Por Luciano Sena
O que fez com que a maior igreja evangélica da década de 60 não figure mais hoje em dia entre as denominações evangélicas de expressão numérica? Quais razões levaram a Igreja Presbiteriana do Brasil a não chegar em todo território nacional, apesar de ser uma das mais antigas? Por que a IPB está vergonhosamente atrás mesmo de muitas seitas?
Vou expressar aqui a minha opinião, baseando-me na observação e na conversa com antigos presbiterianos. Acho que incomodarei alguns, nem serei aceito por todos os fieis. Adianto-me dizendo que temos um problema denominacional de nível espiritual e não teológico.
1. A vocação pastoral foi profissionalizada. A vocação ministerial na IPB está sendo revestida, espuriamente em muitos contextos, de direitos trabalhistas, interesses financeiros, exigências advinda de Conselhos nada espirituais, (do tipo crescimento financeiro para o orçamento da Igreja, etc.) gabinetes pastorais virando centro de negociações de interesses estranhos ao evangelho, pastores que se relacionam com representantes políticos e comerciais como se fosse ele mesmo um ‘empresário da igreja’. O Espírito Santo não usa tais ministérios adúlteros.
2. A vocação pastoral foi ‘academizada’. Para muitos ministros presbiterianos a região do “Mackenzie-Andrew Jumper” virou uma Meca Acadêmica. A desculpa de ‘especializar-se em uma área teológica para melhor servir ao Senhor’ na verdade camufla o especializar para ‘melhor SERVIR-SE’. Tais especializações deixam de ser um desejo simples de conhecer mais, para rapidamente dar a conhecer o status. A ânsia de títulos causa euforia nesses ministros.
Pobres reverendos ‘erudólatras’, que deixaram de colocar o ministério sob a bancada da Trindade e que as notas fossem extraídas de lágrimas, evangelizando, amando o rebanho da Igreja Presbiteriana, o seu povo. Por isso, igrejas assim, sob o comando de obreiros secos, não pode fluir vida.
3. A vocação pastoral foi multifacetada. “Tenho chamado de mestre”, “Meu chamado não é para evangelizar”, “Sou pastor não ovelha”... assim vai. O que acho interessante é que tais desculpas convenceram muitas igrejas e conselhos. Usam até Efésios 4.11 para isso, como que se o dom fosse exclusão da obrigação, e não apenas uma melhor capacitação divina para uma área no ministério!Já pensou em um profeta dizendo: “Não vou ensinar, pois meu ministério não é de mestre”!?... Veja o texto de II Tm 4.1-5.
A Constituição da IPB diz que o ministro recebe tais títulos, pois são funções do ministro: “Os títulos que a Sagrada Escritura dá ao ministro, de bispo, pastor, ministro, presbítero ou ancião, anjo da Igreja, embaixador, evangelista, pregador, doutor e despenseiro dos mistérios de Deus, indicam funções diversas, e não graus diferentes de dignidade no ofício.” Art. 30 Parágrafo único.
Pastor que não evangeliza, em qualquer forma e método, é um pastor incompleto, fraco e infiel. Visto que várias igrejas estão sob o comando de obreiros nestas condições no ministério, o Espírito Santo não usa mais a tais, e ali não pode ser uma agência salvadora dos eleitos.
4. Os Presbíteros estão negligenciando a vocação. Infelizmente muitos presbíteros não estudam a Bíblia profundamente, nem teologia*. Não estudam os Símbolos de Fé, nem mesmo depois da eleição deixam a superficialidade do conhecimento doutrinário. A fama de presbíteros é mais conhecida como: ‘Donos/Patrões’ da igreja local. Algozes de Pastores. Não são conhecidos como pastoresjunto ao pastor docente, na visitação, consolo e evangelização.
*Não seria difícil preparar melhor os presbíteros. Se o pastor, ou no máximo Presbitérios, [sabemos que quando sai desse ambiente, a letargia mata rapidamente!!!], local fizer 1) uma classe de liderança/oficiais, 2) providenciasse para todo líder e oficial – A Constituição da IPB, A Confissão de Fé, um manual teológico (Teologia Concisa, J. I. Packer, ou Manual de Doutrina L. Berkof), bem como algum livro de aconselhamento e histórico um que aborde uma breve história da IPB. E trabalhasse por pelo menos dois anos com esses oficiais, teríamos um resultado rápido e prático.
Para muito pastores, os presbíteros são apenas um item eclesiástico. Por um lado, isso é culpa dos próprios presbíteros. Precisamos de um despertamento por parte dos presbíteros da IPB. Quando isso acontecer, muita coisa entrar nos trilhos.
5. A IPB passou a envolver-se com aquilo que não é a sua missão. A maneira prática de a Igreja Glorificar a Deus é cumprir sua missão de pregar o Evangelho. Quando a igreja começou asubstituir e pregação por projetos sociais, cursinhos profissionalizantes, interesses ‘humanistas’, ela dilui o seu poder. A Igreja deve fazer o bem a todos, como resultado do evangelho e da evangelização, não PARA evangelização!!!
Seria muito mais conveniente a IPB, igrejas locais, e até Mackenzie (não sei se já o fez), doar dinheiro para instituições filantrópicas! Seria muito mais conveniente e efetivo. Dar pão com mortadela e suco de saquinho para crianças carentes não é obra social. Imagine se a IPB doasse dinheiro para o Hospital do Câncer, a AACD, etc.? Assim, a Igreja faria o bem, com qualidade, sem colocar as suas energias vocacionais para outros fins.
“A Igreja Presbiteriana do Brasil tem por fim prestar culto a Deus, em espírito e em verdade, pregar o evangelho...” Art. 2º CI- IPB. O título do 5º capítulo do livro “Plante Igrejas” do Rev. Arival diz: “A pregação é o meio escolhido por Deus para promover a obra missionária.”
6. As igrejas locais não são unidas. ‘Cada um por si’, é quase o lema em muitas comunidades nas federações de igrejas locais da IPB. Não existe estimulo suficiente para isso. Isso está sob a responsabilidade dos presbitérios. Igrejas de uma cidade ou de um presbitério poderiam unir-se na missão. Compras de terrenos, construções de Templos, plantações de trabalhos novos, sustento de obreiros para iniciar trabalhos, etc. Isso não acontece, existe uma capitalização anticalvinista – ajuntar para outros não é feito, e sim para apresentar um saldo no orçamento!
E a obra missionária local é negligenciada por uma idolatria financeira local. Uma confiança errada e não cristã na estranha sensação de estabilidade financeira!
‘Cada um por si’, acabou em ‘Deus contra todos’. Na falta de unidade, de ‘gentileza entre igrejas’, nos esquecemos do princípio de Mt 12.25... parece que o diabo é mais inteligente do que agente!
7. O pecado. O que é mais destrutivo para uma igreja do que o pecado? É triste saber como está sendo tratado esse assunto em muitas igrejas presbiterianas. Não por falta de doutrina. OCatecismo Maior expõem o pecado em todos os seus quadrantes, com precisão milimétrica (perguntas 91 – 152). Mas por falta dadenúncia na pregação e disciplina. Notamos mensagens, livros, estudos, sites, mais preocupados com o neopentecolatlismo e arminianismo do que em denunciar o pecado. Obviamente, preferiria o Arminianismo de Wesley a um Calvinismo pecador. Claro, isso é auto excludente, mas está se alastrando, mesmo com a incoerência patente.
· Quando uma igreja deixa de denunciar o pecado ela sela a sua morte (Ap 2,3). Ou matamos o pecado por meio da pregação ou o pecado nos matará! Não existe sobrevivente nesta luta.
8. O Domingo revela que não damos prioridade na vida prática ao que é do Senhor. Escrevo essas palavras como um hipócrita. Não iria incluir, mas o Senhor me apontou isso, se eu quisesse que tal exposição fosse honesta em minha consciência. Não tenho guardado o Dia do Senhor como deveria. Tenho feito algo, mas não o necessário. Acredito que conseguirei, pela graça de Deus... O fato é que não temos o Dia do Senhor como DO SENHOR, em nosso arraial. Eu mesmo fui saber disso, não observando Igrejas Presbiterianas, mas quando comecei a ler os Símbolos de Westminster.
A Igreja Presbiteriana do Brasil não está, em sua a maioria, e em sua exatidão, guardando o Dia do Senhor (Ap 1.10). Infelizmente até mesmo eventos da IPB estão sendo realizados no Dia do Senhor, fazendo com que pessoas trabalhem nesse dia por nossa causa. Apesar de questionamentos práticos que precisam ser respondidos (será que uma recreação em um contexto de cidade grande, não seria salutar e necessária para a família?), o fato teológico é inquestionável, este é o Dia DO Senhor. Talvez você me pergunte, o que isso tem isso com a evangelização e reforma? Antes de te responder , leia o que ‘profetizou’ o Catecismo Maior:
“Pergunta 121: Por que se acha a palavra “lembra-te”, colocada no princípio do quarto mandamento? Resposta: A palavra “lembra-te” acha-se colocada no princípio do quarto mandamento( Ex 20. 8) , em parte pelo grande benefício que há em nos lembrarmos dele, sendo nós assim ajudados na nossa preparação para guardá-lo( Ex 16. 23; Lc 23. 54,56; Ne 13. 19); e porque em o guardar somos ajudados a guardar todos os mais mandamentos( Ez 20. 12,20), e a continuar uma grata recordação dos dois grandes benefícios da criação e da redenção, que contêm em si um breve compêndio da religião( Gn 2. 2,3; Sl 118. 22,24; Hb 4. 9); e em parte porque somos propensos a esquecer-nos deste mandamento( Ex 34. 21) , visto haver menos luz da natureza para ele e restringir a nossa liberdade natural quanto a cousas permitidas em outros dias( Ex 34. 21;; porque este dia vem somente uma vez em cada sete, e muitos negócios seculares intervêm e muitas vezes nos impedem de pensar nesse dia, seja para nos prepararmos, seja para santificá-lo( Nm 15. 38,38,40) , e porque Satanás, com os seus instrumentos, se esforça para apagar a glória e até a memória desse dia, para introduzir a irreligião e a impiedade( Lm 1. 7; Ne 13. 15-23; Jr 17. 21-23).”
Desde quando deixamos o Senhor não ser mais o dono de nosso tempo, não temos mais tempo para ele, isso também reflete na oração, no jejum, por fim, não cumprimos a missão que Ele nos deu. O Domingo é um dia evangelístico, o Senhor Ressurgiu dos mortos:“... a observância do primeiro dia da semana é um sinal evidente que a igreja sempre creu na ressurreição de Jesus Cristo.” (Eu Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo, p. 317). O eixo da evangelização e salvação está em crer que Jesus Ressuscitou dentre os mortos (Rm 10.9,10).
CONCLUSÃO
Não crescemos mais por esses motivos. Não precisamos do 'movimento das Comunidades Presbiterianas', nem do 'Novo Calvinismo'. Concluo essa postagem com as introspectivas palavras do Catecismo Maior, na pergunta e resposta 104, e digo, é disso que precisamos!
“Pergunta 104: “Quais são os deveres exigidos no primeiro mandamento?
Resposta: Os deveres exigidos no primeiro mandamento são: Conhecer e reconhecer Javé como o único verdadeiro Deus e nosso Deus ( I Cr 28. 9; Dt 26. 17; Is 43. 10; Jr 14. 22); adorá-lo e glorificá-lo como tal( Sl 95. 6,7; Sl 29. 2; Mt 4. 10); pensar( Ml 3. 16) e meditar nele( Sl 63. 6); lembrar-nos dele( Ec 12. 1); altamente apreciá-lo( Sl 18. 1,2), honrá-lo( Ml 1. 6), adorá-lo( Is 45. 23), escolhe-lo)( Js 24. 22), amá-lo( Dt 6. 5), desejá-lo( Sl 73. 25) e temê-lo( Is 8. 13); crer nele( Ex 14. 31), confiando( Is 26. 4), esperando( Sl 130. 7), deleitando-nos( Sl 37. 4) e regozijando-nos nele(Sl 32. 11); ter zelo por ele( Rm 12. 11); invocá-lo, dando-lhe todo o louvor e agradecimento( Fp 4. 6), prestando-lhe toda a obediência e a submissão do homem todo( Jr 7. 23; Tg 4. 7); ter cuidado de agradá-lo em tudo( I Jo 3. 22), e tristeza quando ele é ofendido em qualquer coisa( Ne 13. 8; Sl 119. 135; Jr 31. 18); andar humildemente com ele( Mq 6.8).”
Fonte:MCA
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