segunda-feira, 25 de março de 2013

Forças e fraquezas da bancada evangélica no Congresso Nacional


Por Julio Severo

A reviravolta envolvendo Marco Feliciano expôs a fragilidade da bancada evangélica, cuja maioria dos parlamentares é aliada do governo petista e, ao mesmo tempo, quer combater a agenda abortista e homossexualista

“O Senhor disse que aqueles que querem viver piedosamente serão perseguidos. Estamos vivendo um ensaio daquilo que ainda virá com mais intensidade contra os cristãos”. Com essas palavras, o Dep. Henrique Afonso (PV-AC) deu um alerta num culto da Frente Parlamentar Evangélica (FPE) na manhã da última quarta-feira na Câmara dos Deputados.
Esses cultos ocorrem semanalmente. Os parlamentares que são pastores fazem um rodízio. A cada semana, uma dupla divide a direção do serviço e a pregação do dia.

Marco Feliciano

O alerta de Henrique Afonso estava relacionado aos tumultos esquerdistas e gayzistas provocados com a eleição de Marco Feliciano (PSC-SP), pastor da Assembleia de Deus, para a presidência da Comissão de Direitos Humanos. Feliciano enfrenta hostilidade de grupos abortistas e homossexualistas por sua conhecida postura nessas questões. Ele vem sofrendo ataques até de grupos evangélicos supostamente não esquerdistas, mas os ataques principais estão vindo de  grupos esquerdistas, inclusive evangélicos, que enxergam nas posturas dele um retrocesso na agenda socialista que vem sendo avançada há anos no Brasil.
Muitos desses grupos, inclusive a mídia esquerdista, se utilizam de algumas das opiniões desarticuladas dele para tentar derrubá-lo. Uma dessas opiniões é que os africanos, que presumivelmente são descendentes de um filho que Noé amaldiçoou, estão sob maldição. Quando Feliciano explicou que toda maldição é quebrada em Jesus Cristo, os críticos não se importaram em dar o mesmo destaque para sua explicação. Eles preferiram continuar acusando-o de racista, embora, tecnicamente, ele seja negro, por ser pardo.
De longe, a opinião dele que é mais detestada é seu apego às palavras da Bíblia que dizem que Deus condena toda prática homossexual. Nessa questão, por mais articulado que Feliciano ou outro cristão fosse, ainda assim a mídia o rotularia de “homofóbico” — termo vago que, de acordo com os homossexualistas, pode significar tanto o assassino de homossexuais quanto o pastor ou padre que pregar que Deus condena a homossexualidade.
Os ataques contra Feliciano deixaram a FPE ainda mais nos holofotes, por causa do marcado ódio das esquerdas contra ele. Não que não haja esquerdistas na FPE. Há e muitos. O problema das esquerdas com a FPE é que algumas posturas da bancada evangélica, como a oposição ao aborto e ao homossexualismo, são uma afronta contra as atuais prioridades socialistas.

Presença evangélica na política é histórica

Contudo, a presença de evangélicos na política não é novidade. Assim como os cultos na Câmara dos Deputados, a realização de cultos evangélicos no Congresso dos Estados Unidos é comum desde a época de George Washington, o primeiro presidente americano. A história americana está repleta de influências cristãs. Billy Graham, o maior evangelista do mundo, foi conselheiro de vários presidentes americanos.
Na Inglaterra, a influência evangélica na política era visível no movimento abolicionista, organizado por um grupo de doze evangélicos. A iniciativa, pois, de abolir a escravidão começou não com ateus nem socialistas. Começou com políticos evangélicos.

Com exceção da questão do aborto e homossexualismo, políticos da FPE são em grande parte iguais aos outros

Em Brasília, o que chama a atenção da FPE é seus parlamentares que, apesar de pertencerem em grande parte a partidos de linha esquerdista, se articulam, em maior ou menor grau, em defesa da família: contra a legalização do aborto, o casamento gay, a eutanásia e a liberação das drogas. No total, os evangélicos representam apenas 14,2% dos deputados e 5% dos senadores.
A FPE também não foge à regra do Congresso Nacional quando o assunto são denúncias de corrupção. Dos 73 integrantes na Câmara, 23 respondem a processo no Supremo Tribunal Federal (STF). Há acusados de corrupção, peculato (desvio praticado por servidor público), crime eleitoral, uso de documento falso, lavagem de dinheiro e estelionato.
De forma semelhante, os parlamentares evangélicos também não fogem à regra quando o assunto envolve aliança com o governo socialista do PT. A maioria dos membros da bancada evangélica são políticos que fazem parte da base do governo petista, acumulando poder político para si mesmos e para o próprio partido que mais gera projetos nocivos contra a família brasileira.
O deputado João Campos (PSDB-GO), pastor da Assembleia de Deus e presidente da Frente Parlamentar Evangélica, reconhece que os desvios éticos prejudicam a imagem dos parlamentares da FPE. Ele diz: “Se tiver um processo de corrupção, é claro que incomoda. A exposição negativa pode prejudicar, mas acho que faz parte do processo”.

Abrindo o caminho para o PT na FPE

A Frente Parlamentar Evangélica foi criada em 2003. Três anos depois, bem na época da eleição de 2006, o Congresso foi “providencialmente” atingido por um escândalo que destruiu a reeleição de vários parlamentares evangélicos: a Máfia das Sanguessugas, que desviava emendas parlamentares e abastecia os bolsos de deputados e empresários, envolveu 23 integrantes da bancada. Desses, dez eram da Igreja Universal do Reino de Deus e nove pertenciam à Assembleia de Deus.
Alguns apontaram esse escândalo como uma armação, pois esse tipo de problema não é incomum entre parlamentares, especialmente do PT, que tinha grande interesse na derrubada de certos parlamentares evangélicos que lideravam a FPE e a mantinham relativamente longe do governo petista. O fato é que com a derrubada de vários deputados evangélicos nas eleições de 2006, o caminho estava aberto para o PT.
A “armação” se completou quando o Bispo Manoel Ferreira, que foi eleito deputado federal, se tornou o novo presidente da FPE. Ferreira, que era o presidente da segunda maior denominação assembleiana do Brasil, se tornou um conhecido aliado do Rev. Moon e Lula. Na eleição presidencial de 2010, Ferreira desistiu de uma candidatura de senador apenas para atuar como o “ministro” de Dilma para assuntos evangélicos. Nenhum líder evangélico trabalhou tanto pela eleição da dama vermelha do que o bispo assembleiano.
Bispo Manoel Ferreira, grande aliado de Lula e Dilma Rousseff
Ferreira era um líder evangélico em quem o PT podia confiar. Aparentemente, sua forte amizade com o PT evitou que seus escândalos o derrubassem.
Além dos deputados, quatro senadores compõem a FPE. A maioria desses 77 parlamentares pertence à base da presidente Dilma Rousseff. Como é de esperar, eles sempre acabam mostrando incoerência: apoiam o governo em tudo o que envolve políticas socialistas, desde economia até educação, mas divergem quando o governo quer, por exemplo, distribuir o kit-gay nas escolas primárias ou legalizar o aborto. Em outras questões, como a Lei Anti-Palmada, avidamente buscada pelo PT, a bancada evangélica se divide, devido ao próprio socialismo interno.

Henrique Afonso: contra o aborto e o homossexualismo, mas na órbita socialista

A parceria com um governo petista é a maior contradição dos parlamentares da FPE porque o PT tem como postura oficial a legalização do aborto e a promoção da agenda gay. O autor do alerta da última quarta-feira no culto da Câmara sabe bem disso. Henrique Afonso, que é pastor presbiteriano, foi integrante do PT até 2009, quando acabou punido por não querer deixar de se opor ao aborto.

“Nós tínhamos uma cláusula de consciência quando eu entrei no PT, e isso me garantia a expressão da minha cosmovisão”, explica Afonso. “A partir do momento em que tiraram essa cláusula de consciência e passaram a defender explicitamente a descriminalização do aborto e outras matérias associadas à bioética, eu tive de ter um posicionamento contrário.”
Afonso, que vem de origens comunistas, vive ainda uma trajetória política dentro da órbita socialista, mas se desvia de seus camaradas quando o assunto envolve aborto e homossexualismo.
Ele entrou no PV (partido igualmente socialista e abortista) porque, na época, o PV tinha como sua maior estrela política a ex-senadora Marina Silva, também evangélica. Afonso esperava ajudar a candidatura de Marina à presidência. Mas agora ela está criando um novo partido, a Rede Sustentabilidade, para disputar as eleições presidenciais de 2014. Diferente de Afonso e outros parlamentares evangélicos que são claros sobre aborto e homossexualismo, Marina é ambígua e vaga nessas questões.
Mas nem todo petista evangélico entra em atrito com o PT por causa do aborto e homossexualismo. Walter Pinheiro, que é pastor batista, é hoje líder do PT no Senado e não vê nenhuma incompatibilidade entre socialismo e Cristianismo. O PT abriga muitos outros evangélicos, que fazem parte da PFE, que têm esse entendimento.

Parlamentares socialistas da FPE

Anthony Garotinho, um dos líderes da FPE, afirma que a laicidade do Estado é uma bandeira dos protestantes. “O que não pode é misturar a sua fé com a laicidade do estado”, afirma ele. O caso do ex-governador do Rio de Janeiro, que tem um histórico marxista, é confuso: Ele começou a frequentar em 1994 a Igreja Presbiteriana do Brasil, sob a influência de Caio Fábio, mas suas ideias e posturas continuam na órbita socialista.
A presença forte do socialismo entre parlamentares evangélicos apenas reflete a realidade cultural do Brasil, onde todos, desde a escola até a universidade, são fartamente doutrinados no “evangelho” de Karl Marx.
A presença dos evangélicos no Congresso é apenas o resultado de uma realidade demográfica: o rápido crescimento das igrejas evangélicas, especialmente as pentecostais, inevitavelmente fortalecerá a presença de pastores pentecostais nas esferas de poder. A bancada evangélica, aliás, permanecerá em evidência na medida em que aumentarem os embates culturais envolvendo o aborto e o homossexualismo. A pressão, até mesmo de setores evangélicos, para que Marco Feliciano deixe a presidência da Comissão de Direito Humanos continua crescendo e aumentando os holofotes sobre a FPE. Apesar dos ataques, ele permanece firme na decisão de não renunciar.
Enquanto isso, o governo petista e seus aliados não estão nada contentes com a decisão de Feliciano, provocando mal-estar em muitos parlamentares evangélicos, que preferem a grande contradição de protestarem contra a agenda abortista e homossexualista, mas viverem grudados no próprio governo que avança essa agenda, sem enxergarem que o socialismo não está apenas destruindo as bases da família natural, mas também as bases da igreja, da sociedade, da economia, da educação e da própria sobrevivência humana.
Com informações da matéria “Vinde a mim os eleitores: a força da bancada evangélica no Congresso” da Veja online de 23/03/2013.

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