Thomas Watson
O Senhor fez uma aliança com eles. “Eles serão o meu povo, e eu serei o seu Deus” (Jeremias 32.38). Em virtude desse pacto, todas as coisas cooperam, e devem mesmo cooperar, para o bem deles. “Eu sou Deus, o teu Deus” (Salmo 50.7). Essa expressão, “o teu Deus”, é a mais doce expressão em toda a Bíblia; ela revela as melhores relações, e é impossível que haja tais relações entre Deus e o Seu povo e, ainda assim, todas as coisas não cooperem para o bem deles. Essa expressão, “Eu sou o teu Deus”, implica:1. O supremo motivo pelo qual todas as coisas cooperam para o bem é o íntimo e carinhoso interesse que Deus tem pelo Seu povo.
(1) A relação de um médico: “Eu sou o teu Médico”. Deus é um Médico habilidoso. Ele sabe o que é melhor. Deus observa os diferentes temperamentos dos homens, e sabe o que irá funcionar com mais eficácia. Alguns são de uma disposição mais dócil e são conduzidos pela misericórdia. Outros são vasos mais ríspidos e complicados; com esses, Deus trata de uma maneira mais forçosa. Algumas coisas se conservam em açúcar, outras, em salmoura. Deus não trata com todos de maneira indistinta; Ele tem provações para o forte e consolos para o fraco. Deus é um Médico fiel, e portanto usará todas as coisas para o melhor. Se Deus não lhe dá aquilo de que você gostaria, Ele dará aquilo de que você precisa. Um médico não estuda tanto para satisfazer os gostos do paciente, mas para curá-lo de sua enfermidade. Nós nos queixamos de que provações muito dolorosas vêm sobre nós; lembremo-nos de que Deus é o nosso Médico, portanto Seu trabalho é para nos curar, ao invés de para nos entreter. A maneira de Deus tratar com os Seus filhos, embora seja severa, é uma maneira segura e que visa a nos curar; “ para te humilhar, e para te provar, e, afinal, te fazer bem” (Deuteronômio 8.16).
(2) Essa expressão, “o teu Deus”, implica a relação de um Pai. Um pai ama o seu filho; portanto, seja um sorriso, seja uma palmada, tudo é para o bem da criança. “Eu sou o seu Deus, o seu Pai, portanto tudo o que Eu faço é para o seu bem”. “Sabe, pois, no teu coração, que, como um homem disciplina a seu filho, assim te disciplina o SENHOR, teu Deus” (Deuteronômio 8.5). A disciplina de Deus não é para destruir, mas para aperfeiçoar. Deus não pode causar dano aos Seus filhos, pois Ele é um Pai de terno coração: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem” (Salmo 103.13). Acaso um pai buscará a ruína do seu filho, do filho que veio dele mesmo e que carrega a sua imagem? Todo o seu cuidado e disposição são para o seu filho: em favor de quem ele deixa a sua herança, senão para o seu filho? Deus tem um terno coração e é o “Pai de misericórdias” (2Coríntios 1.3). Ele derrama todas as misericórdias e toda a bondade nas criaturas.
Deus é um Pai eterno (Isaías 9.6). Ele era o nosso Pai desde a eternidade; antes que nós fôssemos crianças, Deus era nosso Pai, e Ele será nosso Pai para a eternidade. Um pai provê para o seu filho enquanto vive; mas o pai morre, e então o filho pode ser exposto a danos. Mas Deus nunca cessa de ser um Pai. Você, que é um crente, tem um Pai que nunca morre; e, se Deus é o seu Pai, você nunca ficará desamparado. Todas as coisas devem cooperar para o seu bem.
(3) Essa expressão, “o teu Deus”, implica a relação de um Marido. Essa é uma relação íntima de doce. O marido busca o bem de sua esposa; seria antinatural que ele vagueasse para destruir sua mulher. “Porque ninguém jamais odiou a própria carne” (Efésios 5.29). Há uma relação marital entre Deus e o Seu povo. “Porque o teu Criador é o teu marido” (Isaías 54.5). Deus ama plenamente o Seu povo. Ele o tem gravado na palma de Suas mãos (Isaías 49.16). Ele o põe como um selo sobre o Seu coração (Cântico dos Cânticos 8.6). Ele dará reinos pelo seu resgate (Isaías 43.3). Isso mostra quão próximos eles estão em Seu coração. Se Ele é um Marido cujo coração é pleno de amor, então Ele irá buscar o bem de Sua esposa. Ou Ele a protegerá de um dano, ou Ele o converterá para o seu melhor.
(4) Essa expressão, “o teu Deus”, implica a relação de um Amigo. “Tal [é] o meu amigo” (Cântico dos Cânticos 5.16, ARC). Um amigo é, como diz Agostinho, metade do nosso eu. Ele é atento e desejoso acerca de como pode fazer bem ao seu amigo; ele promove o bem-estar dele como se fosse o seu próprio. Jônatas enfrentou o aborrecimento do rei pelo seu amigo Davi (1Samuel 19.4). Deus é nosso Amigo; portanto, Ele converterá todas as coisas para o nosso bem. Existem falsos amigos; Cristo foi traído por um amigo; mas Deus é o melhor Amigo.
Ele é um Amigo fiel. “Saberás, pois, que o SENHOR, teu Deus, é Deus, o Deus fiel” (Deuteronômio 7.9). Ele é fiel em Seu amor. Ele deu o Seu próprio coração a nós, quando Ele entregou o Filho do Seu amor. Ali estava um padrão de amor sem paralelo. Ele é fiel em Suas promessas. “O Deus que não pode mentir prometeu” (Tito 1.2). Ele pode mudar a Sua promessa, mas não pode quebrá-la. Ele é fiel em seu proceder; mesmo quando Ele está afligindo, Ele é fiel. “Bem sei, ó SENHOR, que os teus juízos são justos e que com fidelidade me afligiste” (Salmo 119.75). Ele está nos peneirando e nos refinando como a prata (Salmo 66.10).
Deus é um Amigo imutável. “De maneira alguma te deixarei, nunca jamais te abandonarei” (Hebreus 13.5). Amigos às vezes falham numa emergência. Muitos procedem com os seus amigo como as mulheres, com as flores: enquanto elas estão frescas, elas as põem junto ao peito, mas, quando começar a murchar, elas as jogam foram. Ou como um viajante faz com o relógio de sol: se o sol brilha sobre o relógio, o viajante sai da estrada para consultar o relógio; mas se o sol não brilha sobre ele, ele segue dirigindo, sem sequer se lembrar do relógio. Assim, se a prosperidade brilha sobre um homem, então os amigos atentam para ele; mas se uma nuvem de adversidade paira sobre ele, eles não se aproximarão. Mas Deus é um Amigo para sempre; Ele disse: “De maneira alguma te deixarei”. Embora Davi andasse pelo vale da sombra da morte, ele sabia que tinha um Amigo ao seu lado. “Não temerei mal nenhum, porque tu estás comigo” (Salmo 23.4). Deus nunca afasta completamente o Seu amor do Seu povo. “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim” (João 13.1). Sendo Deus tal Amigo, Ele fará todas as coisas cooperarem para o nosso bem. Não há amigo que não busque o bem do seu amigo.
(5) Essa expressão, “o teu Deus”, implica uma relação ainda mais íntima, a relação entre a Cabeça e os membros. Há uma união mística entre Cristo e os santos: Ele é chamado “o Cabeça da igreja” (Efésios 5.23). Não é verdade que a cabeça delibera pelo bem do corpo? Todas as partes da cabeça estão dispostas para o bem do corpo. O olho é posto como se estivesse numa torre de guarda; ele fica a postos para vigiar qualquer perigo que possa advir ao corpo, e preveni-lo. A língua serve tanto para provar como para discursar. Se o corpo fosse um microcosmo, ou um pequeno universo, a cabeça seria o sol desse universo, da qual procederia a luz da razão. A cabeça está posta para o bem do corpo. Cristo e os santos compõem um único corpo místico. Nossa Cabeça está nos céus, e certamente Ele não irá permitir que o Seu corpo sofra dano, mas irá deliberar para a sua segurança, e fará com que todas as coisas cooperem para o bem do corpo místico.
Por Thomas Watson. Original: A Divine Cordial By Thomas WatsonTradução: voltemosaoevangelho.comPermissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir e distribuir este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.
Fonte:voltemosaoevangelho.com
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