quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Pr. Youcef Nadarkhani: um herético para o governo islâmico do Irã. Herético também para portadores de diploma teológico?


PARE E PENSE

Julio Severo
Um vídeo produzido por líderes cristãos ligados à igreja iraniana aliada de comunistas está sendo divulgado em meios reformados para atacar o Pr. Youcef Nadarkhani, que havia sido condenado à morte pelo governo islâmico do Irã em 2010.
O vídeo, que tem a participação de reverendos com diploma teológico, questiona a falta de tal diploma na vida de Nadarkhani. E o questionamento, jogando-o contra a parede sem dó nem piedade, vai mais longe ao tentar extrair dele uma confissão de heresia.

Sentença de morte física ou teológica por “heresia”

Aparentemente, o maior problema de Nadarkhani, para os produtores do vídeo, foi sua suposta heresia, não sua sentença de morte, que havia sido decretada por “apostasia” — o ato de ele ter abandonado o islamismo para entregar sua vida a Jesus Cristo.
Claro que mesmo sem uma sentença oficial, pastores evangélicos são rotineiramente martirizados em países muçulmanos radicais. Mas será que, antes de ajudarmos a salvar a vida desses coitados, precisaremos conferir se possuem diploma teológico e se sua teologia é rigorosamente alinhada com a igreja oficial do Irã?
Youcef Nadarkhani: condenado pelos islâmicos. Condenado também pelos portadores de teologia?
Somente depois de uma intensa pressão internacional, que contou com a intervenção do senador Magno Malta, o governo islâmico do Irã cedeu, finalmente libertando o Pr. Youcef, que passou três anos sendo maltratado na prisão enquanto aguardava a execução.
Organizações e publicações cristãs do mundo inteiro celebraram sua libertação. Mas um grupo de pastores, principalmente reformados, começou a acusar o pastor iraniano de “unitarista” por entenderem que ele só crê em Jesus.

A resposta de Christian Solidarity Worldwide

A resposta oficial de Christian Solidarity Worldwide, uma organização que dá assistência para cristãos perseguidos no mundo inteiro, foi enviada ao Blog Julio Severo em email datado de 13 de setembro de 2012. O email de Christian Solidarity Worldwide disse:
É profundamente preocupante que enquanto a vida de um homem está em perigo, alguns cristãos não tenham nada de melhor para fazer do que pensar numa inquisição teológica de nova era.
Um importante líder da Igreja do Irã continua a insistir que [Nadarkhani e outros pentecostais] são evangélicos e não creem no unitarianismo. O credo deles pareceria apoiar isso, mas por favor leve em consideração que o vídeo (http://youtu.be/adRBJS5WdoM) foi traduzido do francês por pessoas cuja língua materna não é o inglês. Em todo caso, o Christian Solidarity Worldwide trabalha a favor da liberdade religiosa para todos, e colocando a religião e a teologia de lado, os fatos fundamentais envolvendo esse caso ilustram uma injustiça grave. A total falta de um processo justo e as decisões extrajudiciais que caracterizaram esse caso contribuíram para torná-lo célebre para organizações e observadores seculares — inclusive a sociedade secular — e pessoas e grupos de outras religiões. O que eles pensaram com tudo isso?
O fato incontestável é que o Pr. Nadarkhani enfrentou a sentença de morte porque ele estava insistindo em se apegar a Cristo, não porque ele estava se apegando ao unitarianismo. Será que esses teólogos não conseguem reconhecer e elogiar isso e orar por ele? Ainda que eles estejam com a razão de que o Pr. Nadarkhani realmente acredita no unitarianismo, esse é o momento apropriado para um artigo sobre essa questão? Será que Cristo iria querer seu povo focalizando nessa questão nesse momento, quando até mesmo descrentes estão objetando à pena de morte nesse caso? Ou será que eles sentem que a pena de morte é merecida nesse caso, considerando que ele é, aos olhos deles, um herético? Que tipo de testemunho é esse para o mundo que não conhece a Cristo?
O unitarianismo é uma crença teológica errada, mas dificilmente a igreja subterrânea iraniana tem acesso a recursos teológicos. É óbvio que o pastor iraniano não tem formação teológica, em contraste com seus questionadores.

A igreja oficial e não oficial do Irã

Youcef Nadarkhani faz parte do crescente movimento pentecostal do Irã.
Há dois tipos de igrejas cristãs no Irã: a igreja oficial (que em grande parte é de linha presbiteriana) e a igreja não oficial e subterrânea (que em grande parte é pentecostal).
A igreja oficial começou em meados de 1830, com o corajoso trabalho missionário de pastores presbiterianos dos EUA. Essa igreja, a Igreja Evangélica Presbiteriana do Irã (IEPI), tem o reconhecimento do governo e goza certa liberdade. Desde 1950, a IEPI faz parte do Conselho Mundial de Igrejas (CMI), uma verdadeira babilônia de esquerdismo, ecumenismo, feminismo, gayzismo, etc.
Se os portadores de diploma teológico que estão tentando detectar uma heresia em Nadarkhani olhassem para o CMI encontrariam não uma nem duas heresias. Encontrariam uma abundância tão grande de paganismo, bruxaria, gayzismo, marxismo, apostasia e heresias que teriam material suficiente para passar a vida inteira ocupados fazendo verdadeira apologética, atacando os verdadeiros heréticos.
Com o treinamento e conhecimento teológico que tem, é totalmente indesculpável que a IEPI tenha conexão com o CMI, que contraria frontalmente o Evangelho. É indesculpável também para o CMI, pois todos os seus membros são pastores e bispos com elevados títulos de seminários e universidades, mas cujo coração está cheio de fogo e enxofre do próprio inferno.
De igual forma, se o Pr. Youcef Nadarkhani tivesse todo o treinamento e conhecimento teológico da IEPI, seria indesculpável ele defender a teologia do unitarianismo.

Falta de instrução?

Entretanto, ele não tem tal treinamento e conhecimento teológico.  Em termos de instrução acadêmica, ele perde de longe para a IEPI e para o CMI. Além disso, não há evidência de que esteja defendendo explicitamente o unitarianismo. O que se sabe é que ele tem pregado Jesus.
A primeira medida cristã com relação a um cristão que tem conhecimento precário é ajudá-lo, como Aqüila e Priscila fizeram com Apolo:
“[Apolo] era instruído no caminho do Senhor e, fervoroso de espírito, falava e ensinava diligentemente as coisas do Senhor, conhecendo somente o batismo de João. Ele começou a falar ousadamente na sinagoga; e, quando o ouviram Priscila e Aqüila, o levaram consigo e lhe declararam mais precisamente o caminho de Deus.” (Atos 18:25-26 ACF)
“Paulo, tendo passado por todas as regiões superiores, chegou a Éfeso; e achando ali alguns discípulos, Disse-lhes: Recebestes vós já o Espírito Santo quando crestes? E eles disseram-lhe: Nós nem ainda ouvimos que haja Espírito Santo. Perguntou-lhes, então: Em que sois batizados então? E eles disseram: No batismo de João. Mas Paulo disse: Certamente João batizou com o batismo do arrependimento, dizendo ao povo que cresse no que após ele havia de vir, isto é, em Jesus Cristo. E os que ouviram foram batizados em nome do Senhor Jesus. E, impondo-lhes Paulo as mãos, veio sobre eles o Espírito Santo; e falavam línguas, e profetizavam.” (Atos 19:1-6 ACF)
Quando Paulo se encontrou com alguns cristãos que só tinham o conhecimento do batismo de João, com muito amor ele lhes explicou que havia um batismo mais avançado. Ele teve essa paciência porque eles eram cristãos simples, sem acesso à totalidade da Palavra de Deus e sem nenhum treinamento teológico. Mas se fossem teólogos, é de suspeitar que Paulo teria sido mais duro.
Nadarkhani pertence à igreja subterrânea, uma igreja que tem falta de quase tudo.  Não tem reconhecimento do governo islâmico e, por ser pentecostal, é ignorada ou até mesmo desprezada pelas igrejas presbiterianas formais do Irã.
Mas o maior pecado é cometido por quem tem muito conhecimento e ainda assim peca.

“Reverendo” e outros títulos

Num exemplo muito simples, o título “reverendo” é aplicado a líderes das igrejas presbiterianas e reformadas. O Dicionário Aurélio diz que o significado de “reverendo” é: “que merece reverência”.
De um ponto-de-vista teológico estritamente técnico, esse termo, e os que aceitam seu uso, mereceriam óbvia condenação, pois na Bíblia, especialmente nos Salmos, o termo “que merece reverência” está ligado exclusivamente a Deus, nunca a homens, nem mesmo a sacerdotes.
Contudo, homens mortais portadores de diplomas teológicos são tratados com real “reverência”, mesmo que não utilizassem para si o título de “reverendo”. Se eles, que são meros seres humanos, se ofendem espalhafatosamente com títulos como apóstolo e profeta, apropriados para serem usados para pessoas, como deveria Deus expressar seus sentimentos quando um homem usa o título de “reverendo”, que deveria pertencer somente a Ele?
Do ponto-de-vista da Bíblia, nenhum cristão é obrigado a se prostrar diante de um título que exige reverência para seu portador. O próprio Jesus Cristo nos alertou sobre títulos:
“Eles preferem os melhores lugares nos banquetes e os lugares de honra nas sinagogas. Gostam de ser cumprimentados com respeito nas praças e de ser chamados de ‘mestre’. Porém vocês não devem ser chamados de ‘mestre,’ pois todos vocês são irmãos uns dos outros e têm somente um Mestre. E aqui na terra não chamem ninguém de pai porque vocês têm somente um Pai, que está no céu. Vocês não devem também ser chamados de ‘líderes’ porque vocês têm um líder, o Messias. Entre vocês, o mais importante é aquele que serve os outros.” (Mateus 23:6-11 BLH)
Em nossos dias, Jesus poderia igualmente nos avisar: “E aqui na terra não chamem ninguém de ‘reverendo’ porque há somente um que merece reverência e Ele está no céu”.
Não estou defendendo o desrespeito aos que gostam de tais títulos, mas esse não é um ponto interessante?

Soberba teológica merece ser duramente criticada

Outro exemplo simples vem da própria realidade brasileira. Indivíduos progressistas portadores de diploma teológico e ostentando sobre suas próprias cabeças o título de “apologetas” criticam pentecostais e neopentecostais nos mínimos detalhes, não hesitando colar o rótulo de herético ao menor sinal de desagrado, conforme seus caprichos teológicos — um dos quais é a negação da operação de dons sobrenaturais do Espírito Santo hoje, como profecias e visões.
Mas, de forma esquizofrênica, sempre evitaram criticar Robinson Cavalcanti, portador de diplomas e vasto conhecimento teológico, político e ideológico, ex-membro, político e apoiador do PT, e um defensor da poligamia e do socialismo. “Para quem muito é dado, muito será cobrado” se aplica igualmente, nesse caso, ao não criticado e aos não criticadores.
Procuram uma “heresia” num homem simples como Nadarkhani, mas são incapazes de enxergar heresias vasta e patentemente maiores em proeminentes portadores de pergaminhos teológicos. Estão, como Jesus mostrou, com os olhos furados por uma trave de madeira, mas se julgam especialistas em tirar cisco dos olhos dos outros.
“— Por que é que você vê o cisco que está no olho do seu irmão e não repara na trave de madeira que está no seu próprio olho? Como é que você pode dizer ao seu irmão: ‘Irmão, me deixe tirar esse cisco do seu olho,’ se você não repara na trave que está no seu próprio olho? Hipócrita! Tire primeiro a trave que está no seu olho e então poderá ver bem para tirar o cisco que está no olho do seu irmão.” (Lucas 6:41-42 BLH)
Se Cavalcanti e seus amigos teólogos progressistas defendessem algo parecido com unitarianismo, aí seria um problema muito sério, exatamente por causa do vasto conhecimento deles para entender conceitos teológicos. Eles só não defendem o unitarianismo porque estão ocupados demais promovendo outras heresias.
Provavelmente, com sua pouca instrução, Nadarkhani nem entenda o que significa unitarianismo. Mas seus críticos sabem. E sabem o que o significam as palavras “reverência” e “reverendo”. E sabem também muito bem o que é o Conselho Mundial de Igrejas e a teologia marxista, também conhecida como Teologia da Libertação e Teologia da Missão Integral.
A igreja oficial do Irã tem teologia, diplomados, reverendos, templos reconhecidos e conexões com o Conselho Mundial de Igrejas, mas lhe falta a simplicidade e fome de Deus da igreja subterrânea perseguida.
Essa é a loucura de Deus, que escandaliza islâmicos assassinos de cristãos e portadores de soberba teológica, mas destituídos de paixão e compaixão de Deus.

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