sábado, 9 de março de 2013

Como o Evangelho muda a nossa apologética (Parte 2)


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Por Tim Keller


No meu último post, eu construí um argumento a fim de demonstrar por que nós ainda precisamos da apologética. Crer envolve tanto um aspecto da mente quanto um do coração, então, enquanto alguns não-cristãos precisarão de ajuda mais em um aspecto do que em outro, nós não podemos ignorar nenhum dos dois.

Então o que nós podemos dizer quando somos chamados a apresentar as razões pelas quais nós cremos?

Primeiro, eu tento mostrar que é necessário fé para duvidar do Cristianismo, pois qualquer cosmovisão (incluindo o secularismo e o ceticismo) é baseada em suposições. Por exemplo, o indivíduo que diz: “Eu só posso crer em algo que possa ser racional ou empiricamente provado” deve perceber que isso, por si só, é uma declaração de fé. Esse “princípio verificador” não pode ser de fato provado racional ou empiricamente, o que o torna uma afirmativa ou alegação, não um argumento. Além disso, há toda sorte de coisas que você não pode provar racional ou empiricamente. Você não pode me provar que você não é, na verdade, uma borboleta sonhando ser uma pessoa. (Você não assistiu a Matrix?) Você não pode provar a maior parte das coisas em que crê, então ao menos reconheça que você tem fé.

Eu normalmente construo esse ponto considerando uma objeção ao Cristianismo, para mostrar que no coração dela já algum tipo de suposição de fé. Tomemos o exemplo do sofrimento. Alguém dirá: “Eu não posso crer em Deus, pois como poderia um Deus bom permitir tanto sofrimento?”.

Posto de outra maneira, eles estão dizendo: “Eu sei com certeza que não pode haver qualquer boa razão para um Deus bom permitir que essa coisa específica acontecesse”. Sério? Poderia haver toda sorte de boas razões pelas quais Deus permitira acontecer algo que provocasse sofrimento, apesar da nossa inabilidade de entendê-las. Se você tem um Deus infinito grande o suficiente para irar-se com o sofrimento que há no mundo, então você também tem um Deus infinito grande o suficiente para ter razões para tanto que estão acima do seu entendimento. Você deve mostrar às pessoas que é necessário fé para duvidar do Cristianismo. Antes de sua conversão, o argumento de C.S. Lewis contra Deus era que o universo parecia cruel e injusto demais. Mas então ele perguntou a si mesmo: “Mas como eu poderia ter essa ideia do justo e do injusto? Com o que eu estava comparando este universo ao chamá-lo de injusto? [...] O ateísmo revela ser simplório demais” (Cristianismo Puro e Simples, Livro 2, Parte 1). No mundo natural, o forte alimenta-se do fraco, e não há nada de errado com a violência. De onde você extrai o padrão para dizer que o mundo humano não deve funcionar assim, que o mundo natural está errado? Você só pode julgar o sofrimento como algo ruim se estiver usando um padrão mais elevado do que este mundo, um padrão sobrenatural. Se não há Deus, você não tem qualquer razão para estar incomodado com o sofrimento deste mundo. Simplesmente é assim que ele é. É necessário fé para ficar irado com este mundo.

Você percebe, uma apologética moldada pelo evangelho começa não dizendo às pessoas em que crer, mas mostrando-lhes o seu real problema. Neste caso, nós estamos mostrando a indivíduos seculares que eles possuem menos garantias para as suas suposições de fé do que nós temos para as nossas. Nós precisamos mostrar que é preciso fé até mesmo para duvidar.

O crítico britânico A.N. Wilson, outrora ateu, escreveu acerca da perda de sua fé quando jovem, influenciado pela sociedade intelectual britânica, a qual aceitava quase unanimemente que apenas pessoas idiotas podiam de fato acreditar no Cristianismo. “Na realidade, porém,” ele argumenta, “é o ateísmo materialista que é não apenas um credo enfadonho, mas totalmente irracional. O ateísmo materialista afirma que nós somos apenas um conjunto de elementos químicos; ele não possui qualquer resposta à questão sobre como nós podemos ser capazes para o amor, o heroísmo ou a poesia, se nós somos apenas pedaços de carne ambulantes”.

Um evangelista de universidades que eu ouvi certa vez, durante os protestos contra a Guerra do Vietnã, pressionava os estudantes ateus a reconhecerem o conflito entre o seu relativismo moral em questões sexuais e o seu absolutismo moral no tocante ao genocídio internacional. Eles não tinham respostas. Se não há Deus, tudo é permitido. Sem Deus, nós somos deixados sem um fundamento para tudo o que é mais importante em nossa vida: a dignidade humana, a compaixão, a justiça. Isso é um problema.

O que nos leva ao último ponto, a solução para o nosso problema. Em algum momento, você precisa contar a história cristã de um modo que aborde as coisas que as pessoas mais desejam para a sua própria vida, as coisas que elas estão tentando encontrar fora do Cristianismo, e mostrar como o Cristianismo pode lhes dar essas coisas. Alasdair MacIntyre disse isto acerca da apologética narrativa: “Prevalecerá sobre seus rivais a narrativa que for capaz de englobar em si os seus rivais, não apenas para recontar as histórias deles como episódios dentro de sua própria história, mas para contar a história do ato de contar as histórias deles como tais episódios”. Leia essa frase de novo.

Há um modo de contar o evangelho que faz as pessoas dizerem: “Eu não creio que seja verdade, mas eu gostaria que fosse”. Você precisa mostrar a beleza dele, e então retornar às razões para ele. Somente então, quando você mostrar-lhes que é necessário mais fé para duvidar do que para crer nele; quando as coisas que você observa no mundo são melhor explicadas pelo relato cristão das coisas do que pelo relato secular; e quando elas experimentam uma comunidade na qual elas efetivamente vêem o Cristianismo encarnado em vidas cristãs saudáveis e em uma comunidade cristã sólida, muitas pessoas irão crer.

Por Tim Keller. © 2012, Redeemer City to City. Website: www.redeemercitytocity.com. Original: How the Gospel Changes our Apologetics, Part 1
Tradução: VoltemosAoEvangelho.com

Fonte: Voltemos ao Evangelho
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