quinta-feira, 14 de abril de 2016

Uma declaração da cosmovisão reformada

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Apresento de modo sistemático uma declaração da cosmovisão reformada. Este é um resumo de como interpretamos o mundo a partir de uma perspectiva calvinista, os acontecimentos e como a vida está sob o governo e relacionada com o soberano Deus, e como todos os valores se organizam a partir dele.


1. Cremos que Deus é um Ser em três Pessoas: Pai, Filho e Espírito Santo. O nosso Deus é infinito, eterno, perfeito, autossuficiente e imutável em seu Ser. Ele em tudo manifesta a sua bondade, conhecimento, sabedoria, poder, e a justiça segundo o seu soberano propósito eterno. Ele é o criador de tudo o que existe, pela Palavra do seu poder. Ele realiza, em tudo e todos, a sua sábia providência, de modo que, não existe acaso, nem fatalismo nos acontecimentos que vivenciamos, mas o absoluto controle em cada situação é a realização da sua perfeita vontade. Tudo o que ele realiza é reflexo daquilo que ele é. As nossas vidas e nossas famílias estão seguras em suas misericordiosas mãos.

2. Cremos que o nosso Deus é pessoal. Ele se revelou através de homens escolhidos, de eventos em diversos momentos e finalmente em seu Filho, e tudo o que é proveitoso para desvendar o seu Ser e a sua vontade, ele inspirou de modo escrito, para evitar a corrupção e o engano. Ele fez que se registrasse a sua Palavra progressivamente, para que se tornasse o livro de mediação e revelação das suas obras e do seu propósito conosco. Hoje, Deus fala verbalmente conosco somente na sua inspirada Palavra, pois, cessaram os agentes revelacionais [apóstolos e profetas], as modalidades revelacionais e a entrega de novas revelações. Por isso, submetemo-nos somente à autoridade da Escritura Sagrada como sendo a única fonte e regra de fé e prática. Somente ela é a inerrante, clara e suficiente Palavra de Deus. Em sua Palavra, Deus o padrão absoluto da verdade, bem como explica a origem do universo, da vida e das espécies, quem somos, qual o propósito da nossa vida, indicando a finalidade de toda a existência que é glorificá-lo e desfrutar dos benefícios da sua comunhão.

3. Cremos que o ser humano é criado à imagem de Deus. Deus criou a humanidade: homem e mulher, e ambos de igual modo refletem com dignidade espiritual os atributos que Deus lhes comunicou e, também representam o Senhor como administradores responsáveis de preservar e usufruir da criação. Tanto o homem como a mulher, são iguais em capacidade e responsabilidades; mas o homem deve exercer a sua autoridade como cabeça sobre a mulher, e esta liderança masculina deve ser sem opressão, nem omissão, pois, embora tendo diferentes papéis, exercem funções complementares. O casamento faz parte do projeto pactual de Deus conosco, por isso, a união entre Cristo e a Igreja é o paradigma do casamento. O casamento, entre um homem e uma mulher adultos, é um valor ético que devemos nutrir e defender contra toda ideologia de gênero e os intentos pós-modernos de reconfigurar a família.

4. Cremos que Deus fez uma aliança de vida com Adão. Como o nosso primeiro pai, ele foi o nosso representante nesta aliança. Todavia, sendo Adão tentado por Satanás, ele violou este pacto ao desobedecer um claro comando de Deus, perdendo a comunhão espiritual e todos os seus benefícios prometidos. Toda criação que era “muito boa” tornou-se corrompida em seu sistema ecológico. Sobre toda a humanidade foi creditada esta maldição, o pecado é a herança natural que todos recebem de Adão. Por causa deste mal moral todos perderam a santidade, a justiça e o conhecimento perfeito de Deus. O pecado produz inimizade, perda de significado, e por fim, a vergonhosa morte. Embora corrompidos, ainda somos portadores da imagem de Deus.

5. Cremos que Satanás e seus demônios, agentes do mal, conspiram contra tudo o que procede de Deus. Ele tentou os nossos primeiros pais, e os induziu a rebelião contra Deus, e nos confronta tentando seduzir-nos, despertando a nossa cobiça e aguçando o nosso orgulho. Ele é soberbo, assassino, acusador, e inimigo de Deus. Satanás não é co-igual a Deus, pelo contrário, ele é uma criatura submissa ao controle soberano do Senhor. O nosso acusador está condenado, e haverá de ser banido ao sofrimento eterno sob a justa ira no juízo de Deus.

6. Cremos que o mal é tão real quanto indesejável o sofrimento por ele produzido em toda a criação. Entretanto, o mal físico é parte da consequente maldição do pecado herdado dos nossos primeiros pais. O pecado gera desordem e destruição no indivíduo e sociedade. Todavia, não acreditamos que Deus seja mero espectador da presença do pecado na história da humanidade, mas de modo misterioso participante de tudo o que acontece, sem ser o culpado do pecado, e sem anular a responsabilidade do pecador. Cremos que todas as coisas, em especial aquelas que parecem escombros depois da destruição do pecado, são matéria-prima que Deus está usando para transformar a nossa vida, conforme à imagem de Cristo, em seu louvor e glória.

7. Cremos que o nascimento de Jesus Cristo teve o propósito de reconciliar pecadores escolhidos com o santo Deus. Sendo o Filho de Deus uma Pessoa que subsiste em duas naturezas, divina e humana, é o completo e final revelador entre Deus e os homens. O sofrimento, obediência, morte e ressurreição de Cristo obtiveram a justiça necessária para merecer-nos a aceitação de Deus, bem como a suficiente satisfação da sua ira, realizando a anulação da condenação pelos nossos pecados. Somos perdoados pela justiça e amor de Cristo Jesus, o nosso mediador. Ele eficazmente intercederá por nós até a Sua segunda vinda. A obra de Cristo é o fundamento para a renovação de toda a criação pela presença espiritual e transformadora do Seu reino, que foi inaugurado.

8. Cremos que o Espírito Santo inicia a obra da salvação em nós, regenerando e concedendo-nos entendimento espiritual para crermos em Cristo como o nosso salvador. Recebemos no poder do Espírito, e pela aplicação da Palavra de Deus em nós, o dom da fé salvadora e arrependimento necessário para a nossa conversão. Em Cristo a justificação é declarada e creditada a nós. Através da adoção somos feitos participantes da família de Deus. A santificação estimulada pelo Espírito e, exercida em nossos pensamentos, emoções e ações confirmam a nossa eleição e filiação divina. Somos preservados em graça, pelo poder de Deus, para sermos continuamente salvos até o fim. Deus tem uma graciosa Aliança da graça conosco e os nossos filhos, tendo o Senhor Jesus como o nosso único mediador.

9. Cremos que o Espírito Santo está presente em nós num relacionamento pactual conosco, habitados por ele, somos batizados no Corpo de Cristo. Ele continua a pairar acima do caos causado pelo pecado, todavia, sem estar alienado ao mal que há no mundo, mas convence-nos da justiça e do juízo, e concede forma à nova criação e fazendo-nos novas criaturas pela regeneração. O Espírito nos une como Igreja, capacitando-nos com dons para o serviço e edificação pela prática da comunhão mútua. Ele testemunha internamente, pela iluminação da Palavra de Deus, e somos continuamente santificados sob a sua poderosa influência. Toda a sua obra tem a finalidade de glorificar a Cristo.

10. Cremos que a Igreja é responsável de ser testemunha da verdade e do amor de Deus neste mundo afetado pelo pecado. Somos o povo escolhido para proclamarmos a mensagem de reconciliação e perdão, convidando pecadores ao arrependimento, para confiarem na suficiência de Cristo para a sua salvação. Temos o compromisso de ouvir, viver e ensinar a Palavra de Deus. A salvação não é somente da nossa alma, mas da nossa mente, cultura e sociedade, apresentando o evangelho integral para o homem em todas as suas necessidades. Cuidamos uns dos outros no amor de Deus, vivendo uma comunhão de reciprocidade e compromisso, proporcionando um ambiente de fraternidade e santidade. A Igreja visível é a comunhão daqueles que professam Cristo como o Senhor, reunidos para a celebração, a adoração, a comunhão, edificação e serviço. Buscamos intimidade com Deus através da Palavra, oração e dos sacramentos e, confirmamos a nova aliança com Deus simbolizada pelo do batismo e ceia do Senhor. A imagem de Deus é vivida na mutualidade dos relacionamentos.

11. Cremos que o objetivo histórico da obra de Cristo foi a inauguração do seu reino sobre a terra. Isto inclui a salvação de indivíduos, bem como uma nova ordem na sociedade. Todavia, cremos que somente com os valores do reino de Deus, num discipulado integral, em que os cristãos se envolvem produtivamente em todas as áreas da vida, podendo participar pelo processo de restauração, transformação e desenvolvimento, reconhecendo Cristo como o Senhor em todas as esferas da nossa existência.

12. Cremos que este mundo experimenta a deterioração dos valores que Deus estabeleceu para preservá-lo. A falta de sentido e propósito também produz a desesperança. A sociedade busca a sua redenção na tecnologia, cultura, política, economia e no sexo, todavia, estes meios são ineficazes de transformá-la construtivamente. Reconhecemos que várias formas de idolatria são fabricadas pela cultura pós-moderna. Mas, infelizmente, a sociedade inclina-se a não reconhecer a verdade como absoluta, ridicularizando a concepção e a ação de Deus no mundo. Estamos chegando ao fim da história humana não em direção ao desespero e caos, mas à consumação do propósito eterno de Deus. Cristo Jesus julgará toda a humanidade de todas as épocas e culturas, a uns dará a salvação segundo a sua misericórdia, e a outros segundo a sua justiça concederá a merecida condenação dos seus pecados.

13. Cremos que o nosso mundo pertence a Deus. Apesar de toda miséria e dor, todas as coisas estão sob o seu absoluto controle. A nossa esperança de uma nova terra não está presa ao que os homens podem fazer, porque cremos que após o dia do Juízo, todo desafio ao governo de Deus, e toda resistência a sua vontade será anulada, o seu reino, que é inaugurado entre nós, se manifestará em sua plenitude, e o nosso Senhor Jesus governará para sempre com o seu povo. Assim “Deus enxugará dos olhos toda lágrima”, Ele abolirá as nossas enfermidades, findará os nossos conflitos, e implantará a Sua perfeita justiça sobre a terra.

A cosmovisão cristã deve ser implantada pela influência da Igreja em todas as esferas da sociedade. O verdadeiro cristianismo propõe que crer e também pensar. Em tudo dependemos de Deus, para ele vivemos e a ele pertencemos, e isso só é possível se a nossa mente for dominada com a verdade (Rm 11:33). A mentira de que a fé não precisa da razão deve ser desprezada, e afirmado que a razão sem a fé se torna em loucura (Rm 1:22-23). James Orr acertadamente disse que “uma religião divorciada do pensamento rigoroso e elevado pode ser vista no curso inteiro da história da Igreja, e por isso, ela sempre tendeu a ser débil, árida e pouco saudável; bem como o intelecto privado de seus direitos dentro da religião, buscou a sua satisfação fora dela, e se transformou num racionalismo secular”. Este é um erro que não podemos repetir. Cada membro de nossa igreja precisa se convencer de que uma fé vigorosa somente glorifica a Deus se ela estiver comprometida com toda a verdade. A finalidade da nossa vida é glorificar a Deus, e a nossa mente não pode ser desprezada no desemprenho deste dever, porque como disse: crer é também pensar!

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Autor: Rev. Ewerton B. Tokashiki
Fonte: Estudantes de Teologia

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