segunda-feira, 2 de março de 2020

O falso evangelho na Sapucaí




Não, o Evangelho não estava na Sapucaí e o que a Mangueira mostrou não é o Cristo das Escrituras. O fato de Cristo ser mostrado entre os pobres não faz disto um retrato do que temos nos evangelhos canônicos. De fato, Jesus se fez carne e se fez pobre. Ele pregou para “periféricos” e escolheu 12 homens comuns para dar continuidade ao seu ministério. Mas…

Não podemos santificar a pobreza e confundir as ideologias sociais com o Evangelho. Cristo foi rejeitado pelos “periféricos” de Nazaré (Veja Marcos 6.1-6). Foi abandonado pela multidão que tinha sido alimentada com pães e peixes quando ele começou a pregar aquilo que eles não desejavam ouvir (Veja João 6). Os pobres estavam na turba dos zombadores no momento da crucificação. Os pobres também gritaram o nome de Barrabás…

Diante do Cristo que é divino e humano, ninguém é justo (Romanos 3.23). Pobres e ricos serão condenados caso não se convertam ao Jesus crucificado e ressurreto para perdoar pecados. Agora não é conversão a discurso ideológico que usa Jesus como um verniz para mascarar a ideolatria que salvará. Isso é auto-engano e só piora a condição de cegueira espiritual do pecador.

Não houve Evangelho na Sapucaí. Houve sincretismo, houve sensualidade, houve blasfêmia e caricatura do Messias. Quem acha que Jesus estava no desfile da Mangueira e se diz cristão está precisando rever se está vivenciando seu cristianismo com as lentes da canonicidade ou das ideologias deste século.

Jesus não pertence a nenhuma ideologia. Ele não está em sambódramos, assim como não está em slogans de governo. Os cristãos no Brasil precisam dar um basta na ideologização da fé. As ideologias passarão. O SENHOR e a sua Palavra jamais passarão.

Ao cristão não compete adotar nenhuma visão ideológica. Ao invés disso, ele deve se portar como peregrino neste mundo, envolvendo-se naquilo que é convergente à ética cristã e desprezando o que fere os princípios bíblicos. A tal denúncia feita ao “sistema capitalista” pela Mangueira pode ter seus pontos legítimos, o problema é a forma como tenta dar as respostas ao sistema econômico vigente.

É importante endossar que as mazelas do capitalismo são oriundas da natureza adâmica e que a alternativa não seria a troca de regime, ou como dizem os socialistas, a revolução. Mudar as estruturas de poder não resultará numa sociedade perfeita, pois o pecado ainda residirá nos corações humanos. Além do mais, a solução sugerida pelo marxismo, quando posta em prática, gerou muito mais injustiças e opressão.

Governos tirânicos assassinaram milhões de pessoas e cercearam a liberdade dos seus cidadãos. Não há um registro positivo na história onde quer que o socialismo tenha sido implantado. A Revolução não é o caminho. A engenharia social é uma tremenda cilada. Biblicamente falando, é possível ter posses – até mesmo enriquecer – e mesmo assim ser alguém justo e que promove o bem para o próximo. Não devemos esquecer o princípio da mordomia cristã que, grosso modo, afirma que o que temos não pertence a nós mesmos.

Com este tipo de mentalidade podemos viver o desapego material, procurar uma vida modesta, sem esbanjar futilidades e fugir do consumismo desenfreado. É possível que um empresário bem-sucedido seja ético e com seu empreendimento promova os valores cristãos, pagando dignamente aos seus funcionários, honrando com seus compromissos fiscais, gerando mais empregos e doando parte dos lucros da empresa para incentivar pesquisas científicas que serão socialmente benéficas, organizações beneficentes e até agências missionárias. Mas isso é assunto para outra hora…

Só seremos sal e luz se vivenciarmos as Escrituras. Misturar Jesus com elementos de esquerda ou da direita só vai custar caro para a Igreja, no futuro. Isso não é salgar, é deixar insosso achando que salgou. Que a Luz de Cristo resplandeça em cada cristão e o torne peregrino rumo a Cidade Celestial, e não sambista rumo a linha de chegada da Sapucaí.


Fonte: Voltemos ao Evangelho.


Autor: Thiago Oliveira é pastor da Igreja Evangélica Livre no Brasil e Professor de Teologia no STPN-Recife. É graduado em Teologia, em História e tem especialização em Ciência Política. É casado com Samanta e pai de Valentina.

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