sábado, 29 de fevereiro de 2020

TODO CARNAVAL TEM SEU FIM

Com o título desse texto, cito Los Hermanos, que cantam a fugacidade da alegria do carnaval na música com o mesmo título desse texto que você está lendo, leitor. Roberta Sá chama esse tempo de festa de “outra ilusão” (Novo Amor), embora também peça um amor “que pelo menos dure enquanto é carnaval” em outra canção (Cicatrizes). Vinicius de Moraes e Tom Jobim igualmente não colocavam muita fé na principal festa nacional, pois a chamaram de “grande ilusão” (A Felicidade).
A grande culpada pelo fim da alegria é a pobre quarta-feira de cinzas: “quarta-feira, queira ou não queira terminou o carnaval” (Roberta Sá, Novo Amor), “e tudo se acabar na quarta-feira” (Tom e Vinicius, A Felicidade). Dos dias de festejo, afirmava Nara Leão, “saudades e cinzas foi o que restou” (Marcha de Quarta-feira de Cinzas).
As cinzas da quarta supracitada são reminiscências do caráter religioso da festa, lembranças do outrora costume no Crescente Fértil de usá-las como marca de humilhação ou contrição: “Voltei o rosto ao Senhor Deus, para o buscar com oração e súplicas, com jejum, pano de saco e cinza” (Dn 9.3) e “chegou esta notícia ao rei de Nínive; ele levantou-se do seu trono, tirou de si as vestes reais, cobriu-se de pano de saco e assentou-se sobre cinza” (Jn 3.6).
Carnaval, atestam o Houaiss, a Britannica e Pasquale, provavelmente vem de carne levare (remover a carne), referência à restrição alimentar católica na quaresma. A terça gorda (“mardi gras” en français), mais conhecida como terça de carnaval, era um dia de grande festa porque as pessoas limpavam suas despensas de coisas como manteiga, ovos, queijos, carnes e faziam refeições mais, digamos assim, gordas – daí o hábito de alguns países europeus de fazer e comer panquecas e waffles nesse dia pouco fitness. Segundo o historiador britânico Peter Burke (Cultura Popular na Idade Moderna), as pessoas comiam, num dia, dois meses de despensa e carne suficiente para viajar do oeste europeu (França, por exemplo) para Constantinopla ou para a América. Também bebiam como se não houvesse amanhã.
Não é unanimidade que o carnaval se originou da tentativa da Igreja Católica de cristianizar festas da antiguidade pagã (dionisíaca e/ou saturnália), mas que a festa virou algo completamente anticristão é um fato. O aspecto religioso restou apenas na história. Para Roberto Damatta, antropólogo brasileiro, a festa significa, dentre outras coisas, um tempo de deixar a rotina, que, segundo ele, nos atormenta com a disciplina, para ter um tempo de ser feliz: “antes da disciplina rígida que manda ‘abandonar a carne’ (carne levare), a orgia” (O que diz o Carnaval?).
A Lógica do carnaval não é errada apenas porque se tornou uma festa completamente libertina. A própria perspectiva religiosa dela é equivocada. A ideia de liberação para o pecado ou para excessos por trás do carnaval católico, como mostra Abraham Kuyper (Calvinismo), é a expressão máxima da visão católica dualista que faz uma cisão, esquizofrenia purinha, entre sagrado e profano. Nessa cosmovisão, a santidade diz respeito apenas aos aspectos religiosos da vida (família, missa e dias santos) enquanto as outras esferas da vida pertencem à própria pessoa (amante, trabalho e os outros dias do calendário).
Escritura afirma que “Deus é o Rei de toda a terra” (Salmo 47.7), para citar apenas um exemplo das inúmeras passagens que falam do controle absoluto dEle sobre tudo que existe. Tem gente, todavia, que pensa que existem “setores” de sua vida que ela pode orientar à revelia do Todo-Poderoso. Ao invés de viver para a glória do nosso Criador e Salvador na totalidade da vida, tal pessoa pensa que o carnaval não é da conta de Deus, pois nesses dias é dada à carne a oportunidade de “esvaziar até a última gota o copo cheio de prazer, se não de euforia e insensatez, antes de retirar-se para o vale da contrição” (Kuyper, Calvinismo).
Leitor cristão, Deus quer sua vida toda. Não existem esferas/setores ou dias de sua vida que nosso Pai não queira transformar. Cristo morreu para santificar você por completo (todos os aspectos de sua existência) e completamente (Ele, no último dia, consumará essa obra).
Já você, leitor não cristão, não se iluda, a própria MPB atesta (vimos no início desse texto), para usar uma linguagem bíblica do Livro de Eclesiastes, que colocar o sentido da vida nos dias de prazer desenfreado do carnaval é vaidade, inutilidade, é correr atrás do vento. A verdadeira felicidade, diferente do carnaval, não tem fim, afinal: “[na eternidade, os crentes] jamais terão fome, nunca mais terão sede, não cairá sobre eles o sol, nem ardor algum, pois o Cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima” (Ap 7.15-17).
Ainda não podemos aproveitar na história o total esplendor das alegrias da eternidade, mas os ensaios já começaram.
Rev. Flávio Américo

"A Nigéria é um rio de sangue", dizem rabino e pastor sobre massacre de cristãos



Os terroristas não poupam nem as crianças, que quando não são vitimadas, são testemunhas das atrocidades contra seus pais. 




Cristãos fazem enterro coletivo de vítimas de terroristas islâmicos na Nigéria. (Foto: Reprodução/Christian Today)


“Foi a fé que nos obrigou a viajar para a Nigéria na semana passada para ver por nós mesmos a crise que ameaça partes do país mais rico e populoso da África”, disseram o rabino Abraham Cooper e o reverendo Johnnie Moore.


Abraham Cooper é o reitor associado do Simon Wiesenthal Center e Johnnie Moore é o presidente do Congresso de Líderes Cristãos dos EUA.




Rabino Abraham Cooper, reitor associado do Simon Wiesenthal Center. (Foto: Reprodução/The Jewish Star)


Eles justificaram suas presenças no país assolado pelo terrorismo islâmico como uma ordenança bíblica: “Não fique à toa”, ordena o Livro de Levítico, “quando o sangue do seu próximo estiver sendo derramado” (19:16).


Os dois líderes disseram que “o sangue está fluindo como um rio” por aquele extenso país e está sendo derramado nas mãos dos terroristas islâmicos do Boko Haram e de homens da tribo sem lei.



Eles contam dezenas de relatos de vítimas que passam por “sofrimento quase incompreensível”.



Rev. Johnnie Moore, presidente do Congresso de Líderes Cristãos dos EUA. (Foto: Reprodução/Rather Expose Them)


“Uma menina de 9 anos nos contou sobre assistir terroristas assassinando seus pais e irmãos com facões. Um pastor cuja igreja havia sido destruída duas vezes se encontrou conosco logo depois de negociar a libertação de duas membros da igreja sequestradas pelo Boko Harem, a caminho de uma celebração de Natal. As jovens ao lado dele, recém-libertadas, ainda mostram sinais de choque”, relatam em entrevista ao New York Post.


“Eles contaram como os terroristas os capturaram em seu ‘posto de controle’ próximo de um posto da polícia estadual. Uma das jovens era suficientemente esperta para manter o telefone ligado e escondido. Isso permitiu que as autoridades locais os localizassem. No entanto, as tropas do governo que chegaram a uma distância visual das meninas optaram por não resgatá-las”, disseram os líderes.



Outro caso aterrador é o de um pastor que decidiu resolver o caso de sequestro de algumas mulheres. Ele começou a se comunicar com os terroristas. O resgate exigido era considerado uma fortuna para qualquer pessoa em sua cidade modesta. Assim, o pastor vendeu praticamente todos os seus bens, como outros membros da igreja, para pagar os mil dólares necessários para salvar aquelas mulheres.


Arriscando a própria vida, o pastor dirigiu-se para o local designado para a troca, na esperança de que os terroristas cumprissem o acordo que haviam feito; felizmente, eles cumpriram.

Eles dizem que outras histórias não terminaram tão felizes. “Conhecemos homens de uma aldeia arrasada inteiramente pelos islâmicos. Os meios de subsistência foram sabotados, as famílias massacradas. Os terroristas esperaram até o meio da noite antes de atacar homens, mulheres e crianças com armas e facões. Sequestro não era do gosto deles. Eles começaram incêndios, depois desencadearam uma horrível limpeza étnica”, relatam.

A história de cada vítima parecia terminar com as palavras "existem milhares mais como nós".

Eles lembraram o caso de Leah Sharibu, a quem chamam de um” símbolo de coragem”.

“Essa adolescente cristã tinha 14 anos quando, em um ato de fé heroica, ela se recusou publicamente a se converter ao Islã, apesar das ameaças de seus captores terroristas encharcados de sangue. Aconteceu que estávamos lá no segundo aniversário de seu sequestro”, disseram.

Autoridades passivas

O presidente muçulmano da Nigéria, Muhammadu Buhari, compartilhou o testemunho cristão de Leah em uma declaração publicada em um importante jornal enquanto Abraham Cooper e Johnnie Moore estavam no país.





O presidente da Nigéria, Muhammadu Buhari. (Foto: Reprodução/Reuters)


"Leah permanece nas mãos dos terroristas", disse Buhari. "Eles dizem que é porque ela se recusa a renunciar à sua fé cristã. Dizemos que nenhuma pessoa tem o direito de forçar outra a mudar sua fé contra sua vontade, e que toda a vida é sagrada.”

Eles dizem que Buhari estava certo em fazer esses pronunciamentos, assim como os líderes cristãos fazem pronunciamentos semelhantes quando as vítimas são muçulmanas.

“No entanto, sua administração dominada pelos muçulmanos deve trabalhar mais para criar confiança entre o norte islâmico, o sul cristão e o meio misto do país. Dado que os terroristas praticam a jihad com cânticos de ‘Allahu Akbar’, não é surpresa que a vítima e o agressor vejam o conflito em termos religiosos”, criticaram.

“Certamente, existem muitos imãs que denunciam o sequestro de sua fé pelo Boko. Mesmo assim, os terroristas estão conseguindo travar um tipo de guerra santa”, dizem.

“A Nigéria deve tomar medidas para defender seus cidadãos das ameaças terroristas, para levar à justiça os assassinos, incendiários, sequestradores e estupradores. A alternativa é uma tempestade terrorista que poderia desestabilizar o país e a África Ocidental como um todo”, alertam.

Envolvimento americano

Os dois líderes dizem que os EUA deveriam entrar na questão. “Por que a América deveria se importar? Para começar, um estado nigeriano fracassado seria um desastre para seu povo, África e Estados Unidos. Mesmo que 5% da população jovem e massiva da Nigéria seja atraída para apoiar o Boko Haram, que prometeu lealdade ao Estado Islâmico, isso faria as ameaças islâmicas que irradiavam do Afeganistão parecerem brincadeira de criança”, afirmam.

Os dois concorram que tal situação poderia criar uma crise de refugiados mais aguda do que a desencadeada pelo conflito sírio. O” mundo poderia encontrar-se administrando uma perigosa mistura de terrorismo religioso (islâmico) por atores não estatais, intensificada pela desconfiança étnica, todos propensos à exploração por atores malignos como o regime iraniano”.

O cenário previsto é um dos motivos para que os EUA entrem na questão nigeriana: “Acreditamos que os Estados Unidos devem nomear um enviado especial para a região para trabalhar com o governo da Nigéria para enfrentar imediatamente os desafios de segurança da região”.

Abraham e Johnnie também entendem que “líderes religiosos de todas as religiões devem se solidarizar uns com os outros, desafiando o ódio que os terroristas pretendem fomentar”.

“Como um dos líderes cristãos mais influentes da Nigéria nos disse, ‘ontem foi o melhor dia para agir’. Em uma reunião separada, um dos imãs mais importantes do país disse praticamente o mesmo. Eles estão certos. O tempo está se esgotando”, concluíram.
FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DO NEW YORK POST

2,5 milhões de pessoas são isoladas após infecção de coronavírus em igreja na Coreia do Sul


Resultado de imagem para igreja em Daegu na Coreia do Sul

Todos os membros da Igreja de Jesus o Templo do Tabernáculo do Testemunho serão examinados.

Trabalhadores com equipamento protetor usam desinfetante em spray contra o novo coronavírus em frente à igreja em Daegu, na Coreia do Sul, nesta quinta-feira (20). (Foto: Kim Jun-beom/Yonhap via AP)

Trabalhadores com equipamento protetor usam desinfetante em spray contra o novo coronavírus em frente à igreja em Daegu, na Coreia do Sul, nesta quinta-feira (20). (Foto: Kim Jun-beom/Yonhap via AP)

O prefeito de Daegu, Kwon Young-jin, orientou os moradores a ficarem em casa depois que 90 pessoas que participavam de um culto na Igreja de Jesus o Templo do Tabernáculo do Testemunho mostraram sintomas de infecção por coronavírus e dezenas de casos novos foram confirmados.
Uma mulher de 61 anos que foi diagnosticada, conhecida como “paciente 31”, esteve na igreja, e o Centro de Controle e Prevenção de Doenças da Coreia descreveu o surto local como um “evento de supercontágio”.
“Estamos em uma crise inédita”, disse Kwon aos repórteres, acrescentando que todos os membros da igreja serão examinados. “Pedimos a eles que fiquem em casa, isolados de suas famílias.”
Quarta maior cidade da Coreia do Sul, as ruas de Daegu ficaram desertas nesta quinta-feira (20), e os moradores se refugiaram dentro de casa depois que foi constatado o contágio das dezenas de pessoas que estiveram na igreja.
Os shopping centers e cinemas desertos de Daegu, cidade de 2,5 milhões de habitantes, se tornaram uma das imagens mais impactantes fora da China de um surto que autoridades internacionais estão tentando impedir de se tornar uma pandemia global.
Novas pesquisas que indicaram que o vírus é mais contagioso do que se pensava inicialmente aumentaram o alarme. Na China, onde o vírus já matou mais de 2.100 pessoas, autoridades mudaram a metodologia usada para relatar infecções, criando novas dúvidas sobre dados que citaram como prova de que sua estratégia está funcionando.
Descrevendo as ruas vazias, o morador Kim Geun-woo, de 28 anos, disse à Reuters por telefone: “É como se alguém tivesse soltado uma bomba no meio da cidade. Parece um apocalipse zumbi.”
Atualmente, a Coreia do Sul tem 104 casos confirmados da doença semelhante à gripe, e registrou sua primeira morte.
Cientistas da China que estudaram material coletado de nariz e garganta de 18 pacientes infectados com o vírus disseram que ele se comporta muito mais como a influenza do que outros vírus bastante relacionados, insinuando que ele pode se disseminar mais facilmente do que se acreditava.
Em ao menos um caso, o vírus estava presente apesar de o paciente não ter sintomas, indicando que pacientes assintomáticos podem propagar a doença, escreveram elas nas conclusões preliminares publicadas no periódico científico New England Journal of Medicine.

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DO TERRA

GIDEÃO: CRER É A VITÓRIA



Juízes 7.1-25

O pregador e escritor norte-americano Vance Havner ao falar sobre Hebreus 11, disse que, pelo fato de Moisés ser um homem de fé, podia “VER O INVISÍVEL, ESCOLHER O IMPERECÍVEL E FAZER O IMPOSSÍVEL”. Ainda hoje nós precisamos ouvir mensagens assim que nos desafiam a viver pela fé´. Mas vivemos em uma atualidade onde homens de fé parecem que estão faltando hoje na igreja, especialmente notáveis por glorificar a Deus por meio de grandes atos de fé.
Lembre-se de que a fé não depende de como nos sentimos, daquilo que vemos nem do que pode acontecer.
O relato tão conhecido e empolgante da vitória de Gideão sobre os midianitas é, na verdade, uma história de fé que nos desafia a crermos na palavra de Deus e a viver esta palavra de maneira prática em nossos dias. Este texto nos revela três princípios importantes sobre essa fé. Se queremos ser vencedores e não vencidos diante dos inimigos que estão diante de nós, precisamos ver o que a Palavra de Deus nos ensina nesse texto.
1 . DEUS PROVA NOSSA FÉ ( JZ 7 :1-8 )
Quando olhamos para o texto de Juízes 7.1-8 podemos contemplar Deus provando a fé de Gideão ao falar-lhe sobre a quantidade de pessoas que se encontrava com ele,  e assim levou Gideão a fazer uma peneirada daqueles soldados.
A primeira peneirada (vv. 1-3). Deus testou a fé de Gideão ao peneirar os 32 mil voluntários até que restaram apenas trezentos homens. Se a fé de Gideão tivesse sido do tamanho de seu exército, então não teria sobrado muita coisa depois das peneiradas de Deus! Menos de 1% do contingente inicial acabou seguindo Gideão até o campo de batalha. As palavras de Wisnton Churchill sobre a Força Aérea Britânica na Segunda Guerra Mundial certamente se aplicam aos “trezentos homens de Gideão: “No campo dos conflitos humanos, nunca tanta gente deveu tanto a tão poucos”.
Deus explicou a Gideão o motivo de estar diminuindo seu exército: não queria; que os soldados se vangloriassem de que haviam vencido os midianitas. As vitórias alcançadas pela fé glorificam a Deus, pois ninguém é capaz de explicar como ocorreram. “Se você é capaz de explicar o que está acontecendo em seu ministério, então é porque não foi Deus quem fez”, disse o Dr. Bob Cook. Quando trabalhava no mistério Mocidade para Cristo, costumava: ouvir os líderes pedirem em suas orações: “Senhor, mantenha sempre o trabalho de Mocidade para Cristo funcionando à base de milagres”. Isso era viver pela fé.
Ao ordenar que os soldados temerosos que voltassem para casa, Gideão estava apenas obedecendo à lei que Moisés havia dado: Qual o homem medroso e de coração tímido? Vá, torne-se para casa, para que o coração de seus irmãos se não derreta como o seu coração” (Dt 20:8). “Deus não pode usar homens trêmulos e temerosos”, disse George Campbell Morgan (Reverendo Doutor George Campbell Morgan D.D. era um evangelista britânico, pregador, um dos principais professores da Bíblia e um autor prolífico. Sua mensagem era poderosa e o seu segredo era uma clara, límpida e penetrante exposicão do texto sagrado, que cativava a todos os ouvintes. Ele foi chamado o príncipe dos expositores. Apesar de nunca ter ido a um seminário, ele ultapassou seus colegas por tremenda dedicação em horas diárias de estudo da palavra). “O problema hoje em dia é que os homens trêmulos e temerosos insistem em permanecer no exército. Uma redução de membros que peneira da igreja os amedrontados e vacilantes é um ganho imenso e glorioso”.
Não se pode confiar numa fé não testada. Costuma-se pensar que a fé não passa de um “sentimento cheio de calor e de aconchego” ou, quem sabe, há os que simplesmente “acreditam na fé”.
            De acordo com J. G. Stipe, “a fé é como uma escova de dente: todo mundo deve ter uma e usá-la com frequência, mas não é recomendável usar a de outra pessoa”.
Podemos cantar em alta voz sobre a fé dos antigos, mas não podemos exercitar a fé de nossos pais.  Podemos seguir homens e mulheres de fé e participar de seus grandes feitos, mas não teremos sucesso em nossa vida pessoal dependendo apenas da fé de outrem.
Há pelo menos dois motivos pelos quais Deus prova a nossa fé: em primeiro lugar, a fim de nos mostrar se nossa fé é verdadeira ou se não passa de uma imitação e, em segundo lugar, a fim de fortalecer nossa fé para as tarefas que colocou diante de nós. Deus, muitas vezes, nos faz passar pelo vale da provação antes de permitir que alcancemos o ápice da vitória. Spurgeon estava certo quando disse: “as promessas de Deus brilham mais forte na fornalha da aflição, e é ao nos apropriarmos dessas promessas que alcançamos a vitória”.
As vitórias alcançadas pela fé glorificam a Deus, pois ninguém é capaz de explicar como ocorreram. “Se você é capaz de explicar o que está acontecendo em seu ministério, então é porque não foi Deus quem fez”, disse o Dr. Bob Cook. Quando trabalhava no mistério Mocidade para Cristo, costumava: ouvir os líderes pedirem em suas orações: Senhor, mantenha sempre o trabalho de Mocidade para Cristo funcionando à base de milagres”. Isso era viver pela fé.
Com frequência, somos como o rei Uzias, que “foi maravilhosamente ajudado, a medida que se tornou forte. Mas, havendo-se já fortificado, exaltou-se o seu coração para a sua própria ruína” (2 Cr 26:15, 16). As pessoas que vivem pela fé conhecem suas fraquezas e, cada vez mais, dependem de Deus para lhes dar forças. “Porque, quando sou fraco, então, é que sou forte” (2 Co 12:10).
O orgulho depois da batalha toma do Senhor a glória que lhe é devida, e o medo durante a batalha toma dos soldados do Senhor a coragem e o poder. O medo costuma se espalhar, e um único soldado temeroso é capaz de causar mais estrago do que um regimento inteiro de soldados inimigos.
O medo e a fé não podem conviver por muito tempo no mesmo coração. Ou o medo vence a fé e desistimos, ou a fé conquista o medo e triunfamos. É possível que John Wesley estivesse pensando no exército de Gideão quando disse: “Dê-me um exército de cem homens que não temem coisa alguma a não ser o pecado e que não amam coisa alguma a não ser Deus e farei estremecer as portas do inferno!”.
A segunda peneirada (vv. 4-8). Deus fez os dez mil homens que haviam restado do exército de Gideão passarem por mais um teste ao pedir-lhes que bebessem água de um rio. Nunca sabemos quando Deus está nos testando com alguma experiência comum da vida. Ouvi falar de um pastor titular de uma igreja que sempre andava de carro com os candidatos à vaga de pastor assistente no carro deles, só para ver se o carro estava bem cuidado e se o candidato dirigia com cuidado. É discutível se o asseio e o cuidado ao dirigir garantem que alguém seja bem sucedido em seu ministério, mas se trata de uma lição que vale a pena considerar.
Mais de um candidato a emprego já acabou com suas chances de ser contratado durante um almoço com o possível chefe por não perceber que estava sendo avaliado. “Faça de toda ocasião uma grande ocasião, pois nunca sabe quando alguém o está avaliando para algo mais elevado”. Quem disse isso foi um homem chamado Marsden e, há muitos anos, tenho sua citação – agora amarelada pelo tempo – debaixo do vidro de minha mesa de trabalho. Sempre me fez bem refletir sobre essa frase.
A meu ver, Deus escolheu esse método para peneirar o exército, pois era simples, despretensioso (nenhum soldado sabia que estava sendo testado) e fácil de ser aplicado.
Só depois dessa identificação é que os homens descobriram que haviam sido testados. “Porque para o S e n h o r nenhum impedimento há de livrar com muitos ou com poucos” (1 Sm 14:6).
Algumas igrejas hoje se encantam com as estatísticas e acreditam que são fortes por terem muitos membros e recursos, mas os números não são garantia da bênção de Deus. Moisés assegurou os israelitas de que, se obedecessem ao Senhor, um soldado perseguiria mil e “dois [fariam] fugir dez mil” (Dt 32:30 ). Assim, Gideão só precisava de 27 soldados para derrotar todo o exército midianita com seus 135 mil homens (Jz 8:10), mas Deus lhe deu trezentos. Juízes 7:14 deixa claro que os midianitas conheciam Gideão e, sem dúvida, estavam observando todos os seus movimentos. Muitas vezes me pergunto o que os espias inimigos pensaram quando viram o exército israelita aparentemente se desfazer. Isso deixou os midianitas ainda mais confiantes e, portanto, descuidados? Ou será que seus líderes ficaram ainda mais alertas, imaginando se Gideão estava armando uma estratégia complicada para pegá-los?
Em sua graça, Deus deu a Gideão mais uma promessa de vitória: “Com estes trezentos homens que lamberam a água eu vos livrarei” (v.7). Gideão, ao apropriar-se dessa promessa e seguir as instruções do Senhor, derrotou o exército inimigo e trouxe à terra uma paz que durou quarenta anos (8:28).
Os soldados que voltaram para casa deixaram parte de seu equipamento com os trezentos homens, de modo que cada um tivesse uma tocha, uma trombeta e um cântaro – armas estranhas para um combate.

2 . DEUS ENCORAJA SEU SERVO (JZ 7:9-15A )
O Senhor queria que Gideão e seus trezentos homens atacassem o acampamento inimigo durante a noite, mas primeiro teve de tratar do medo que persistia no coração de Gideão. Deus já havia dito três vezes a Gideão que daria a vitória a Israel (Jz 6:14, 16; 7:7) e o havia tranquilizado com três sinais especiais: o fogo de uma rocha (6:19-21), a lã molhada (6:36-38) e a lã seca (6:39,40 ). Depois de toda essa ajuda divina, Gideão deveria ter se fortalecido em sua fé, mas não foi o que aconteceu. Como devemos ser gratos por Deus nos entender e não nos condenar por nossos medos e dúvidas! Ele sempre nos dá sabedoria e não nos repreende quando continuamos pedindo (Tg 1:5). Nosso grande Sumo Sacerdote no céu identifica-se conosco em nossas fraquezas (Hb 4:14-16) e continua a dar mais graça (Tg 4:6). Deus se lembra de que somos apenas pó (Sl 103:14) e carne (Sl 78:39).
Deus estimulou a fé de Gideão de duas maneiras. Por meio de mais uma promessa (v. 9). O Senhor disse a Gideão pela quarta vez que havia entregue o exército midianita em suas mãos. (Observar o tempo verbal; ver também Js 6:2.) Ainda que precisassem lutar na batalha, os israelitas já haviam vencido! Os trezentos homens poderiam atacar o exército inimigo certos de que Israel seria vitorioso.
Os cristãos que crêem nas promessas de Deus e que o vêem fazer grandes coisas são conduzidos à humildade por saberem que o Deus do universo cuida deles e está a seu lado.
A esperança e o amor são virtudes cristãs importantes, mas o Espírito Santo dedicou um capítulo inteiro do Novo Testamento - Hebreus 11 – às vitórias conquistadas pela FÉ por pessoas comuns que ousaram acreditar em Deus e agir em função de suas promessas.Pode soar como um chavão para alguns, mas o velho ditado é verdadeiro: “Se Deus diz, eu creio e ponto final!”
Através de mais um sinal (vv. 10-14). Gideão e seu servo precisaram de coragem  para entrar no território inimigo e aproximar-se do acampamento midianita o suficiente  para ouvir a conversa dos dois soldados. Deus havia dado um sonho a um dos soldados, e esse sonho informou Gideão de que Deus entregaria os midianitas em suas mãos.
O Senhor já havia comunicado esse fato a Gideão, mas dessa vez o comandante de Israel ouviu-o da boca do inimigo!
A melhor maneira de obter a orientação de Deus é pela sua Palavra, pela oração e pela sensibilidade ao Espírito, enquanto observamos as circunstâncias.
Uma vez que a cevada era um cereal usado principalmente pelos pobres, a imagem do pão de cevada com relação a Gideão e seu exército referia-se a sua condição fraca e humilde. Trata-se de um pão seco e duro que podia girar feito uma roda – uma comparação nada elogiosa! O homem que interpretou o sonho não fazia ideia que estava proferindo a verdade de Deus e encorajando o servo do Senhor. Gideão não se importou de ser comparado com um pão seco, pois soube com certeza que Israel derrotaria os midianitas e livraria a terra da servidão.
É relevante o fato de Gideão ter se detido para adorar ao Senhor antes de fazer qualquer coisa. Estava tão sobrepujado pela bondade e misericórdia de Deus que se curvou com o rosto em terra em sinal de submissão e de gratidão. Josué fez a mesma coisa antes de tomar a cidade de Jericó (Js 5:1 3-1 5), e se trata de uma boa prática a ser seguida hoje. Antes de ser guerreiros vitoriosos, precisamos nos tornar adoradores sinceros.
3 . DEUS HONRA A FÉ DOS SEUS SERVOS (JZ 7 : 1 5 B – 2 5 )
De que maneira Deus recompensou a fé de Gideão? Deus lhe deu sabedoria para preparar o exército (7:15b-18). Quando Gideão e seu servo voltaram para o acampamento israelita, Gideão era um novo homem. Seus medos e dúvidas se dissiparam, enquanto ele mobilizava seu pequeno exército e enchia de coragem o coração dos soldados com suas palavras e ações. ” O S e n h o r entregou o arraial dos midianitas nas vossas mãos”, anunciou aos homens (Jz 7:1 5). Como Vance Havner disse: “a fé vê o invisível (vitória numa batalha que ainda não havia ocorrido) e faz o impossível (vence a batalha com poucos homens e com armas incomuns)”.
O plano de Gideão era simples, porém eficaz. Deu a cada um de seus homens uma trombeta para tocar, um cântaro para quebrar e uma tocha para acender. Os israelitas iriam rodear o acampamento inimigo com as tochas dentro dos cântaros e segurando as trombetas. Essas trombetas eram, na verdade, chifres de carneiro (o shofar), como os que Josué usou em Jericó, e essa relação com aquela grande vitória talvez tenha ajudado a animar Gideão e seus homens ao enfrentar a batalha. Quando Gideão desse o sinal, os homens tocariam as trombetas, quebrariam os cântaros, revelariam as tochas e gritariam: “Espada pelo Senhor  e por Gideão!”, e Deus faria o resto.
Gideão era o exemplo que deveriam seguir. “Olhai para mim […] fazei como eu fizer […] como fizer eu, assim fareis” (Jz 7:1 7). Gideão havia feito um bocado de progresso desde que Deus o havia encontrado escondido no lagar! Não o ouvimos mais perguntando: “Se […] por que […] onde?” (Jz 6:13). Não o vemos mais buscando um sinal. Antes, deu as ordens a seus homens com segurança, sabendo que o Senhor lhes daria a vitória.
Alguém disse bem que as Boas Novas do evangelho são estas: não precisamos continuar do jeito que somos. Pela fé em Jesus Cristo, qualquer um pode ser transformado. “E, assim, se alguém está em Cristo, é nova criatura; as coisas antigas já passaram; eis que se fizeram novas” (2 Co 5:17).
Deus pode pegar um homem cheio de dúvidas como Gideão e fazer dele um general! Deus lhe deu coragem para comandar o exército (vv. 19-22). Gideão conduziu seu pequeno exército da fonte de Harode (“estremecimento”) para o vale de Jezreel, onde todos se colocaram a postos ao redor do acampamento. Quando Gideão deu o sinal, todos tocaram os chofares, quebraram os cântaros e bradaram: “Espada pelo Senhor e por Gideão!” Vendo-se cercados pela luz repentina e por todo aquele barulho, os midianitas concluíram que estavam sendo atacados por um exército enorme e, portanto, entraram em pânico. O Senhor interveio e colocou um espírito de confusão no acampamento, de modo que os midianitas começaram a matar uns aos outros. Então, perceberam que a coisa mais segura a fazer era fugir.
Deus lhe deu a oportunidade de aumentar seu exército (vv. 23-25). Era evidente que trezentos homens não poderiam perseguir um exército de milhares de soldados inimigos, de modo que Gideão chamou mais voluntários. Creio que muitos dos homens do primeiro exército de 32 mil responderam ao chamado de Gideão; até mesmo a tribo orgulhosa de Efraim foi ajudá-lo.
Esses homens tiveram a honra de capturar e matar Orebe (“corvo”) e Zeebe (“lobo”), os dois príncipes de Midiã.
A história de Gideão começa com um homem se escondendo num lagar (6:11), mas termina com o príncipe inimigo sendo morto num lagar.
A grande vitória de Gideão sobre os midianitas tornou-se um marco na história de Israel, não muito diferente da Batalha de Waterloo para a Grã-Bretanha, pois lembrou os israelitas do poder de Deus de livrá-los de seus inimigos. O dia de Midiã foi um grande dia do qual Israel jamais se esqueceria (Sl 83:11; Is 9:4; 10:26).
A Igreja de hoje também pode aprender com esse acontecimento e ser encorajada por ele. Deus não precisa de um grande número de pessoas para realizar seus propósitos, como também não precisa de líderes com talentos especiais. Gideão e seus trezentos homens colocaram-se a serviço do Senhor, e ele os capacitou para que conquistassem o inimigo e trouxessem paz à terra de Israel.
Quando a igreja começa a depender da “grandiosidade” – grandes construções, grandes multidões, grandes orçamentos –, passa a depositar sua fé no lugar errado, e Deus não pode dar sua bênção.
Quando os líderes dependem de seu currículo acadêmico, aptidões e experiência em vez de Deus, então Deus os abandona e sai em busca de um Gideão.
O importante é que estejamos à disposição de Deus, para ele nos usar como lhe aprouver. Podemos não entender inteiramente seus planos, mas devemos confiar inteiramente em suas promessas. E a fé em Deus que nos dá a vitória.

A/C Pr. Eli Vieira

J.C. Ryle, 200 ANOS

A Biografia de J.C. Ryle

INTRODUÇÃO

Em 10 de maio de 1816 nasceu em Macclesfield, Cheshire, Inglaterra, um dos autores evangélicos mais admirados: o bispo anglicano de Liverpool John Charles Ryle. Um número incontável de pessoas se beneficiaram de seus escritos ao longo dos anos. Em seu próprio tempo foi muito apreciado por seus contemporâneos. Spurgeon o considerava como “o melhor homem que estava na Igreja da Inglaterra”. Ryle foi recomendado muito efusivamente por autores tais como J. I. Packer e Martyn Lloyd-Jones, entre outros. Seus trabalhos foram traduzidos em muitas línguas, incluindo o português. Ainda hoje podemos nos beneficiar, duzentos anos após o seu nascimento, e perguntar sobre algumas das razões que fizeram seus livros tão populares na comunidade evangélica. É também interessante podermos tirar algumas lições do seu trabalho que podem nos ajudar. Muitas das questões que preocupavam Ryle, e as respostas dadas, são ainda muito relevantes hoje em dia. Mas, primeiro, vamos rever por um momento um pouco de sua vida.
BREVE ESBOÇO BIOGRÁFICO
J.C. Ryle veio de uma família muito próspera economicamente. Seu avô e seu pai tinham tido muito sucesso comercialmente. Com o passar do tempo, seu pai entrou em um negócio bancário que também estava florescendo. John Charles, que era o filho mais velho, poderia estudar em locais de prestígio como Eton e depois Oxford. Ryle se tornou um cristão em 1837. Até então ele tinha recebido as verdades do cristianismo nominal e externamente, mas no verão daquele ano experimentou o novo nascimento de Cristo descrito em João 3. Em seu depoimento, ele deixou registrado para os seus filhos uma breve autobiografia, onde enfatiza a sua profunda convicção de pecado, quão precioso era Cristo, e o grande valor da Bíblia para orientar a sua vida. Mas a falência atingiu sua família em 1841, perdendo sua casa e toda a fortuna da família. Este evento marcou a sua vida de uma forma muito especial, porque nesse mesmo ano Ryle tomou a decisão de entrar no ministério da Igreja da Inglaterra. Seu primeiro pastorado começou em 1842 em Fawley, Hants, embora ao longo de sua vida, ele tenha pastoreado congregações em muitas outras partes da Inglaterra. Em 1845 casou-se com Matilda Plumptre. Este ano também é importante porque ele começou a publicar seus primeiros tratados, que são agrupadas, e formam os capítulos de seus muitos livros. Sua primeira filha, Georgina, nasceu em 1847. No ano seguinte, sua esposa morreu. Em 1850 ele se casou novamente. Sua nova esposa, Jessy Walker, lhe deu quatro filhos: Isabelle, Reginald, Herbert e Arthur. Em 1851 começou a publicação de seus tratados e mensagens em forma de livro. Depois de dez anos do segundo casamento e depois de uma longa doença, sua segunda esposa faleceu. Em 1861 casou-se com Henrietta Clowes. Em 1865 publica o comentário expositivo do Evangelho de João. Este será o primeiro de uma série sobre os quatro Evangelhos, parte das obras mais apreciadas por muitos leitores de Ryle. Em 1868 publica o seu livro sobre os líderes cristãos do século XVIII. Ryle é já bem conhecido, por isso recebe muitos convites para pregar em muitos outros lugares na Inglaterra, incluindo Oxford, Londres e Cambridge. Entre 1877 e 1879 seus trabalhos mais famosos são publicados, incluindo Santidade ou caminhos antigos. Com 63 anos é eleito primeiro bispo de Liverpool. Em 1889, sua terceira esposa morre. Dez anos mais tarde pregou o seu último sermão. Ele morreu em 10 de junho de 1900 em Lowestoft, Inglaterra.
A IMPORTÂNCIA CRUCIAL DA HISTÓRIA
A primeira lição que podemos aprender com Ryle tem a ver com a história. Devemos lembrar que a fé cristã é uma fé histórica. Deus revelou-nos no tempo e no espaço, através de pessoas que viveram e eventos que tiveram lugar na história. Além disso, as Escrituras são abundantes em exortações para não esquecer a história da intervenção de Deus em favor do seu povo: Deuteronômio 5:15; 7:18; 15:15; 24:18, etc. Uma das passagens que eu gosto a este respeito é a de Josué 4, o sucessor de Moisés ordena que um representante de cada uma das tribos de Israel pegue uma pedra do leito do Jordão, v. 5. Josué toma e levanta em Gilgal um memorial para as gerações futuras, vv. 20.21. Seu propósito era para lembrar que Deus, como fizera no Mar Vermelho, secou o Jordão diante do seu povo, vv. 22.23, de modo que eles poderiam mover-se para tomar posse da terra prometida. Assim, as pessoas não deveriam esquecer de que foi pela mão poderosa de Deus que o povo pode atravessar o Jordão e, dessa maneira, não poderiam se afastar dele v. 24.
Da mesma forma, Ryle acreditava ser essencial recordar a história da Reforma Protestante no século XVI, os puritanos, que considerava os mais fieis expositores bíblicos a “mente das Escrituras” e o Grande Despertar Evangélico do século XVIII daqueles grandes homens que Deus levantaou como George Whitefield e os irmãos Wesley, entre muitos outros. Ele considerou isso importante, porque, como Israel no passado, é fácil esquecermos esses poderosos eventos e significativos atos de Deus para o seu povo. Os escritos do bispo evangélico estão imbuídos com os princípios da Reforma. Percebemos o declínio da Reforma em sua denúncia clara dos perigos do catolicismo romano para a saúde espiritual das almas. Poucos autores se expressam de modo tão claro sobre os ensinamentos da Igreja Católica Romana como Ryle. A importância dos Puritanos também está presente em seu trabalho, em sua análise rigorosa dos textos bíblicos e aplicação do ensino à vida dos crentes. O renascimento também aparece em seus escritos, não só para lembrar os líderes o mesmo, mas também através do estilo prático e direto lembra os pregadores do Grande Despertamento. A primeira lição, portanto, que Ryle transmite é para não esquecer nossa identidade evangélica. Ryle presta muita atenção à Reforma na Inglaterra e os homens que Deus levantou nesse momento. Ele também escreveu sobre os pregadores do avivamento. Ele não queria que seus compatriotas esquecessem o que Deus tinha feito para o Reino Unido. Quanto a nós, é essencial ler sobre a nossa história evangélica, conhecer bem o nosso passado: a Reforma na Europa, mas também a Reforma na Espanha e o que aconteceu com ela.
DOUTRINA E VIDA
Ao longo de seu ministério pastoral como um pregador e escritor, Ryle não deixou de sublinhar que o carácter essencial do cristianismo também é doutrinário. Para Ryle, a importância da Reforma Protestante, os Puritanos ou o Grande Despertamento foi o fato de que eles eram movimentos do Espírito de Deus em que foram redescobertos, e a relevância para a vida cristã das doutrinas essenciais da Escritura foi mostrada. E este é apenas o outro aspecto que eu acho que ele mostra hoje: A ênfase colocada na doutrina e o propósito prático que isso tem. Mas a doutrina não é um mero conhecimento frio, seco e acadêmico da Bíblia. É basicamente a forma como o Deus vivo opera em Seu povo, para salvar e transformar. A doutrina, pela presença do Espírito Santo, traz vida espiritual. Isso é muito claro nas Escrituras; a fé tem um conteúdo a confessar e que Deus usa para nos fazer bem: 1 Timóteo 4: 13-16; 2 Timóteo 1: 13,14; 1 João 4: 1-6; Rm 10: 8-14, etc. A doutrina tem um propósito prático, salva e nos santifica, tornando-nos úteis para a glória de Deus: Romanos 6: 17-19.
Nesse sentido, a Reforma foi um retorno aos ensinamentos das Escrituras que haviam sido enterrados e marginalizados pela Igreja medieval. Os puritanos também mostraram a amplitude e a profundidade da Bíblia e como ela é aplicada de forma eficaz na vida cotidiana. Os grandes pregadores mostraram como a proclamação do evangelho pode, com a bênção de Deus, alterar o curso das nações. Ryle temia o abandono desses ensinamentos que tinham trazido tantas coisas boas, por isso uma e outra vez em seu ministério alertara sobre os perigos do esquecimento da glória da fé cristã. Ryle refletiu na exortação de Paulo em Atos 20: 28-32. Da mesma forma, hoje deve ficar claro que as diferenças com o catolicismo romano são doutrinárias. Não podemos enganar-nos quanto ao que acreditamos e porque acreditamos nisso. Devemos também enfatizar a importância prática da doutrina. Temos de ser diferentes, e a conversão tem de ser vista em nossas vidas. Esse é o grande legado do puritanismo que Ryle tem renovado e constantemente enfatizado em seu ministério. Ao mesmo tempo, temos de incentivar a paixão pela pregação do evangelho, uma nota distintiva dos tempos de reavivamento.
Nada melhor, então, para ler esses escritos Ryle e ser beneficiados com as doutrinas bíblicas e sua relevância para a nossa vida cristã. Ao contrário de outros bons autores, há muitos títulos de Ryle em português, por isso é relativamente fácil ter acesso aos mesmos. Seu estilo simples e direto, sempre com base no texto bíblico, faz com que seja uma delícia de ler. Ryle sempre desafia os seus leitores, o que é sempre conveniente.
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José Moreno Berrocal

O cristão e o divórcio: O que de fato diz a Bíblia?

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Crente pode se divorciar? Como a Bíblia trata a questão do casamento, divórcio e novo casamento? Será que um cristão autêntico pode, depois de um divórcio, se casar novamente? A Bíblia permite um novo casamento para quem se separou?
Esse artigo surge da necessidade de explicar uma posição, e responder de modo definitivo o que está na prescrição bíblica sobre o tema. Obviamente não tratarei de todos argumentos e detalhes propostos pelas partes. E nem vou abordar exatamente aquilo que já foi expôs por outros.
Bem acertadamente John Murray disse “sobre esta questão, a igreja está, na prática, fortemente dividida”. Por um lado, vemos uma linha histórico-confessional afirmar a possibilidade do novo casamento para aqueles que se divorciaram – não sem algumas restrições. Entretanto há pastores famosos (não só de agora) que afirmam, quase que isoladamente, mas sem medo algum, que todos os novos casamentos – mesmo depois de um processo formal de divórcio – são, na verdade, relações (biblicamente) ilegais e adúlteras, ideia que sempre teve um bom número de adeptos.
É um tema importante, embora melindroso. Quase sempre quando falamos dessa matéria, aparece a acusação – brincadeira ou não – de que estamos procurando uma brecha para nosso caso; ou ainda “só defende isso quem é divorciado ou tem algum caso assim na família”; de outra feita, claro, há quem levante a voz a favor do caso, tentando constranger a outra parte do risco de amanhã ser ela a buscar o novo casamento!
Mas um cristão autentico não pode escolher qual doutrina cristã abraçar. Com temor e tremor, ele precisa abandonar toda a pretensão de ser capaz de dirigir sua vida, e então, se submeter a todas as ordens e instruções divinamente reveladas na Palavra. Afinal, Ele é sábio, santo e bom! E para nós pastores, o peso é ainda maior, pois não somos questionados sobre isso apenas por curiosidade ou interesse acadêmico. Muitas pessoas passam por problemas reais nessa área, e precisam ser consoladas e renovadas na esperança da clara, inequívoca, inerrante e suficiente Palavra de Deus.
VAMOS AO CASO
Ao tratar desse assunto, somos rapidamente lembrados de textos como: “Eu odeio o divórcio”, diz o Senhor, o Deus de Israel… (Ml 2;16)” ou “…o que Deus ajuntou não separe o homem” (Mc 10;9) ou ainda “…a mulher casada está ligada pela lei ao marido, enquanto ele vive… (Rm 7;2)”, além é claro das falas diretas de Jesus sobre o assunto. Talvez por isso fica fácil perceber na cristandade pelo menos 3 teses concorrentes. Investigar qual delas é a que condiz com o todo ver revelado, subjaz no cerne desse artigo:

1- Qualquer divórcio é totalmente proibido na Bíblia;
2- O divórcio é possível em um único caso, mas o novo casamento é vetado;
3- Para único caso de divórcio possível é também possível um novo casamento.
Passando ao largo da fala de gente famosa, é fácil desconstruir a tese 1, afinal Moisés legislou sobre o assunto (Dt 24;1). E mesmo que apenas instituindo regras simples sobre o repúdio (uma forma de dizer ‘divórcio’), é tácito em todo o Velho Testamento: a prática ocorria! Isso é tão verdade que quanto Cristo foi questionado sobre o caso, ele não negou que Moisés deu orientações para situação. E mais, o Mestre usa dessa ‘permissão’, aplicando-a especificamente a relação sexual ilícita (Mt 5;31 e 32 e correlatos).
Já o apóstolo Paulo quando manda em 1Co 7;10 “…que a mulher não se separe do marido” também diz no verso 11, “se, porém, ela vier a separar-se…” – o que em si confirma claramente a possibilidade do divórcio (e aqui sem julgar o mérito da causa) – e mais, no v.15, diz: “se o descrente quiser apartar-se, que se aparte” acrescentando no v.16, “como sabes, ó mulher, se salvarás teu marido? Ou, como sabes, ó marido, se salvarás tua mulher?”. Assim definitivamente caindo a tese 1 “não há base bíblica para o divórcio”, nem mesmo o apelo a fé em uma futura conversão serve de apoio para o constrangimento.
E se ainda ficou dúvidas, em especial quanto a Ml 2;16 (Deus odeia o divórcio) ali Deus condena haver vontade (ou causas) para o divórcio; se fala contra o abandono sem motivo ou por frívolas paixões. Em Mc 10;9 (o que Deus juntou…) pela análise do contexto, sabemos que Jesus não impossibilita o divórcio mas reafirma a óbvia prescrição divina da fidelidade. Assim temos que nesses textos, o Senhor põe limites a ocorrência da separação (divórcio, repúdio), legislando seus detalhes, diferenciando os casos uns dos outros.
UMA ALIANÇA FRÁGIL:
O casamento é uma aliança conjugal, pública e formal, de auxílio mútuo, cuidados, amor e fidelidade sexual entre um homem e sua mulher (CFW, cap. XXIV. II). Foi estabelecida por Deus antes mesmo da Queda (Gn 2;18). Deve ser mantido e protegido em qualquer circunstância. Esse pacto molda o início ideal da família, o modo pelo qual Deus ordinariamente decidiu exercer seu controle na Criação, revelar Seu Caráter a todas as criaturas (Gn 1;26 e 28) e trazer à existência os eleitos (o Seu Povo). Serve de figura para o relacionamento entre Deus e Israel; dá o pano de fundo para algumas histórias redentivas que apontam para Cristo Jesus. O apóstolo Paulo diz que essa aliança revela um grande mistério, Cristo e a Igreja (Ef 5;32).
Pensando assim a infidelidade conjugal ganha um aspecto ainda mais terrível. Afinal é um atentado direto, primeiramente a Deus, que estabeleceu as regras (inalteráveis) do próprio casamento – falando simplesmente: sexo só para um homem e sua mulher; abolindo ontologicamente qualquer configuração diferente. Mas tal coisa é também um abuso, ou blasfêmia contra o próprio Cristo, expondo a ignomínia a figura de sua santa relação com a Igreja. Não por outra razão, em mais de uma vez, o SENHOR demonstra especial ira contra esse tipo de traição – que é comparada a idolatria! Essa ocorrência, de forma mais terrível, é capaz de abalar e até ruir um casamento. Sendo alvo de uma legislação intrincada na lei mosaica, tem já no sétimo mandamento, “não adulterarás” (Ex 20;14)” sua condenação, e a desobediência desse preceito era para ser punida com a morte!
Ora, digno de toda honra (cuidado, manutenção, proteção) é o casamento sem pecado sexual (Hb 13;4). Mas quando uma das partes quebra essa aliança, trazendo para essa relação um terceiro (1Co 6:16)? Como fica a manutenção e proteção dessa Aliança uma vez quebrada? E se uma das partes simplesmente vai embora, some, abandona? Como manter aquilo que perdeu sua função de ser? E nesse ponto é importante lembrar que o apóstolo Paulo em 1Co 7;15,16 diz que em havendo o desejo do incrédulo se separar (ou literalmente se houver abandono, separação, divórcio, rompimento prático, efetivo dessa aliança) o cristão não fica preso nessa relação inexistente e, afinal ele não sabe se o cônjuge fará parte do povo de Deus para que possa alimentar esperanças[ii].
Em outras palavras como se pode exigir a manutenção de uma aliança com quem não quer ou não está em aliança, em especial da parte que ainda fielmente, muitas vezes enganada, suporta essa relação? Não há o que manter, o pacto foi quebrado! E não há porque se firmar numa esperança futura, antes o que é verificável dita as ações. Ou seja, não há obrigatoriedade alguma da outra parte manter-se numa aliança que uma vez foi rompida.
Assim descartamos a ideia de que não há provisão bíblica para o divórcio (tese 1) e também demonstramos o porquê há essa saída. É graça divina haver libertação de algo tão vil e maligno como a confusão sexual, em especial sob a tutela do termo cunhado por Deus para descrever a sublimidade da relação mais íntima de um casal.
PODE OU NÃO PODE:
Jesus fala de modo descomplicado – como lhe é próprio – sobre Casamento, divórcio e novo casamento em diversos momentos. Mas somente em Mateus 19:9 todos esses temas aparecem juntos de uma vez. É como diz John Murray “a passagem mais fundamental (…) particularmente porque é a única passagem do Novo Testamento na qual temos a combinação da cláusula de exceção e da cláusula do novo casamento”. Então compreender essa passagem trará a resposta definitiva nesse artigo, demonstrando biblicamente se para o divórcio possível é ou não também possível um novo casamento, ou seja, definindo se a tese 2 ou a 3 é a mais adequada com a Palavra.
Mateus 19:9:

“Eu, porém, vos digo: quem repudiar sua mulher, não sendo por causa de relações sexuais ilícitas, e casar com outra comete adultério e o que casar com a repudiada comete adultério.”

O texto diz, mais literalmente:
“Digo-vos Eu, porém, todo e qualquer homem que mandar embora a sua esposa se não por causa de fornicação, e casar com outra, comete adultério; e aquele havendo casado com aquela que foi mandada embora, comete adultério.”
Ou parafraseando:
A não ser que seja por causa do sexo ilícito, quem se divorcia e se casa novamente comete adultério e quem se casa com esse divorciado também comente adultério.
É simples, temos três afirmações do Mestre, considerando já a indiferença dos gêneros:

A. Quem se divorciar se torna adúltero ao se casar com outra pessoa;
B. Quem se casar com esse divorciado, comete adultério;
C. A exceção é se o divórcio for por causa de alguma relação sexual ilícita;
O resultante delas é óbvio e definitivo – afinal quem fala sobre isso é Jesus, suas palavras são leis. Assim, pedir (ou dar) o divórcio (separar ou repudiar) não é a mesma coisa de cometer adultério; entretanto um divórcio, pode expor as partes ao adultério, em que pese um casamento com outra pessoa (ponto A e B), a não ser que o repudio (separação, divórcio) tenha sido causado por relações sexuais ilícitas (ponto C).
Isso fica patente pela maneira de Cristo impor que um casamento não deve se interrompe definitivamente por qualquer motivo (Ponto C). Interessantemente de modo semelhante, Paulo fala em 1Co 7;5 de concessão – não uma lei – o casal não pode se privar sexualmente um do outro, ou seja, romper (ou interromper) essa pactualidade de forma leviana, mas se eventualmente for necessário que seja em mútuo consentimento, por um tempo (ou seja não definitivamente) e no mais das vezes especificamente para alguma disciplina espiritual.
Assim, segundo Jesus (e Paulo em I Co 7), o divórcio só ocorre em definitivo, ao ponto de permitir que até um novo contrato de casamento seja firmado sem problemas, quando, e somente quando, é motivado por atos sexuais ilícitos que quebram a aliança ou por um abandono (divórcio, separação) que o torna nulo! Daí, como uma aliança, que já foi desfeita justamente, pode exercer algum impedimento sobre as partes? Ora, que liberdade esse que Paulo afirmar para o cristão abandonado mais ainda o prende a um casamento inexistente? O casamento acabou na prática, foi quebrada a aliança de amor e fidelidade; a parte fiel, está mantendo sozinho um acordo que era para os dois; como obrigar que essa aliança seja mantida e tenha seus efeitos sobre aquele que nada fez para quebrá-la? E mais, como uma aliança desfeita formalmente e por força da justiça ainda pode exigir obrigações, em especial da parte inocente do fim (ou quebra) dessa aliança? Não há como! O casamento que acabou num divórcio lícito, é definitivamente encerrado, as partes estão livres das obrigações. A aliança de outrora cessou!
ALGUMAS OBJEÇÕES COMUNS:
Primeira objeção:
Há quem afirme que a cláusula de exceção dita por Jesus (ponto C) nessa passagem de Mateus é apenas um complemento para fundamentar o direito ao repudio, e não do novo casamento. Normalmente citam as passagens paralelas e dizem, “em Lc 16:18 ou Mc 10:11 não consta da cláusula de exceção (ponto C), logo por esses textos Jesus nega a possibilidade de um novo casamento”.
Contra argumentação:
Ocorre que como já vimos (tese 1), divorciar não é a mesma coisa de adultério – se o divórcio pode levar ao adultério no caso de um novo casamento (ponto B), evidentemente divórcio e adultério são coisas diferentes – e como tanto em Lc 16:18 quanto Mc 10:11, claramente Jesus não está impedindo o divórcio por que então estranhamente em Mateus apareça a exceção pela ocorrência do sexo ilícito, como lançada apenas para o divórcio? Ora, o texto aborda a controvérsia do novo casamento. Essa passagem narra a expressão (ponto C) de Cristo, afirmando que o novo casamento feito depois de um divórcio, por causa de sexo ilícito, não é igual a adultério. Os detalhes extras presentes nesse trecho não podem sofrer abusos só para que sejam igualados a outras partes da Bíblia. Assim, aquilo que para esses é a força do argumento contra o novo casamento, se mostra a verdadeira fraqueza dessa convicção. Sobrando óbvio que as diferenças no Texto Sagrado, trazem outro (acréscimo) ensino aos demais. Nada que foi escrito é dispensável ou sem autoridade.
Segunda objeção:
Alguns argumentam que πορνεια (porneia) traduzido mormente por “relações sexuais ilícitas” no lugar da expressão μοιχαω (de μοιχος – moichos; literalmente adultério, usado para traduzir o 7º mandamento na LXX[iii]) limita a instrução de Cristo, na passagem em voga, ao ocorrido antes do enlace efetivo; que descreve o pecado (ou pecados) cometido no noivado (ou compromisso de casamento, segundo o costume dos judeus). Desse modo, a única exceção do divórcio lícito (ponto C) e consequentemente casamento novo (posterior) diz daquilo que foi cometido antes do vínculo formal e definitivo do matrimônio, e até antes de haver algum acordo nupcial.
Contra argumentação:
O termo πορνεια (porneia) era de uso comum (os correlatos aparecem mais de 50 vezes na LXX) para descrever a prática (aparentemente corriqueira) da prostituição, leviandade, promiscuidade e depravação sexual já da época, logo, μοιχος (moichos: adultério) está inserido no conceito. Literalmente o que Cristo fez foi ir além do óbvio, ele informou que há mais práticas que atentam contra a fidelidade conjugal. Ele fez exatamente isso quando disse que olhar uma mulher com intenções impuras é o mesmo que adulterar (Mt 5;32 – o termo traduzido por adulterou é μοιχος – moichos) ou ainda nos versos anteriores quando discorre sobre assassinato e ódio. Sabendo que havia outras formas de desfazer um compromisso de casamento (noivado), sem que fosse num repúdio (ou divórcio), não faz sentido algum dos fariseus questionarem Jesus acerca do fim de um compromisso de casamento, e nem dele legislar que só era justo o fim de um noivado por evidente pecado sexual. E mais, havia sentença de morte e não um processo de divórcio sobre a moça prometida em casamento que teve relações com outro antes mesmo do casamento (Lv 22;20,21 e 23). Fora que é fácil demonstrar o uso do termo repúdio no Velho Testamento para caso de quem já literalmente consumo o casamento.
Terceira objeção:
A morte presumida do adúltero, ou “quando Jesus permitiu o novo casamento ele tinha em mente a morte certa do adúltero, por isso a cláusula de exceção (ponto C)”.
Contra argumentação:
Bem comum, mas também bastante flácida, não é razoável afirmar que essa exceção de Jesus para o novo casamento está apoiada na previsibilidade da pena de morte como fim natural do processo de divórcio (repúdio). Essa sentença nem era certa. E mais, morte de adúlteros não era tão comum assim nem na época de Jesus, e nem antes, haja vista as inúmeras histórias bíblicas de adultérios que não culminaram com a morte de ninguém em todo a VT. Mas que isso, se assim não fosse, para que haveria notação proibitiva do casamento com repudiados no fim da passagem, desde quando na Bíblia há casamento com mortos?
Quarta objeção:
“Você tem que perdoar setenta vezes sete!” Ou, o cristão tem que fazer tudo para manter o casamento, inclusive perdoar e suportar o adultério.
Contra argumentação:
Pode haver restauração, mas isso é uma possibilidade. O perdão e reconciliação entre os cônjuges cristãos[iv] que tiveram a aliança rompida por um adultério, é muito mais que aconselhável, certamente é o preferível e precisa ser buscado, mas não pode haver desculpas, desconsideração, desqualificação do pecado, especialmente em nome de uma piedade – falsa, claro! – ou espiritualidade extremista, porém incompatível (desobediente, diabólica) com as Santas Escrituras. O mesmo Jesus que instou a perdoar setenta vezes sete, também permitiu o fim do casamento por causa de sexo ilícito; não seja impertinente querendo ser mais santo que Jesus. Ora, quanto aos ímpios, impuros, adúlteros, que comunhão pode haver entre a luz e as trevas? Não se ponha (ou se mantenha) em julgo desigual. A condescendência ao adultério é tão nojenta quanto o adultério em si (Is 5;20, Pv 26;10, Lv 10;6, Et 4;14), e por isso mesmo a outra parte, sob hipótese nenhuma, pode manter-se nessa condição, sob o risco de também ofender ao SENHOR. Negar tal verdade é tão obtuso (Jo 14;26) e perigoso quanto esconder qualquer outro aspecto da verdadeira religião (Mt 5;17 a 20). Pensar assim é tanto lançar os irmãos (o cônjuge fiel) ao incerto, o obrigando muitas vezes a se unir (1Co 6;15 a 19) em uma só carne com prostitutas – além das demais consequências físicas (Rm 1;27) – quanto chamar o certo de errado e o errado de certo! E mais, quando depender de nós, empreendamos todos os esforços para a paz (certamente aplicável na manutenção do casamento, propósito divino) mas o que fazer quando a coisa vem pelo outro?
Quinta Objeção:
O verso 10 de Mt 19 (Se essa é a condição do homem relativamente à sua mulher, não convém casar) não aponta que Jesus tenha vetado de forma tão definitiva o novo casamento, que deixa os discípulos assustados?
Contra argumento:

O v. 10 demonstra o descontentamento dos discípulos com as intrusões de Jesus, mas antes dela sugerir uma releitura da clara afirmação no verso 9, em especial quanto a extensão da cláusula de exceção, tal passagem aponta que o coração humano, mesmo do que segue Jesus, está mais propenso a se desviar da direção divina e então assumir saídas aparentemente melhor no no fundo inconvenientes e insanas, que trarão consequências pesadas (lembre-se de Abraão e Ismael). Sempre o melhor é seguir a vontade prescrita de Deus e não se desviar nem para a direita e nem para a esquerda, mas ter coragem para fazer exatamente tudo o que Deus mandou.

Sexta objeção:
“A mulher está ligada ao marido enquanto esse for vivo” citando o apóstolo Paulo em Rm 7.
Contra argumentação:
Simples, de fato a mulher está ligada ao marido enquanto esse for vivo, e não ao ex-marido. Se a aliança acabou, obviamente não pode exercer domínio sobre as partes. Claro que no contexto da fala paulina não havia a necessidade dele esclarecer isso, pois ele não trazia norma para o casamento mas estava tomando emprestado uma situação local para exemplificar uma doutrina.
Sétima objeção:
“O casamento é indissolúvel”, ou “Jesus se mantém fiel na aliança conosco e por isso devemos também permanecer na aliança do casamento”.
Contra argumentação:
Note como isso é sério, fora não entender as óbvias diferenças entre o tipo e o antítipo, entre o casamento e aquilo que ele representa Cristo e a Igreja (Ef 5;31,32), estamos dizendo que o Senhor não pode, não tem a liberdade (Rm 9;14 a 16), para se apartar de nós. Nos esquecendo que sua permanência (ou insistência) é tão somente pela Graça Incondicional. Ele é fiel a si, e não a nós ou mesmo a alguma moralidade residente per si. A Aliança entre nós (eleitos) e nosso Deus, é indissolúvel por causa dEle, que se obriga a manter a relação e não por causa de uma obrigação moral que detenha Deus, ou por algum detalhe no Pacto que o aprisiona! Deus tem todo o direito de nos despedir e de constituir outros para si como Povo. E tanto poderíamos apontar a ruptura definitiva da aliança com os israelitas, já no exílio babilônico (lembre-se, as 10 tribos que se separaram ao norte, foram simplesmente apagadas do mapa), quanto o fim da relação com os próprios judeus (como povo exclusivo), quando Espírito Santo foi derramado também sobre os gentios, e antes disso tudo, com a caminhada no deserto por 40 anos, e ainda temos o triste, mas não menos justo, divórcio coletivo – a mando divino – nos tempos de Esdras (Cáp. 8 e 9) que obviamente precedeu novos casamentos… Se não fosse a obediência ativa de Cristo, imputada a nós, seu povo, nós teríamos o mesmo fim (Hb 6;4 a 8), seriamos abandonados a nós mesmos. Mas Cristo, em si mesmo, é que nos “mantém fiel nesse casamento”, afinal Deus provando seu amor, em nos conceder no Amado toda sorte de benção, e nisso também o espírito de filhos (Rm 8;15), com o qual clamamos “Aba, Pai” e laboramos pela santificação, sem a qual ninguém verá a Deus. E assim, e só assim, que a Noiva de Cristo é sem mancha e sem mácula (Ef 5;27, 2Co 11;2, Ef 1;4, Jd 1;24, Cl 1;22). Não se compare a Deus, você não é capaz de garantir nem a sua fidelidade, que dirá do outro. Além disso não pode imputar justiça (fidelidade) a ninguém!
CONCLUSÃO:
É preciso reconhecer que muita gente boa já trabalhou esse assunto. Analisando textos e mais textos, e subjugando tudo a uma exegese profunda, intrincada, complexa e por vezes indecifrável. Mas longe de tudo isso – não por mero simplismo, mas por uma convicção que me prende, digo: o Texto é Revelador – não se pode afirmar nada contra a simplicidade da leitura natural de um texto normativo da Bíblia. O Texto Sagrado não é, e não pode ser gnóstico, sob o risco de imaginarmos que a ação do Espírito fica na dependência do academicismo e não pela fé de se achegar a Palavra.
Ele nunca ficou sem testemunha! De forma que as questões mais complexas, questiúnculas e preciosismos quanto aos detalhes das línguas originais, em especial que artificialmente surgem nesse assunto, devem ficar para os especialistas. Descansemos no conhecimento médio, que sempre esteve estabelecido na Igreja, seja nas regras históricas e difusas das políticas de equivalência nas traduções, seja nas múltiplas línguas em que já fora vertida a Palavra de Deus, por vezes até milenares.
Então negar que haja um (único tipo de) divórcio bíblico, quer seja pela pronta afirmação mal compreendida, “o casamento é indissolúvel”, quer seja pelo simulacro piedoso “o cristão deve sempre perdoar” – dois modos comuns de impor aos casados aquilo que Deus não impôs – é desrespeitar o Texto, e insistir em pregar algo que não tem apoio bíblico, um erro terrível. Impor que uma aliança quebrada e formalmente encerrada ainda exerça obrigações sobre quem já não está preso a ela, é até bobo. Além disso – que não é pouca coisa – ao assumirmos que não há possibilidade de divórcio bíblico (obviamente incluso o direito da parte fiel propor novas núpcias depois do casamento ser devidamente extinto) desvalorizamos o leito conjugal sem mácula, igualando o casamento fiel com o infiel, quanto diminuímos a doutrina das Alianças com Deus.
Para os com problemas no casamento: Divórcio não é uma opção! Ele só é remédio para quando a Aliança foi rompida. Mesmo assim a reconciliação, a restauração é algo que se deve considerar em primeiro lugar. Usando como alegoria a passagem de João 2 (o casamento em Caná da Galileia) Jesus é capaz de transformar água em vinho! A obediência a Palavra de Deus pode mudar consideravelmente os rumos do seu casamento. Outra coisa, não espere a coisa ficar terrível para então pedir ajuda, certamente seu pastor está a disposição para tratar do caso.
Para os divorciados: A obediência é a única opção. Se há como restaurar o casamento é isso que você deve fazer. Mas lembre-se essa aliança tem regras claras e imutáveis, que não estão disponíveis para alterações. O casamento deve ser feito no Senhor, e isso diz da restauração dele também. Um crente não deve retornar ao enlace (que uma vez foi desfeito) com um descrente; casamento misto (crente e descrente) é pecado, recasamento também! Não é correto se pôr em julgo desigual sob o pretexto de restaurar a família. Mas é melhor casar que viver abrasado, orienta também o apóstolo Paulo, assim como o casamento foi dado para o auxílio e para ajudar na continência sexual, convém que aqueles que ainda possuem desejos, se casem no Senhor! Mormente isso demandará um processo longo e cuidadoso, a Igreja pode te ajudar muito nisso.
Para os que se casaram novamente: Não encare seu novo casamento como um adultério, pode não ser mesmo o caso. Romper essa nova aliança não é a saída. Em especial quanto a coisa já aconteceu há tempos. Claro que tudo deve ser visto com cuidado e novamente seu pastor e sua igreja poderão ajudar muito. Por fim, lembrando que já houve outra história de fracasso matrimonial, se esforce, no exemplo de Cristo, para que esse novo casamento seja mesmo novo, e não só uma reedição com outros personagens da história antiga.
Para os adúlteros: Deus abomina o que você tem feito! Não pense que sempre haverá tempo e escapatória. Lembre-se, os adúlteros não herdarão o Reino dos Céus (1Co 6;9 e 10). Se arrependa agora, confesse seus pecados, em especial para seu cônjuge. Peça perdão também para Deus, e também sua ajuda para a mudança de comportamento. Procure o seu pastor e se submeta a disciplina eclesiástica aplicável. Não tente racionalizar sua atitude, e nem culpe o outro por qualquer razão que você possa pensa existir.
Para cada um de nós: Visto que nós por nós mesmos nada podemos fazer, revistamo-nos de maior humildade, e clamemos ao Pai que santifique a nós e nosso cônjuge para que não venhamos a experimentar tamanha oposição em nossa própria carne, e não imponhamos aos outros, cargas que não somos capazes de carregar e nem mesmo são justas diante de Deus. Antes, ensinemos a verdade sem receios e libertemos os aprisionados através desse conhecimento (Jo 8;32).
Apêndice
A fala de alguns pregadores famosos que pensam assim também:D.M.L-Jones, no famoso Estudos no Sermão do Monte aponta exatamente isso:
“O divórcio, quando legítimo, põe fim a toda e qualquer vinculação anterior, segundo ensinou o próprio Senhor Jesus. O relacionamento daquele homem para com sua esposa tornou-se o mesmo como se ela tivesse morrido; e este homem inocente tem o direito de casar-se de novo. Mais do que isso, se ele é um homem crente, então tem o direito de ter um casamento cristão. Porém, nesse caso, somente ele teria esse direito, e não ela; ou vice-versa, caso o culpado tivesse sido o homem.”
John Murray conclui seu artigo de análise das passagens em voga, dizendo:
“…este afastamento (o repúdio por causas de fornicação) tem o efeito de dissolver o vínculo do casamento; como resultado de que ele é livre para voltar a se casar sem, assim, incorrer na culpa do adultério. Em termos simples, isso significa que o divórcio em tal caso dissolve o casamento e que as partes não são mais marido e mulher.”
John Stott, depois de boas considerações pastorais afirma no livro Contracultura Cristã:
“A única situação em que o divórcio e o novo casamento são possíveis sem transgredir o sétimo mandamento é quando o casamento já foi quebrado por algum sério pecado sexual. Neste caso, e só neste caso, Jesus parece ter ensinado que o divórcio seria permissível, ou pelo menos poderia ser obtido sem que a parte inocente adquirisse mais tarde o estigma do adultério.”
Matthews Henry, em sua grande obra:
“Jesus permite o divórcio em caso de adultério; sendo que a razão da lei contra o divórcio consiste na máxima: “Serão dois numa só carne”. Se uma parte se prostituir e se tornar uma só carne em adultério, a razão da lei cessa, e também a lei. (com alterações)”.
Willian Hendricksen, em seu comentário ao evangelho de Mateus:
“…infidelidade conjugal é um ataque à própria essência do laço matrimonial. No presente exemplo, é a parte infiel quem está “separando” o que Deus juntou. Até onde vai o registrado, essa é a única base que Jesus mencionou para dar à pessoa inocente o direito de divorciar-se de sua esposa e casar-se novamente. (com alterações)”
Esli Soares
É pastor presbiteriano a 10 anos, atualmente titular da 4º Igreja Presbiteriana de Boa Vista – Roraima (RR)


Fonte:CCN

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