terça-feira, 28 de junho de 2022

A FÉ VERDADEIRA

 

Daniel 3

A verdadeira fé é diferente da fé customizada que muitas pessoas apresentam em suas vidas nos dias atuais. A fé verdadeira leva o servo do Senhor a se firmar em Deus independente das circunstâncias.

O diabo nos tenta a fim de destruir nossa fé, mas Deus nos prova a fim de desenvolver nossa fé, pois uma fé que não pode ser provada não é digna de confiança. A fé que não é verdadeira sucumbe nos tempos de provação, mas a fé autêntica lança raízes mais profundas, cresce e glorifica a Deus. Isso explica por que Deus permitiu que três homens hebreus fossem provados e lançados numa fornalha de fogo. O apóstolo Pedro devia conhecer bem o Livro de Daniel, pois usou a metáfora do ouro “apurado por fogo” quando advertiu seus leitores sobre as perseguições iminentes que a Igreja sofreria (1 Pe 1:7; 4:12).’

A experiência desses três homens nos ajuda a examinar nossa própria fé e a determinar se temos uma fé autêntica, que pode ser provada, e a glorificar a Deus.

 1. A FÉ VERDADEIRA ENCARA O DESAFIO ( Dn 3:1-12 ) Não sabemos quanto tempo se passou entre a noite em que Nabucodonosor sonhou com a imagem feita de metais (Dn 2) e o dia em que ordenou que o povo se prostrasse diante da figura de ouro que havia mandado fazer. Alguns estudiosos acreditam que os acontecimentos descritos em Daniel 3 podem ter ocorrido vinte anos depois da promoção de Daniel e de seus amigos, perto da época em que Jerusalém foi finalmente destruída (586 a.C.).

 O coração do rei (vv. 1-3). Quando Daniel explicou o significado dos metais sucessivos na grande estátua, identificou Nabucodonosor com a cabeça de ouro (Dn 2:38); talvez, em parte, tenha sido isso o que motivou o rei a fazer uma imagem de ouro. Não se contentou em ser simplesmente uma cabeça de ouro; ele e seu reino seriam simbolizados por uma estátua feita inteiramente desse metal! Por certo, o orgulho fazia parte dessa ideia. Daniel havia deixado claro que nenhum império permaneceria, inclusive o do grande Nabucodonosor. Sem dúvida, todas as conquistas que realizou encheram o coração do rei de soberba, mas juntamente com elas havia o medo e a preocupação consigo mesmo e com seu vasto império. Ele queria certificar-se de que seu povo era leal a ele e de que não haveria rebeliões.

 Não havia ouro suficiente em todo o império para fazer uma estátua maciça com trinta metros de altura e três metros de largura, de modo que a imagem provavelmente foi confeccionada em madeira e recoberta de ouro (Is 40:19; 41:7; Jr 10:3-9). Ainda assim, devia ser impressionante ver essa imagem dourada erguida na planície de Dura, um campo que ficava talvez a uns vinte quilômetros da cidade da Babilônia. (“Dura” significa simplesmente “um lugar murado”, e havia vários locais com esse nome na antiga Babilônia). Nessa região, também foi feita uma fornalha onde as pessoas seriam lançadas, caso se recusassem a curvar-se diante da imagem e a reconhecer a soberania do rei Nabucodonosor. O plano de Nabucodonosor era unificar o reino por meio da religião e do medo. As opções eram prostrar-se diante da imagem e adorá-la ou ser lançado na fornalha e morrer queimado.

O rei enviou mensageiros a todas as províncias de seu império ordenando que os oficiais se reunissem para a consagração da grande estátua de ouro. São mencionados os nomes de oito oficiais específicos (Dn 3:2,3) que representariam o povo de suas províncias. Os sátrapas (príncipes?) eram os principais administradores das províncias, enquanto os governadores eram, provavelmente, seus assistentes (ou talvez comandantes militares). Os prefeitos governavam sobre distritos menores, e os juízes eram seus conselheiros. A função dos tesoureiros era semelhante à dos tesoureiros de hoje, e os conselheiros eram peritos na lei. Os oficiais eram juízes e magistrados locais e cuidavam dos variados assuntos do governo das províncias. Todos os níveis hierárquicos possuíam representantes, e esperava-se que todos estivessem presentes.

Contudo, tratava-se de algo mais que uma assembleia política; era um culto religioso com música e tudo, sendo exigido um compromisso total da parte dos adoradores. Observe que o verbo “adorar” é usado pelo menos dez vezes neste capítulo. Nabucodonosor foi sábio ao usar música instrumental, pois esta poderia estimular as emoções do povo, tornando-o mais manipulável e conquistando sua submissão e obediência. Ao longo da história, a música e os cânticos desempenharam um papel importante para fortalecer o nacionalismo, motivando conquistas militares e inspirando o povo a agir. A música tem o poder de apossar-se de tal modo das emoções e dos pensamentos humanos que, de seres livres, as pessoas podem ser transformadas em marionetes. William Congreave, poeta inglês, escreveu que “a música tem um encantamento capaz de acalmar uma fera selvagem”, mas também tem o poder de libertar o que há de selvagem dentro da fera. A música pode ser usada como um instrumento maravilhoso do Senhor ou como uma arma destrutiva de Satanás.

O coração do povo (vv. 4-7). O arauto não pediu que se fizesse uma votação. Simplesmente avisou o povo: aquilo que estava prestes a acontecer era uma questão de vida ou morte. Ao som da música, eles se prostrariam diante da imagem ou então morreriam. A multidão supersticiosa estava acostumada a adorar muitos deuses e deusas, de modo que era uma ordem fácil de obedecer, especialmente considerando-se as consequências. A diferença entre um verdadeiro cristão e um incrédulo não é a presença de fé, pois todos vivem pela fé em alguma coisa. A diferença é o objeto dessa fé. A multidão cria no arauto e no rei e, portanto, obedeceu. Os três homens hebreus criam no mandamento de Deus, de modo que desobedeceram. A multidão tinha uma fé ingênua, mas os judeus tinham uma fé segura.

 “A fé é uma das forças pelas quais o homem vive”, disse o filósofo e psicólogo William James com toda razão. As pessoas agem pela fé quando entram num elevador, pedem comida num restaurante ou declaram seus votos matrimoniais. O cristão vive pela fé no Deus vivo e naquilo que ele revelou em sua Palavra. A grande multidão de babilônios, de exilados e de representantes das províncias simplesmente acatou o édito do rei e fez o que o resto do povo estava fazendo. — Afinal — argumentavam —, todo mundo tem de viver!

 Havia milhares de exilados judeus na Babilônia representados por Sadraque, Mesaque e Abede-Nego. Se eles se prostrassem para o ídolo, todos os judeus estariam envolvidos!

 A assembleia de “adoradores” nos ajuda a compreender melhor a difícil situação de quem não conhece a Jesus no mundo de hoje. Estes seguem a multidão sem questionar e constroem sua vida sobre aquilo que é fácil e fútil. Preocupados apenas com a sobrevivência, fazem quase qualquer coisa para escapar do perigo e da morte, a ponto de vender-se como escravos de homens e dos mitos vazios que promovem. Essa é a filosofia do diabo: “Pele por pele, e tudo quanto o homem tem dará pela sua vida” (Jó 2:4).

Exatamente o oposto da visão de mundo dos cristãos que crêem em João 12:24-26.

 O coração dos três judeus (vv. 8-12). No entanto, naquela imensa multidão, três homens permaneceram em pé, mesmo quando todo o resto prostrou-se com o rosto em terra. Sua fé estava no verdadeiro Deus vivo e na Palavra que ele havia dado a seu povo. Conhecendo a história do povo judeu, tinham certeza de que o Senhor estava no controle e de que não havia nada a temer. O profeta Isaías havia escrito: “Mas agora, assim diz o S e n h o r , que te criou, ó Jacó, e que te formou, ó Israel: Não temas, porque eu te remi; chamei-te pelo teu nome, tu és meu. Quando passares pelas águas, eu serei contigo; quando, pelos rios, eles não te submergirão; quando passares pelo fogo, não te queimarás, nem a chama arderá em ti” (is 43:1, 2). Ter fé significa obedecer a Deus apesar dos sentimentos dentro de nós, das circunstâncias a nosso redor ou das consequências diante de nós.

 E difícil reconstruir os detalhes dos acontecimentos, mas tudo indica que o rei Nabucodonosor e seus conselheiros (“caldeus”) não estavam juntos enquanto assistiam à cerimônia e o rei não havia exigido que se juntassem ao povo em sua adoração. E possível que tivessem declarado sua lealdade em particular por considerarem um insulto juntar-se “à ralé”. Uma vez que os três homens hebreus tinham cargos nas províncias (Dn 2:49), deviam estar presentes, mas não sabemos exatamente onde.3 Ao que parece, Nabucodonosor não tinha como observá-los, mas os caldeus podiam ver o que eles faziam e, sem dúvida, esses homens perversos vigiavam e esperavam uma oportunidade de acusar os três estrangeiros que haviam sido promovidos a líderes dos babilônios. Não sabemos se esse grupo de conselheiros era o mesmo que havia sido envergonhado quando Daniel interpretou o sonho do rei, mas se esse é o caso, esqueceram-se rapidamente de que os “estrangeiros” haviam salvo a vida deles.

A verdadeira fé não teme as ameaças, não se impressiona com as multidões nem se abala com cerimônias supersticiosas. A verdadeira fé obedece ao Senhor e confia que ele cuidará das consequências. Esses três homens judeus conheciam a lei de Deus: “Não terás outros deuses diante de mim […]. Não as adorarás, nem lhes darás culto” (Êx 20:3, 5). Uma vez que o Senhor falou sobre um assunto, isso está resolvido e não há espaço para discussão nem necessidade de transigência. Prostrar-se diante de uma imagem, ainda que uma só vez, quaisquer que fossem as desculpas que pudessem dar, teria acabado com seu testemunho e rompido sua comunhão com Deus. O tempo do verbo grego, em Mateus 4:9, indica que Satanás pediu a Jesus que o adorasse apenas uma vez, e o Salvador se recusou. Sadraque, Mesaque e Abede-Nego não se prostrariam diante da imagem de ouro nenhuma vez, pois isso os levaria a servir os falsos deuses de Nabucodonosor para o resto da vida.

2 . A FÉ VERDADEIRA CONFESSA O SENHOR ( Dn 3 : 13 – 18 ) Novamente, vemos o rei num ataque de raiva (v. 13; ver v. 19 e 2:12). Ele havia conquistado muitas cidades e nações, mas não conseguia dominar a si mesmo. “Melhor é o longânimo do que o herói da guerra, e o que domina o seu espírito, do que o que toma uma cidade” (Pv 16:32). Os três oficiais hebreus, porém, mostravam-se calmos e respeitosos. “Estando sempre preparados para responder a todo aquele que vos pedir razão da esperança que há em vós, fazendo-o, todavia, com mansidão e temor” (1 Pe 3:15, 16)

O rei devia ter um respeito especial por esses homens e pelo trabalho que realizavam no império, pois lhes deu mais uma chance de obedecer a suas ordens. Talvez tivesse se esquecido de que havia chamado o Deus deles de “Deus dos deuses, e o Senhor dos reis” (Dn 2:47), pois perguntou com arrogância: “E quem é o deus que vos poderá livrar das minhas mãos?” (Dn 3:15; ver Êx 5:2). Na verdade, o rei estava afirmando que ele próprio era um deus! Em pouco tempo, seria humilhado e teria de confessar que o Deus dos hebreus é “Deus, o Altíssimo” e que ninguém deve blasfemar contra o nome dele.

 Os três homens poderiam ter transigido com o rei e defendido sua desobediência com argumentos como: “Todos estão fazendo isso”, ou “É uma das obrigações de nosso cargo”, ou ainda “Dobraremos nossos joelhos, mas não o nosso coração”. Poderiam ter dito: — Podemos ser mais úteis para nosso povo como oficiais a serviço do rei do que como cinzas na fornalha do rei.

 Contudo, a verdadeira fé não procura brechas para escapar; simplesmente obedece a Deus e sabe que ele fará aquilo que for melhor. A fé baseia-se em ordens e em promessas, não em argumentos e explicações.

Tempos de adversidade normalmente são tempos de oportunidade, especialmente quando o povo de Deus está sendo perseguido por sua fé. “Porque vos entregarão aos tribunais e às sinagogas; sereis açoitados, e vos farão comparecer à presença de governadores e reis, por minha causa, para lhes servir de testemunho” (Mc 13:9). Os três judeus corajosos não estavam preocupados consigo mesmos nem estavam com medo da fúria do rei. Sua única preocupação era obedecer ao Senhor e dar um testemunho fiel a todos que os estavam vendo e ouvindo. Sua atitude foi respeitosa, suas palavras foram poucas e escolhidas com cuidado.

 “Quanto a isto não necessitamos de te responder” (Dn 3:16) significa: “Não precisamos nos defender nem defender nosso Deus, pois nosso Deus cuidará da sua própria defesa e da nossa.”

Não estavam nem um pouco preocupados! É um tanto arrogante o povo de Deus achar que deve defender o Senhor, uma vez que ele é perfeitamente capaz de defender a si mesmo e de tomar conta de seu povo. Nossa tarefa é obedecer a Deus e confiar nele, e ele fará o resto. “Eis que Deus é a minha salvação; confiarei e não temerei, porque o S e n h o r Deus é a minha força e o meu cântico; ele se tornou a minha salvação” (Is 12:2).

Sadraque, Mesaque e Abede-Nego eram homens de fé, mas não eram presunçosos. Se tivessem afirmado que Deus iria livrá-los, teriam sido pretensiosos, pois não sabiam o que Deus estava planejando para a situação deles. Antes, afirmaram que o Deus deles era capaz de livrá-los, mas que, ainda que não o fizesse, não se prostrariam diante da figura de ouro do rei. Existe algo chamado “fé comercial” que diz: “Obedeceremos a Deus se ele nos recompensar por isso”. Trata-se, mais uma vez, da filosofia de adoração do diabo: “Tudo isto te darei se, prostrado, me adorares” (Mt 4:9; Jó 1:9-12). Em meu ministério pastoral, já ouvi pessoas fazerem promessas a Deus para tentar “persuadi-lo” a curá-las ou para mudar sua situação. Desde os primeiros dias na Babilônia, Daniel e seus amigos decidiram que seriam diferentes, e o Senhor os capacitou a permanecerem firmes nessa decisão.

Hebreus 11 apresenta uma relação de nomes e feitos de grandes homens e mulheres da fé que inclui esses três homens judeus (Hb 11:34), mas no versículo 36 o escritor diz: “outros, por sua vez” e, em seguida, cita pessoas que parecem ter fracassado apesar de sua fé (vv. 36-40). O termo grego significa “outros de um tipo diferente”, ou seja, outros que tiveram fé, mas não viram Deus realizar os milagres que fez por aqueles que são citados nos trinta e cinco versículo iniciais. Deus sempre recompensa a fé, mas nem sempre interfere e faz milagres específicos. Nem todos os que oram serão curados, mas Deus sempre dá forças para suportar a dor e graça para enfrentar a morte sem medo. Os três homens hebreus criam que Deus podia livrá-los, mas confiariam nele, mesmo que não o fizesse. E assim que a fé deve funcionar em nossa vida (ver Habacuque 3:1 7-19).

3. A FÉ VERDADEIRA DESCONCERTA O INIMIGO (Dn 3:19-25) Mais uma vez, o rei se enfureceu – homens arrogantes não gostam de ser desobedecidos – e ordenou que os três judeus fiéis fossem lançados na fornalha de fogo. Haviam recusado sua oferta generosa e teriam de sofrer as consequências. Antes o rei havia sido amigável com eles e se preocupado em salvá-los, mas agora estava decidido a destruí-los. Finalmente, os conselheiros da corte teriam sua vingança contra esses exilados judeus que haviam se instalado em seu território e sido promovidos a cargos que pertenciam aos caldeus.

 A fornalha era usada na fundição de minério. Tinha uma abertura grande na parte de cima pela qual se colocava a lenha ou o minério no fogo e uma porta na parte de baixo por onde o minério era removido. Uma abertura na parede permitia que os fundidores acompanhassem o processo e, por meio de buracos na parede, era possível usar foles para fazer o fogo arder com maior intensidade. A fornalha era grande o suficiente para que pelo menos quatro pessoas andassem dentro dela. Foi nessa fornalha que Nabucodonosor lançou os três judeus fiéis, totalmente vestidos e amarrados. A morte parecia certa para aqueles homens que haviam se recusado a obedecer ao rei.

A ira do rei deve ter abalado seu raciocínio, pois a melhor maneira de castigar os homens não seria aumentar a temperatura do fogo, mas sim diminuí-la. Um fogo mais quente os consumiria instantaneamente, enquanto uma temperatura mais baixa faria com que sofressem dor intensa antes de morrer. Mas isso não fez diferença alguma, pois os três não foram sequer afetados pelo fogo! Quando o rei olhou dentro da fornalha, viu que estavam vivos e não mortos, soltos e não atados e que havia mais uma pessoa lá com eles! O rei pensou que fosse um anjo parecido com um “filho dos deuses” (vv. 25, 28), mas a quarta pessoa na fornalha era Jesus Cristo em uma de suas aparições pré-encarnadas no Antigo Testamento (ls 43:2; Sl 91:9-12). Andavam de um lado para o outro como se estivessem num palácio e não numa fornalha! As cordas com as quais os três homens tinham sido atados eram a única coisa que havia sito afetada pelo fogo. O Deus de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego era, de fato, capaz de livrá-los!

Os três homens haviam se recusado a obedecer às ordens do rei e a prostrar-se diante da figura, mas quando o rei ordenou que saíssem da fornalha, obedeceram sem demora. Eram milagres vivos e queriam que todos soubessem o que seu grande Deus era capaz de fazer. Não apenas o corpo de cada homem estava intocado, como também seus cabelos não haviam sido chamuscados e suas roupas nem tinham cheiro de fumaça. Os outros oficiais presentes à cerimônia de consagração presenciaram essa maravilha (Dn 3:27) e, sem dúvida, relataram-na a outros quando voltaram para suas províncias. Era uma história e tanto! Os oficiais não ousaram dizer coisa alguma naquele momento a fim de não ofender o rei. Mas Nabucodonosor falou (v. 28)! Declarou: (1) o poder do Deus de Israel; (2) a eficácia da fé nele; e (3) a devoção extraordinária dos três homens judeus que sujeitaram seu corpo ao Deus verdadeiro e não ao falso deus do rei (Rm 12:1, 2). Por um ato de fé, os três judeus deram testemunho do verdadeiro Deus vivo a todo o império babilônio!

4 . A FÉ VERDADEIRA CONFIRMA AS PROMESSAS (Dn 3 : 26 – 30 ) Por que o Senhor incluiu essa história nas Escrituras do Antigo Testamento? Pelo mesmo motivo que incluiu histórias sobre as “experiências de fé” de Abraão, de Moisés, de Josué, de Davi e dos profetas: para encorajar o povo de Deus em sua batalha contra o mundo, a carne e o diabo. “Pois tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e pela consolação das Escrituras, tenhamos esperança” (Rm 15:4).

Encorajamento no tempo de Daniel. O povo judeu não podia encontrar-se em pior situação do que aquela em que esteve durante os setenta anos de cativeiro na Babilônia. Sua terra havia sido devastada, o templo e a cidade de Jerusalém jaziam em ruínas, e o povo estava disperso entre os gentios ou no cativeiro da Babilônia. Tudo parecia perdido. Os profetas previam o dia em que os judeus voltariam para sua terra e reconstruiriam a cidade e o templo, mas, antes, teriam de suportar a vergonha e o sofrimento do cativeiro.

A experiência de Sadraque, Mesaque e Abede-Nego deve ter sido um grande estímulo para os judeus fiéis e pode ter convencido de seu pecado os judeus que transigiam com o inimigo. Esses três homens transmitiram uma mensagem poderosa a seu povo: o Deus Jeová ainda está assentado no trono. Ele não nos abandonou e, um dia, cumprirá as promessas que fez a seu povo. Prometeu que estaria com eles na fornalha da aflição, se confiassem nele e fizessem sua vontade. Mais tarde, quando o remanescente voltou para sua terra, o relato da fornalha de fogo deve ter ajudado a sustentá-los durante aqueles anos de dificuldade e de demora.

Encorajamento em nosso tempo. A vida pode ser relativamente segura e confortável onde você e eu vivemos, mas, em muitas partes do mundo, o povo de Deus está pagando um alto preço para manter-se firme em seu testemunho e continuar separado do mundo. Dia após dia, ouvem o arauto gritando: “Prostrai-vos diante da figura de ouro como todos estão fazendo!” Em sua primeira epístola, Pedro advertiu a igreja de que a provação de fogo era iminente e, sem dúvida, eles se lembraram do que havia acontecido aos três homens hebreus no tempo de Nabucodonosor. Diz-se que houve mais mártires cristãos no século vinte do que em todos os séculos anteriores. Nem todos os cristãos escaparam da morte na fornalha, mas todos foram poupados de abrir mão de seu testemunho de Cristo e de procurar a saída mais fácil. “Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida” (Ap 2:10).

 Ao nos aproximarmos do fim dos tempos, a fornalha da oposição será aquecida para arder com intensidade sete vezes maior, e a pressão para se conformar ao mundo ficará cada vez mais forte. Será preciso um bocado de graça, oração, coragem e fé ao povo de Deus para que permaneça firme por Cristo, enquanto outros se prostram diante dos deuses deste mundo. O Livro de Daniel é uma grande fonte de estímulo, pois nos lembra de que Deus se preocupa com seu povo e honra seus filhos, quando são fiéis a ele. “Porque aos que me honram, honrarei” (1 Sm 2:30).

Encorajamento para o futuro. Os acontecimentos de Daniel 3 lembram as profecias no Livro de Apocalipse, especialmente nos capítulos 13 e 14. Um dia, surgirá um líder mundial semelhante a Nabucodonosor (“a besta”), que mandará construir uma imagem de si e obrigará as pessoas do mundo inteiro a adorá-la. Quem obedecer receberá uma marca especial na testa ou na mão, a qual será sua garantia de sobrevivência e de permissão para negociar. Aqueles que se recusarem a obedecer serão perseguidos, e muitos serão mortos (Ap 13:4, 7, 12, 15). Mas o Senhor marcará para si 144 mil judeus que a besta não poderá tocar, e eles passarão pela tribulação e governarão no reino do Messias.

 Ao avançar em nossos estudos, veremos que o Livro de Daniel é de especial relevância para o “tempo do fim” (Dn 12:4) e que suas profecias trarão esclarecimento e encorajamento para os cristãos vivenciando os difíceis últimos dias (Mt 24:15). Não importa quão tirânicos tornem-se os governantes do mundo ou quanto alimentem o fogo, Deus estará com seu povo na fornalha e, no final, derrotará seus inimigos e estabelecerá seu reino.

Quando pelo fogo teu caminho passar, minha graça que basta te sustentará. A chama que arde não te ferirá, pois meu intento seguro é tua escória queimar, e mais puro teu ouro tornar. (Autor desconhecido).

Extraído do comentário de Daniel de W. Wiersbe

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