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Um debate recente na Convenção Batista do Sul dos EUA sobre calvinismo e arminianismo levantou muita controvérsia. Questões sobre quem assinou o documento, quem escreveu o documento, e quem se opôs ao documento inundaram a blogosfera e a “twitosfera”. Entretanto, em tudo isso, há um refrão familiar que simplesmente não cede. “Por que todos esses rótulos?”, alguns perguntam. “Eu não sigo homens; eu sigo Cristo!”, outros exclamam. Há ainda outros, porém, que culpam os rótulos (não os distintivos doutrinários que eles representam) por toda a questão.
Por Voddie Baucham
Um debate recente na Convenção Batista do Sul dos EUA sobre calvinismo e arminianismo levantou muita controvérsia. Questões sobre quem assinou o documento, quem escreveu o documento, e quem se opôs ao documento inundaram a blogosfera e a “twitosfera”. Entretanto, em tudo isso, há um refrão familiar que simplesmente não cede. “Por que todos esses rótulos?”, alguns perguntam. “Eu não sigo homens; eu sigo Cristo!”, outros exclamam. Há ainda outros, porém, que culpam os rótulos (não os distintivos doutrinários que eles representam) por toda a questão.
Mas
aqueles que lamentam os rótulos são culpados de petição de princípio.¹
Eles não provaram que os rótulos são 1) imprecisos, 2) inapropriados, ou
3) causam divisões. Pelo contrário, há uma comoção por afirmativas
cruas, que assumem uma superioridade moral, teológica e bíblica sem
qualquer traço de evidência. E o que é pior: a posição deles que é, na
verdade, insustentável. Evitar rótulos como calvinista e arminiano sob
a desculpa de “recusar-se a seguir um homem” é, na melhor das
hipóteses, ingênuo e, na pior, completamente desonesto.
Como os rótulos surgem
Você é
um economista keynesiano ou austríaco? Politicamente falando, você é
jeffersoniano ou madisoniano? Você temeria ser rotulado como freudiano,
junguiano ou pavloviano? E o que dizer da física aristotélica contra a
newtoniana? Certamente, não há pessoas nas esferas da economia,
política, psicoterapia e física saindo por aí recriminando uns aos
outros por usar rótulos associados a homens. Ademais, alguém dessas
áreas que sugerisse algo assim seria ridicularizado, uma vez que as
pessoas nesses campos entendem como esses rótulos surgem.
O Primeiro
Algumas
vezes, um “rótulo” é simplesmente o reconhecimento do trabalho de um
pioneiro. O Salto Fosbury, por exemplo, recebeu o nome devido a Dick
Fosbury, que revolucionou o salto em altura quando venceu o Campeonato
de 1968 da NCAA² com seu agora onipresente método. Quando eu saltava no
Ensino Médio, eu fui de 1,80 m em meu primeiro salto a 2,02 na semana
seguinte (e passei da equipe de calouros para a da faculdade).
Quando
as pessoas me perguntaram o que aconteceu, posso lhe assegurar que não
parei e superficialmente disse: “Eu comecei a usar uma nova técnica, mas
eu não gosto de ser rotulado e, com certeza, não quer ser conhecido
como seguidor de algum homem, então vamos apenas dizer que eu melhorei
muito”. Isso teria sido o cúmulo da ignorância e da arrogância! Agora,
imagine um médico usando um protocolo para tratar do Mal de Parkinson
(batizado em homenagem ao Dr. James Parkinson), ou um piloto fazendo a
manobra Pugachev Cobra (batizada em homenagem ao piloto de testes Viktor
Pugachev) fazendo a mesma coisa.
O Mais Famoso/Célebre
Algumas
vezes, não é o primeiro, mas a pessoa mais famosa ou célebre cujo nome
torna-se associado com um método ou ideologia. Karl Marx, por exemplo,
não foi o único a defender as ideias comunistas/socialistas em seu
tempo, mas terminou sendo o mais conhecido. O mesmo pode ser dito de
homens como Sabélio. A heresia de Sabélio era uma forma de
Monarquianismo. Assim, embora ela não tenha se originado com ele, seu
nome está muito mais relacionado à heresia modalista nas mentes dos
teólogos de toda a história.
O Principal
No caso
do calvinismo, entretanto, o “rótulo” que conhecemos melhor não está
associado ao primeiro, ou mesmo o proponente mais famoso, mas ao mais
fundamental. A batalha de Calvino com Armínio (ou, mais precisamente, a
batalha de Armínio com o legado de Calvino) refletiu a batalha de Lutero
com Erasmo e de Agostinho com Pelágio. Entretanto, foram os Cânones do
Sínodo de Dort, e a clara denúncia do sistema arminiano (muitos acusam
Calvino de “aparecer com cinco pontos aleatórios”, quando, na verdade 1)
foi o Sinódo de Dort, e 2) os cinco pontos eram refutações diretas dos
cinco pontos de Armínio) que, entre outros fatores históricos, levou à
identificação final das “Doutrinas da Graça” com João Calvino.
Usar rótulos demonstra honestidade, humildade e honra
Eu não
penso duas vezes quanto a usar rótulos. Na verdade, eu ficaria
embaraçado de não fazer. Quem sou eu para erguer-se sobre os ombros de
gigantes e não dar crédito quando crédito é devido? Não faria isso mais
que fingir que inventei o salto de Fosbury sozinho. Quando usamos
rótulos, estamos sendo honestos sobre as posições que defendemos,
estamos humildemente reconhecendo o fato de que estamos em débito com
aqueles que colocaram o fundamento e dando honra àqueles a quem Deus
usou para avançar nossa reflexão e seu Reino.
Usar rótulos desenvolve promove o entendimento
Dessa
forma, usar rótulos também promove o entendimento. Por exemplo, posso
economizar uma grande quantidade de tempo em uma discussão teológica ao
referir-me aos rótulos. Se eu defendo a visão de Agostinho contra a de
Pelágio, posso simplesmente dizer isso. Além disso, se minha opinião
muda, posso dizer que defendo a visão de Agostinho com essa e aquela
exceções. Longe de ser “louvor de homens”, esse é um meio de descobrir e
reconhecer um terreno comum.
A ironia de evitar rótulos
Ironicamente,
aqueles que escolhem não usar rótulos não alcançam seu objetivo. Por
exemplo, conversei com um cavalheiro que dizia: “Eu não sou nem
calvinista nem arminiano. Eu não sigo nenhum homem!”. Após a discussão,
descobri que sua única discordância com os “Cinco Pontos” estava na área
da Expiação Limitada/Redenção Particular. Após essa descoberta, não
pude evitar uma risada. É claro, meu amigo perguntou por que eu estava
rindo; neste ponto, eu disse: “Você é um amyraldiano”. Depois de
titubear, ele reconheceu o fato de que, quer gostasse ou não, havia um
“rótulo” estabelecido para a posição que ele defendia… e então, a outra
ficha caiu. “Aliás, sua posição recebe o nome de Moisés Amyraut… um
homem”.
Eu
entendo o que as pessoas querem dizer quando falam que não seguem
sistemas, mas a Escritura; não devemos seguir homens, mas Deus. E
concordo de todo o coração. Entretanto, não concordo que usar usar
rótulos para 1) esclarecer o que queremos dizer, 2) reconhecer os ombros
sobre os quais estamos, e 3) promover o entendimento é a mesma coisa
que “seguir” sistemas ou “seguir” homens. Seja defendendo uma visão
jeffersoniana de republicanismo, uma visão aristotélica da lógica, uma
visão calvinista da soteriologia ou uma visão do Salto Fosbury para o
salto em altura; não estou de forma alguma ignorando ou negando o fato
de que não sigo ninguém senão Cristo. Estou simplesmente explicando como
os homens que vieram antes de mim me ajudaram a entender e categorizar o
mundo que Ele criou, governa e, no fim, redimirá.
_______________________
¹
A petição de princípio é uma falácia não formal em que se tenta provar
uma conclusão com base em premissas que já a pressupõem como verdadeira.
(definição do prof. André Coelho )
²
National Collegiate Athletic Association (Associação Atlética
Universitária Nacional) é a entidade máxima do esporte universitário dos
EUA.
Traduzido por Josaías Jr | iPródigo.com | Original aqui.
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