12 de agosto de 1859. Há exatos 153 anos, desembarcava no porto do Rio de Janeiro, um jovem de 26 anos chamado Ashbel Green Simonton. Num período de apenas oito anos, ele organizaria o primeiro jornal protestante da América do Sul (1864), a primeira escola paroquial (1866), o primeiro seminário (1867) e ordenaria o primeiro pastor brasileiro (1865). Simonton faleceu, aos 34 anos (1867), em São Paulo, vítima da febre amarela.
A fascinante história desse jovem marca não somente a história da Igreja Presbiteriana no Brasil, mas é um capítulo importantíssimo do protestantismo no país.
Abaixo, você lê trechos de Mochila nas Costas e Diário na Mão – a fascinante história de Ashbel Green Simonton, escrito pelo pastor Elben César e publicado pela Editora Ultimato em 2009, ano comemorativo dos 150 anos da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB). As informações a seguir relatam um pouco de como foi a chegada de Simonton ao Brasil:
Depois de ser alcançado pela graça de Deus, em Harrisburg, na Pensilvânia, em março de 1855, e de se ordenar pastor, quatro anos depois, em abril de 1859, o jovem Ashbel Green Simonton, de 26 anos, deve ter ouvido a voz do Espírito: “O que você está para fazer, faça depressa”. Desde outubro de 1855, o rapaz estava certo de sua vocação missionária, e desde novembro de 1858, estava certo que deveria exercer o seu ministério no Brasil. Só faltava entrar no navio e atravessar os mares em direção ao Rio de Janeiro. Faltava o mais difícil: deixar casa, irmãos, irmãs, mãe e o próprio país por causa de Jesus e do evangelho (Mc 10.29). Depois de tudo resolvido e de tudo pronto, não havia razão para qualquer desperdício de tempo. Ele mesmo registrou em seu “Diário”:
“A incerteza que vem me oprimindo há um ano finalmente terminou. A mão da Providência evidentemente pode ser vista nisso. A ti, ó Deus, confio meus caminhos na certeza de que tu dirigirás os meus passos retamente”.¹
Simonton embarcou no “Banshee” no dia 18 de junho de 1859 e desembarcou no dia 12 de agosto, depois de 56 dias “entre o céu e o mar”. Naquele tempo, o porto de Baltimore, a maior cidade de Maryland, não tinha ligação com o Atlântico senão pelo sul, atravessando toda a extensão da baía de Chesapeake. Ainda não havia sido aberto ao norte o canal Chesapeake-Delaware. Na verdade, Simonton deixou para trás uma baía de 300 quilômetros de comprimento e encontrou bem na frente a baía de Guanabara, de 412 quilômetros quadrados, onde fica o porto do Rio de Janeiro.
Quando o navio conseguiu se afastar definitivamente da costa americana e alcançou águas internacionais, seis dias depois de ter levantado âncoras, Simonton escreveu: “Nesse dia, cruzei o meu Rubicão”.² Ele estava se colocando em pé de igualdade com Júlio César, que, no ano de 49 antes de Cristo, havia atravessado o riacho Rubicão, ao norte da Itália, demonstrando grande força de vontade e coragem. Desde então, a frase “atravessar o Rubicão” passou a ser usada para referir-se a qualquer pessoa que toma uma decisão difícil e arriscada de maneira irrevogável, sem volta.
Numa quarta-feira à noite, 3 de agosto, faltando apenas nove dias para o “Banshee” atracar no píer da praça Mauá, no Rio de Janeiro, o navio por um triz não foi abalroado por outro navio muito maior. Simonton mesmo conta o que aconteceu:
“Ontem ocorreu um acidente que nenhum dos tripulantes ou passageiros do ‘Banshee’ esquecerá. O dia tinha estado chuvoso e a atmosfera pesada. Sampson e eu conversávamos; o capitão no convés dava ordens de enrolar velas, pois ventava muito, quando o vigia deu um daqueles gritos que ninguém pode deixar de ouvir e sempre indica perigo grave e iminente. Pegando nossos chapéus corremos para o convés. Outro grito do vigia, “barco pela proa!”, e a ordem rápida [do capitão], ‘virar leme!’, logo nos mostraram qual era o perigo. Mais um instante e da escuridão saiu um grande navio com todas as velas soltas, vindo sobre nós em grande velocidade. Lá vinha ele com seu bico apontado para a parte do navio em que eu me encontrava [...]. Teríamos sido cortados em dois se nos tivessem abalroado. Dadas as condições da noite, não teria sobrado nenhum de nós para contar a história. Foi um temível momento de suspense; mesmo assim, eu me mantive perfeitamente calmo. Talvez só tenha reconhecido todo o perigo depois que passou. Mas desde o princípio entreguei meus caminhos a Deus e dei-lhe a direção de minha vida; desde então o sentimento de segurança jamais me abandonou. O Deus que ouve e responde orações arrebatou-me do perigo e da provável destruição. Desci [ao meu camarote], primeiro para agradecer por essa providência e entregar-me mais uma vez a ele; depois, para cair em um sono profundo e tranquilo até de manhã. [No dia seguinte] ouvi os velhos marinheiros dizerem que nunca estiveram em tão grande perigo.”3
No dia 12 de agosto de 1859, Ashbel Green Simonton jantava com a família do empresário americano Robert C. Wright, na companhia do cônsul Robert S. Scott e sua esposa e da miss Roberts, no Rio de Janeiro.
Notas:
1. SIMONTON, Ashbel Green. O diário de Simonton (1852-1866). 2. Ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 111.
2. Idem, p. 113.
3. Idem, p. 123.
Fonte:ultimatoonline
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