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Mais de uma vez eu fui acusado de ser um bibliólatra, uma pessoa que idolatra a Bíblia, que tem uma reverência excessiva pela letra da Bíblia. Estou certo que muitos outros cristãos também têm sido acusados disso. Na minha experiência, essa acusação tende a ser levantada contra aqueles que afirmam a infalibilidade e inerrância das Escrituras; ela também pode ser levantada contra aqueles que afirmam a suficiência da Escritura. Pessoas que levantam tal acusação estão indo contra algo que eles veem como um endurecimento da fé e prática que derivam de um entendimento da Bíblia que eles consideram demasiadamente literal.
Tenho certeza de que não idolatro a Bíblia e estou bem certo que isso é muito mais difícil de fazer do que os acusadores possam pensar. Deixe-me dizer o que penso a respeito dessa acusação.
Nós, como humanos pecadores, perdemos o direito e a habilidade do acesso direto a Deus. Antes de caírem em pecado, Adão e Eva tinham o privilégio de andar e falar com Deus. Eles tinham acesso direto, face a face, ao Criador. Este é um privilégio que nós ansiosamente prevemos recuperar quando o Senhor retornar, mas enquanto isso, poluídos como somos pelo pecado, cortamos essa comunicação direta. Nós agora dependemos da comunicação de Deus mediada pelas Escrituras. John Stott uma vez disse, “Deus revestiu seus pensamentos em palavras, e não há outra forma de conhecê-lo exceto pelo conhecimento das Escrituras. (…) Nós nem mesmo podemos ler a mente uns dos outros, muito menos o que está na mente de Deus”. A palavra de Deus nos diz que somente conseguimos conhecer Deus, como ele realmente é, através da própria Palavra.
A Bíblia é a Palavra de Deus. John Frame, em Salvation Belongs to The Lord [A Salvação Pertence ao Senhor], define a palavra de Deus como “a poderosa e autoritativa auto-expressão de Deus”. A palavra de Deus é poderosa por fazer mais do que meramente comunicar, ela também cria e controla. Frame diz, “a palavra é a presença de Deus entre nós, o lugar onde Deus habita. Então, não podemos dissociar a palavra de Deus do próprio Deus”.
Você consegue entender? Você não pode separar a palavra de Deus do próprio Deus. A palavra revela Deus. Frame continua mostrando que a palavra de Deus tem atributos divinos. Ela é justa, fidedigna, maravilhosa, santa, eterna, onipotente e perfeita. Porque esses são atributos de Deus, eles também são atributos de sua Palavra. Ele também mostra que a Palavra de Deus é um objeto de adoração, citando Salmo 56.4 onde Davi escreve, “Em Deus, cuja palavra eu exalto, nesse Deus ponho minha confiança e não temerei. Que me pode fazer um mortal?” O salmista repete no verso dez, “Em Deus, cuja palavra eu louvo, no Senhor, cuja palavra eu louvo…” Isto é notável, por que apenas Deus é o objeto do louvor. Louvar algo além de Deus é idolatria. Uma vez que, aqui, Davi adora a palavra, não podemos escapar da conclusão de que a palavra é divina.
No familiar verso que abre o evangelho de João, nós lemos, “No princípio era o Verbo, e o Verbo estava com Deus e o Verbo era Deus.” Este verso identifica a palavra de Deus, sua auto-expressão, com o próprio Deus. “O Verbo que ‘era Deus’, no verso 1 não era apenas Jesus, como o verso 14 claramente indica (‘E o Verbo se fez carne e habitou entre nós’), mas também a palavra de Deus ordenando que a luz sobressaísse das trevas em Gênesis 1.3.” Spurgeon diz bem (em referência a 2 Timóteo 3.16): “A Palavra de Deus, isso é, esta Revelação de si mesmo nas Sagradas Escrituras, é tudo que é descrito aqui porque Jesus, o Verbo Encarnado de Deus, está nela. Ele, de fato, se encarnou como a Divina Verdade nesta Revelação visível e manifesta. E assim ela se torna viva e poderosa, divisora e discernente.”
Há uma unidade inseparável entre Deus e sua Palavra. A Palavra é onde Deus está e Deus está onde sua Palavra está. A Palavra de Deus é a presença de Deus entre nós. Qual a implicação disso? Vamos voltar uma última vez a Jonh Frame. “A Palavra de Deus, onde quer que nós a encontremos, incluindo a escritura, é um objeto digno de reverência. Não estou advogando a bibliolatria, que é a adoração do objeto material de papel, tinta e etc. O papel e a tinta são criação, não Deus, e não devemos nos encurvar a eles. Mas a mensagem da Bíblia, o que ela diz, é divino, e devemos recebê-la com louvor e adoração.”
Quando lemos a Bíblia ou estamos sob o seu ensino, nós ouvimos do próprio Deus. Não adoramos a tinta e o papel – isto seria diminuir a Bíblia, não elevá-la – mas tratamos as Escrituras com reverência, considerando-a como a presença, poder e autoridade do próprio Deus. Realmente, é difícil imaginar como podemos ter uma visão demasiadamente elevada das Escrituras. É muito mais provável que nosso respeito pelas Escrituras seja muito baixo, muito humano e muito seguro.
Traduzido por Filipe Guerra | iPródigo.com | Original aqui
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