudessem falar, contariam acerca da doce comunhão, que eu e algumas almas amadas desfrutamos ali com Deus, sempre bendito. Às vezes, quando de passeio, a minha alma fazia tais incursões pelas regiões celestes, que parecia pronta a abandonar o corpo. Outras vezes sentia-me tão vencido pela grandeza da majestade infinita de Deus, que me prostrava em terra e entregava-lhe a alma, como um papel em branco, para Ele escrever nela o que desejasse. De uma noite nunca me esquecerei. Relampejava excessivamente. Eu pregara a muitas pessoas e algumas ficaram receosas de voltar a casa. Senti-me dirigido a acompanhá-las e aproveitar o ensejo para as animar a se prepararem para a vinda do Filho do homem. Oh! que gozo senti na minha alma! Depois de voltar, enquanto alguns se levantavam das suas camas, assombrados pelos relâmpagos que andavam pelo chão e brilhavam duma parte do céu até outra, eu com mais um irmão ficamos no campo adorando, orando, exultando ao nosso Deus e desejando a revelação de Jesus dos céus, uma chama de fogo!"
- Como se pode esperar outra coisa a não ser que as multidões, a quem Whitefield pregava, fossem levadas a buscar a mesma Presença? Na sua biografia há um grande número de exemplos como os seguintes: "Oh! quantas lágrimas foram derramadas, com forte clamor, pelo amor do querido Senhor Jesus! Alguns desmaiavam e quando recobravam as forças, ouviam e desmaiavam de novo. Outros gritavam como quem sente a ânsia da morte. E depois de eu findar o último discurso, eu mesmo senti-me tão vencido pelo amor de Deus que quase fiquei sem vida. Contudo, por fim, revivi e, depois de me alimentar um pouco, estava fortalecido bastante para viajar cerca de trinta quilômetros, até Nottingham. No caminho, a alma alegrou-se cantando hinos. Chegamos quase à meia-noite; depois de nos entregarmos a Deus em oração, deitamo-nos e descansamos na proteção do querido Senhor Jesus. Oh! Senhor, jamais existiu amor como o teu!"
Então Whitefield continuou, sem cansar: "No dia seguinte em Fog's Manor, a concorrência aos cultos foi tão grande como em Nottingham. O povo ficou tão quebrantado que, por todos os lados, vi pessoas banhadas em lágrimas. A palavra era mais cortante que espada de dois gumes e os gritos e gemidos alcançavam o coração mais endurecido. Alguns tinham semblantes pálidos como a palidez de morte; outros torciam as mãos, cheios de angústia; ainda outros foram prostrados ao chão, ao passo que outros caíam e eram aparados nos braços de amigos. A maior parte do povo levantava os olhos para os céus, clamando e pedindo a misericórdia de Deus. Eu, enquanto os contemplava, só podia pensar em uma coisa: o grande dia. Pareciam pessoas acordadas pela última trombeta, saindo dos seus túmulos para o juízo."
"O poder da presença divina nos acompanhou até Baskinridge, onde os arrependidos choravam e os salvos oravam, lado a lado. O indiferentismo de muitos transformou-se em assombro, e o assombro, depois, em grande alegria. Alcançou todas as classes, idades e caracteres. A embriaguez foi abandonada por aqueles que eram dominados por esse vício. Os que haviam praticado qualquer ato de injustiça foram tomados de remorso. Os que tinham furtado foram constrangidos a fazer restituição. Os vingativos pediram perdão. Os pastores ficaram ligados ao seu povo por um vínculo mais forte de compaixão. O culto doméstico foi iniciado nos lares. Os homens foram levados a estudar a Palavra de Deus e a terem comunhão com o seu Pai, nos céus".
Mas não foi somente os países populosos que o povo afluiu para o ouvir. Nos estados Unidos, quando eram ainda um país novo, ajuntaram-se grandes multidões dos que moravam longe um do outro, nas florestas. O famoso Benjamim Franklin, no seu jornal, assim noticiou essas reuniões: "Quinta-feira o reverendo Whitefield partiu de nossa cidade, acompanhado de cento e cinqüenta pessoas a cavalo, com destino a Chester, onde pregou a sete mil ouvintes, mais ou menos. Sexta-feira pregou duas vezes em Willings Town a quase cinco mil; no sábado, em Newcastle, pregou a cerca de duas mil e quinhentas, e na tarde do mesmo dia, em Cristiana Bridge, pregou a quase três mil; no domingo, em White Clay Creek, pregou duas vezes (descansando uma meia hora entre os sermões a oito mil pessoas, das quais, cerca de três mil, tinha vindo a cavalo. Choveu a maior parte do tempo, porém, todos se conservaram em pé, ao ar livre".
Como Deus estendeu a sua mão para operar prodígios por meio de seu servo, vê-se no seguinte: Num estrado perante a multidão, depois de alguns momentos de oração em silêncio, Whitefield anunciou de maneira solene o texto: "É ordenado aos homens que morram uma só vez, e depois disto vem o juízo". Depois de curto silêncio, ouviu-se um grito de horror, vindo dum lugar entre a multidão. Um pregador presente foi até o local da ocorrência, para saber o que tinha acontecido. Logo voltou e disse: - "Irmão Whitefield, estamos entre os mortos e os que estão morrendo. Uma alma imortal foi chamada à eternidade. O anjo da destruição está passando sobre o auditório. Clame em alta voz e.não cesse". Então foi anunciado ao povo que um dentre a multidão havia morrido. Então Whitefield leu a segunda vez o mesmo texto: "É ordenado aos homens que morram uma só vez". Do local onde a Senhora Huntington estava em pé, veio outro grito agudo. De novo, um tremor de horror passou por toda a multidão quando anunciaram que outra pessoa havia morrido. Whitefield, porém, em vez de ficar tomado de pânico, como os demais, suplicou graça ao Ajudador invisível e começou, com eloqüência tremenda, a prevenir os impenitentes do perigo. Não devemos concluir, contudo, que ele era ou sempre solene ou sempre veemente. Nunca houve quem experimentasse mais formas de pregar do que ele.
Apesar da sua grande obra, não se pode acusar Whitefield de procurar fama ou riquezas terrestres. Sentia fome e sede da simplicidade e sinceridade divina. Dominava todos os seus interesses e os transformava para glória do reino do seu Senhor. Não ajuntou ao redor de si os seus convertidos para formar outra denominação, como alguns esperavam. Não, apenas dava todo o seu ser, mas queria "mais línguas, mais corpos, mais almas a usar para o Senhor Jesus".
A maior parte de suas viagens à América do Norte foram feitas a favor do orfanato que fundara na colônia da Geórgia. Vivia na pobreza e esforçava-se para granjear o necessário para o orfanato. Amava os órfãos ternamente, escrevendo-lhes cartas e dirigindo-se a cada um pelo nome. Para muitas dessas crianças, ele era o único pai, o único meio de elas terem o sustento. Fez uma grande parte da sua obra evangelística entre os órfãos e quase todos permaneceram crentes fiéis, sendo que um bom número deles se tornaram ministros do Evangelho.
Whitefield não era de físico robusto: desde a mocidade sofria quase constantemente, anelando, muitas vezes, partir e estar com Cristo. A maior parte dos pregadores acham impossível pregar quando estão enfermos como ele.
Assim foi que, aos 65 anos de idade, durante sua sétima viagem à América do Norte, findou a sua carreira na Terra, uma vida escondida com Cristo em Deus e derramada num sacrifício de amor pelos homens. No dia antes de falecer, teve de esforçar-se para ficar em pé. Porém, ao levantar-se, em Exeter, perante um auditório demasiado grande para caber em qualquer prédio, o poder de Deus veio sobre ele e pregou, como de costume, durante duas horas. Um dos que assistiram disse que "seu rosto brilhava como o sol". O fogo aceso no seu coração no dia de oração e jejum, quando da sua separação para o ministério, ardeu até dentro dos seus ossos e nunca se apagou (Jeremias 20.9).Certo homem eminente dissera a Whitefield: "Não espero que Deus chame o irmão, breve, para o lar eterno, mas quando isso acontecer, regozijar-me-ei ao ouvir o seu testemunho". O pregador respondeu: "Então ficará desapontado; morrerei calado. A vontade de Deus é dar-me tantos ensejos para testificar dele durante minha vida, que não me serão dados outros na hora da morte".
E sua morte ocorreu como predissera.
Depois do sermão, em Exeter, foi a Newburyport para passar a noite na casa do pastor. Ao subir para o quarto de dormir, virou-se na escada e, com a vela na mão, proferiu uma curta mensagem aos amigos que ali estavam e insistiam em que pregasse.
Às duas horas da madrugada acordou. Faltava-lhe o fôlego e pronunciou para o seu companheiro as suas últimas palavras na Terra: "Estou morrendo".
No seu enterro, os sinos das igrejas de Newburyport dobraram e as bandeiras ficaram a meia-haste. Ministros de toda a parte vieram assistir aos funerais; milhares de pessoas não conseguiram chegar perto da porta da igreja, por causa da imensa multidão. Conforme seu pedido, foi enterrado sob o púlpito da igreja.
Se quisermos os mesmos frutos de ver milhares salvos, como Jorge Whitefield os teve, temos de seguir o seu exemplo de oração e dedicação.
- Alguém pensa que é tarefa demais? Que diria Jorge Whitefield, junto, agora, com os que levou a Cristo, se lhe fizéssemos essa pergunta?
Por: (extraido do livro hérois da fé)
A Vida de Robert Murray McCheyne, (1813 – 1843)
Era inverno. Sentados próximo ao fogo, dois pedreiros estavam dedicados a sua tarefa. De repente, um desconhecido aproximou-se deles, desceu do cavalo e, imediatamente, passou a conversar sobre o estado espiritual da alma deles. Servindo-se das vivas chamas da fogueira como ilustração, o jovem desconhecido pregou verdades alarmantes. Com profunda surpresa, os pedreiros exclamaram: “Você não é um homem como os demais!” Ao que o desconhecido — que era Robert McCheyne — respondeu: “Eu sou, simplesmente, um homem como os demais”.
Parece que, tanto a leitura dos sermões de McCheyne quanto de sua biografia, fazem brotar do coração do leitor a mesma exclamação dos pedreiros: que, certamente, Robert McCheyne não foi um homem como os demais. Seu ministério, certamente muito breve, tornou-se uma das luzes mais brilhantes do evangelho na Escócia. Pureza doutrinária e fervor evangélico impregnaram por completo a pregação desse grande servo de Deus. Em McCheyne encontramos aquela característica tão sublime — e muito rara, infelizmente — de uma harmoniosa correspondência entre pregação e vida. A vida de McCheyne, que alguém definiu como “um dos mais belos exemplos da obra do Espírito Santo”, foi caracterizada por um alto grau de santidade e consagração.
Robert Murray McCheyne nasceu em Edimburgo em 29 de maio de 1813, numa época em que os primeiros resplendores de um grande ressurgimento espiritual tinham lugar na Escócia. Entre os preparativos secretos com que Deus contava para derramar sobre Seu povo dias de verdadeiro e profundo refrigério espiritual se achava o nascimento do mais jovem dos cinco filhos de Adam McCheyne.
Já desde a infância, Robert deu mostras de possuir uma natureza doce e afável, ao mesmo tempo em que todos podiam apreciar nele uma mente ágil e uma memória prodigiosa. Com a idade de quatro anos, enquanto se recuperava de uma enfermidade, Robert fez do estudo do hebraico e do grego seu passatempo favorito. Com oito anos, ingressou na escola superior para passar, anos mais tarde, para a Universidade de Edimburgo. Em ambos centros de ensino, distinguiu-se como estudante privilegiado, de forma especial nos exercícios poéticos. Ele é descrito como tendo boa estatura, cheio de agilidade e vigor, ambicioso, ao mesmo tempo em que era nobre em sua disposição, evitando qualquer forma de engano em sua conduta. Alguns consideravam que ele possuía, de forma inata, todas as virtudes do caráter cristão; mas, segundo seu próprio testemunho, aquela pura moralidade exterior por ele exibida nascia de um coração farisaico e, exatamente como muitos de seus companheiros, ele se empenhava para encher sua vida de prazeres mundanos.
A morte de seu irmão David causou uma profunda impressão em sua alma. Seu diário contém numerosas alusões a esse fato. Anos mais tarde, escrevendo a um amigo, Robert disse: “Ora por mim, para que eu possa ser mais santo e mais sábio, menos como eu mesmo sou e mais como meu Senhor é (…) Hoje fazem sete anos que perdi meu querido irmão, mas comecei a encontrar o Irmão que não pode morrer”.
A partir desse fato, sua terna consciência despertou para a realidade do pecado e das profundezas de sua corrupção. “Que infame massa de corrupção eu tenho sido! Vivi uma grande parte de minha vida completamente separado de Deus e para o mundo. Entreguei-me completamente ao gozo dos sentidos e às coisas que perecem ao meu redor”.
Ainda que ele nunca tenha sabido a data exata de seu novo nascimento, jamais abrigou qualquer temor de que isso não houvesse ocorrido. A segurança de sua salvação foi algo característico de seu ministério, de modo que sua grande preocupação foi, em todo tempo, obter uma maior santidade de vida.
No inverno de 1831, iniciou seus estudos na Divinity Hall, onde Thomas Chalmers era professor de Teologia, e David Welsh o era de História Eclesiástica. Com outros companheiros — Edward Irving, Horatius e Andrew Bonar (que, mais tarde, escreveu sua biografia) — e fervorosos amigos, Robert McCheyne se reunia para orar e estudar a Bíblia, especialmente nas línguas originais. Quando o Dr. Chalmers foi informado do modo simples e literal como McCheyne esquadrinhava as Sagradas Escrituras, não pode senão dizer: “Eu gosto dessa literalidade!” Verdadeiramente, todos os sermões deste grande servo de Deus são caracterizados por uma profunda fidelidade ao texto bíblico. Já neste período de sua vida, McCheyne dava mostra de um grande amor pelas almas perdidas e, junto com seus estudos, dedicava várias horas por semana à pregação do evangelho, tarefa que realizava quase sempre nos bairros pobres e mais baixos de Edimburgo.
Do mesmo modo que outros grandes servos de Deus, McCheyne tinha uma clara consciência da radical seriedade do pecado. A compreensão clara da condição pecadora do homem era para ele requisito imprescindível para fazer com que o coração sentisse a necessidade de Cristo como único Salvador e também era uma experiência necessária para uma vida de santidade. Seu diário dá testemunho de quão severo era no juízo que fazia de si mesmo. “Senhor, se nenhuma outra coisa pode livrar-me de meus pecados a não ser a dor e as provas, envia-mas, Senhor, para que eu possa ser livrado de meus membros carregados de carnalidade”. Mesmo nas mais gloriosas experiências do crente, McCheyne podia descobrir traços de pecado; por isso, disse em certa ocasião: “Até mesmo nossas lágrimas de arrependimento estão manchadas de pecado.”
Andrew Bonar escreveu sobre seu amigo nos seguintes termos: “Durante os primeiros anos de seus cursos no colégio, o estudo não chegou a absorver toda a sua atenção. Sem dúvida, tão logo começou a mudança em sua alma e isso também se refletiu em seus estudos. Um sentimento muito profundo de sua responsabilidade o levou a dedicar todos os seus talentos ao serviço do Mestre, que Quem os havia recebido. Poucos houve que, com tão completa dedicação, tenham-se consagrado à obra do Senhor como fruto de um claro conhecimento de sua responsabilidade”.
Enquanto fazia os cursos de Literatura e Filosofia, conseguia encontrar tempo para dedicar sua atenção à Teologia e à História Natural. Nos dias de sua maior prosperidade no ministério da pregação, quando, juntamente com sua alma, sua congregação e rebanho constituíam o centro de seus desvelos, com freqüência lamentava por não ter adquirido, nos anos anteriores, um caudal de conhecimento mais profundo, pois se havia dado conta de que podia usar as jóias do Egito para o serviço do Senhor. De vez em quando, seus estudos anteriores evocariam em sua mente alguma ilustração apropriada para a verdade divina e precisamente no solene instante em que apresentava o evangelho glorioso aos mais ignorantes e depravados.
Suas próprias palavras apresentam melhor sua estima pelo estudo e, ao mesmo tempo, revelam o espírito de oração que, segundo McCheyne, devia sempre acompanhá-lo: “Esforça-te em teus estudos”, escreveu a um jovem estudante em 1840. “Dá-te conta de que estás formando, em grande parte, o caráter de teu futuro ministério. Se adquirires agora hábitos de estudo marcados pelo descuido e a inatividade, nunca tirarás proveito do mesmo. Faz cada coisa a seu tempo. Sê diligente em todas as coisas; aquilo que valha a pena fazê-lo, faze-o com todas as forças. E, sobre todas as coisas, apresenta-te diante do Senhor com muita freqüência. Não tentes nunca ver um rosto humano enquanto não tiveres visto primeiro o rosto Daquele que é nossa luz e nosso tudo. Ora por teus semelhantes. Ora por teus professores e companheiros de estúdio.” A outro jovem escreveu: “Cuidado com a atmosfera dos autores clássicos, pois ela é, na verdade, perniciosa; e tu necessitas muitíssimo, para contestá-la, o vento sul que se respira das Escrituras. É certo que devemos conhecê-los — mas da mesma forma como o químico experimenta as substâncias tóxicas — para descobrir suas qualidades e não para envenenar com eles teu sangue.” E acrescentou: “Ora para que o Espírito Santo faça de ti não somente um jovem crente e santo, mas para que te dê também sabedoria em teus estudos. Às vezes, um raio da luz divina que penetra a alma pode dar suficiente luz para aclarar maravilhosamente um problema de matemática. O sorriso de Deus acalma o espírito e a destra de Jesus levanta a cabeça do descaído, enquanto Seu Santo Espírito aviva os efeitos, de modo que mesmo os estudos naturais vão um milhão de vezes melhor e mais facilmente.”
As férias para McCheyne, assim como para seus amigos íntimos que permaneciam na cidade, não eram consideradas como uma cessação do que se refere aos estudos. Uma vez por semana, costumavam passar uma manhã juntos com o fim de estudar algum ponto da teologia sistemática, assim como para trocar impressões sobre o que haviam lido em particular.
Um jovem assim, com faculdades intelectuais tão incomuns, às quais se unia ainda o amor ao estudo e uma memória extraordinariamente profunda, facilmente teria se destacado no plano da erudição se não houvesse posto em primeiro lugar, e como meta mais importante, a tarefa de salvar as almas. Todos os talentos que possuía ele os submeteu à obra de despertar àqueles que estavam mortos em delitos e pecados. Preparou sua alma para a terrível e solene responsabilidade de pregar a Palavra de Deus, e isso ele fazia com “muita oração e profundo estudo da Palavra de Deus, com disciplina pessoal, com grandes provas e dolorosas tentações, pela experiência da corrupção da morte em seu próprio coração e pela descoberta da plena graça do Salvador.” Por experiência, ele podia dizer: “Quem é que vence o mundo, senão aquele que crê que Jesus é o Filho de Deus?” (1João 5.5).
No dia 1o. de julho de 1835, Robert Murray McCheyne obteve, do presbitério de Annan, licença para pregar. Depois de haver pregado por vários meses em diferentes lugares e ter dado evidência da particular doçura com que a Palavra de Deus fluía de seus lábios, McCheyne tornou-se o ajudante do pastor John Bonar nas congregações unidas de Larbert e Dunipace, nas cercanias de Stirling. Em sua pregação, fazia com que os outros participassem de sua vida interior, como de sua alma, à medida que crescia na graça e no conhecimento do Senhor e Salvador. Começava o dia muito cedo cantando salmos ao Senhor. A isso se seguia a leitura da Palavra para a própria santificação. Nas cartas de Samuel Rutherford [a serem publicadas por esta editora] encontrou uma mina de riquezas espirituais. Entre outros livros que apreciava ler estavam: Chamamento aos Inconversos, de Richard Baxter, e A Vida de David Brainerd, de Jonathan Edwards.
Em novembro de 1836, foi ordenado pastor na igreja de São Pedro, em Dundee. Permaneceu como pastor dessa congregação até o dia de sua morte. A cidade de Dundee, como ele mesmo deixou escrito, “era uma cidade dada à idolatria e de coração duro”. Mas não havia nada em suas mensagens que buscasse o agrado do homem natural, pois não estava em seu coração buscar o beneplácito dos inconversos. “Se o evangelho agradasse ao homem carnal, então, deixaria de ser evangelho”. Estava profundamente persuadido de que a primeira obra do Espírito Santo na salvação do pecador era a de produzir convicção de pecado e de trazer o homem a um estado de desespero diante de Deus. “A menos que o homem seja posto no nível de sua miséria e culpa, toda a nossa pregação será vã. Somente um coração contrito pode receber a um Cristo crucificado”. Sua pregação era caracterizada por um elemento de declarada urgência e alerta. “Que Deus me ajude sempre a falar-vos com clareza. Mesmo a vida daqueles que vivem mais anos é, na verdade, curta. No entanto, essa vida curta que Deus nos deu é suficiente para que busquemos o arrependimento e a conversão, pois logo, muito logo, passará. Cada dia que passa é como um passo a mais em direção ao trono do juízo eterno. Nenhum de vós permanece imutável; talvez estejais dormindo; não importa, pois a maré do tempo que passa vos está levando mais para perto da morte, do juízo e da eternidade”.
Ao seu profundo amor pela almas se somava uma profunda sede de santidade de vida. Escrevendo a um companheiro no ministério, disse: “Acima de todas as coisas, cultiva teu próprio espírito. Tua própria alma deveria ser o principal motivo de todos os teus cuidados e desvelos. Mais que os grande talentos, Deus abençoa àqueles que refletem a semelhança de Jesus em sua vida. Um ministro santo é uma arma terrível nas mãos de Deus”. McCheyne talvez pregasse com mais poder com sua vida do que com suas mensagens, e ele sabia bem, como nos disse seu amigo Andrew Bonar, que “os ministros do Evangelho não só devem pregar fielmente, mas também viver fielmente”.
Como pastor em Dundee, McCheyne introduziu importantes inovações na congregação. Naquela época, as reuniões de oração, se não eram desconhecidas, eram muito raras. McCheyne ensinou aos membros a necessidade de congregar-se cada quinta-feira à noite a fim de unirem o coração em oração ao Senhor e estudar Sua Palavra. Também destinava outro dia durante a semana para os jovens. Seu ministério entre as crianças constitui a nota mais brilhante de seu ministério.
Ao seu zelo por santidade de vida uniu-se seu afã por pureza de testemunho entre os membros de sua congregação. McCheyne era consciente de que a igreja — como parte do Corpo místico de Cristo — devia manifestar a pureza e santidade Daquele que havia morrido para oferecer uma Igreja santa e sem mancha ao Pai. Por isso, seu zelo pela observância de disciplina na congregação: “Ao começar meu ministério entre vós, eu era em extremo ignorante da grande importância que na Igreja de Cristo tem a disciplina eclesiástica. Pensava que meu único e grande objetivo nesta congregação era o de orar e pregar. Vossa alma me parecia tão preciosa e o tempo se me apresentava tão curto que eu decidi dedicar-me exclusivamente com todas as minhas forças e com todo o meu tempo ao labor de evangelização e doutrina. Sempre que, diante de mim e dos presbíteros desta igreja, se nos apresentaram casos de disciplina, eu os considerava como dignos de aborrecimento. Constituíam uma obrigação diante da qual eu me encolhia. Mas agradou ao Senhor, que ensina a Seus servos de maneira muito diferente daquela usada pelos homens, abençoar — inclusive com a conversão — alguns dos casos de disciplina a nosso cuidado. Desde então uma nova luz se acendeu em minha mente: dei-me conta de que não somente a pregação era uma ordenança de Cristo, mas também o exercício da disciplina eclesiástica.”
Enquanto o vigor e a força espiritual de sua alma alcançavam uma grandeza gigantesca, a saúde física de McCheyne se via minada e debilitada conforme transcorriam os dias. Ao final de 1838, uma violenta palpitação do coração, ocasionada por seus árduos labores ministeriais, obrigaram o jovem pastor a retirar-se para um descanso. E como sua convalescença se processava em ritmo muito lento, um grupo de pastores, reunido em Edimburgo na primavera de 1839, decidiu convidar McCheyne a se unir a uma comissão de pastores que planejava ir a Palestina para estudar as possibilidades missionárias da Terra Santa. Todos criam que tanto o clima como a viagem redundariam em benefício para a saúde do pastor. Do ponto de vista espiritual, sua passagem pela Palestina se constituiu uma verdadeira bênção para a sua alma. Visitar os lugares que haviam sido cenário da vida e obra do bendito Mestre e pisar a mesma terra que um dia pisara o Varão de dores foi uma experiência indescritível para o jovem pastor. No entanto, fisicamente, o estado de McCheyne não melhorou; antes, pelo contrário, parecia que seu tabernáculo terrestre ameaça sofrer um desmoronamento total. E, assim, nos últimos dias de julho de 1839, encontrando-se a delegação missionária próxima de Esmirna, e já para regressar, McCheyne caiu gravemente enfermo. Quando tudo fazia pensar em uma rápida morte, o Senhor estendeu Sua mão curadora e o grande servo do evangelho pôde, por fim, regressar a sua amada Escócia e ao seu querido rebanho em Dundee.
Durante sua ausência, o Espírito Santo começou a operar um maravilhoso avivamento na Escócia. Este avivamento começou em Kilsyth sob a pregação do jovem pastor W. C. Burns, que havia substituído McCheyne enquanto durava sua convalescença. Num curto espaço de tempo, a força do Espírito Santo, que impulsionava o avivamento, se deixou sentir em muitos lugares. Em Dundee, onde os cultos se prolongavam até tarde da noite todos os dias da semana, as conversões foram muito numerosas. Era como se toda a cidade houvesse sido sacudida pelo poder do Espírito.
Em novembro do mesmo ano, McCheyne, recuperado de sua enfermidade, regressou a sua congregação. Os membros da igreja de São Pedro transbordaram de alegria ao ver de novo o rosto amado de seu pastor. A igreja estava absolutamente lotada e, enquanto todos esperavam que McCheyne ocupasse o púlpito, um silêncio absoluto reinada entre os que estavam ali congregados. Muitos membros derramaram lágrimas de gratidão ao rever o rosto de seu pastor. Mas, ao finalizar o culto e movidos pelo poder de sua pregação, muitos foram os pecadores que derramaram lágrimas de arrependimento.
O regresso de McCheyne a Dundee marcou um novo episódio em seu ministério e também na igreja escocesa. Era como se a partir daquele momento, o Senhor se houvesse disposto a responder às orações que o jovem pastor elevara no princípio de seu ministério, suplicando por um avivamento. Ali, onde McCheyne pregara, o Espírito acrescentava novas almas à Igreja.
Na primavera de 1843, quando McCheyne regressara de uma série de reuniões especiais em Aberdeenshire, caiu repentinamente enfermo. Lá ele havia visitado a vários enfermos de febre infecciosa, e a constituição enfermiça e débil de McCheyne sucumbiu ao contágio da mesma. No dia 25 de março de 1843 partiu para estar com o Senhor.
“Em todas as partes onde chegava a notícia de sua morte”, escreveu Bonar, “o semblante dos crentes se enchia de tristeza. Talvez não tenha havido outra morte que impressionasse tanto aos santos de Deus na Escócia como a deste grande servo de Deus que consagrou toda a sua vida à pregação do evangelho eterno. Com freqüência, ele costumava dizer: ‘Vivei de modo que, um dia, sintam de vós saudades’, e ninguém que houvesse visto as lágrimas que se verteram por ocasião de sua morte teria dúvidas em afirmar que sua vida havia sido o que ele havia recomendado a outros. Não tinha mais do que 29 anos quando o Senhor o levou.
“No dia do enterro, foram suspensas todas as atividades em Dundee. Do lugar do velório até o cemitério, todas as ruas e janelas estavam abarrotadas de uma grande multidão. Muitas almas se deram conta naquele dia de que um príncipe de Israel havia caído, enquanto muitos corações indiferentes experimentaram uma terrível angústia ao contemplar o solene espetáculo.
“O túmulo de Robert McCheyne ainda pode ser visto na parte nordeste do cemitério que circunda a igreja de São Pedro. Ele se foi para as montanhas de mirra e para as colinas de incenso, até que desponte o dia e fujam as sombras. Terminou sua obra. Seu Pai celestial não tinha para ele nenhuma outra planta para regar nem outra vide para cuidar, e o Salvador, que tanto o amou em vida, agora o esperava com Suas palavras de boas-vindas: ‘Bem está, servo bom e fiel. (…) Entra no gozo do teu senhor’ (Mateus 25.21)”
O ministério de Robert McCheyne não terminou com sua morte. Suas mensagens e cartas, com sua biografia escrita por seu amigo Andrew Bonar, são ricos instrumentos de bênção para muitas almas.
(Traduzido por Francisco Nunes de Mensajes Bíblicos, de Robert Murray McCheyne, publicado por The Banner of Truth Trust. (c) 1961 The Banner of Truth Trust, para Editora dos Clássicos.)
De: 11/01/2012
Por: Fonte: camposdeboaz
Mais de 100 mil homens e mulheres rodeavam o pregador, há mais de duzentos anos, em Cambuslang, Escócia. As palavras do sermão, vivificadas pelo Espírito Santo, ouviam-se distintamente em todas as partes que formavam esse mar humano. É-nos difícil fazer uma idéia do vulto da multidão de 10 mil penitentes que responderam ao apelo para se entregarem ao Salvador. Estes acontecimentos servem-nos como um dos poucos exemplos do cumprimento das palavras de Jesus: "Na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço, e as fará maiores do que estas, porque vou para meu Pai" (João 14.12).
Havia "como um fogo ardente encerrado nos ossos" deste pregador, que era Jorge Whitefield. Ardia nele um zelo santo de ver todas as pessoas libertas da escravidão do pecado. Durante um período de vinte e oito dias fez a incrível façanha de pregar a 10 mil pessoas diariamente. Sua voz se ouvia perfeitamente a mais de um quilômetro de distância, apesar de fraco de físico e de sofrer dos pulmões.Não havia prédio no qual coubessem os auditórios e, nos países onde pregou, armava seu púlpito nos campos, fora das cidades. Whitefield merece o título de príncipe dos pregadores ao ar livre, porque pregava em média dez vezes por semana, e isso fez durante um período de trinta e quatro anos, em grande parte sob o teto construído por Deus -os céus.
A vida de Jorge Whitefield era um milagre. Nasceu em uma taberna de bebidas alcoólicas. Antes de completar três anos, seu pai faleceu. Sua mãe casou-se novamente, mas a Jorge foi permitido continuar os estudos na escola. Na pensão de sua mãe, fazia a limpeza dos quartos, lavava roupa e vendia bebidas no bar. Estranho que pareça e apesar de não ser salvo, interessava-se grandemente pela leitura das Escrituras, lendo a Bíblia até alta noite preparando sermões. Na escola era conhecido como orador: Sua eloqüência era natural e espontânea, um dom extraordinário de Deus, dom que possuía sem ele mesmo saber.
Custeou os próprios estudos em Pembroke College, Oxford, servindo como garçom em um hotel. Depois de estar algum tempo em Oxford, ajuntou-se ao grupo de estudantes a que pertenciam João e Carlos Wesley. Passou muito tempo, como os demais do grupo, jejuando e esforçando-se para mortificar a carne, a fim de alcançar a salvação, sem compreender que "a verdadeira religião é a união da alma com Deus e a formação de Cristo em nós."
Acerca da sua salvação, escreveu algum tempo antes de morrer: "Sei o lugar onde... Todas as vezes que vou a Oxford, sinto-me impelido a ir primeiro a este lugar onde Jesus se revelou a mim, pela primeira vez, e me deu o novo nascimento".
Com a saúde abalada, talvez pelo excesso de estudo, Jorge voltou a casa para recuperá-la. Resolvido a não cair no indiferentismo, inaugurou uma classe bíblica para jovens que, como ele, desejavam orar e crescer na graça de Deus. Visitavam diariamente os doentes e os pobres e, freqüentemente, os prisioneiros nas cadeias, para orarem com eles e prestarem-lhes qualquer serviço manual que pudessem. Jorge tinha no coração um plano que consistia em preparar cem sermões e apresentar-se para ser separado para o ministério. Porém quando havia preparado apenas um sermão, seu zelo era tanto, que a igreja insistia em ordená-lo, tendo penas vinte e um anos apesar de ser regra não aceitar ninguém para tal cargo, com menos de 23 anos.
O dia antes da sua separação para o ministério, passou-o em jejum e oração. Acerca desse fato, ele escreveu: "À tarde, retirei-me para um alto, perto da cidade, onde orei com instância durante duas horas, pedindo a meu favor e também por aqueles que estavam para ser separados comigo. No domingo, levantei-me de madrugada e orei sobre o assunto da epístola de Paulo a Timóteo, especialmente sobre o preceito: 'Ninguém despreze a tua mocidade'. Quando o ancião me impôs as suas mãos, se meu vil coração não me engana, ofereci todo o meu espírito, alma e corpo para o serviço no santuário de Deus... Posso testificar; perante os céus e a terra, que dei-me a mim mesmo, quando o ancião me impôs as mãos, para ser um mártir por aquele que foi pregado na cruz em meu lugar".
Os lábios de Whitefield foram tocados pelo fogo divino do Espírito Santo na ocasião da sua separação para o ministério. No domingo seguinte, naquela época de gelo espiritual, pregou pela primeira vez. Alguns se queixaram de que quinze dos ouvintes enlouqueceram ao ouvirem o sermão. O ancião, porém, compreendendo o que se passava, respondeu que seria muito bom, se os quinze não se esquecessem da sua "loucura" antes de chegar o outro domingo.
Whitefield nunca se esqueceu nem deixou de aplicar a si as seguintes palavras do Doutor Delaney: "Desejo, todas as vezes que subir ao púlpito, considerar essa oportunidade como a última que me é dada de pregar, e a última dada ao povo de ouvir". Alguém assim escreveu sobre uma de suas pregações: "Quase nunca pregava sem chorar e sei que as suas lágrimas eram sinceras. Ouvi-o dizer: 'Vós me censurais porque choro. Mas, como posso conter-me, quando não chorais por vós mesmos, apesar das vossas almas mortais estarem a beira da destruição? Não sabeis se estais ouvindo o último sermão, ou não, ou se jamais tereis outra oportunidade de chegar a Cristo!" Chorava, às vezes, até parecer que estava morto e custava a recuperar as forças. Diz-se que os corações da maioria dos ouvintes eram derretidos pelo calor intenso de seu espírito, como prata na fornalha do refinador.
Quando estudante no colégio de Oxford, seu coração ardia de zelo e pequenos grupos de alunos se reuniam no seu quarto, diariamente; eles eram movidos, como os discípulos logo depois do derramamento do Espírito Santo, no Pentecoste. O Espírito continuou a operar poderosamente nele e por ele durante o resto da sua vida, porque nunca abandonou o costume de buscar a presença de Deus. Dividia o dia em três partes: oito horas sozinho com Deus e em estudos, oito horas para dormir e as refeições, oito horas para o trabalho entre o povo. De joelhos, lia, e orava sobre as leituras das Escrituras e recebia luz, vida e poder. Lemos que numa das suas visitas aos Estados Unidos, "passou a maior parte da viagem a bordo, sozinho em oração". Alguém escreveu sobre ele: "Seu coração encheu-se tanto dos céus que anelava por um lugar onde pudesse agradecer a Deus; e sozinho, durante horas, chorava comovido pelo amor consumidor do seu Senhor". Suas experiências no ministério confirmavam a sua fé na doutrina do Espírito Santo, como o Consolador ainda vivo, o poder de Deus operando atualmente entre nós.
A pregação de Jorge Whitefield era feita de forma tão vivida que parecia quase sobrenatural. Conta-se que, certa vez pregando a alguns marinheiros, descreveu um navio perdido num furacão. Tudo foi apresentado em manifestações tão reais que, quando chegou ao ponto de descrever o barco afundando, alguns marinheiros pularam dos assentos, gritando: "Às baleeiras! Às baleeiras!". Em outro sermão falou acerca dum cego andando na direção dum precipício desconhecido. A cena foi tão real que, quando o pregador chegou ao ponto de descrever a chegada do cego à beira do profundo abismo, o camareiro-mor, Chesterfield, que assistia, deu um pulo gritando: "Meu Deus! ele desapareceu!"
O segredo, porém, da grande colheita de almas salvas não era a sua maravilhosa voz nem a sua grande eloqüência. Não era também porque o povo tivesse o coração aberto para receber o Evangelho, porque era tempo de grande decadência espiritual entre os crentes.
Também não foi porque lhe faltasse oposição. Repetidas vezes Whitefield pregou nos campos, porque as igrejas fecharam-lhe as portas. Às vezes nem os hotéis queriam aceitá-lo como hóspede. Em Basingstoke foi agredido a pauladas. Em Staffordshire atiraram-lhe torrões de terra. Em Moorfield destruíram a mesa que lhe servia de púlpito e arremessaram contra ele o lixo da feira. Em Evesham, as autoridades, antes de seu sermão, ameaçaram prendê-lo, se pregasse. Em Exeter, enquanto pregava a dez mil pessoas, foi apedrejado de tal forma que pensou haver chegado para ele a hora, como o ensangüentado Estevão, de ser imediatamente chamado à presença do Mestre. Em outro lugar, apedrejaram-no novamente, até ficar coberto de sangue. Verdadeiramente levava no corpo, até a morte, as marcas de Jesus.
O segredo de tais frutos na sua pregação era o seu amor para com Deus. Quando ainda muito novo, passava noites inteiras lendo a Bíblia, que muito amava. Depois de se converter, teve a primeira daquelas experiências de sentir-se arrebatado, ficando a sua alma inteiramente aberta, cheia, purificada, iluminada da glória e levada a sacrificar-se, inteiramente, ao seu Salvador. Desde então nunca mais foi indiferente em servir a Deus, mas regozijava-se no alvo de trabalhar de toda a sua alma, e de todas as suas forças, e de todo seu entendimento. Só achava interesse nos cultos e escreveu para sua mãe que nunca mais voltaria ao seu emprego. Consagrou a vida completamente a Cristo. E a manifestação exterior daquela vida nunca excedia a sua realidade interior, portanto, nunca mostrou cansaço nem diminuiu a marcha durante o resto de sua vida.
Apesar de tudo, ele escreveu: "A minha alma era seca como o deserto. Sentia-me como encerrado dentro duma armadura de ferro. Não podia ajoelhar-me sem estar tomado de grandes soluços e orava até ficar molhado de suor... Só Deus sabe quantas noites fiquei prostrado, de cama, gemendo, por causa do que sentia, e ordenando, em nome de Jesus, que Satanás se apartasse de mim. Outras vezes passei dias e semanas inteiros prostrado em terra, suplicando para ser liberto dos pensamentos diabólicos que me distraíam. Interesse próprio, rebelião, orgulho e inveja me atormentavam, um após outro, até que resolvi vencê-los ou morrer. Lutei até Deus me conceder vitória sobre eles".
Jorge Whitefield considerava-se um peregrino errante no mundo, procurando almas. Nasceu, criou-se e diplomou-se na Inglaterra. Atravessou o Atlântico treze vezes. Visitou a Escócia quatorze vezes. Foi ao País de Gales várias vezes. Visitou uma vez a Holanda. Passou quatro meses em Portugal. Nas Bermudas, ganhou muitas almas para Cristo, como nos demais lugares onde trabalhou.
Acerca do que sentiu em uma das viagens à colônia da Geórgia, Whitefield escreveu: 'Foram-me concedidas manifestações extraordinárias do alto. Cedo de manhã, ao meio-dia, ao anoitecer e à meia-noite, de fato durante o dia inteiro, o amado Jesus me visitava para renovar-me o coração. Se certas árvores perto de Stonehourse pudessem falar, contariam acerca da doce comunhão, que eu e algumas almas amadas desfrutamos ali com Deus, sempre bendito. Às vezes, quando de passeio, a minha alma fazia tais incursões pelas regiões celestes, que parecia pronta a abandonar o corpo. Outras vezes sentia-me tão vencido pela grandeza da majestade infinita de Deus, que me prostrava em terra e entregava-lhe a alma, como um papel em branco, para Ele escrever nela o que desejasse. De uma noite nunca me esquecerei. Relampejava excessivamente. Eu pregara a muitas pessoas e algumas ficaram receosas de voltar a casa. Senti-me dirigido a acompanhá-las e aproveitar o ensejo para as animar a se prepararem para a vinda do Filho do homem. Oh! que gozo senti na minha alma! Depois de voltar, enquanto alguns se levantavam das suas camas, assombrados pelos relâmpagos que andavam pelo chão e brilhavam duma parte do céu até outra, eu com mais um irmão ficamos no campo adorando, orando, exultando ao nosso Deus e desejando a revelação de Jesus dos céus, uma chama de fogo!"
- Como se pode esperar outra coisa a não ser que as multidões, a quem Whitefield pregava, fossem levadas a buscar a mesma Presença? Na sua biografia há um grande número de exemplos como os seguintes: "Oh! quantas lágrimas foram derramadas, com forte clamor, pelo amor do querido Senhor Jesus! Alguns desmaiavam e quando recobravam as forças, ouviam e desmaiavam de novo. Outros gritavam como quem sente a ânsia da morte. E depois de eu findar o último discurso, eu mesmo senti-me tão vencido pelo amor de Deus que quase fiquei sem vida. Contudo, por fim, revivi e, depois de me alimentar um pouco, estava fortalecido bastante para viajar cerca de trinta quilômetros, até Nottingham. No caminho, a alma alegrou-se cantando hinos. Chegamos quase à meia-noite; depois de nos entregarmos a Deus em oração, deitamo-nos e descansamos na proteção do querido Senhor Jesus. Oh! Senhor, jamais existiu amor como o teu!"
Então Whitefield continuou, sem cansar: "No dia seguinte em Fog's Manor, a concorrência aos cultos foi tão grande como em Nottingham. O povo ficou tão quebrantado que, por todos os lados, vi pessoas banhadas em lágrimas. A palavra era mais cortante que espada de dois gumes e os gritos e gemidos alcançavam o coração mais endurecido. Alguns tinham semblantes pálidos como a palidez de morte; outros torciam as mãos, cheios de angústia; ainda outros foram prostrados ao chão, ao passo que outros caíam e eram aparados nos braços de amigos. A maior parte do povo levantava os olhos para os céus, clamando e pedindo a misericórdia de Deus. Eu, enquanto os contemplava, só podia pensar em uma coisa: o grande dia. Pareciam pessoas acordadas pela última trombeta, saindo dos seus túmulos para o juízo."
"O poder da presença divina nos acompanhou até Baskinridge, onde os arrependidos choravam e os salvos oravam, lado a lado. O indiferentismo de muitos transformou-se em assombro, e o assombro, depois, em grande alegria. Alcançou todas as classes, idades e caracteres. A embriaguez foi abandonada por aqueles que eram dominados por esse vício. Os que haviam praticado qualquer ato de injustiça foram tomados de remorso. Os que tinham furtado foram constrangidos a fazer restituição. Os vingativos pediram perdão. Os pastores ficaram ligados ao seu povo por um vínculo mais forte de compaixão. O culto doméstico foi iniciado nos lares. Os homens foram levados a estudar a Palavra de Deus e a terem comunhão com o seu Pai, nos céus".
Mas não foi somente os países populosos que o povo afluiu para o ouvir. Nos estados Unidos, quando eram ainda um país novo, ajuntaram-se grandes multidões dos que moravam longe um do outro, nas florestas. O famoso Benjamim Franklin, no seu jornal, assim noticiou essas reuniões: "Quinta-feira o reverendo Whitefield partiu de nossa cidade, acompanhado de cento e cinqüenta pessoas a cavalo, com destino a Chester, onde pregou a sete mil ouvintes, mais ou menos. Sexta-feira pregou duas vezes em Willings Town a quase cinco mil; no sábado, em Newcastle, pregou a cerca de duas mil e quinhentas, e na tarde do mesmo dia, em Cristiana Bridge, pregou a quase três mil; no domingo, em White Clay Creek, pregou duas vezes (descansando uma meia hora entre os sermões a oito mil pessoas, das quais, cerca de três mil, tinha vindo a cavalo. Choveu a maior parte do tempo, porém, todos se conservaram em pé, ao ar livre".
Como Deus estendeu a sua mão para operar prodígios por meio de seu servo, vê-se no seguinte: Num estrado perante a multidão, depois de alguns momentos de oração em silêncio, Whitefield anunciou de maneira solene o texto: "É ordenado aos homens que morram uma só vez, e depois disto vem o juízo". Depois de curto silêncio, ouviu-se um grito de horror, vindo dum lugar entre a multidão. Um pregador presente foi até o local da ocorrência, para saber o que tinha acontecido. Logo voltou e disse: - "Irmão Whitefield, estamos entre os mortos e os que estão morrendo. Uma alma imortal foi chamada à eternidade. O anjo da destruição está passando sobre o auditório. Clame em alta voz e.não cesse". Então foi anunciado ao povo que um dentre a multidão havia morrido. Então Whitefield leu a segunda vez o mesmo texto: "É ordenado aos homens que morram uma só vez". Do local onde a Senhora Huntington estava em pé, veio outro grito agudo. De novo, um tremor de horror passou por toda a multidão quando anunciaram que outra pessoa havia morrido. Whitefield, porém, em vez de ficar tomado de pânico, como os demais, suplicou graça ao Ajudador invisível e começou, com eloqüência tremenda, a prevenir os impenitentes do perigo. Não devemos concluir, contudo, que ele era ou sempre solene ou sempre veemente. Nunca houve quem experimentasse mais formas de pregar do que ele.
Apesar da sua grande obra, não se pode acusar Whitefield de procurar fama ou riquezas terrestres. Sentia fome e sede da simplicidade e sinceridade divina. Dominava todos os seus interesses e os transformava para glória do reino do seu Senhor. Não ajuntou ao redor de si os seus convertidos para formar outra denominação, como alguns esperavam. Não, apenas dava todo o seu ser, mas queria "mais línguas, mais corpos, mais almas a usar para o Senhor Jesus".
A maior parte de suas viagens à América do Norte foram feitas a favor do orfanato que fundara na colônia da Geórgia. Vivia na pobreza e esforçava-se para granjear o necessário para o orfanato. Amava os órfãos ternamente, escrevendo-lhes cartas e dirigindo-se a cada um pelo nome. Para muitas dessas crianças, ele era o único pai, o único meio de elas terem o sustento. Fez uma grande parte da sua obra evangelística entre os órfãos e quase todos permaneceram crentes fiéis, sendo que um bom número deles se tornaram ministros do Evangelho.
Whitefield não era de físico robusto: desde a mocidade sofria quase constantemente, anelando, muitas vezes, partir e estar com Cristo. A maior parte dos pregadores acham impossível pregar quando estão enfermos como ele.
Assim foi que, aos 65 anos de idade, durante sua sétima viagem à América do Norte, findou a sua carreira na Terra, uma vida escondida com Cristo em Deus e derramada num sacrifício de amor pelos homens. No dia antes de falecer, teve de esforçar-se para ficar em pé. Porém, ao levantar-se, em Exeter, perante um auditório demasiado grande para caber em qualquer prédio, o poder de Deus veio sobre ele e pregou, como de costume, durante duas horas. Um dos que assistiram disse que "seu rosto brilhava como o sol". O fogo aceso no seu coração no dia de oração e jejum, quando da sua separação para o ministério, ardeu até dentro dos seus ossos e nunca se apagou (Jeremias 20.9).Certo homem eminente dissera a Whitefield: "Não espero que Deus chame o irmão, breve, para o lar eterno, mas quando isso acontecer, regozijar-me-ei ao ouvir o seu testemunho". O pregador respondeu: "Então ficará desapontado; morrerei calado. A vontade de Deus é dar-me tantos ensejos para testificar dele durante minha vida, que não me serão dados outros na hora da morte".
E sua morte ocorreu como predissera.
Depois do sermão, em Exeter, foi a Newburyport para passar a noite na casa do pastor. Ao subir para o quarto de dormir, virou-se na escada e, com a vela na mão, proferiu uma curta mensagem aos amigos que ali estavam e insistiam em que pregasse.
Às duas horas da madrugada acordou. Faltava-lhe o fôlego e pronunciou para o seu companheiro as suas últimas palavras na Terra: "Estou morrendo".
No seu enterro, os sinos das igrejas de Newburyport dobraram e as bandeiras ficaram a meia-haste. Ministros de toda a parte vieram assistir aos funerais; milhares de pessoas não conseguiram chegar perto da porta da igreja, por causa da imensa multidão. Conforme seu pedido, foi enterrado sob o púlpito da igreja.
Se quisermos os mesmos frutos de ver milhares salvos, como Jorge Whitefield os teve, temos de seguir o seu exemplo de oração e dedicação.
- Alguém pensa que é tarefa demais? Que diria Jorge Whitefield, junto, agora, com os que levou a Cristo, se lhe fizéssemos essa pergunta?
Por: (extraido do livro hérois da fé)
A Vida de Robert Murray McCheyne, (1813 – 1843)
Era inverno. Sentados próximo ao fogo, dois pedreiros estavam dedicados a sua tarefa. De repente, um desconhecido aproximou-se deles, desceu do cavalo e, imediatamente, passou a conversar sobre o estado espiritual da alma deles. Servindo-se das vivas chamas da fogueira como ilustração, o jovem desconhecido pregou verdades alarmantes. Com profunda surpresa, os pedreiros exclamaram: “Você não é um homem como os demais!” Ao que o desconhecido — que era Robert McCheyne — respondeu: “Eu sou, simplesmente, um homem como os demais”.
No inverno de 1831, iniciou seus estudos na Divinity Hall, onde Thomas Chalmers era professor de Teologia, e David Welsh o era de História Eclesiástica. Com outros companheiros — Edward Irving, Horatius e Andrew Bonar (que, mais tarde, escreveu sua biografia) — e fervorosos amigos, Robert McCheyne se reunia para orar e estudar a Bíblia, especialmente nas línguas originais. Quando o Dr. Chalmers foi informado do modo simples e literal como McCheyne esquadrinhava as Sagradas Escrituras, não pode senão dizer: “Eu gosto dessa literalidade!” Verdadeiramente, todos os sermões deste grande servo de Deus são caracterizados por uma profunda fidelidade ao texto bíblico. Já neste período de sua vida, McCheyne dava mostra de um grande amor pelas almas perdidas e, junto com seus estudos, dedicava várias horas por semana à pregação do evangelho, tarefa que realizava quase sempre nos bairros pobres e mais baixos de Edimburgo.
O regresso de McCheyne a Dundee marcou um novo episódio em seu ministério e também na igreja escocesa. Era como se a partir daquele momento, o Senhor se houvesse disposto a responder às orações que o jovem pastor elevara no princípio de seu ministério, suplicando por um avivamento. Ali, onde McCheyne pregara, o Espírito acrescentava novas almas à Igreja.
“O túmulo de Robert McCheyne ainda pode ser visto na parte nordeste do cemitério que circunda a igreja de São Pedro. Ele se foi para as montanhas de mirra e para as colinas de incenso, até que desponte o dia e fujam as sombras. Terminou sua obra. Seu Pai celestial não tinha para ele nenhuma outra planta para regar nem outra vide para cuidar, e o Salvador, que tanto o amou em vida, agora o esperava com Suas palavras de boas-vindas: ‘Bem está, servo bom e fiel. (…) Entra no gozo do teu senhor’ (Mateus 25.21)”
(Traduzido por Francisco Nunes de Mensajes Bíblicos, de Robert Murray McCheyne, publicado por The Banner of Truth Trust. (c) 1961 The Banner of Truth Trust, para Editora dos Clássicos.)
Por: Fonte: camposdeboaz
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