A quarta-feira de cinzas marca, para muitos cristãos católicos, um dia de arrependimento pelos excessos cometidos durante a festa carnavalesca, e define o reinício das atividades profissionais em todo o país.
O reverendo presbiteriano Hernandes Dias Lopes publicou em sua página no Facebook um pequeno texto, em que propõe uma reflexão sobre o real sentido do arrependimento.
“Muitas pessoas hoje passarão por um rito religioso, colocando cinzas sobre a testa. Afinal hoje é quarta-feira de cinzas. É uma espécie de arrependimento dos pecados e excessos cometidos no carnaval. A grande pergunta é: o que é arrependimento? Será que um ritual externo pode limpar o coração e aliviar a consciência?”, questiona.
Em seu texto, Lopes observa que o arrependimento passa por mudanças de atitude conscientemente e transformação da mente.
“Arrependimento tem três implicações. A palavra grega “metanoia” traz a idéia de mudar de mente. Portanto tem um componente racional. Depois traz a idéia de sentir tristeza segundo Deus, ou seja, uma profunda convicção que o pecado é uma ofensa contra Deus. Portanto, o arrependimento tem um envolvimento emocional. Finalmente, o arrependimento envolve a vontade, pois significa dar meia volta e tomar uma nova direção. Não é arrependimento e novamente arrependimento, mas arrependimento e frutos de arrependimento”, pontua o reverendo.
Já o bispo anglicano e doutor em Escatologia e Ciência da Religião Hermes C. Fernandes publicou um artigo em forma de oração a Deus, em que fala sobre a quarta-feira de cinzas do ponto de vista de quem assiste ao pós-folia.
“Ninguém nos conhece tão bem quanto o Senhor. Tu sabes o quão suscetíveis somos às paixões carnais. Por isso, dirijo-me a Ti para rogar o Teu perdão e a Tua misericórdia sobre nosso sofrido povo brasileiro. Não somos inocentes. Sabemos exatamente onde e quando erramos e magoamos o Teu coração. Porém, nem todos conhecem a Ti por meio de Teu Filho Jesus Cristo. Estes carregam nos ombros o insuportável peso da culpa, sem ao menos saberem a quem recorrer em busca de alívio”, escreveu Fernandes.
Em sua oração escrita, o bispo Fernandes confessa que por sermos humanos, todos pecamos, e todos devem buscar perdão na quarta-feira de cinzas: “Muitos de nós, desejosos de Te agradar, preferiram privar-se da festa, isolando-se em seus domicílios ou em retiros promovidos por suas igrejas. Mesmos estes não estão imunes ao pecado, seja ele de ordem moral ou por pura presunção. No fundo, somos todos “farinha do mesmo saco”. O pecado não está na Avenida onde acontecem os desfiles, nem nos blocos, nos bailes ou na transmissão televisiva. Antes, o pecado está em nós, em nossa natureza caída. Por isso, todos, igualmente, temos nossas próprias razões para nos arrepender. Inclusive pela nossa indiferença e alienação”.
O artigo se encerra com um pedido a Deus por mais graça: “Ajude-nos, Senhor, a que sejamos mais compassivos e menos jactanciosos. Que sejamos sal da terra, luz do mundo, e não sal no saleiro ou holofotes voltados para nós mesmos. Que tenhamos mãos estendidas no lugar de dedos em riste. Tire-nos de nosso comodismo e ostracismo, e conduza-nos na direção do outro, mesmo quando este pensa e age de maneira contrária aos nossos valores e princípios. Que o mundo conheça através de nosso testemunho de amor, aquela alegria perene que não termina em cinzas, festa que não tem hora para acabar”.
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