Por D.A. Carson
Deus ama a todos, não? Ele não faz chover sobre justos e injustos? Mas ele não amou a Jacó e Israel e rejeitou Esaú e os gentios? O amor de Deus é incondicional, não é? Mas, não precisamos permanecer em seu amor?
Confuso? Neste vídeo, D. A. Carson, palestrantes da Conferência Fiel de 2013, apresenta o que ele chamou de “A Difícil Doutrina do Amor de Deus“ mostrando as cinco formas em que a Bíblia fala do amor de Deus.
Se você quer se aprofundar nesse assunto leia outros materiais do Carson:
- Livro A Difícil Doutrina do Amor de Deus (leia alguns trechos selecionados aqui)
- Capítulo 9 do livro O Deus Presente
Transcrição
Este amor na deidade, este chamado amor “intra-trinitariano”; se pode-se referir a Deus como a Trindade, então é o amor entre os membros da divindade é perfeito. E cada um que é amado, é amável. Não é como se o Pai dissesse ao Filho: “Francamente, você é um caso perdido, mas eu o amo mesmo assim.” O Filho é perfeitamente amável. E o Pai é perfeitamente amável. E eles amam um ao outro perfeitamente. Esta é uma maneira que a Bíblia fala do amor de Deus.
Outra maneira é esta: O amor de Deus pode ser apresentado em uma espécie de contexto providencial. Nos é dito que Deus enviou seu Filho e seu reino sobre justos e injustos. Isto é, é um amor providencial e não discriminatório. É um amor amoral; não imoral, mas amoral. Ele sustenta a ambos. De fato, no Sermão do Monte Jesus pode usar este fato para dizer: “Se Deus pode enviar seu Filho e seu reino sobre os justos e injustos, então vocês não deveriam fazer todas estas finas distinções sobre quem é seu amigo e quem é seu inimigo, e amar apenas seus amigos e odiar seus inimigos!” Então em certo sentido o amor de Deus pode se estender tão generosamente tanto para amigos quanto para inimigos. Este é outro contexto.
E outra maneira que a Bíblia fala do amor de Deus é esta: Às vezes ela fala do amor de Deus em uma espécie de sentido moral, convidativo, mandatório, ansioso. Então você encontra Deus falando a Israel no Antigo Testamento, quando a nação está especialmente perversa dizendo: “Convertei-vos, convertei-vos! Por que morreríeis? O Senhor não tem prazer na morte do perverso!” Ele é esse tipo de Deus. Ele convida. E vamos descobrir aqui em um momento: Deus amou o mundo de tal maneira…
Mas há um quarto tipo. Uma quarta maneira de falar, não um quarto tipo de amor. Uma quarta maneira de discurso, uma quarta forma de falar sobre o amor de Deus. Às vezes, o amor de Deus é eletivo. É seletivo, é francamente discriminativo. Ele escolhe um e não o outro. Amei a Jacó, mas odiei Esaú. Uma linguagem muito forte. Nas incríveis passagens em Deuteronômio, capítulos 7 e 10. Este é o quinto livro do Antigo Testamento. Gênesis, Êxodo, Levítico, Números, Deuteronômio. Nos capítulos 7 e 10, Deus levanta a pergunta retórica: Por que ele escolheu a nação de Israel? Ele aponta as possibilidades: Porque vocês são mais numerosos? Não. Porque vocês são mais poderosos? Não. Porque vocês são mais justos? Não. “Ele vos teve afeição”, diz o texto, “porque ele vos amava”. Isto é, ele vos amava porque ele vos amava. E naquele contexto, foi por isso que ele escolheu Israel. Não diz: “E ele amava todas as outras nações igualmente”. No contexto, ele tem afeição por Israel, ao contrário das outras nações, porque ele os amava. É uma escolha soberana. Esta é outra maneira que a Bíblia fala do amor de Deus.
E então há ainda uma. Às vezes, uma vez que Deus está em conexão, em aliança, nós usamos esse termo, como uma espécie de conexão familiar, uma conexão contratual com seu próprio povo, então seu amor se torna bastante condicional. Por exemplo, o penúltimo livro da Bíblia, um livrinho de uma página chamado Judas, mostra Judas, meio-irmão de Jesus, escrevendo: “Guardai-vos no amor de Deus”. O que dá a entender que você pode não manter-se no amor de Deus, a uma dimensão moral nisso tudo. E, de fato, há várias passagens em ambos os Testamentos onde o amor de Jesus por nós é, em certo sentido, condicional em nossa obediência. Mesmo nos 10 Mandamentos nós vemos dizeres assim. Ele demonstra sua misericórdia em geração após geração sobre aqueles que o amam e guardam seus mandamentos. Então há um contexto no qual a Bíblia pode falar do amor de Deus em termos condicionais.
Você vê como isso é sutil? Porque você começa a perguntar: Como juntar tudo isso? Mas após você se refazer do susto, você vê que não pode ser tão difícil, pois nós falamos assim até do amor humano, não é mesmo? Quero dizer, eu posso falar com um semblante rígido: “Eu amo andar de motocicleta, eu amo marcenaria, e eu amo minha esposa”. Mas se eu colocá-las juntas na mesma sentença com muita frequência, minha esposa não ficará satisfeita. Porque são, de fato, contextos muito diferentes, não é? E realmente têm pesos diferentes. Ou, novamente, eu posso dizer: Eu creio, e que Deus em ajude, que amo meus filhos incondicionalmente. Eu tenho uma filha na Califórnia que trabalha com crianças deficientes. Se em vez disso ela se tornasse uma prostituta nas ruas de Los Angeles, eu acho que a amaria mesmo assim. Ela é minha filha. Eu a amo incondicionalmente. Eu tenho um filho que é fuzileiro. E se, ao invés disso, ele começar a vender heroína nas ruas de Nova York, eu acho que o amaria mesmo assim. Ele é meu filho. Eu o amo incondicionalmente. Ainda assim, em outro contexto, quando eles eram apenas crianças, aprendendo a dirigir, se eu dissesse a um deles: “Esteja em casa à meia-noite”, se eles não obedecessem, eles enfrentariam a ira do papai. E nesse sentido, meu amor era muito condicional, obrigado. Era condicional em eles me obedecerem trazendo o carro de volta para casa. Em outras palavras, há diferentes contextos onde, são os mesmos filhos, o mesmo pai, mas a linguagem muda um pouquinho, entende? Eu não acho que meu amor incondicional por eles mudou, há uma matriz onde isso é verdadeiro, outra matriz onde há acordos e responsabilidades familiares, ou em termos bíblicos, obrigações pactuais, onde é possível que a ira de Deus se irrompa! Há um contexto no qual a ira de Deus é tão ampla quanto se pode imaginar; alguns contextos nos quais é certo que se diga que ela é amoral; em outros, que ela é seletiva.
Então, as pessoas às vezes surgem com clichês como: “Deus ama a todos igualmente”. Verdadeiro ou falso? A resposta é: Sim! Porque algumas das passagens em que a Bíblia usa a linguagem do amor, realmente apresentam o amor de Deus como amoral. Ele envia seu Filho e seu reino, por amor, sobre justos e injustos. Ele ama as pessoas igualmente. Mas há outros contextos, como o quinto que mencionei, em que se depende da obediência. E ainda há outros que são fundamentados na seleção soberana de Deus, você vê? ”Você não pode fazer nada para que Deus o ame mais.” Verdadeiro ou falso? Depende da passagem, entende? Porque a Bíblia pode usar a linguagem de amor de Deus em diferentes contextos e de maneiras diferentes. Em certo sentido, você quer afirmar isso absolutamente, porque no final das contas, você não pode conquistar o amor de Deus. Meus filhos não conquistam meu amor trazendo o carro de volta antes da meia-noite, eu os amo de qualquer maneira. E ainda assim, ao mesmo tempo, há diferentes contextos nos quais se fala do amor de Deus. Cuidado para não cometer erros bobos quando lê o texto bíblico tirando um versículo fora de seu contexto, universalizando-o, e não tomar nenhum cuidado para ver a maravilhosa diversidade de maneiras pelas quais a Bíblia fala do amor de Deus.
Por Don Carson. Copyright The Gospel Coalition, Inc. Original: The God Who is There: Part 9. The God Who LovesTradução: Alan Cristie. Revisão: Vinícius Musselman Pimentel. Ministério Fiel © Todos os direitos reservados. Original: As 5 Formas em que a Bíblia Fala do Amor de Deus – D.A. Carson [O Deus Presente 9/14]
Leia mais: http://voltemosaoevangelho.com
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