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Por Phillip Melanchthon (1497-1560)
Há
pessoas as quais a consciência tem terrificado através do convencimento
do pecado, que seriam seguramente dirigidas ao desespero, a condição
habitual dos condenados, se elas não fossem sustentadas e encorajadas
pela promessa da graça e misericórdia de Deus, comumente chamado de
evangelho. Se a consciência afligida acredita na promessa da graça em
Cristo, ela é ressuscitada e estimulada pela fé, como os exemplos
seguintes revelarão maravilhosamente.
Em
Gênesis, capítulo 3, o pecado, arrependimento e justificação de Adão são
descritos. Depois de Adão e Eva haverem pecado, e estando procurando
cobertas para a nudez deles - pois nós, os hipócritas, temos o hábito de
aliviar nossas consciências fazendo compensações - eles foram chamados
para prestarem contas ao Senhor; mas a Sua voz era insuportável.
Debaixo
destas condições, nem cobertas nem pretextos desculparam o pecado deles.
Condenados e culpados, a consciência cai prostrada quando é confrontada
diretamente com o pecado pela voz de Deus. Eles fogem, e Adão explica a
causa da fuga deles quando ele diz: "Eu ouvi a Tua voz no jardim, e, porque estava nu, tive medo e me escondi."
(Gn. 3:10). Note a confissão e o reconhecimento pela consciência.
Enquanto isso, Adão cai em profundo pesar até que ele ouve a promessa de
misericórdia, de que, através do descendente de sua mulher, a cabeça da
serpente seria esmagada (Gn. 3:15). Até mesmo o fato de que o Senhor os
vestiu, fortaleceu suas consciências, e é inegavelmente um sinal da
encarnação de Cristo, porque a Sua carne, em última análise ,é que cobre
nossa nudez e destrói a confusão de consciências trêmulas sobre as
quais os insultos dos acusadores tem caído (Sl.69).
Nós
recordamos como Davi foi quebrantado pela voz do profeta Natã. E ele
certamente teria perecido se não tivesse ouvido o evangelho
imediatamente: "Também o Senhor te perdoou o pecado; não morrerás"
(II Sm. 12:13). O Espírito de Deus tem nos mostrado ricamente o modo
como opera através da Sua ira e da Sua misericórdia. Que expressão mais
evangélica pode ser concebida do que esta: "O Senhor te perdoou o
pecado"? Não é este a suma do evangelho ou da pregação no Novo
Testamento: o pecado foi perdoado? Você pode acrescentar a estes
exemplos muitas histórias dos evangelhos. Lucas 7:37-50 conta sobre a
mulher pecadora que lava os pés do Senhor; Ele a consola com estas
palavras: "Teus pecados estão perdoados" (v. 48). E o que é mais
conhecido do que a história narrada em Lucas, capítulo 15, do filho
pródigo que confessa o seu pecado? Como amorosamente seu pai o recebe,
abraça, e o beija! Em Lucas 5:8 Pedro, admirado pelo milagre e, o que é
mais importante, tocado em seu coração, exclama: "Aparta-Te de mim, porque sou um homem pecador, ó Senhor". Cristo o consola e o restaura dizendo: "Não tenhas medo, ... "
(v. 10). Destes exemplos acredito que possa ser entendido a diferença
existente entre a lei e o evangelho, e entre o poder do evangelho e o da
lei. A lei terrifica; o evangelho consola. A lei é a voz de ira e
morte; o evangelho é a voz de paz e vida, e para resumir, "a voz do noivo e a voz da noiva,"
como o profeta diz (Jr. 7:34). E aquele que é encorajado pela voz do
evangelho e confia em Deus já está justificado. Cristãos sabem bem
quanta alegria e satisfação a consolação traz. E aqui situam-se,
apropriadamente, aquelas palavras de alegria que os profetas usam para
descrever Cristo e a Igreja. Is. 32:18: "O meu povo habitará em moradas de paz, em moradas bem seguras, e em lugares quietos e tranquilos". Is. 51:3: "regozijo e alegria se acharão nela, ações de graça e sons de música". Jr. 33:6: "e lhes revelarei abundância de paz e segurança." Sl. 21:6: "Pois o puseste por bênção para sempre, e o encheste de gozo com a tua presença". Sl. 97:11: "A luz difundi-se para o justo, e a alegria para os retos de coração".
Mas por
que amontoar argumentos quando é óbvio, através da promulgação da lei e
do advento de Cristo, o que significa o poder da lei e o do evangelho?
Assim Êxodo, capítulo 19, descreve com que horrível espetáculo a lei foi
dada. Assim, da mesma maneira que o Senhor terrificou a Israel naquele
momento, as consciências individuais são atormentadas pela voz da lei, e
eles exclamam junto com o Israel: "Não fale Deus conosco, para que não morramos"
(Ex. 20:19). A lei exige o impossível, e a consciência, condenada pelo
pecado, é assaltada em todas as direções. Nesta condição, medo e
confusão perturbam a consciência de tal forma, que nada, nem ninguém
pode trazer-lhe alívio, a não ser que Aquele que a acusou, retire a
acusação. Alguns buscam consolação através de seus esforços, trabalhos, e
atos de apaziguamento.
Mas
estes não realizam mais do que Adão realizou com suas folhas de figo.
Assim são aqueles que se ornam contra o pecado confiados no poder do seu
próprio querer (arbítrio). Os fatos atuais ensinam que eles logo caem
ainda mais miseravelmente. "O cavalo não garante a vitória; a despeito de sua grande força, a ninguém pode livrar" (Sl. 33:17).
"Presta-nos auxílio na angústia, pois vão é o socorro homem" (Sl. 108:12)!
Por outro lado, o advento de Cristo é descrito pelo profeta Zacarias como lemos em 9:9: "Alegra-te muito, ó filha de Sião; exulta, ó filha de Jerusalém: eis aí te vem o teu Rei, justo e salvador, humilde, ... ".
Primeiro, quando o profeta dá a ordem para regozijar, ele ensina que a
palavra deste Rei é diferente da lei; além disso, ele expressa a alegria
na consciência de um jubiloso a ouvir a palavra de graça. Em seguida,
não há tumulto, mas tudo está tranquilo, que o leva a entender que Ele é
o autor da paz, não da ira. Esta é aquela característica que extraímos
do termo "humilde", que o Evangelista usa, para explicar Sua mansidão.
Isaías tem a mesma ideia em 42:3: "não esmagará a cana quebrada, nem apagará a torcida que fumega".
De modo
similar, o apóstolo contrasta a face de Moisés com a de Cristo em II Co.
3:13. Moisés amedrontou as pessoas ao olharem para o seu semblante.
Pois quem poderia aguentar a majestade do julgamento divino quando até
mesmo o profeta implora isto: "Não entres em juízo com o teu servo"
(Sl. 143:2)? Quando os discípulos vêem a glória de Cristo no Monte da
Transfiguração, uma alegria nova e maravilhosa inunda seus corações a
tal ponto, que Pedro, esquecendo-se de si mesmo, exclama: "Senhor, bom é estarmos aqui; se queres, farei aqui três tendas"
(Mt. 17:4). Aqui está uma visão da graça e misericórdia de Deus. Da
mesma maneira que um olhar à serpente de bronze salvou os homens no
deserto, assim também, eles são salvos se fixarem os olhos da fé na cruz
de Cristo (Jo. 3:14.). Aí está o porque de os apóstolos, de modo
adequado, chamarem sua mensagem, cheia de alegria, de evangelho ou boas
novas. Os gregos também comumente designavam de evangelho, seus anúncios
e elogios públicos de atos valorosos.
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Nota
sobre o Autor: Philip Melanchthon foi um dos mais importantes nomes
entre a primeira geração de reformadores alemães. Este artigo, "O Poder
do Evangelho," é uma seção do "Loci Communes Theologici", um dos
primeiros exemplos da dogmática protestante (sistematização do
pensamento da Reforma).
Melanchthon
representou um papel importante durante a Reforma, não só como amigo e
confidente de Martinho Lutero, mas também como o representante do lado
protestante durante Congressos e Conversas Religiosas. Além disso,
proveu o impulso decisivo para Lutero traduzir a Bíblia.
Via Bereianos
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