Por Maurício Zágari
Sempre que assisto a um filme procuro mais do que mero entretenimento. Gosto de estar atento a que mensagens posso tirar dele, que aprendizados as entrelinhas da história podem somar à minha vida, de que modo aquela produção artística tem a contribuir além da superfície da tela. Revi recentemente um longa-metragem de 1989, chamado “Tempo de glória” (foto), baseado na história real de um batalhão de soldados negros comandado por um coronel branco durante a racista guerra civil dos Estados Unidos. Muitos aspectos da trama são comoventes, mas um em especial captou minha atenção: o tema da liderança.
No começo do filme, os soldados negros são tratados como inferiores, o tempo inteiro, pelo próprio exército a que servem. Não recebem uniformes, têm os pés feridos porque o governo não lhes fornece botas e meias, são obrigados a saquear cidades em vez de ir para o combate. Tudo aquilo joga a moral do 54º Batalhão lá para baixo. Os soldados desprezam seu líder, o coronel Robert Shaw (na foto, o verdadeiro e o ator Matthew Broderick, que o interpreta no filme). Isso acon
tece porque não enxergam nele autoridade real, pois sabem que está ali apenas porque seu pai é um político influente. Shaw vê o problema e percebe que, se não fizer algo, terá de lidar com o eterno desprezo dos liderados, que só o obedecem por força da autoridade do cargo (e não por enxergarem nele alguém capaz).
É dia de pagamento. Para surpresa geral, chega a informação oficial de que, por serem negros, aqueles soldados receberiam um soldo de dez dólares, em vez dos treze prometidos quando se alistaram. O coronel sobe em um palanque e informa a tropa desse fato. A – justa – revolta é geral: os soldados começam a bradar, gritar, reclamar e a rasgar seus contracheques em sinal de protesto. A confusão impera. Motim à vista. Todos olham de forma desafiadora para o líder a quem desprezam, já esperando dele a inevitável reprimenda ou a previsível punição por aquela sublevação. Diante da balbúrdia total, o coronel toma a iniciativa inesperada. Em alta voz ele dirige-se aos soldados:
— Se vocês não vão receber o salário prometido… ninguém vai!
E, para espanto deles, rasga o próprio contracheque, na frente de todos. Após um instante de silêncio e estupefação, todo o batalhão vibra com a atitude de seu líder e começa a aclamá-lo. Ao apoiar seus liderados e tomar as dores deles em favor da justiça, aquele homem, até então alvo de chacota e desrespeito, passa a ser honrado pelos subordinados, que começam a segui-lo pelo valor que tem e não porque ocupa um cargo hierarquicamente superior.
Tudo fruto de um líder que soube liderar. E que, por isso, mudou os rumos da história.
O líder ideal não é temido, é amado. Não se impõe, é servido com prazer. Entende que sua liderança existe em função dos liderados e não o contrário. Quem acredita que os liderados estão ali em função de si será sempre um homem com uma miragem. O bom líder é imitado por seus subordinados, é um exemplo, um modelo. Suas decisões não são questionadas porque “quem manda aqui sou eu”, mas porque ele tem a confiança dos que lidera.
O bom líder não é o que usa artifícios e estratégias para se impor, mas é reconhecido espontaneamente como alguém que sabe apontar caminhos. É o alfa do bando não porque voou na jugular dos outros machos que disputavam a liderança, mas porque os subordinados o reconhereram como tal e lhe entregaram o cetro sem que ele precisasse mexer um dedo. Quer saber se o líder é bom ou não? Esconda-se no banheiro e ouça o que os liderados falam sobre ele pelas costas. Você vai se surpreender com o que vai ouvir. E tudo isso vale para líderes de ambientes seculares e também da igreja.
Robert Shaw era um homem que, antes da guerra, só cuidava de si e sua família – depois de morrer, ganharia no máximo uma lápide como qualquer outra. Mas o líder Robert Shaw tornou-se um referencial a ser imitado; in
spirou vidas; foi tema de livros, poesias e de um filme que recebeu três Oscars; ganhou um monumento em sua homenagem na cidade de Boston; outro em Nova York; seu nome consta de uma placa no hall de honra da Universidade Harvard; na Galeria de Arte Nacional de Washington há uma escultura em platina que relembra seus feitos (foto); todo um bairro em Washington hoje chama-se Shaw, em sua memória; e aqui estamós nós, exatos 150 anos após sua morte, falando sobre ele. Tudo isso é um reconhecimento ao magnífico líder e ao legado que deixou com suas atitudes – mais centradas nos liderados do que nele mesmo.
Que tipo de líder é você? E que tipo de líder você segue? As respostas a essas perguntas podem alterar os rumos da sua história. Ainda há tempo de tomar coragem e mudar. A decisão é sua.
Paz a todos vocês que estão em Cristo,
Mauricio
Mauricio
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