Uma reflexão na área da teologia
Por Franklin Ferreira
INTRODUÇÃO
Falar para pastores e líderes sobre temas do momento provoca-me dois tipos de percepção. Um é que alguns pensam que precisamos entender o nosso tempo para nos encaixarmos nele e também encaixarmos nele a nossa mensagem. Parece que este é o sentimento mais comum. Já me deixei dominar por ele, em tempos idos. Outra percepção é que devo me firmar mais nas raízes bíblicas e encaixar o tempo em que vivemos dentro dele. É este o sentimento que me conduz.
Tempos atrás, falei num congresso de pastores de outra denominação sobre o tema “Como deve ser o pastor do século 21?”. Pus as cartas na mesa na primeira sentença gramatical: “Exatamente como deveria ser o pastor do século 20, o do século 18, o do século 15 e o do século primeiro”. E coloco as cartas na mesa, logo no início, também aqui. Nosso foco não deve ser um ajuste do que pregamos aos novos tempos, mas sim como pregar a mensagem de sempre aos novos tempos. Quando focalizou tempos futuros, os do fim, Paulo não prognosticou nenhum conteúdo diferente a Timóteo, mas exortou-o à firmeza: “Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que julgará todos os seres humanos, tanto os que estiverem vivos como os que estiverem mortos, eu ordeno a você, com toda a firmeza, o seguinte: Por causa da vinda de Cristo e do seu Reino, pregue a mensagem e insista em anunciá-la, seja no tempo certo ou não. Procure convencer, repreenda, anime e ensine com toda a paciência. Pois vai chegar o tempo em que as pessoas não vão dar atenção ao verdadeiro ensinamento, mas seguirão os seus próprios desejos. E arranjarão para si mesmas uma porção de mestres, que vão dizer a elas o que elas querem ouvir. Essas pessoas deixarão de ouvir a verdade para darem atenção às lendas. Mas você, seja moderado em todas as situações. Suporte o sofrimento, faça o trabalho de um pregador do evangelho e cumpra bem o seu dever de servo de Deus” (2Tm 4.1-4, NTLH).
O fundamental, para mim, não são os tempos em que vivemos, mas o que pregamos ao nosso tempo. O conteúdo independe do tempo, não pode ser ajustado a época e a cultura alguma. Judeus e gregos tinham cosmovisões completamente diferentes, mas a igreja pregava aos dois grupos o mesmo evangelho. Tanto que lemos em 1Coríntios 1.23-24: “Mas nós anunciamos o Cristo crucificado - uma mensagem que para os judeus é ofensa e para os não-judeus é loucura. Mas para aqueles que Deus tem chamado, tanto judeus como não-judeus, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus”. Era o mesmo evangelho e seu teor não fazia sentido para qualquer dos grupos. E isto não abateu a Igreja. Ela não teve dois evangelhos, um para cada cultura.
Mas parece que hoje temos uma preocupação muito grande em desvestir o evangelho da sua loucura e adorná-lo com a sabedoria humana. A preocupação de muitos pregadores é como torná-lo palatável ao incrédulo. Querem fazer com que o evangelho tenha sentido para o homem pecador. Mas ele continua sem sentido para os pecadores. Nossa tarefa é pregá-lo assim mesmo, na convicção de que o Espírito Santo tem poder para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Nossa tarefa não é tornar nossa mensagem aceitável. É pregar a mensagem, mesmo que pareça inaceitável. O evangelho não pode ser adaptado a tempos, culturas e gostos. Quando tentamos fazer isto, produzimos o que se vê hoje, uma balbúrdia incrível no cenário evangélico. E um evangelho água com açúcar, que tem mais o rosto de Lair Ribeiro que o de Jesus.
1. MAS É ERRADO ANALISARMOS NOSSO TEMPO?Não, não é errado. É até necessário. O erro se dá quando analisamos o tempo em que vivemos, e com essa análise formamos uma maçaroca intelectual e queremos ver o que da Bíblia podemos aproveitar para não ferir a maçaroca que fizemos. Em termos mais elegantes: submetemos a Bíblia ao escrutínio do nosso tempo, e não o oposto. Prego para auditórios diversificados: intelectuais e gente de roça, estudantes e operários, senhores sisudos e jovens álacres. Mudo as ilustrações. Mudo a forma de me dirigir ao auditório, mas sempre falo da salvação que vem pela obra vicária de Cristo. Este é o tema.
Continuo com cartas na mesa: a Bíblia é o microscópio pelo qual examinamos a cultura secular. Ela não é um objeto que analisamos pela cultura secular. Ela é senhora e não serva; é juíza e não ré, palavra última e não palavra penúltima.
Com tudo isto, quero dizer que nossa maior necessidade não é a de conhecimento de nosso tempo, mas sim de firmeza nas Escrituras para analisarmos nosso tempo por ela. Se nossos ouvintes gostarão, se acharão que é insensatez dizer que o destino eterno deles depende da resposta que darão à obra que um homem fez numa cruz, num lugarejo obscuro, há dois milênios, isso não importa.
Conhecer nosso tempo é bom se isto mostra o terreno onde lançaremos a semente. Mas é um ato equivocado determinar a essência da semente pelo terreno. Na parábola do semeador havia tipos diferentes de solos. Mas não havia tipos diferentes de sementes. Nossa semente é o evangelho de Jesus, na certeza de suas palavras: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13.31). E para quem acha que isto é ultrapassado, que precisamos de refinamento cultural, e não de uma mensagem tão retrógrada, lembro outras palavras de Jesus: “Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos” (Lc 9.26). Muitos não querem ser vistos como ultrapassados, e refinam a mensagem para torná-la atraente ao mundo atual.
Definidas estas coisas, quero lhes falar sobre como o obreiro de tempos pós-modernos deve se posicionar. Sei o que é pós-modernidade. Poderia discorrer sobre ela. Em meu site (www.isaltino.com.br) há uma apostila sobre o assunto. Mas o obreiro de um mundo pós-moderno não deve se mirar nos moldes do mundo e sim nos moldes de um obreiro leal à Palavra.
Tempos atrás, falei num congresso de pastores de outra denominação sobre o tema “Como deve ser o pastor do século 21?”. Pus as cartas na mesa na primeira sentença gramatical: “Exatamente como deveria ser o pastor do século 20, o do século 18, o do século 15 e o do século primeiro”. E coloco as cartas na mesa, logo no início, também aqui. Nosso foco não deve ser um ajuste do que pregamos aos novos tempos, mas sim como pregar a mensagem de sempre aos novos tempos. Quando focalizou tempos futuros, os do fim, Paulo não prognosticou nenhum conteúdo diferente a Timóteo, mas exortou-o à firmeza: “Na presença de Deus e de Cristo Jesus, que julgará todos os seres humanos, tanto os que estiverem vivos como os que estiverem mortos, eu ordeno a você, com toda a firmeza, o seguinte: Por causa da vinda de Cristo e do seu Reino, pregue a mensagem e insista em anunciá-la, seja no tempo certo ou não. Procure convencer, repreenda, anime e ensine com toda a paciência. Pois vai chegar o tempo em que as pessoas não vão dar atenção ao verdadeiro ensinamento, mas seguirão os seus próprios desejos. E arranjarão para si mesmas uma porção de mestres, que vão dizer a elas o que elas querem ouvir. Essas pessoas deixarão de ouvir a verdade para darem atenção às lendas. Mas você, seja moderado em todas as situações. Suporte o sofrimento, faça o trabalho de um pregador do evangelho e cumpra bem o seu dever de servo de Deus” (2Tm 4.1-4, NTLH).
O fundamental, para mim, não são os tempos em que vivemos, mas o que pregamos ao nosso tempo. O conteúdo independe do tempo, não pode ser ajustado a época e a cultura alguma. Judeus e gregos tinham cosmovisões completamente diferentes, mas a igreja pregava aos dois grupos o mesmo evangelho. Tanto que lemos em 1Coríntios 1.23-24: “Mas nós anunciamos o Cristo crucificado - uma mensagem que para os judeus é ofensa e para os não-judeus é loucura. Mas para aqueles que Deus tem chamado, tanto judeus como não-judeus, Cristo é o poder de Deus e a sabedoria de Deus”. Era o mesmo evangelho e seu teor não fazia sentido para qualquer dos grupos. E isto não abateu a Igreja. Ela não teve dois evangelhos, um para cada cultura.
Mas parece que hoje temos uma preocupação muito grande em desvestir o evangelho da sua loucura e adorná-lo com a sabedoria humana. A preocupação de muitos pregadores é como torná-lo palatável ao incrédulo. Querem fazer com que o evangelho tenha sentido para o homem pecador. Mas ele continua sem sentido para os pecadores. Nossa tarefa é pregá-lo assim mesmo, na convicção de que o Espírito Santo tem poder para convencer o mundo do pecado, da justiça e do juízo. Nossa tarefa não é tornar nossa mensagem aceitável. É pregar a mensagem, mesmo que pareça inaceitável. O evangelho não pode ser adaptado a tempos, culturas e gostos. Quando tentamos fazer isto, produzimos o que se vê hoje, uma balbúrdia incrível no cenário evangélico. E um evangelho água com açúcar, que tem mais o rosto de Lair Ribeiro que o de Jesus.
1. MAS É ERRADO ANALISARMOS NOSSO TEMPO?Não, não é errado. É até necessário. O erro se dá quando analisamos o tempo em que vivemos, e com essa análise formamos uma maçaroca intelectual e queremos ver o que da Bíblia podemos aproveitar para não ferir a maçaroca que fizemos. Em termos mais elegantes: submetemos a Bíblia ao escrutínio do nosso tempo, e não o oposto. Prego para auditórios diversificados: intelectuais e gente de roça, estudantes e operários, senhores sisudos e jovens álacres. Mudo as ilustrações. Mudo a forma de me dirigir ao auditório, mas sempre falo da salvação que vem pela obra vicária de Cristo. Este é o tema.
Continuo com cartas na mesa: a Bíblia é o microscópio pelo qual examinamos a cultura secular. Ela não é um objeto que analisamos pela cultura secular. Ela é senhora e não serva; é juíza e não ré, palavra última e não palavra penúltima.
Com tudo isto, quero dizer que nossa maior necessidade não é a de conhecimento de nosso tempo, mas sim de firmeza nas Escrituras para analisarmos nosso tempo por ela. Se nossos ouvintes gostarão, se acharão que é insensatez dizer que o destino eterno deles depende da resposta que darão à obra que um homem fez numa cruz, num lugarejo obscuro, há dois milênios, isso não importa.
Conhecer nosso tempo é bom se isto mostra o terreno onde lançaremos a semente. Mas é um ato equivocado determinar a essência da semente pelo terreno. Na parábola do semeador havia tipos diferentes de solos. Mas não havia tipos diferentes de sementes. Nossa semente é o evangelho de Jesus, na certeza de suas palavras: “Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão” (Mc 13.31). E para quem acha que isto é ultrapassado, que precisamos de refinamento cultural, e não de uma mensagem tão retrógrada, lembro outras palavras de Jesus: “Porque qualquer que de mim e das minhas palavras se envergonhar, dele se envergonhará o Filho do Homem, quando vier na sua glória e na do Pai e dos santos anjos” (Lc 9.26). Muitos não querem ser vistos como ultrapassados, e refinam a mensagem para torná-la atraente ao mundo atual.
Definidas estas coisas, quero lhes falar sobre como o obreiro de tempos pós-modernos deve se posicionar. Sei o que é pós-modernidade. Poderia discorrer sobre ela. Em meu site (www.isaltino.com.br) há uma apostila sobre o assunto. Mas o obreiro de um mundo pós-moderno não deve se mirar nos moldes do mundo e sim nos moldes de um obreiro leal à Palavra.
2. A NECESSIDADE DE UMA TEOLOGIA SADIA A Igreja carece de uma teologia sadia. E seus obreiros mais ainda. E muito mais que os obreiros de época anteriores. Porque vivemos numa negação de valores, de subjetivação da verdade, de relativismo filosófico e moral. Alguém precisa sinalizar alguma coisa nesta bagunça em que vivemos. E quem pode sinalizar corretamente é a Igreja de Cristo. Ela tem a verdade. E se alguns de seus setores pensam que não têm e que dizer isso é ser arrogante numa época de politicamente correto, deve mudar logo de lado, caso não queira entender o que é o evangelho. Nós temos a verdade. Quem não crê nisto, por favor, não fique marcando gol contra. Porque desconfio que torce para o time adversário.
Nós precisamos de uma teologia sadia. Porque precisamos ter as bases bem definidas e os contornos de nossa fé bem delineados. O obreiro e a Igreja de um tempo pós-moderno, um tempo vacilante e sem fronteiras, precisam ser firmes e devem ter suas fronteiras teológicas bem definidas. E isto mais que nunca.
A Igreja precisa sinalizar ao mundo que há um caminho e uma verdade. Nosso tempo é de relativismos: o que é verdade para você pode não ser verdade para mim. Hoje, as pessoas têm as suas verdades. A Igreja precisa deixar claro que ela tem a verdade de Deus. E antes de tudo precisa deixar isso claro para ela mesma. O neopentecostalismo criou uma situação surrealista: colocou a subjetividade humana no lugar da objetividade das Escrituras. São sentimentos, insights, vislumbres, percepções parciais que ditam as normas. Até mesmo em igrejas ditas tradicionais ouvimos muito esta frase: “Eu senti em meu coração” ou “Eu sinto”, geralmente introduzindo uma observação da pessoa em defesa de alguma verdade. Desculpe-me, se você usa esta frase, mas o que você sente é irrelevante. O relevante é o que a Bíblia diz. Diz Jeremias 17.9: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?”.
Infelizmente, o “sentismo” e o “achismo” são as maiores vertentes hermenêuticas, hoje, no movimento evangélico. Precisamos restaurar a objetividade do ensino das Escrituras. Nossos sentimentos devem se subordinar a ela. Bem como nossos interesses e nossas perspectivas.
A maior batalha que teremos na área da teologia, nestes anos imediatos, é sobre a fonte de autoridade em matéria de religião. Sempre se apontou que a Bíblia é a fonte última. O preâmbulo da Declaração Doutrinária da CBB diz: “Através dos tempos, os batistas têm se notabilizado pela defesa destes princípios: 1º) A aceitação das Escrituras Sagradas como única regra de fé e conduta”. E todo o resto parte deste ponto.
Precisamos ter uma teologia bem segura neste ponto: tudo parte da Bíblia e a ela tudo se submete. Infelizmente, todos afirmamos isto, mas nem sempre praticamos isto. Primeiro porque, como eu disse, temos o subjetivismo neopentecostal infiltrado em nossas igrejas, alimentado pelo romantismo da época, em que os sentimentos soam mais alto que a razão. Nossa geração não reflete, mas sente. Depois por causa da mentalidade pragmática que se dissemina entre nós. O que deu certo em algum lugar passa a ser a verdade. A verdade não é mais que o é certo, mas o que funciona. A pós-modernidade tira o foco da verdade objetiva para a funcionalidade. Precisamos lembrar bem que somos “a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1Tm 3.15). E que “a coluna e firmeza da verdade” deve estar alicerçada sobre a Palavra que é a verdade: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
Que a Igreja estude a Palavra, submeta suas práticas e sua liturgia à Palavra. Que os pregadores preguem a Palavra e não seus desinteressantes conceitos culturais. Há obreiros que julgam suas platitudes um autêntico oráculo de Yahweh. Precisamos de pregadores que preguem a Palavra e não que contem historinhas o tempo todo. O pastor do século 21, bem como a igreja do século 21, precisa de uma teologia bíblica sadia.
Nós precisamos de uma teologia sadia. Porque precisamos ter as bases bem definidas e os contornos de nossa fé bem delineados. O obreiro e a Igreja de um tempo pós-moderno, um tempo vacilante e sem fronteiras, precisam ser firmes e devem ter suas fronteiras teológicas bem definidas. E isto mais que nunca.
A Igreja precisa sinalizar ao mundo que há um caminho e uma verdade. Nosso tempo é de relativismos: o que é verdade para você pode não ser verdade para mim. Hoje, as pessoas têm as suas verdades. A Igreja precisa deixar claro que ela tem a verdade de Deus. E antes de tudo precisa deixar isso claro para ela mesma. O neopentecostalismo criou uma situação surrealista: colocou a subjetividade humana no lugar da objetividade das Escrituras. São sentimentos, insights, vislumbres, percepções parciais que ditam as normas. Até mesmo em igrejas ditas tradicionais ouvimos muito esta frase: “Eu senti em meu coração” ou “Eu sinto”, geralmente introduzindo uma observação da pessoa em defesa de alguma verdade. Desculpe-me, se você usa esta frase, mas o que você sente é irrelevante. O relevante é o que a Bíblia diz. Diz Jeremias 17.9: “Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e perverso; quem o conhecerá?”.
Infelizmente, o “sentismo” e o “achismo” são as maiores vertentes hermenêuticas, hoje, no movimento evangélico. Precisamos restaurar a objetividade do ensino das Escrituras. Nossos sentimentos devem se subordinar a ela. Bem como nossos interesses e nossas perspectivas.
A maior batalha que teremos na área da teologia, nestes anos imediatos, é sobre a fonte de autoridade em matéria de religião. Sempre se apontou que a Bíblia é a fonte última. O preâmbulo da Declaração Doutrinária da CBB diz: “Através dos tempos, os batistas têm se notabilizado pela defesa destes princípios: 1º) A aceitação das Escrituras Sagradas como única regra de fé e conduta”. E todo o resto parte deste ponto.
Precisamos ter uma teologia bem segura neste ponto: tudo parte da Bíblia e a ela tudo se submete. Infelizmente, todos afirmamos isto, mas nem sempre praticamos isto. Primeiro porque, como eu disse, temos o subjetivismo neopentecostal infiltrado em nossas igrejas, alimentado pelo romantismo da época, em que os sentimentos soam mais alto que a razão. Nossa geração não reflete, mas sente. Depois por causa da mentalidade pragmática que se dissemina entre nós. O que deu certo em algum lugar passa a ser a verdade. A verdade não é mais que o é certo, mas o que funciona. A pós-modernidade tira o foco da verdade objetiva para a funcionalidade. Precisamos lembrar bem que somos “a igreja do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade” (1Tm 3.15). E que “a coluna e firmeza da verdade” deve estar alicerçada sobre a Palavra que é a verdade: “Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade” (Jo 17.17).
Que a Igreja estude a Palavra, submeta suas práticas e sua liturgia à Palavra. Que os pregadores preguem a Palavra e não seus desinteressantes conceitos culturais. Há obreiros que julgam suas platitudes um autêntico oráculo de Yahweh. Precisamos de pregadores que preguem a Palavra e não que contem historinhas o tempo todo. O pastor do século 21, bem como a igreja do século 21, precisa de uma teologia bíblica sadia.
3. A NECESSIDADE DE UMA SOTERIOLOGIA CORRETAContinuamos afirmando, em nossas pregações, que Cristo é o Salvador. Mas, Salvador de quê, exatamente?
Na teologia da libertação, entre muitos outros aspectos, Jesus é “o revelador dos verdadeiros valores humanos”. Ele é “o homem para os homens”. Ele é mais um modelo que um Salvador. A soteriologia da falecida teologia da libertação é de fundo econômico, mas ingenuamente alguns de seus propugnadores criam que Jesus era um modelo que os homens poderiam seguir e que assim seriam socialmente transformados. Sendo o homem intrinsecamente bom, as pessoas precisavam ver o “modelo Jesus”, e se disporiam a imitá-lo. Outros teólogos desta linha, como boa parte dos seus comentários bíblicos mostra, falam de um tal de “projeto de Jesus”, que nunca entendi qual seja. Um desses comentários, em cada página trazia o tal “projeto de Jesus”. Parece-me que era de um levantamento das massas contra as famosas “elites”, de quem todos falam, mas nunca identificam. Mas a soteriologia sempre se liga à libertação da pobreza material.
Ideologicamente, a teologia da prosperidade é irmã gêmea da teologia da libertação, pois sua soteriologia também se liga à libertação da pobreza material. Só que seu viés é pelo exorcismo, e não pela política. Acrescenta algo mais em sua panela de heresias: a resolução dos problemas relacionais e de saúde.
Outros vêem Igreja como um lugar, apenas. E como um lugar de catarse, de liberação de emoções. É uma forma de terapia emocional. A Igreja acaba se tornando apenas um evento sócio-emocional. Salvação é se sentir bem e estar em paz consigo mesmo. A soteriologia tradicional parte da anunciação do nascimento de Jesus: “E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de JESUS, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.21). A soteriologia correta parte daqui: perdão dos pecados. Há pecados e há o pecado. Não é ter paz consigo mesmo e se aceitar como se é. É ter paz com Deus e aceitar seu Filho. E, pelo poder do Espírito Santo, tornar-se aquilo que deve ser.
Fortemente marcados pelo mito da bondade inata dos homens, mito que vem do Iluminismo, nossa cultura prega a bondade humana. Nossas pregações têm omitido o pecado, a condenação e, principalmente, o inferno. Estas questões são consideradas como medievais e indignas de pessoas ilustradas, cultas, do século 21. Como disse alguém, há pouco tempo: “A missão da Igreja é despertar o melhor dos homens”. Frase feita, bonitinha. Mas sem nexo. Qual é o nosso melhor? Diz Isaías 64.6: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; e todos nós caímos como a folha, e as nossas culpas, como um vento, nos arrebatam”. Não teremos soteriologia correta se não tivermos a noção correta de quem seja o homem: pecador, caído, perdido. É curioso como os próprios crentes não gostam da doutrina da depravação da raça e da pecaminosidade humana. Um dia vi um pastor zangado com um corinho (e não sou fã deles) que diz “Se olhares para dentro de mim nada de bom encontrarás”. Ele estava realmente zangado. E me disse: “Nós temos muito de bom!”. Mas não temos! A Bíblia diz que não temos. Nosso “bom” é “trapo da imundícia”, referência aos absorventes menstruais das senhoras da época do profeta. Se há algo bom em nós é produto da graça. É a graça que nos torna pessoas melhores. Talvez se possa dar um crédito por causa dos termos “bem” e “bom”, mas não somos bons. E, realmente, o pecado habita em nós.
En pasant, reside aqui um dos muitos equívocos da maçonaria. Uma de suas frases de efeito diz: “Nós escolhemos os homens bons e os tornamos melhores”. Numa curta frase, dois erros teológicos. Primeiro: não há homens bons. “E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus.” (Mc 10.18). Segundo: porque ninguém pode ser transformado se não for pela graça. Sou pessimista quanto ao homem. Lembro de uma frase de Billy Graham: “O homem é exatamente o que a Bíblia diz que ele é”. E o retrato que ela faz do homem não é lisonjeiro.
Precisamos falar de pecado. A palavra está tão fora de modo que inspirou um livro teológico como o títuloO pecado ainda existe? . A Igreja parece se reunir mais para celebrar (exatamente o quê?) que para confessar. Num exame superficial da Concordância bíblica da SBB encontrei 41 referências a “confessar” e 11 a “confissão”. Não examinei o número de vezes que aparece “pedir perdão” e semelhantes, e por isso não as considero. Aumentaria a lista. Mas culpa, pecado e perdão são palavras comuns nas Escrituras. Na década dos sessentas, um dos versículos que nossas igrejas mais recitavam era 2Crônicas 7.14. Hoje o mote é “Louvai ao Senhor”. Não se deduza que sou contra o louvor. Sou contra o culto que baniu a confissão. Sou contra a tentativa de varrer para baixo do tapete a reflexão e tudo submeter à agitação. Parece-me que as pessoas não pensam muito, mas apenas sentem e se sacodem. Nossa cultura não é reflexiva. É romântica, piegas e sensual (dos sentidos).
Há um grande esforço de algumas ciências e disciplinas para tirar do homem o sentimento de culpa. Ele é produto do meio, das circunstâncias, dos genes, mas nunca resultado de suas decisões e menos ainda alguém que diga como Paulo: “... eu sou carnal, vendido sob o pecado” (Rm 7.14) e “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7.19-20).
Além de desmentir a concepção iluminista de que o homem é bom, Paulo desmente a visão platônica de que saber é ser. Como isto nos tem marcado também! Todos os nossos problemas parecem que serão resolvidos com “conscientização”. Multar motoristas bêbedos e irresponsáveis? Não, isso é repressão, indústria da multa. Vamos conscientizar tais pessoas! Combater as drogas? Vamos conscientizar os nossos jovens. Ora, alguém não sabe que álcool e volante não combinam? Alguém ignora que drogas são destrutivas? Nosso problema não é cognitivo. É espiritual. Somos pecadores, dominados pelo pecado, e precisamos ser libertos do poder do Maligno: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres” (Jo 8.36). Quando a Igreja perderá o acanhamento de chamar as pessoas ao abandono do pecado, e até quando continuará pregando auto-ajuda, como se a obra salvífica de Cristo fosse nos fazer sentir-nos melhores, emocionalmente?
Precisamos de uma soteriologia centrada na obra vicária de Jesus Cristo. Seu evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). A Igreja precisa pregar que os homens são pecadores, estão perdidos, vão para a condenação eterna, e só Jesus Cristo salva.
Na teologia da libertação, entre muitos outros aspectos, Jesus é “o revelador dos verdadeiros valores humanos”. Ele é “o homem para os homens”. Ele é mais um modelo que um Salvador. A soteriologia da falecida teologia da libertação é de fundo econômico, mas ingenuamente alguns de seus propugnadores criam que Jesus era um modelo que os homens poderiam seguir e que assim seriam socialmente transformados. Sendo o homem intrinsecamente bom, as pessoas precisavam ver o “modelo Jesus”, e se disporiam a imitá-lo. Outros teólogos desta linha, como boa parte dos seus comentários bíblicos mostra, falam de um tal de “projeto de Jesus”, que nunca entendi qual seja. Um desses comentários, em cada página trazia o tal “projeto de Jesus”. Parece-me que era de um levantamento das massas contra as famosas “elites”, de quem todos falam, mas nunca identificam. Mas a soteriologia sempre se liga à libertação da pobreza material.
Ideologicamente, a teologia da prosperidade é irmã gêmea da teologia da libertação, pois sua soteriologia também se liga à libertação da pobreza material. Só que seu viés é pelo exorcismo, e não pela política. Acrescenta algo mais em sua panela de heresias: a resolução dos problemas relacionais e de saúde.
Outros vêem Igreja como um lugar, apenas. E como um lugar de catarse, de liberação de emoções. É uma forma de terapia emocional. A Igreja acaba se tornando apenas um evento sócio-emocional. Salvação é se sentir bem e estar em paz consigo mesmo. A soteriologia tradicional parte da anunciação do nascimento de Jesus: “E ela dará à luz um filho, e lhe porás o nome de JESUS, porque ele salvará o seu povo dos seus pecados” (Mt 1.21). A soteriologia correta parte daqui: perdão dos pecados. Há pecados e há o pecado. Não é ter paz consigo mesmo e se aceitar como se é. É ter paz com Deus e aceitar seu Filho. E, pelo poder do Espírito Santo, tornar-se aquilo que deve ser.
Fortemente marcados pelo mito da bondade inata dos homens, mito que vem do Iluminismo, nossa cultura prega a bondade humana. Nossas pregações têm omitido o pecado, a condenação e, principalmente, o inferno. Estas questões são consideradas como medievais e indignas de pessoas ilustradas, cultas, do século 21. Como disse alguém, há pouco tempo: “A missão da Igreja é despertar o melhor dos homens”. Frase feita, bonitinha. Mas sem nexo. Qual é o nosso melhor? Diz Isaías 64.6: “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia; e todos nós caímos como a folha, e as nossas culpas, como um vento, nos arrebatam”. Não teremos soteriologia correta se não tivermos a noção correta de quem seja o homem: pecador, caído, perdido. É curioso como os próprios crentes não gostam da doutrina da depravação da raça e da pecaminosidade humana. Um dia vi um pastor zangado com um corinho (e não sou fã deles) que diz “Se olhares para dentro de mim nada de bom encontrarás”. Ele estava realmente zangado. E me disse: “Nós temos muito de bom!”. Mas não temos! A Bíblia diz que não temos. Nosso “bom” é “trapo da imundícia”, referência aos absorventes menstruais das senhoras da época do profeta. Se há algo bom em nós é produto da graça. É a graça que nos torna pessoas melhores. Talvez se possa dar um crédito por causa dos termos “bem” e “bom”, mas não somos bons. E, realmente, o pecado habita em nós.
En pasant, reside aqui um dos muitos equívocos da maçonaria. Uma de suas frases de efeito diz: “Nós escolhemos os homens bons e os tornamos melhores”. Numa curta frase, dois erros teológicos. Primeiro: não há homens bons. “E Jesus lhe disse: Por que me chamas bom? Ninguém há bom senão um, que é Deus.” (Mc 10.18). Segundo: porque ninguém pode ser transformado se não for pela graça. Sou pessimista quanto ao homem. Lembro de uma frase de Billy Graham: “O homem é exatamente o que a Bíblia diz que ele é”. E o retrato que ela faz do homem não é lisonjeiro.
Precisamos falar de pecado. A palavra está tão fora de modo que inspirou um livro teológico como o títuloO pecado ainda existe? . A Igreja parece se reunir mais para celebrar (exatamente o quê?) que para confessar. Num exame superficial da Concordância bíblica da SBB encontrei 41 referências a “confessar” e 11 a “confissão”. Não examinei o número de vezes que aparece “pedir perdão” e semelhantes, e por isso não as considero. Aumentaria a lista. Mas culpa, pecado e perdão são palavras comuns nas Escrituras. Na década dos sessentas, um dos versículos que nossas igrejas mais recitavam era 2Crônicas 7.14. Hoje o mote é “Louvai ao Senhor”. Não se deduza que sou contra o louvor. Sou contra o culto que baniu a confissão. Sou contra a tentativa de varrer para baixo do tapete a reflexão e tudo submeter à agitação. Parece-me que as pessoas não pensam muito, mas apenas sentem e se sacodem. Nossa cultura não é reflexiva. É romântica, piegas e sensual (dos sentidos).
Há um grande esforço de algumas ciências e disciplinas para tirar do homem o sentimento de culpa. Ele é produto do meio, das circunstâncias, dos genes, mas nunca resultado de suas decisões e menos ainda alguém que diga como Paulo: “... eu sou carnal, vendido sob o pecado” (Rm 7.14) e “Porque não faço o bem que quero, mas o mal que não quero, esse faço. Ora, se eu faço o que não quero, já o não faço eu, mas o pecado que habita em mim” (Rm 7.19-20).
Além de desmentir a concepção iluminista de que o homem é bom, Paulo desmente a visão platônica de que saber é ser. Como isto nos tem marcado também! Todos os nossos problemas parecem que serão resolvidos com “conscientização”. Multar motoristas bêbedos e irresponsáveis? Não, isso é repressão, indústria da multa. Vamos conscientizar tais pessoas! Combater as drogas? Vamos conscientizar os nossos jovens. Ora, alguém não sabe que álcool e volante não combinam? Alguém ignora que drogas são destrutivas? Nosso problema não é cognitivo. É espiritual. Somos pecadores, dominados pelo pecado, e precisamos ser libertos do poder do Maligno: “Se, pois, o Filho vos libertar, verdadeiramente, sereis livres” (Jo 8.36). Quando a Igreja perderá o acanhamento de chamar as pessoas ao abandono do pecado, e até quando continuará pregando auto-ajuda, como se a obra salvífica de Cristo fosse nos fazer sentir-nos melhores, emocionalmente?
Precisamos de uma soteriologia centrada na obra vicária de Jesus Cristo. Seu evangelho é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê (Rm 1.16). A Igreja precisa pregar que os homens são pecadores, estão perdidos, vão para a condenação eterna, e só Jesus Cristo salva.
4. A NECESSIDADE DE UMA CRISTOLOGIA CORRETAParte da argumentação foi feita aqui, mas com a conotação da teologia da salvação. Agora, trato da pessoa de Cristo. Precisamos enfatizar bem os aspectos centrais da vida do Salvador: nascimento virginal, vida sem pecado, morte vicária, ressurreição corporal, ascensão e sua segunda vinda em poder e glória para julgar o mundo. Porque há um esforço enorme para se descaracterizar a pessoa de Jesus. Ele já foi mostrado como hippie, como guerrilheiro, como modelo de vida, e agora parece ser um incômodo para a Igreja. Parece que muitas igrejas não sabem o que fazer com Cristo e sua cruz. A mídia procura distorcê-lo. E a teologia contemporânea insiste em desmitificá-lo, em buscar o Jesus histórico, tentando fazer uma nova história e nos dar um novo Cristo. Gente em gabinete com ar condicionado e poltronas estofadas pretende saber mais sobre o Jesus do Novo Testamento que os evangelistas e Paulo.
Muito da distorção sobre a figura de Jesus está vindo dos cânticos, onde ele quase nunca é cantado e quando é cantado, em alguns dos cânticos se assemelha mais a uma força que a uma pessoa. Parece mais uma energia cósmica que o Salvador do mundo.
Só há um Cristo digno de ser pregado, o do Novo Testamento. E este é o Cristo crucificado. Mas há cultos em que o nome de Jesus só é mencionado na oração: “Em nome de Jesus”. Passou a ser mais uma senha que o Senhor da Igreja. Quantos sermões você ouviu ou quantos pregou, neste ano, sobre o Cristo crucificado? Preguei no aniversário de uma igreja e havia cinco grupos de louvor escalados. Não era uma ordem de culto. Era um ajuntamento de números especiais. Cada grupo apresentou três números, e antes de cada número houve o famoso sermãozinho sobre o louvor. Cá pra nós: sermão de grupo de louvor é duro de ouvir. São platitudes dispensáveis. O culto começou às 19 horas e me deram a palavra às 20h50. Metade do auditório estava tão cansada de tanto louvor, que não acompanharia meia hora de sermão. A outra metade estava tão excitada que não acompanharia nenhum raciocínio. O culto foi um louvor ao louvor, não a Cristo. O louvor foi um fim em si mesmo. Quando me deram a palavra observei um fato muito triste: em uma hora e cinqüenta minutos de culto, o nome de Jesus só fora pronunciado na frase “em nome de Jesus”, nas orações que se haviam feito. A Igreja é de Cristo, mas o louvor não é a ele. E o foco também não é ele, mas as pessoas que se exibem.
“Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2). Culto em que Cristo não foi pregado e a mensagem da cruz não foi anunciada não foi um culto neotestamentário. Há pregações moralistas, há pregações de auto-ajuda, há pregações que caberiam numa sinagoga, mas a pregação numa igreja deve ser cristocêntrica. O centro do culto não é o louvor, mas é Cristo.
Deu para notar que neste tópico, falando de uma cristologia correta, detive-me mais na cristologia prática, vivenciada na Igreja, que à Cristologia como aspecto da Teologia. Porque o que me incomoda é que a Teologia está sendo refeita, ou melhor, distorcida, nos cultos, e não nos seminários. Mas como já havia tocado no assunto no tópico anterior, ao falar da soteriologia, creio que já comentei o suficiente.
Muito da distorção sobre a figura de Jesus está vindo dos cânticos, onde ele quase nunca é cantado e quando é cantado, em alguns dos cânticos se assemelha mais a uma força que a uma pessoa. Parece mais uma energia cósmica que o Salvador do mundo.
Só há um Cristo digno de ser pregado, o do Novo Testamento. E este é o Cristo crucificado. Mas há cultos em que o nome de Jesus só é mencionado na oração: “Em nome de Jesus”. Passou a ser mais uma senha que o Senhor da Igreja. Quantos sermões você ouviu ou quantos pregou, neste ano, sobre o Cristo crucificado? Preguei no aniversário de uma igreja e havia cinco grupos de louvor escalados. Não era uma ordem de culto. Era um ajuntamento de números especiais. Cada grupo apresentou três números, e antes de cada número houve o famoso sermãozinho sobre o louvor. Cá pra nós: sermão de grupo de louvor é duro de ouvir. São platitudes dispensáveis. O culto começou às 19 horas e me deram a palavra às 20h50. Metade do auditório estava tão cansada de tanto louvor, que não acompanharia meia hora de sermão. A outra metade estava tão excitada que não acompanharia nenhum raciocínio. O culto foi um louvor ao louvor, não a Cristo. O louvor foi um fim em si mesmo. Quando me deram a palavra observei um fato muito triste: em uma hora e cinqüenta minutos de culto, o nome de Jesus só fora pronunciado na frase “em nome de Jesus”, nas orações que se haviam feito. A Igreja é de Cristo, mas o louvor não é a ele. E o foco também não é ele, mas as pessoas que se exibem.
“Porque nada me propus saber entre vós, senão a Jesus Cristo e este crucificado” (1Co 2.2). Culto em que Cristo não foi pregado e a mensagem da cruz não foi anunciada não foi um culto neotestamentário. Há pregações moralistas, há pregações de auto-ajuda, há pregações que caberiam numa sinagoga, mas a pregação numa igreja deve ser cristocêntrica. O centro do culto não é o louvor, mas é Cristo.
Deu para notar que neste tópico, falando de uma cristologia correta, detive-me mais na cristologia prática, vivenciada na Igreja, que à Cristologia como aspecto da Teologia. Porque o que me incomoda é que a Teologia está sendo refeita, ou melhor, distorcida, nos cultos, e não nos seminários. Mas como já havia tocado no assunto no tópico anterior, ao falar da soteriologia, creio que já comentei o suficiente.
5. A NECESSIDADE DE UMA ESCATOLOGIA CORRETAHá pouco, os evangélicos brasileiros ficaram escandalizados porque um pastor muito presente na mídia negou a segunda vinda de Cristo. Dispenso-me de comentar o pastor, mas centro-me na segunda vinda. A Igreja crê mesmo nela? Quão raramente se prega sobre ela! Quão raramente se canta sobre ela!
A teologia da libertação passou fogo na escatologia, dizendo-a ser um recurso das elites (de novo!) para manter as massas acalmadas. A teologia da prosperidade a aniquilou, porque quer o céu aqui. Não conseguiu entender a tensão do já e do ainda não da vida cristã. E, na realidade, muitos de nós estamos mais interessados em melhores empregos, melhores casas, carros zeros e maiores, que no céu.
Mas não é de céu que quero falar, especificamente, no aspecto de escatologia. Quero falar sobre a necessidade da igreja em advertir os pecadores de que haverá juízo. Que haverá um fim, que Cristo voltará e julgará a todos. A teologia da prosperidade em geral, e algumas de nossas pregações pragmáticas, em particular, têm empobrecido o ensino bíblico. “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1Co 15.19).
Os crentes têm perdido a perspectiva do céu. Fico decepcionado com o desespero de alguns crentes quando perdem parentes crentes. Um colega me contou de uma senhora de sua igreja que ficou desesperada porque a mãe, com quase 90 anos e muito doente, partira para estar com o Senhor. E onde fica Filipenses 1.23, que diz: “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor”? . Antes que me digam que eu não sei o que é perder mãe: perdi a minha aos meus 14 anos de idade. E ela não era crente. Era espírita.
A questão é que as pessoas não ouvem pregações sobre o céu, não aspiram por ele, não o desejam, e querem apenas bênção sobre bênção, aqui na terra. Na realidade, nós não cremos no céu. Dizemos crer, mas não cremos.
Uma escatologia correta ensinará que a Igreja é hoje militante, e não triunfante (o que nos livrará de muitas ingenuidades pregadas e cantadas), mas um dia será triunfante. Que não será vencida, que pode sonhar e deve trabalhar pelo triunfo do evangelho. Não servimos a uma causa que pode ou não dar certo, mas que dará certo. E que o triunfo a cantar não é meu triunfo sobre minhas dificuldades pessoais, mas o triunfo de Jesus Cristo! Para muitos crentes, importa-lhes o seu triunfo, a sua bênção, e não a glória de Cristo, como Senhor do universo.
A mim, pouco me importa meu triunfo pessoal. Sou apenas um peão no tabuleiro do jogo de xadrez, que o Grande Jogador move para onde desejar, para fazer seu plano funcionar. Peão é descartável, é peça que sacrifica para se obter a vitória. Não aspiro a grandes coisas, mas apenas a ser útil. E não estou sendo vaidoso nem preciso ser elogiado por isso. É obrigação de cada cristão dizer como Paulo: “segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte.” (Fp 1.20). A escatologia correta é aquela em que sabemos do triunfo do evangelho, que este triunfo virá porque Cristo é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, e que nossa vida a serviço dele contribui para o avanço da obra.
Esta visão escatológica de vitória do reino nos ajuda a entender que seguir a Cristo não é uma viagem de primeira classe por este mundo, mas um engajamento no seu exército. Nós seremos vencedores. Mas, em termos humanos, nós faremos a vitória acontecer.
A teologia da libertação passou fogo na escatologia, dizendo-a ser um recurso das elites (de novo!) para manter as massas acalmadas. A teologia da prosperidade a aniquilou, porque quer o céu aqui. Não conseguiu entender a tensão do já e do ainda não da vida cristã. E, na realidade, muitos de nós estamos mais interessados em melhores empregos, melhores casas, carros zeros e maiores, que no céu.
Mas não é de céu que quero falar, especificamente, no aspecto de escatologia. Quero falar sobre a necessidade da igreja em advertir os pecadores de que haverá juízo. Que haverá um fim, que Cristo voltará e julgará a todos. A teologia da prosperidade em geral, e algumas de nossas pregações pragmáticas, em particular, têm empobrecido o ensino bíblico. “Se esperamos em Cristo só nesta vida, somos os mais miseráveis de todos os homens” (1Co 15.19).
Os crentes têm perdido a perspectiva do céu. Fico decepcionado com o desespero de alguns crentes quando perdem parentes crentes. Um colega me contou de uma senhora de sua igreja que ficou desesperada porque a mãe, com quase 90 anos e muito doente, partira para estar com o Senhor. E onde fica Filipenses 1.23, que diz: “Mas de ambos os lados estou em aperto, tendo desejo de partir e estar com Cristo, porque isto é ainda muito melhor”? . Antes que me digam que eu não sei o que é perder mãe: perdi a minha aos meus 14 anos de idade. E ela não era crente. Era espírita.
A questão é que as pessoas não ouvem pregações sobre o céu, não aspiram por ele, não o desejam, e querem apenas bênção sobre bênção, aqui na terra. Na realidade, nós não cremos no céu. Dizemos crer, mas não cremos.
Uma escatologia correta ensinará que a Igreja é hoje militante, e não triunfante (o que nos livrará de muitas ingenuidades pregadas e cantadas), mas um dia será triunfante. Que não será vencida, que pode sonhar e deve trabalhar pelo triunfo do evangelho. Não servimos a uma causa que pode ou não dar certo, mas que dará certo. E que o triunfo a cantar não é meu triunfo sobre minhas dificuldades pessoais, mas o triunfo de Jesus Cristo! Para muitos crentes, importa-lhes o seu triunfo, a sua bênção, e não a glória de Cristo, como Senhor do universo.
A mim, pouco me importa meu triunfo pessoal. Sou apenas um peão no tabuleiro do jogo de xadrez, que o Grande Jogador move para onde desejar, para fazer seu plano funcionar. Peão é descartável, é peça que sacrifica para se obter a vitória. Não aspiro a grandes coisas, mas apenas a ser útil. E não estou sendo vaidoso nem preciso ser elogiado por isso. É obrigação de cada cristão dizer como Paulo: “segundo a minha intensa expectação e esperança, de que em nada serei confundido; antes, com toda a confiança, Cristo será, tanto agora como sempre, engrandecido no meu corpo, seja pela vida, seja pela morte.” (Fp 1.20). A escatologia correta é aquela em que sabemos do triunfo do evangelho, que este triunfo virá porque Cristo é o Rei dos reis e Senhor dos senhores, e que nossa vida a serviço dele contribui para o avanço da obra.
Esta visão escatológica de vitória do reino nos ajuda a entender que seguir a Cristo não é uma viagem de primeira classe por este mundo, mas um engajamento no seu exército. Nós seremos vencedores. Mas, em termos humanos, nós faremos a vitória acontecer.
CONCLUSÃOPrimeiro quis apresentar esta palestra. Depois apresentarei mensagens bíblicas. Mas o que pretendi dizer aqui, dificilmente caberia num sermão. Procuro pregar expositivamente e aqui expus alguns conceitos teológicos que ficariam esparsos. Inseri-los nos sermões seria fazer piruetas exegéticas, o que não me soa correto.
O que aqui apresentei é o que creio. É minha convicção. E a síntese do que foi dito pode ser vista no uso que faço de Provérbios 22.28: “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais”. Temos um balizamento de quatro séculos de história como batistas. Não removamos os marcos que nossos ancestrais estabeleceram.
O que aqui apresentei é o que creio. É minha convicção. E a síntese do que foi dito pode ser vista no uso que faço de Provérbios 22.28: “Não removas os marcos antigos que puseram teus pais”. Temos um balizamento de quatro séculos de história como batistas. Não removamos os marcos que nossos ancestrais estabeleceram.
Preparada para a 1ª. Conferência da Ordem dos Pastores Batistas do Brasil, Subseção Mesquitense, Mesquita, RJ, 9.9.11
Fonte:Revista Teológica Brasileira
Nenhum comentário:
Postar um comentário