terça-feira, 17 de março de 2020

O MISSIONÁRIO DR. GEORGE BUTLER E A GRANDE EPIDEMIA EM GARANHUNS DE 1897



O ano de 1897 foi de terrível angústia e desolação em Garanhuns. Uma nuvem sombria e ameaçadora parecia pairar sobre a cidade. O dr. Butler e a família mal haviam chegado de Salvador, desabou sobre a população tremenda epidemia de febre amarela que durou cinco meses.

De toda parte ouviam-se lamentos. Havia luto, choro e angustia. Os gemidos clamavam aos céus enquanto as vítimas desciam a sepultura. A peste ceifava vidas em quantidade enlutando numerosas famílias. Não havia uma casa em que não houvesse um doente de febre amarela. Morriam, em média oito pessoas por dia. A cidade ficou quase deserta porque o povo fugia espavorido. Desolador o seu estado. No período em que predominou a epidemia, pelo menos 612 desceram à sepultura das quais a maioria eram homens. Há quem diga que morreram mais de 800 pessoas ao todo. Bem se pode imaginar a tristeza e angústia reinantes.


A Estação Ferroviária de Garanhuns, foi inaugurada em 1887 e fazia parte da estrada de ferro do Recife ao São Francisco. Em 1901 foi integrada à rede Sul da Great Western.



Para aquela hora, Deus havia preparado o Dr. Butler. Ele não somente permaneceu na cidade, mas dispôs-se a dar assistência a todos os doentes. Ficou sozinho! O próprio padre, Pedro Pacífico, deixou a cidade abandonando seus paroquianos e foi se proteger no Estado de Alagoas. O Dr. Butler, o herege, transformou-se em “anjo” naquele contexto de sofrimento.

Ele trabalhou com denodo no sentido de minorar as aflições da população, mesmo daqueles que eram seus perseguidores. Dava-lhes remédios e pedia aos crentes que orassem por eles. Quando encontrava uma casa em que não havia quem pudesse prestar socorro aos doentes, nomeava turmas de irmãos que se revezavam e ministravam os medicamentos. A muitos que não tinha alimento, mandava leite para que não morressem de fome. E diariamente, ao meio-dia reunia os crentes para orar, pedindo o socorro divino para a calamitosa tempestade.



Rua Dom José em Garanhuns

Houve uma coisa curiosa que chamou a atenção de todos: nenhum evangélico morreu em consequência da epidemia. Alguns foram atingidos pela doença, mas uma vez medicados, ficaram bons. Isso criou no Dr. Butler a convicção profunda da presença e do poder de Deus em meio a situação. Ele chegou a afirmar, com toda a firmeza do espírito, que a epidemia não era para os crentes. Quando tudo passou, quando a vida começou a voltar à normalidade, lembraram-se eles do versículo bíblico que diz: “ao anoitecer, pode vir o choro, mas alegria vem pelo amanhecer” (Salmo 30.5).


Com a construção da E. F. Sul de Pernambuco, ligando a estação de Paquevira a Alagoas, em 1894, o trecho até Garanhuns transformou-se num ramal, extinto em 1971.

A epidemia tornou-se um marco na vida do Dr. Butler. Depois dela, ele seria visto mais como médico, incansável no afã de fazer o bem, do que como pregador. Os papéis por ele exercidos até o momento sofreram assim uma certa inversão, dadas as tremendas necessidades e carências da época. Ele seria o médico alma de pastor, que amava intensamente as almas, e o pastor com alma de médico, que sentia a aflição do corpo enfermo. As duas atividades eram realizadas a um só tempo. Eram dois trabalhos, duas funções, dois ministérios, com um único propósito: redimir o homem em suas carências físicas, morais, sociais e espirituais.

Ele cria na pregação do evangelho da manhã a noite, tanto em dias da semana como aos domingos. Cria que Deus o usaria como instrumento para salvação de almas. Fazia viagens evangélicas todas as semanas variando a distancia que percorria entre 11 e 94 quilômetros. Pregava sempre três vezes por semana e, as vezes cinco. E fazia ao mesmo tempo todo trabalho que competia ao médico e cirurgião que ele também era. Atendia de três a dez pacientes todos os dias, resolvendo os casos mais variados.

Extraído do Livro A Bíblia e o Bisturi

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