quarta-feira, 16 de julho de 2014

A eficácia do controle exercido por Deus

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Por John Frame


Dizer que o poder controlador de Deus é eficaz é simplesmente dizer que esse poder sempre realiza o seu propósito. Deus nunca deixa de cumprir o que se dispõe a fazer. É certo que as criaturas podem opor-se a ele, mas não podem prevalecer. Por seus próprios motivos, ele decidiu adiar o cumprimento das suas intenções para o fim da História, e conduzir essas intenções através de uma complicada sequência histórica de acontecimentos. Nessa sequência, às vezes os seus propósitos parecem sofrer derrota, e às vezes obtêm vitória. Mas, como veremos posteriormente na nossa discussão sobre o problema do mal, cada aparente derrota torna de fato a sua vitória final supremamente gloriosa. É evidente que a cruz de Jesus é o principal exemplo desse princípio. 

Nada é difícil demais para Deus (Jr 32.27); nada lhe parece maravilhosos demais (Zc 8.6); nada lhe é impossível (Gn 18.14; Mt 19.26; Lc 1.37). Desse modo, os seus propósitos sempre prevalecerão. Contra a Assíria, ele diz:

"Jurou o SENHOR dos Exércitos, dizendo: Como pensei, assim sucederá, e, como determinei, assim se efetuará. Quebrantarei a Assíria na minha terra e nas minhas montanhas a pisarei, para que o seu jugo se aparte de Israel, e a sua carga se desvie dos ombros dele. Este é o desígnio que se formou concernente a toda a terra; e esta é a mão que está estendida sobre todas as nações. Porque o SENHOR dos Exércitos o determinou; que pois, o invalidará? A sua mão está estendida; quem, pois, a fará voltar atrás?" (Is 14.24-27; cf. Jó 42.2; Jr 23.20).

Quando Deus expressa com palavras os seus propósitos eternos, por intermédio dos seus profetas, essas profecias certamente acontecerão (Dt 18.21-22; Is 31.2).[1] Às vezes Deus apresenta a sua palavra como o seu agente ativo que inevitavelmente cumpre a sua determinação:

"...[assim como descem a chuva e a neve dos céus] assim será a palavra que sair da minha boca: não voltará para mim vazia, mas fará o que me apraz e prosperará naquilo que designei" (is 55.11; cf. Zc 1.6). 

E o sábio mestre nos lembra:

"Não há sabedoria, nem inteligência, nem mesmo conselho contra o SENHOR" (Pv 21.30; cf. 16.9; 19.21)

A Escritura fala muitas vezes sobre o propósito de Deus em termos "do que lhe agrada" ou do que "o que é da vontade". O que agrada a Deus certamente será realizado:

"... que digo: o meu conselho permanecerá de pé, farei toda a minha vontade" (Is 46.10)

"Todos os moradores da terra são por ele reputados em nada; e, segundo a sua vontade, ele opera com o exército do céu e os moradores da terra; não há quem lhe possa deter a mão, nem lhe dizer: Que fazes?" (Dn 4.35)

"Por aquele tempo, exclamou Jesus: Graças te dou, ó Pai, SENHOR do céu e da terra, porque ocultaste estas coisas aos sábios e instruídos e as revelastes aos pequeninos. Sim, ó Pai, porque assim foi do teu agrado" (Mt 11.25-26). 

"... (e em amor) nos predestinou para ele, para adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade" (Ef 1.5; cf. 1.9).[2]

Para ilustrar a eficácia dos propósitos de Deus na nossa vida, a Escritura faz uso da figura do oleiro e do barro (Is 29.16; 45.9; 64.8; Jr 18.1-10; Rm 9.19-24). Com a mesma facilidade com que o oleiro molda seu barro, fazendo um vaso para um propósito e outro vaso para outro propósito, assim Deus age nas pessoas. Seu propósito prevalecerá, e o barro não tem nenhum direito de queixar-se com o oleiro a respeito disso.

A eficácia geral do propósito de Deus forma o pano de fundo para a doutrina reformada da graça irresistível. Como mencionamos anteriormente, os pecadores de fato resistem aos propósitos de Deus; esse é, na verdade, um tema significativo da Escritura (Is 65.12; Mt 23.37-39; Lc 7.30; At 7.51; Ef 4.30; 1Ts 5.19; Hb 4.2;12.25). Mas o ponto visado pela doutrina é que a resistência deles não prevalece contra o SENHOR. Quando Deus tenciona levar alguém para a fé em Cristo, ele não pode deixar de fazer isso, embora, pelos seus próprios motivos, ele decida lutar com a pessoa por longo tempo antes de atingir esse propósito.[3] Mais adiante, nesse precede a nossa resposta de fé, e é sempre origem desta. Também veremos que Deus chama eficazmente pecadores para entrarem em comunhão com ele. Teremos que discutir amplamente a natureza da resistência humana na nossa consideração posterior da responsabilidade e liberdade características da criatura.

Mas a Escritura ensina normalmente que, quando Deus elege, chama e regenera alguém em cristo, mediante o Espírito, essa obra realiza o seu propósito salvífico. Quando Deus dá àqueles que são seus um novo coração, é certo e seguro que eles "andem nos meus estatutos, e guardem os meus juízos, e os executem" (Ez 11.20; cf. 36.26-27). Quando Deus nos dá nova vida (Jo 5.21), não podemos devolvê-la a ele. Disse Jesus: "Todo aquele que o Pai me dá, esse virá a mim" (Jo 6.37). Se Deus pré-conhece alguém (isto é, se é seu amigo, como veremos abaixo), ele certamente o predestinará para conformar-se à semelhança de Cristo, para ser chamado, justificado e glorificado no céu (Rm 8.29-30). "[Deus] tem ele misericórdia de quem quer e também endurece a quem lhe apraz" (Rm 9.18; cf. Êx 33.19). Os crentes podem dizer: Deus não nos destinou para a ira, mas para alcançar a salvação mediante nosso Senhor Jesus Cristo (1Ts 5.9). O salmista acrescenta:

"Bem aventurado aquele a quem escolhes e aproximas de ti, para que assista nos teus átrios; ficamos satisfeitos com a bondade de sua casa - o teu santo templo" (Sl 65.4)

Portanto, como acontece com a sua palavra, a graça de Deus nunca voltará vazia a ele.

Podemos resumir o ensino bíblico acerca da eficácia do governo de Deus com as seguintes passagens, que falam por si mesmas:

"O conselho do SENHOR dura para sempre; os desígnios do seu coração, por todas as gerações" (Sl 33.11)

"No céu está o nosso deus e tudo faz como lhe agrada" (Sl 115.3)

"Tudo quanto aprouve o SENHOR, ele o faz, nos céus e na terra, no maus e em todos os abismos" (Sl 135.6)

"... nenhum já que possa livrar alguém das minhas mãos; agindo eu, que o impedirá?" (Is 43.13)

"Estas coisas diz o santo, o verdadeiro, aquele que tem a chave de Davi, que abre, e ninguém fechará. e que fecha, e ninguém abrirá" (Ap 3.7)

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Notas:
[1] Nas Escritura, nem toda profecia é expressão do propósito eterno de Deus. Algumas profecias indicam o que Deus fará em várias situações possíveis. Portanto, às vezes ele anuncia juízo, mas "se arrepende" quando as pessoas se arrependem: ver Jr 18.5-10. [...] Ver também Richard Pratt, "Prophecy and historical contingence", em www.thirmill.org.
[2] Certo é que há também na Escritura muitos exemplos de criaturas que desagradam a Deus por desobedecerem aos seus mandamentos, desse modo deixando de estar à altura dose seus padrões. Aqui é importante a distinção reformada tradicional entre a vontade decretiva e a vontade preceptiva (ou, nesse caso, o que agrada a Deus). Deus sempre realiza o que ele ordena que aconteça, mas nem sempre ordena que seus preceitos, seus padrões, sejam seguidos. Em outras palavras, às vezes lhe apraz ordenar seu próprio desprazer, como quando ele ordena as ações pecaminosas dos seres humanos.
[3] Há também situações nas quais pessoas que parecem eleitas abandonam Deus e, com isso, provam que não pertencem aos seu povo. Também há casos em que Deus escolhe alguém sem a intenção de lhe dar os benefícios completos da salvação. Judas é um exemplo (Jo 6.70), como também o é Israel, que, por sua incredulidade, perdeu sua posição especial como nação eleita de Deus.
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Fonte: FRAME, John. A Doutrina de Deus; São Paulo: Cultura Cristã, 2013. 53-55
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