quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Redenção: universal ou eficaz?


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Por Clóvis Gonçalves


A discórdia insuperável entre arminianos e calvinistas diz respeito a dois pontos sobre a redenção: sua eficácia e sua extensão. Uma redenção feita em favor de todos que seja objetivamente eficaz, resultaria em universalismo, hipótese rejeitada por ambos os grupos. Para evitá-lo, deve limitar a extensão da expiação ou considerá-la como provida, mas não realizada na cruz. A questão então é: Jesus realizou a redenção na cruz ou apenas a tornou possível? O significado do termo redenção e seu uso no Novo Testamento nos dá uma boa pista para resolver o dilema.

Em português o termo redenção ocorre 11 vezes na versão Revista e Corrigida (Lc 2:38; 21:28; Rm 3:24; 8:23; 1Co 1:30; Ef 1:7; 1:14; 4:30; Cl 1:14; 1Tm 2:6; Hb 9:12). A Revista e Atualizada substitui “redenção” por “resgate” em Ef 1:14 e 1Tm 2:6. A NVI acrescenta à lista Lc 24:21 (onde a RC traz “remisse” e a RA “redimisse” e também traz “resgate” em 1Tm 2:6. O Moderno Dicionário Michaelis de Língua Portuguesa define redenção como sendo o “ato ou efeito de remir; resgate”, acrescentando que na antiguidade referia-se a “esmolas que se davam para remir os cativos”. Quanto ao termo resgate, diz que é tanto a “ação ou efeito de resgatar” como “aquilo que se paga para libertar um cativo, um prisioneiro, etc.”. Outras definições apresentadas são “pagamento de uma dívida” e “o lugar onde, por dinheiro, se fazia a libertação de cativos ou mercadorias”.

No Novo Testamento, redenção é a tradução de dois termos gregos: lutrosis (Lc 2:38; Hb 9:15) e apolutrōsis (Lc 21:28; Rm 3:24; 8:23; 1Co 1:30; Ef 1:7; 1:14; 4:30; Cl 1:14; Hb 9:15). Fazem parte do grupo de palavras baseadas em lutron, que são formadas especificamente para transmitir a ideia de pagamento de resgate. Sendo assim, o significado básico de redenção é a libertação mediante pagamento. Tanto o pagamento do resgate como a libertação de fato estão incluídos no significado.

A implicação desse conceito em nossa salvação é bastante forte. Jesus não nos salvou pelo exercício de Seu poder. Não nos libertou pela Sua doutrina, nem pelo Seu exemplo. Não nos reconciliou com Deus ignorando nossos pecados. Ele satisfez plenamente a justiça de Deus, libertando-nos mediante o pagamento de um resgate, a redenção em Seu sangue. Não resta dúvida, portanto, que o preço do resgate foi plenamente pago por Jesus, não sendo cabível nenhum complemento ao que ele realizou na cruz, tampouco sendo possível pensar que alguém por quem Ele pagou tão alto preço quedará, ao final, sem ser libertado.

O Novo Testamento declara que Jesus “pelo seu próprio sangue, entrou no Santo dos Santos, uma vez por todas, tendo obtido eterna redenção” (Hb 9:12). “Tendo obtido” é um particípio aoristo, que expressa uma ação simples, sem indicar por si mesmo o tempo da ação. Porém, quando encontra-se numa relação com o verbo principal, o particípio aoristo indica uma ação anterior a ele. No caso, a ação principal é “entrou no Santo dos Santos”. Quando Jesus entrou no Santíssimo lugar, já havia realizado uma “eterna redenção”. Logo adiante, diz-se que “intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna herança aqueles que têm sido chamados” (Hb 9:15). Desta vez, os objetos da “eterna herança”, ou seja os beneficiários da redenção são indicados: “aqueles que tem sido chamados”. No conjunto, Hb 9:12,15 afirma a redenção objetiva e realizada em favor de um grupo específico de pessoas.

Ao morrer na cruz, Jesus “se nos tornou, da parte de Deus, sabedoria, e justiça, e santificação, e redenção” (1Co 1:30), “no qual temos a redenção, pelo seu sangue, a remissão dos pecados, segundo a riqueza da sua graça” (Ef 1:7). Escrevendo aos Colossenses, Paulo assim se expressa a respeito do que Cristo realizou na cruz: “tendo cancelado o escrito de dívida, que era contra nós e que constava de ordenanças, o qual nos era prejudicial, removeu-o inteiramente, encravando-o na cruz” (Cl 2.14).

Mas seria possível que o resgate fosse pago, mas a libertação não ocorresse? Se o pagamento fosse feito ao Diabo, enganador e mentiroso desde o princípio, então até se poderia esperar que ele recebesse o pagamento exigido e não libertasse a vítima. Porém, o pagamento foi feito a Deus, que o recebeu de Seu Filho. Pensar que uma só pessoa, por quem Cristo pagou todo preço devido e de quem Deus recebeu o pagamento, venha a se perder, é ultrajante à justiça divina. Assim, posto que ninguém em favor de quem Cristo morreu irá se perder, temos ou o universalismo, ou a expiação limitada em sua extensão.

Soli Deo Gloria

Fonte: Cinco Solas

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