Por Kevin DeYoung
Eu não nego que os versos sobre refrear a intimidade sexual são palavras difíceis de se dizer a pessoas que se sentem atraídas por pessoas do mesmo sexo e para seus amigos e família. Jesus tinha jeito para dizer coisas difíceis. Ele falou aos seus discípulos que não era suficiente simplesmente confessar as coisas certas sobre o Messias. Se eles eram realmente discípulos, eles tinham que negar a si mesmos, tomar a sua cruz e segui-lo (Mateus 16.17, 23, 24). Tente salvar a sua vida e irá perdê-la. Esteja disposto a perder sua vida e irá encontrá-la (v. 25). A graça que nos guia a dizer sim para o nosso Maravilhoso Deus e Salvador Jesus Cristo também exige que reneguemos a impiedade e as paixões mundanas. (Tito 2.11-14).
Morrer para si mesmo é o dever de todo seguidor de Cristo. Eu tenho as minhas próprias lutas, meus próprios pecados, o meu próprio sofrimento. Todos nós temos. Todos nós fomos distorcidos pelo pecado original. Todos mostramos sinais de “não estar do jeito de deveria ser”. Todos gememos pela redenção dos nossos corpos (Romanos 8.23). Todos ansiamos pela criação se tornar livre da sua escravidão da corrupção e se tornar livre na glória dos filhos de Deus (v.21). Isso não minimiza a luta daqueles que sentem atração por pessoas do mesmo sexo, mas maximiza o sentido em que somos mais semelhantes do que diferentes. Tristeza e gemido, anseio e lamento, triste mas alegres – essa é a vida que vivemos, entre dois mundos. A igreja sabe há muito tempos sobre a dor da perseguição, da infertilidade, da traição, da injustiça, do vício, da fome, da depressão, da morte. A igreja está só começando a aprender sobre a dor de viver com uma indesejada atração por pessoas do mesmo sexo. Para um número cada vez maior de cristãos, essa é a cruz a ser carregada.
Mas elas não deve ser carregada sozinha. Solteirice – e isso será parte da obediência para muitos que experimentam dessa atração – não significa que você deverá viver sozinho, morrer sozinho, nunca segurar uma mão, nunca abraçar, nunca saber o que é o toque de um outro ser humano. Se dissermos a um cristão solteiro para ser casto, somente podemos pedir que ele carregue essa cruz em comunidade. Talvez sozinho não seja o melhor termo para aquele de quem esperamos que vida sua vida inteira no meio de amigos e colaboradores. Se Deus dá um lar ao solitário, então nós também devemos fazê-lo (Salmo 68.6 NVI). Com abertura sobre a luta e em direção à ela, esses cristãos em nosso meio que sentem atração por pessoas do mesmo sexo não precisam ser isolados, impotentes e sem esperança.
Mas é claro que nada disso é possível sem desenraizar a idolatria do núcleo familiar, que reina em muitas igrejas conservadoras. A trajetória do Novo Testamento relativiza a importância do casamento e do parentesco biológico. Um cônjuge e uma minivan cheia de crianças à caminho da Disneylândia é um doce presente e um deus terrível. Se tudo na comunidade cristã se resume em torno de casamento e filhos, não deveríamos ficar surpresos quando a castidade soa como sentença de morte.
Se esse é o desafio da igreja, que precisamos em nossa cultura é de uma profunda desmitologização do sexo. Nada na Bíblia nos encoraja a dar um lugar de honra ao sexo como há em nossa cultura, como se encontrar propósito, identidade e plenitude depende do que podemos ou não fazer com nossas partes íntimas. Jesus é o melhor exemplo do que é ser um ser humano, e ele nunca fez sexo. Como podemos pensar que a mais intensa e emocional atração e os mais completos aspectos da vida só podem ser expressados por meio de uma intimidade sexual?
Na visão cristã do céu, não há casamento na era vindoura (Lucas 20.34-35). Intimidade conjugal é apenas uma sombra de uma realidade mais brilhante e gloriosa, o casamento de Jesus Cristo com a sua noiva, a igreja (Apocalipse 19.6-8). Se a intimidade sexual não é nada lá em cima, como podemos fazer com que seja tudo aqui? Seria terrivelmente injusto se a igreja dissesse para essas pessoas que sentem desejo por pessoas do mesmo sexo que elas não são plenamente humanas e que não podem viver uma vida plenamente humana. Mas se o fim principal do ser humano é definido por algo além do sexo, as coisas difíceis que a Bíblia tem a dizer para essas pessoas que sentem atraídas por pessoas do mesmo sexo não é materialmente diferente do que as coisas difíceis que ela tem a dizer para todas as outras pessoas.
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Traduzido por Marianna Schulz no Reforma21
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