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Escrito por: William Hendriksen
Uma palavra comemorativa sobre William Hendriksen com o objetivo de prestar reconhecimento aos seus prodigiosos escritos e profundo compromisso cristão é uma resposta natural de um editor agradecido. É especialmente apropriado, no entanto, que estes comentários apareceram numa edição de Mais do que Vencedores.
O editor Herman Baker apresentou ao autor a primeira edição de Mais do que Vencedores em julho de 1939. O livro tem estado à venda desde então e encontra-se agora em sua 25ª edição. Sua longa vida faz paralelo à prolífera carreira de escritor de William Hendriksen.
Quarenta e dois anos mais tarde, William Hendriksen, com 81 anos de idade, escrevia ainda tão intensa e produtivamente como sempre — até pouco antes de sua morte em janeiro de 1982. Ele estava progredindo bem com sua próxima obra, um comentário sobre 1 Coríntios, havendo já concluído a introdução e o primeiro capítulo.
A vibração das palavras “Mais do que Vencedores” refletia a firme posse, por parte de William Hendriksen, de uma fé bíblica triunfante. A versão plena da vitória do apóstolo grita em Romanos 8 — “…somos mais do que vencedores, por meio daquele que nos amou” — fazendo eco aos esforços tenazes de William Hendriksen para interpretar a Palavra de Deus com clareza, riqueza e compreensibilidade. Por ocasião de sua morte é adequado ver uma edição de Mais do que Vencedores como um ponto central de um tributo floral colocado sobre seu esquife.
A extensa distribuição de Mais do que Vencedores é evidência do alto e consistente respeito prestado a William Hendriksen como eminente e confiável acadêmico do Novo Testamento. O Dr. Hendriksen ganhou a maior parte de sua proeminência em razão de seus comentários. Ele iniciou a série Comentário do Novo Testamento em 1952, com o primeiro volume sobre o Evangelho de João e só bem mais tarde (1981) completou o Livro de Romanos. À medida que cada volume era publicado, os acadêmicos o endossavam com entusiasmo. Algumas declarações típicas feitas em resenhas foram:
Os volumes do C.N.T. (Comentários do Novo Testamento) são empolgantes pelo seu estilo, linguagem e exposição.
…estilo conciso, linguagem clara e exposição conservadora.
…demonstram sua infatigável energia, sua erudição perspicaz e seu ardente desejo pelo entendimento apropriado da revelação bíblica da soberana graça de Deus em Jesus Cristo como entendida pela tradição reformada.
Outra característica notável dos comentários de Hendriksen é que ele tem o cuidado de estudar completamente os diferentes pontos de vista antes de tirar sua conclusão.
…exegese cuidadosa…
…reflete familiaridade com a gramática e a sintaxe…
…consciência da literatura acadêmica…
…comentários exegéticos maduros.
O domínio das línguas que o Dr. Hendriksen possuía era o maior fator de sua incisiva exposição. Era fluente em hebraico assim como em grego (o que é raro entre os estudiosos do Novo Testamento) e podia ler em vinte idiomas. Aprendeu o espanhol depois de aposentar-se do pastorado. Suas próprias traduções do grego aparecem em cada um dos seus comentários, e sua familiaridade com as literaturas teológicas alemã e holandesa adiciona fôlego às suas exposições.
Sua competência lingüística foi o que o levou a envolver-se como consultor e tradutor na preparação da New International Version da Bíblia. Durante as sessões editoriais da NIV, o Dr. Hendriksen se tornou amigo próximo do Dr. Edwin H. Palmer, cuja grande admiração pelo Dr. Hendriksen foi publicada num número de The Banner, em 1976, a revista da Christian Reformed Church, denominação a que o Dr. Hendriksen servia. O Dr. Palmer parece ter por certo que o Dr. William Hendriksen seria um honrado profeta “na sua própria terra”. O tributo intitulado “New Testament Giant” [Gigante do Novo Testamento] começa:
Enquanto o Dr. William Hendriksen está ainda vigoroso e disposto, quero chamar a atenção dos leitores de The Banner para esse gigante do Novo Testamento… A primeira coisa que me vem à mente quando penso no Dr. Hendriksen são os seus comentários do Novo Testamento. Não conheço comentários mais precisos em língua inglesa. São tão excelentes que cada Igreja deveria comprar uma coleção completa para seu pastor, se ele já não tiver uma.
O Dr. Palmer continuou, resumindo as características dos comentários e afirmando que eles:
assumem que a Bíblia é a Palavra inerrante e totalmente autorizada de Deus
pressupõem a fé reformada
têm conteúdo sem ser pedante
são bem-organizados
exibem uma salutar piedade emocional.
Os comentários de versículo por versículo a tal compasso firme, alguns dos quais ocupando mais de mil páginas, revelam a motivação da vontade e a autodisciplina do Dr. Hendriksen.
Essas características emergem em parte da estrutura de sua família de origem. A tendência perfeccionista de William teve como modelo o seu pai, que era carpinteiro por profissão (e um excelente), mas que também apresentava uma natureza criativa como entalhador. William Hendriksen lembrava-se de seu pai produzindo belas gravuras entalhadas: “trabalhava nelas por semanas, mesmo por meses. Quando estavam terminadas, ele as doava a alguém”. Até onde ele sabia, seu pai jamais havia aceitado pagamento por qualquer delas.
A inclinação de William pelo trabalho duro também veio por influência do meio. Descendente de resistentes imigrantes, como 10 anos de idade ele veio com sua família, da Holanda, para se estabelecer em Kalamazoo, Michigan. Os sonhos de prosperidade da família, pelo fresco reinício na América, foi ilusório — a família era grande (William era o mais novo de oito irmãos) e o país foi tomado pela depressão econômica. Esperava-se dos filhos mais velhos que trabalhassem pela sobrevivência econômica da família. O sustento provido pelo pai de William era tão precariamente pequeno que, às vezes, o mestre carpinteiro não tinha outro recurso senão aplicar suas habilidades no conserto de itens como relógios e máquinas de costura.
William teve sua participação para ajudar no sustento da família. Depois de aprovado no oitavo ano escolar, ele freqüentou por breve período uma nova escola de segundo grau, que foi fechada alguns meses depois que as aulas se iniciaram, no verão. William foi trabalhar, encontrando empregos onde fosse possível. Começou como mascate, e, depois, numa companhia de impressão em folhas de ouro, numa loja de consertos de radiadores, numa loja de mantimentos, como gerente, e numa fábrica de artigos de papelaria.
O desejo de se tornar um ministro do evangelho veio cedo para William — mesmo antes de sua família ter emigrado da Holanda. Por toda a vida, o Dr. Hendriksen acreditou que, quando ainda tinha 5 ou 6 anos, havia plantado no seu coração a decisão de se tornar um ministro.
A História do amor de Deus pelos pecadores, e da cruz de Cristo, contada por excelentes professores de escola dominical, e, é claro, por meus pais, impressionaram-me profundamente. Eu queria que todos soubessem disso. Eu amava nosso ministro. Assim, eu era plenamente sincero no desejo de me tornar um pregador.
A intensidade desses sentimentos pelo ministério jamais se apagou do coração de William. Seu pai, entretanto, não encorajou os sonhos de seu filho caçula. Isso é de surpreender, pois ambos, sua mãe (que morreu quando William tinha 16 anos) e seu pai, ensinaram seus filhos a amar o evangelho. Sobretudo, a vida de seus pais era exemplo de amoroso serviço assim como criam numa doutrina cristã correta. O lar era hospitaleiro, e de modo muito pessoal, seus pais freqüentemente ajudavam pessoas em suas necessidades. Quando adolescente, William manteve esta conversa com seu pai:
“Eu ainda planejo estudar para o ministério”. A resposta de seu pai foi curta e incisiva: “Daar kamp toch niks van” [Nada surgirá disso].
Não obstante, William perseguiu seu alvo de preparar-se para o ministério. Trabalhando durante o dia, à noite ele estudava, inscrito num curso por correspondência, o Carnegie College, que cobria os dois primeiros anos do segundo grau. William completou o curso em apenas nove meses. Com 18 anos, ele aceitou uma indicação para ensinar, por um semestre, para alunas do quarto ano de uma escola de Roseland, Chicago. Em janeiro, ele iniciou seu segundo período como professor — uma classe de oitavo ano numa escola próxima a Hospers, Iowa. Continuou sua educação por correspondência (numa escola aprovada pelo estado) a fim de qualificar-se para uma certificação permanente no ensino. Dessa fase da educação do jovem Hendriksen, o Dr. Edwin Palmer relata que William estudava para esses cursos, no inverno,
…vestindo um sobretudo, num quarto alugado e sem aquecimento. Essa autodisciplina continuou até depois que se aposentou, quando mantinha uma agenda regular de trabalho, iniciando o dia às cinco horas da manhã.
Com a idade de 20 anos, William Hendriksen foi aceito pelo Calvin College, onde se deliciou com as áreas de Ciências — especialmente Química — juntamente com os cursos de bacharel em Artes, em Línguas e História. Um professor de Ciências da faculdade procurou seduzir William a aceitar a posição de seu assistente num curso de Química Orgânica, advertindo-o contra a carreira de ministro por causa da sua voz fraca. Ensinar na faculdade era tentador, mas William declinou da oferta e se matriculou no Calvin Seminary. Completado o treinamento no seminário, em 1927, William Hendriksen pastoreou grandes congregações em Michigan pelos dezesseis anos seguintes. Utilizou o tempo, também, para cursar programas de estudos avançados, recebendo o grau de mestre em teologia do Calvin Seminary e o de doutor pelo Princeton Seminary. Em 1943, ele se tornou professor de Novo Testamento no Calvin Theological Seminary, permanecendo nove anos nesse cargo. O Dr. Hendriksen, então, reassumiu o ministério pastoral, em que esteve até a sua aposentadoria, aos 65 anos de idade.
William Hendriksen foi casado por 35 anos com Rena Baker, falecida em 1960. Foram pais de três filhos. Em 1961 ele se casou de novo. Pelo resto de sua vida, ele e sua segunda esposa, Reta, trabalharam juntos no ministério de escrever os comentários.
Reta foi uma esposa amorosa e leal, e sua proficiência como assistente na datilografia e na editoração foi altamente valorizada pelo Dr. Hendriksen:
Pode-se bem imaginar o que essa qualificação significa para mim em meu trabalho como autor. Eu jamais teria completado metade do que fiz sem a constante ajuda de Reta… Capacidade, simpatia, calor humano e sabedoria — tudo isso se achava nela em muito alto grau.
William Hendriksen perseverou em seu caminho ativamente até os meses finais de sua vida, quando uma última cirurgia drenou muito de sua força. A. A. Koning concluiu sua homenagem com estas palavras:
Mesmo quando sua última enfermidade começou a tomar conta, ele recebeu um pedido, vindo da Inglaterra, para fazer palestras. Teve, porém, que recusar o convite, pois queria terminar seus escritos. Agora ele não está mais vendo obscuramente, como em espelho, mas vendo face a face.
Através dos diversos estágios de sua carreira — quer pastoreando, ensinando ou escrevendo —, William Hendriksen permaneceu, num sentido bem profundo, um educador. Parte do gênio de seu trabalho foi sua habilidade singular de revestir sua autoridade acadêmica de simplicidade e de calor tais que aclararam e inspiraram estudantes da Palavra de Deus, tanto avançados quanto iniciantes.
Fonte: William Hendriksen, Mais do que Vencedores. Editora Cultura Cristã. Páginas 07-13.
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