A fascinante história desse jovem marca não somente a história da Igreja Presbiteriana no Brasil, mas é um capítulo importantíssimo do protestantismo no país.
Abaixo, você lê trechos de Mochila nas Costas e Diário na Mão – a fascinante história de Ashbel Green Simonton, escrito pelo pastor Elben César e publicado pela Editora Ultimato em 2009, ano comemorativo dos 150 anos da Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB). As informações a seguir relatam um pouco de como foi a chegada de Simonton ao Brasil:
Depois de ser alcançado pela graça de Deus, em Harrisburg, na Pensilvânia, em março de 1855, e de se ordenar pastor, quatro anos depois, em abril de 1859, o jovem Ashbel Green Simonton, de 26 anos, deve ter ouvido a voz do Espírito: “O que você está para fazer, faça depressa”. Desde outubro de 1855, o rapaz estava certo de sua vocação missionária, e desde novembro de 1858, estava certo que deveria exercer o seu ministério no Brasil. Só faltava entrar no navio e atravessar os mares em direção ao Rio de Janeiro. Faltava o mais difícil: deixar casa, irmãos, irmãs, mãe e o próprio país por causa de Jesus e do evangelho (Mc 10.29). Depois de tudo resolvido e de tudo pronto, não havia razão para qualquer desperdício de tempo. Ele mesmo registrou em seu “Diário”:
“A incerteza que vem me oprimindo há um ano finalmente terminou. A mão da Providência evidentemente pode ser vista nisso. A ti, ó Deus, confio meus caminhos na certeza de que tu dirigirás os meus passos retamente”.¹
Simonton embarcou no “Banshee” no dia 18 de junho de 1859 e desembarcou no dia 12 de agosto, depois de 56 dias “entre o céu e o mar”. Naquele tempo, o porto de Baltimore, a maior cidade de Maryland, não tinha ligação com o Atlântico senão pelo sul, atravessando toda a extensão da baía de Chesapeake. Ainda não havia sido aberto ao norte o canal Chesapeake-Delaware. Na verdade, Simonton deixou para trás uma baía de 300 quilômetros de comprimento e encontrou bem na frente a baía de Guanabara, de 412 quilômetros quadrados, onde fica o porto do Rio de Janeiro.
Quando o navio conseguiu se afastar definitivamente da costa americana e alcançou águas internacionais, seis dias depois de ter levantado âncoras, Simonton escreveu: “Nesse dia, cruzei o meu Rubicão”.² Ele estava se colocando em pé de igualdade com Júlio César, que, no ano de 49 antes de Cristo, havia atravessado o riacho Rubicão, ao norte da Itália, demonstrando grande força de vontade e coragem. Desde então, a frase “atravessar o Rubicão” passou a ser usada para referir-se a qualquer pessoa que toma uma decisão difícil e arriscada de maneira irrevogável, sem volta.
Numa quarta-feira à noite, 3 de agosto, faltando apenas nove dias para o “Banshee” atracar no píer da praça Mauá, no Rio de Janeiro, o navio por um triz não foi abalroado por outro navio muito maior. Simonton mesmo conta o que aconteceu:
“Ontem ocorreu um acidente que nenhum dos tripulantes ou passageiros do ‘Banshee’ esquecerá. O dia tinha estado chuvoso e a atmosfera pesada. Sampson e eu conversávamos; o capitão no convés dava ordens de enrolar velas, pois ventava muito, quando o vigia deu um daqueles gritos que ninguém pode deixar de ouvir e sempre indica perigo grave e iminente. Pegando nossos chapéus corremos para o convés. Outro grito do vigia, “barco pela proa!”, e a ordem rápida [do capitão], ‘virar leme!’, logo nos mostraram qual era o perigo. Mais um instante e da escuridão saiu um grande navio com todas as velas soltas, vindo sobre nós em grande velocidade. Lá vinha ele com seu bico apontado para a parte do navio em que eu me encontrava [...]. Teríamos sido cortados em dois se nos tivessem abalroado. Dadas as condições da noite, não teria sobrado nenhum de nós para contar a história. Foi um temível momento de suspense; mesmo assim, eu me mantive perfeitamente calmo. Talvez só tenha reconhecido todo o perigo depois que passou. Mas desde o princípio entreguei meus caminhos a Deus e dei-lhe a direção de minha vida; desde então o sentimento de segurança jamais me abandonou. O Deus que ouve e responde orações arrebatou-me do perigo e da provável destruição. Desci [ao meu camarote], primeiro para agradecer por essa providência e entregar-me mais uma vez a ele; depois, para cair em um sono profundo e tranquilo até de manhã. [No dia seguinte] ouvi os velhos marinheiros dizerem que nunca estiveram em tão grande perigo.”3
No dia 12 de agosto de 1859, Ashbel Green Simonton jantava com a família do empresário americano Robert C. Wright, na companhia do cônsul Robert S. Scott e sua esposa e da miss Roberts, no Rio de Janeiro.
Notas:
1. SIMONTON, Ashbel Green. O diário de Simonton (1852-1866). 2. Ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2002, p. 111.
2. Idem, p. 113.
3. Idem, p. 123.
Fonte:ultimatoonline
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