sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Um clamor pessoal aos pastores mais velhos

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Por Yago Martins

Eu sou um jovem pregador. Bem mais jovem do que gostaria. Comecei a receber convites para pregar em outros estados com 16 ou 17 anos, mas nunca atendi aos chamados. Meus pais não deixavam. Era algo sobre venderem meus rins, não lembro bem. Assim que completei 18, passei a rodar o país levando a Palavra de Deus em igrejas de todo o tipo. Todo mesmo. Preguei lado a lado de liberais, ministrei após atos proféticos e ensinei sobre música na igreja depois do grupo de louvor cantar clássicos como “Sabor de Mel” e “Campeão, Vencedor”. Foi tenso.

Então, comecei a ter algum destaque. Ou o destaque veio antes. Nem sei direito. Sei que meus vídeos começaram a ser mais bem visualizados e as viagens se tornaram muito frequentes. Chegava a fazer três viagens por mês. Os vídeos tinham dezenas de milhares de visualizações. Meus textos bombavam. As pessoas me reconheciam na rua, no shopping, no provador de roupas da loja, na máquina de PUMP e no trânsito.

Virei, arg!, uma pessoa pública.

Então, eu comecei a ser uma ameaça. Eu nunca imaginei que isso fosse acontecer, mas outros ministros, mais velhos e menos reconhecidos, começaram a olhar para mim com algum tipo de desprezo. Eu havia percebido algo estranho, mas não sabia o que era.

Eu era um jovem, sem formação acadêmica, famoso. Os que estavam lutando no mestrado ou doutorado me viam como um afronta. Eu era um jovem, com 18 anos, rodando o país. Os que possuíam décadas de ministério me viam como um disparate. Eu era um jovem, sem grandes feitos, reconhecido. Os que tinham histórias de vida para contar me viam como uma fraude. Pessoas me confessando que determinadas atitudes foram motivadas por inveja pessoal começou a se tornar frequente.

Mas eu não percebi.

Eu continuava tentando me assentar aos pés dos mais velhos para aprender. Eu continuava tentando servir como eu podia onde eu estava. Eu continuava admirando os que já estavam há anos no ministério. Ao invés de me enturmar com os jovens, sempre tentei estar na roda de conversas dos anciãos, tentando encontrar ensino. Nunca tentei responder aos desprezos e ofensas por que eu nem sabia que este tipo de coisa acontecia.

De uns meses para cá, então, algumas coisas vieram à tona. Amigos que contaram de conversas que ouviram. Certos e-mails foram encaminhados para mim. Reuniões de pastores foram feitas tendo meu nome como a única pauta. Homens que eu admirava começaram a me tratar mal. Muitos começaram a se opor publicamente ao meu ministério, aos meus vídeos e até ao meu evangelismo.

Então, meu coração pecaminoso começou a germinar sementes de amargura que se manifestavam de duas formas. Primeiro, como revolta. Comecei a olhar para os pastores mais velhos que eram contra meu ministério com um tipo de ódio mudo. Ora, se meu vlog não é bom o suficiente, por que eles não vêm e fazem no meu lugar? Por que eles não vão lá nas igrejas neopentecostais pregar no meu lugar, então? Por que eles não vão lá nas escolas evangelizar os estudantes, oras? Depois, se manifestou como desânimo. Eles têm razão, eu deveria buscar o anonimato. Acho que vou deletar meu vlog. É, isso que eu faço não é mesmo um ministério de verdade. Já cheguei a deletar este blog uma vez e parei por mais de um ano de gravar meus sermões.

Mais algumas coisas me foram distas por estes dias, e esta foi a semana onde cheguei mais perto de deletar tudo que eu tenho na internet e ir viver como um anônimo evangelista por entre as escolas do Ceará. Ou então como um anacoreta, não decidi ainda.

Resolvi, então, escrever este desabafo. Não que eu ache prudente sair contando da própria vida na internet. Mas acho que isso pode alertar ministros mais jovens do que pode acontecer com eles. Também escrevo para que os mais velhos saibam dos efeitos de seus desprezo em outros líderes mais jovens. No entanto, acima de tudo, escrevo para fazer um clamor aos mais maduros:

Pastores e ministros mais velhos, ajudem os mais jovens. Por favor, nos ajudem. Se é o ímpeto da juventude nos ajuda a fazer mais coisas que vocês, é este mesmo ímpeto que nos faz meter os pés pelas mãos, muitas vezes. Se é a falta de experiências de vida que nos faz não ter os mesmos vícios e barreiras que os mais velhos, é esta mesma falta de experiência que nos leva a cometer erros básicos. Se a falta de formação nos torna mais sinceros e honestos em nossas colocações, isto também nos torna errados e rasos em muitos pontos. Pastores mais velhos, permitam-nos seus pés.

Robert Carver, que é mais velho, chama a atenção para alguns pontos importantes no relacionamento dos mais velhos para com a geração mais nova, o que levemente parafraseio abaixo:

1. Ame-nos genuinamente e pacientemente. A geração de ministros mais novos precisa saber que a geração de ministros mais velhos não está distante dela. Se a igreja é um corpo formado por muitos membros, tanto jovens quanto idosos, todos são valiosos para o funcionamento do corpo. Em Efésios 4, Paulo descreve os santos como aqueles que crescem da imaturidade espiritual “à perfeita varonilidade, à medida da estatura da plenitude de Cristo” (v. 13). Este processo é realizado “segundo a justa cooperação de cada parte, efetua o seu próprio aumento para a edificação de si mesmo em amor” (v. 16). Ao nos amar, vocês exercerão um impacto real sobre nós, jovens. “Amai-vos, de coração, uns aos outros ardentemente” (1 Pe 1:22). Não hesite em nos dizer que nos ama (coletivamente e individualmente). Amar-nos genuinamente e pacientemente é amar-nos como Deus nos ama.

2. Compartilhe conosco o que é mais importante para você. Nós precisamos ver o seu amor apaixonado pela Palavra de Deus. Ela te instrui, te guia, te encoraja, te convence. É um componente vital do seu dia a dia. “Do mandamento de seus lábios nunca me apartei, escondi no meu íntimo as palavras da sua boca” (Jó 23:12). Compartilhe passagens específicas que ocorreram em sua vida recentemente. Também transmita que a oração é outra coisa essencial sem a qual os cristãos não podem viver. Ore conosco e por nós. O testemunho de Paulo sobre Epafras era: “se esforça sobremaneira, continuamente, por vós nas orações, para que vos conserveis perfeitos e plenamente convictos em toda a vontade de Deus” (Cl 4:12). Exorte-nos a lutar incansavelmente na batalha contra o pecado. Encoraje-nos a fugir de paixões da juventude (2 Tm 2:22) que guerreiam contra a alma (1 Pe 2:11). Além disso, desafie-nos a ver Deus agindo em todos os acontecimentos, incluindo os detalhes de suas vidas. Encoraje-nos a agradecerem a Deus constantemente por isso e a dar toda a glória a Ele.

3. Invista em nós. Compre para nós livros que tiveram um impacto espiritual em sua vida, e se ofereça para estudar esses livros conosco. Ofereça-se para nos levar a conferências e a outros eventos cristãos. Os investimentos vocês fazemos em nossas vidas espirituais resultarão em ganhos eternos. “Lança o teu pão sobre as águas, porque depois de muitos dias o acharás” (Ec 11:1).

Ajudem-nos. Assim como seu desprezo e concorrência podem nos atrapalhar no ministério e nos transformar em pessoas amarguradas, seu incentivo, correção, repreensão amorosa, cuidado, amor e carinho nos darão forças para crescermos como ministros melhores, mais fiéis e mais dignos do Senhor.

Fonte: Blog do autor

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