sexta-feira, 3 de maio de 2013

“Lições Do Casamento De Um Pastor: Charles e Susannah Spurgeon – Parte 3″ por Dr. Gerald Bilkes


Ainda não leu a Parte 1? Leia Aqui.
Ainda não leu a Parte 2? Leia Aqui.

4. A vida deles foi caracterizada pelo temor a Deus, e não aos homens.


Charles entendia quão sagrada era a tarefa da pregação. Ele disse, em 1858, enquanto um jovem pregador, “Eu posso afirmar, e Deus é minha testemunha, que eu nunca temi a face de homem…mas eu frequentemente tremo – na verdade, eu sempre tremo – subir ao púlpito, e não pregar fielmente o evangelho a pobres pecadores perdidos… Ocupar o púlpito não é coisa de criança; aquele que acha que é deverá achar algo mais temível do que o jogo do Diabo no dia do julgamento vindouro.”

Um pouco mais tarde, em 1883, ele disse: “Eu tenho pregado o evangelho agora por mais de trinta anos e… frequentemente, quando subo ao púlpito, eu sinto meus joelhos baterem um no outro, não que eu tenha medo de qualquer um dos meus ouvintes, mas eu penso na prestação de contas que devo a Deus, se eu preguei a Sua Palavra fielmente ou não.”

Apesar de ter sido incrivelmente bem-sucedido como pastor, Charles viu que verdadeiros resultados no ministério vinham apenas de Deus, e que, de fato, ser muito amado e admirado poderia ser algo perigoso. Veja o que ele disse certa vez: “Eu não espero ver tantas conversões nesse lugar como eu vi um ano atrás, quando eu tinha bem menos ouvintes.. um anos atrás eu era insultado por todos… mas Deus me deu centenas de almas… eu não espero ver isso agora. Meu nome é de certa forma estimado… isto me faz temer, para que Deus não me esqueça enquanto o mundo me estima.”

Nos domingos à noite Susannah lia para Charles – e quando ele sentia que não tinha sido um pregador tão fiel quanto ele deveria ter sido naquele dia, ele pedia a ela para ler uma parte do livro de Richard Baxter, O Pastor Aprovado. Enquanto ela lia, dizia Susannah, ela era frequentemente interrompida pelos soluços dele, até que a sua própria voz também falhava de emoção e simpatia, e ela chorava com ele – ele estava chorando porque sua consciência estava aflita com os seus fracassos; e ela, porque o amava e queria compartilhar da tristeza dele.

Esse temor a Deus que era tão evidente na vida de Spurgeon como pastor era certamente um antídoto contra o temor a homens. Isso foi algo que alguém escreveu sobre ele após a sua morte: “Um homem tão maravilhoso, e ao mesmo tempo tão simples… ele não se preocupava com a opinião humana… nós nunca conhecemos um homem público que pensasse tão pouco sobre si mesmo, pois acima de qualquer outra coisa, sua única ambição parecia ser “Como posso exaltar meu Deus?” Eu mencionei anteriormente que Charles esteve envolvido em controvérsias e teve que lidar com muito criticismo durante sua vida de pregação. E muitos dos que o criticaram o fizeram de forma escrita. Susannah admitiu mais tarde que esses ataques foram uma grande aflição que ela teve que suportar. A fim de encorajá-lo, ela tinha os seguintes versos impressos e postos numa moldura para ele: “Bem-aventurados sois quando, por minha causa, vos injuriarem, e vos perseguirem, e, mentindo, disserem todo mal contra vós. Regozijai-vos e exultai, porque é grande o vosso galardão nos céus; pois assim perseguiram aos profetas que viveram antes de vós.” Eles penduraram esse texto no quarto deles, onde Spurgeon poderia lê-lo todos os dias pela manhã e ser fortalecido com isso.

Outro texto que estava no quarto deles era: “provei-te na fornalha da aflição”. Essa perspectiva bíblica certamente os ajudou a focar seus olhos não no mundo dos homens, mas no Deus a quem eles serviam.

5. Charles e Susannah viveram uma vida generosa, confiando na generosidade de Deus.

Após o casamento, Charles e Susannah estabeleceram uma casa muito modesta e viveram de forma bem econômica. Charles já queria ajudar jovens rapazes no ministério, então das suas economias eles contribuiam financeiramente para suportar e treinar tais jovens – desse pequeno começo, eventualmente surgiu a Universidade para Pastor. Susannah dizia que dividia a alegria de seu esposo em começar esse trabalho, e eles planejaram e economizaram juntos para que a obra continuasse. Ela disse que eles tiveram um tempo bem apertado financeiramente, mas depois eles viram que essa tinha sido a forma de Deus prepará-los para ajudar jovens pastores nos anos seguintes. As vezes eles mal tinham dinheiro para as coisas básicas.

Charles queria fazer mais do que ajudar jovens rapazes. Ele também amava ajudar viúvas que precisavam de proteção e crianças que precisavam de educação. Ele construiu uma casa de misericórdia e um orfanato, financiando muito do sistema de aquecimento, luz e outras despesas com seu próprio dinheiro até que o auxílio chegasse de outro local. A atitude dele era a de procurar diversas formas de servir ao próximo, e não esperar que oportunidades chegassem até ele. Ele também encorajava a sua igreja a criar novos ministérios. Eis o que ele certa vez disse à sua congregação: “Queridos amigos, nós somos uma grande igreja, e nós deveríamos estar fazendo mais pelo Senhor nessa grande cidade. Eu quero que nós, hoje, possamos pedir a Deus que ele nos envie novos trabalhos; e se nós precisamos de dinheiro para seguir adiante, oremos para que os meios também sejam enviados.”

É encorajador ver como Deus recompensou esse espírito confiante e generoso da família Spurgeon. Após alguns anos de casamento, quando eles já tinham vivido numa pequena casa por vários anos, foi decidido que eles precisavam de uma casa maior, com um espaço para um grande biblioteca. Alguns do amigos ricos de Spurgeon, que o conheciam o suficiente para saber que eles levavam uma vida muito generosa com o dinheiro, muitas vezes dando cada centavo que sobrava para uma daquelas causas que eles amavam, decidiram que não era justo que os Spurgeons assumissem o custo de uma nova casa, e concordaram em arcar com a maioria das despesas como forma de apreciação por eles.

Eu já mencionei o início do Fundo para compra de livros da senhora Spurgeon. À medida que a ideia de colocar uma cópia do livro de Charles na mão de outras pessoas veio à sua mente, ela lembrou que havia coletado pedaços de coroa por algum tempo e que eles estavam guardados numa pequena gaveta no andar de cima. Ela foi buscá-los e ao contá-los sua soma era exatamento o valor correspondente a 100 cópias do livro. Ela disse que se sentiu qualquer arrependimento de ter se desfeito de sua coleção, tal sentimento se dissipou rapidamente, e ela doou livre e agradecidamente ao Senhor – e naquele momento seu Fundo para compra de livros surgiu. Pobres ministros foram convidados a pedirem uma cópia do livro, e ela recebeu muito mais que 100 pedidos. Ela terminou doando 200 cópias. Mais tarde outros livros também foram distribuidos. Existem muitas histórias interessantes sobre doadores muito generosos que apareceram – os Spurgeons nunca pediram dinheiro, eles esperavam que o Senhor movesse corações que livremente contribuissem com a obra.

Susannah escreveu sobre esse fundo de reservas em 1877: “O Fundo para compra de livros tem sido nutrido e alimentado pelo tesouro do Rei, e eu tenho que me gloriar no senhor pois todas as coisas necessárias para a continuação da obra tem tão somente carregado a estampa do mérito divino. Eu digo isso porque eu nunca pedi a ajuda de alguém senão a Dele, nunca solicitei doações de qualquer criatura, e mesmo assim dinheiro sempre veio e provisão constantemente vem no momento e quantidade necessário.”

Ela escreveu muito sobre esse fundo, logo, você pode ler mais a respeito caso deseje – mas só para dar uma ideia do tamanho desse ministério, seu ultimo relatório anual de trabalho, dos anos de 1901 e 1902, mostraram que nos 27 anos em que ela fez isso, 199.315 valiosos livros teológicos tinham sido colocados nas mãos de pregadores que eram pobres para comprá-los. Essa foi uma obra conquistada por uma senhora inválida, e ela continuou a fazê-la mesmo após a morte de Charles.

Eventualmente um amigo deu a Susannah certo dinheiro para ajudar os pobres, e com o seu marido e outros amigos também colaborando, foi criado o Fundo de Auxilio Pastoral. Mais tarde, dois amigos deram a ela dinheiro para começar a distribuir uma revista, A espada e a pá, para ministros que não tinham condições de adquirí-la. E então seu ministério continuou, e os Spurgeons tiveram muitas oportunidades de ver a mão maravilhosa de Deus provendo recursos para os trabalhos as vezes de maneira até miraculosa.

Essa citação de Charles parece resumir a atitude que os Spurgeons tinham sobre o ministério que eles levavam com o mundo ao redor deles: “Quando você lamentar a iniquidade do mundo, não deixe as suas emoções terminarem em lágrimas; mero choro não fará nada sem ação. Fiquem de pé, vós que tendes voz e conhecimento, vá e pregue o evangelho, pregue em cada rua e canto dessa grande cidade; vós que tendes riquezas, vá e use-as com os pobres, doentes, necessitados, com os que estão à beira da morte, os analfabetos, e os ignorantes; vós que tendes poder de oração, vá e ore; vós que sabeis manusear a caneta, vá e escreva as iniquidades cometidas – cada homem no seu posto, cada um com a sua arma nesse dia de batalha; agora por Deus e por sua verdade; por Deus e pelo o que é justo; que cada um de nós que conhecemos o Senhor possamos lutar usando o Seu estandarte!”

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*Esse artigo é uma palestra ministrada pelo Dr. Gerald Bilkes às esposas dos estudantes do Puritan Reformed Theological Seminary, gentilmente revisada e adaptada à forma escrita pelo autor especialmente para ser publicado no blog Mulheres Piedosas.

Dr. Gerald Bilkes é professor de Teologia Bíblica e Novo Testamento no Puritan Reformed Theological Seminary. Ele completou seu doutorado (2002) no Princeton Theological Seminary. Ele era beneficiário de uma bolsa para pesquisa da Agência de Informação dos Estados Unidos no Instituto Albright (ASOR) em Jerusalém durante o ano de 1997-1998. Ele tem escrito vários artigos sobre temas bíblico-teológicos e tem palestrado em várias conferências. Suas áreas de interesse especial incluem hermenêutica, a história da interpretação e conversão na Bíblia. Ele e sua esposa, Michelle, tem cinco filhos: Lauren, Seth, Zachary, Audrey, e Josué.

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** Tradução: Roberta Macedo

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