terça-feira, 7 de junho de 2022

COMO LIDERAR SE VOCÊ NÃO ESTÁ NO COMANDO?

 


Essa parece ser uma pergunta contínua na mente de muitos envolvidos no ministério pastoral. Facilmente identificamos essa preocupação entre pastores auxiliares, evangelistas, presbíteros e diáconos. Todavia, em alguns casos, até o pastor titular da igreja pode não ter o comando, pois esse pode pertencer a outra pessoa ou a algum grupo da igreja. Em outras palavras, posição de liderança nem sempre equivale ao exercício do comando.

Isso não deveria ser nenhuma surpresa, pois nos mais diferentes empreendimentos humanos a maioria das pessoas desempenha papeis coadjuvantes e nem por isso são menos importantes. Além do mais, em se tratando do Reino de Deus, todos os cristãos são coadjuvantes, pois somente UM é digno de todo louvor e honra (cf. Ap 5.12). Até os pastores titulares são assistentes do Supremo Pastor das ovelhas (cf. 1Pe 5.4) e, portanto, não estão na posição de comando. No entanto, Cristo exerce sua autoridade sobre o rebanho que lhe pertence por meio de pessoas que desempenham liderança e, muitas vezes, essa posição não está diretamente relacionadas à função de comando.

No ministério pastoral, um exemplo claro a esse respeito é a condição do pastor auxiliar na Igreja Presbiteriana do Brasil. Ele desempenha uma função de liderança na igreja, mas trabalha sob a direção e orientação do pastor efetivo, isto é, “sem jurisdição sobre a igreja, podendo, eventualmente, assumir o pastorado da igreja, quando convidado pelo pastor ou, em sua ausência, pelo conselho” da mesma (CI/IPB art. 33, parágrafo 2). Em outras palavras, o pastor auxiliar exerce uma função coadjuvante no ministério da igreja, mas isso não significa que o seu trabalho não seja importante e nem que ele não seja um líder do rebanho. A grande questão nesse e em outros casos (evangelistas, por exemplo) é: como liderar quando não se está no comando? Não estar na posição de comando não é impedimento para que se lidere corretamente o rebanho de Cristo. Para que isso ocorra, é necessário considerar cinco tópicos básicos.

Defina o que é liderança

Para alguns, liderança equivale a posições, cargos e títulos. Nesse caso, quando uma dessas condições não é atendida, a pessoa se sente desmotivada e julga insignificante o seu trabalho. Às vezes é tragicômico observar a reação marcada por fragilidade e desespero, daqueles que confundem a posição de comando com o papel de liderança no ministério pastoral. Alguns, desanimados, logo desistem. Outros, insatisfeitos, procuram por posições melhores e até articulam contra quem está na posição de comando.

O exemplo de Jesus deixa claro, porém, que a verdadeira liderança equivale à influência e não à posição hierárquica. Na verdade, Cristo não considerou sua posição “algo a que se devesse apegar” (cf. Fp. 2.6). Quem, contudo, contestaria sua liderança? Quem duvidaria de sua influência sobre seus discípulos? Liderança implica em ter influência e isso independe da posição que a pessoa ocupa. Nesse caso, qualquer obreiro do Reino tem o privilégio de influenciar, persuadir e inspirar várias pessoas e, assim, exercer corretamente a liderança que Deus lhe conferiu. Se esse conceito não estiver claro para quem exerce o pastorado, a disputa por posições pode ter consequências horríveis tanto para os ministros quanto para as demais ovelhas do Bom Pastor. 

Aprenda a liderar a você mesmo

A menor esfera em que você exercerá sua liderança será sobre você mesmo: suas paixões, seu ímpeto, suas ambições e seus sonhos. Essa é uma importante esfera a ser liderada. Se você deseja liderar uma igreja, negócios ou algo do gênero, deve aprender como liderar a si mesmo. De outra sorte, o comportamento contraditório em relação ao que se diz pode ser interpretado como hipocrisia, mesma acusação de Paulo em relação ao comportamento do apóstolo Pedro na cidade de Antioquia da Síria (cf. Gl 2.14).

Muitos líderes caem em ruína durante o processo de gestão de pessoas porque não conseguem governar a eles mesmos. Escândalos geralmente ocorrem quando o líder abandona a disciplina, deixando, assim, de exercer domínio próprio e de lutar contra suas próprias paixões. O exemplo do apóstolo Paulo deveria orientar todo líder nesse sentido, especialmente os pastores. Ao comparar seu trabalho à disciplina de um atleta ele escreveu: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1Co 9.25-27). Portanto, se você quer liderar, aprenda a governar a si mesmo, viva de maneira íntegra, e outros terão você como exemplo a ser seguido.

Seja um servo

Os melhores líderes pensam primeiramente naqueles que se encontram sob sua responsabilidade e na maneira como estes podem servi-los apropriadamente. Mas os líderes egocêntricos são condenados por Deus desde a época do Antigo Testamento. O texto bíblico de Ezequiel 34.2-4 afirma: “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas? Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza”. Quem deseja liderar corretamente deve ser, antes de tudo, um servo. Primeiramente, um servo de Deus, e depois, um servo do povo de Deus.

Jesus ensinou ou o modelo de liderança servidora, pois ele “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.28). Dessa maneira, qualquer um que deseja desempenhar a função de embaixador de Cristo e pastor-auxiliar do Supremo Pastor necessita ser um servo de todos. Muitos obreiros apresentam falhas no processo de liderar o rebanho por estarem mais preocupados em serem servidos, honrados e reconhecidos do que em agirem como servos. Portanto, se você quer liderar, disponha-se a servir.

 Valorize relacionamentos

O ministério pastoral demanda estudo aprofundado em várias áreas: exegese, teologia, história, filosofia, cultura geral e outras tantas. Semanalmente, o pastor dedica tanto tempo em sua preparação que é tentado a se esquecer de que esse conhecimento não é um fim em si mesmo, mas tem como propósito edificar o rebanho. Se o conhecimento teológico não for traduzido em ensino amoroso e edificante, o resultado, segundo Paulo, será a soberba e o autoengano (cf. 1Co 8.1-2). Por essa razão, aquele que deseja liderar com maestria precisa valorizar seus relacionamentos.

Somente pela familiaridade com o rebanho, o pastor conquistará suas ovelhas para seguir seus ensinamentos. Dificilmente elas seguirão um estranho. Se o contato do pastor com seu rebanho se limitar aos domingos, quando ele ocupa o púlpito, ele pode até ser um mandatário, mas não um líder a inspirar outros. Relacionamentos providenciam o contexto para a interação próxima, afetiva e cuidadosa. O crente tende a se importar mais com o que o pastor diz quando experimenta que o pastor se importa com ele. Dessa maneira, pastor, cultive e valorize o relacionamento com o rebanho que Cristo lhe confiou.

 Ajude a desenvolver outros líderes

A igreja de Cristo necessita de novos líderes que contribuam para o avanço do Reino e pastoreiem corretamente o rebanho do Senhor. Uma excelente maneira de exercer nossa liderança é ajudar no desenvolvimento desses futuros líderes. Nesse sentido, dedicar tempo e cuidado com aqueles que possuem dons e talentos para conduzir a igreja no futuro é não apenas um notável investimento, mas é também uma boa estratégia para influenciar a próxima geração. Conselhos de igreja serão ocupados por esses líderes potenciais com os quais podemos colaborar diariamente, mesmo quando não estamos na posição de comando.

O treinamento de novos líderes é algo que pode ser feito por qualquer pastor auxiliar ou por um obreiro. Isso certamente alivia a carga de trabalho do pastor titular. Enquanto o último se ocupa com a tomada de decisões de questões imediatas, os primeiros podem contribuir com o preparo daqueles que se ocuparão com as decisões no futuro. Dessa maneira, o assistente não apenas presta um eminente serviço, como também tem a oportunidade de exercer sua influência sobre uma importante esfera do corpo de Cristo.

Em vista do que acima foi escrito, se você é alguém que está no ministério pastoral, mas no momento não está na posição de comando, não há razões para se sentir menos importante nem para cobiçar o que no momento não lhe pertence. Há inúmeras maneiras de servir a Cristo e influenciar pessoas. O pastor, não importando a sua posição, deveria estar mais preocupado em discernir a maneira de liderar mais eficientemente o rebanho do que em competir com aqueles que estão na posição de comando.   

Rev. Valdeci da Silva Santos – SNAP

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