A história do sangue derramado de Abel está nas primeiras páginas do Antigo Testamento. Nas primeiras páginas do Novo Testamento encontra-se a história do sangue derramado de João Batista, parente e precursor de Jesus. Para satisfazer os caprichos da amante, Herodes mandou que cortassem a cabeça do pregador na cadeia onde este se encontrava. Um guarda trouxe a cabeça do homem em uma bandeja e a entregou a uma adolescente, filha de Herodias, que, por sua vez, a levou para sua mãe. O que esta senhora fez com a cabeça de João não se sabe. Sabe-se, porém, que os discípulos de João “levaram o corpo dele e o sepultaram” e “depois foram contar isso a Jesus” (Mateus 14.10-12). João não foi o único a ser enterrado sem a cabeça. Para recompor-se do trauma, Jesus precisou passar uma noite inteira em oração, no alto de um monte (Mateus 14.23).
Em nenhum momento deixou-se de se derramar sangue sobre a terra. No dia 17 deste mês, por exemplo, o sangue de quatro crianças entre 4 e 12 anos foi derramado em uma pequena casa da zona rural nas proximidades de Viçosa. Quem tirou a vida delas foi o próprio pai, um agricultor de 34 anos. O assassino, que se enforcou logo em seguida, usou um machado para cometer o crime.
A última notícia de sangue derramado (até o momento) é igualmente chocante. Um rapaz de 29 anos, no último domingo, por volta das dez horas da noite, matou a facadas os próprios pais adotivos, na casa deles, na cidade de Olinda, PE. O morto é o bispo anglicano da Diocese do Recife e cientista político Robinson Cavalcanti, ex-professor da UFPE e da UFRPE, além de ex-coordenador do Centro de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Federal de Pernambuco e ex-professor conferencista-visitante na Universidade do Alabama, em Birmingham. Um dos mais antigos defensores da missão integral da igreja, Robinson batalhava por uma sociedade solidária e uma economia pós-capitalista inspirada nos valores judaico-cristãos. Participou de numerosos movimentos em defesa da justiça social. Coordenou, entre as igrejas evangélicas, as campanhas presidenciais de Lula, de 1989 e 1994. Participou da campanha do “Parlamentarismo” e da campanha “Fora Collor”. Foi um dos redatores de importantes documentos, como “A Responsabilidade Social da Igreja” (Grand Rapids, EUA), “O Evangelho e a Cultura” (Willowbank, Bermudas) e “Estilo de Vida Simples como Opção Cristã” (Hoddesdon, Inglaterra), entre outros. No Núcleo Interdisciplinar de Estudo sobre a Sexualidade (NIES) da UFPE, defendeu, como convidado, a posição ortodoxa da Igreja no 5° Congresso Brasileiro de Homossexuais.
Autor de mais de mil artigos sobre teologia e política e de treze livros (três dos quais foram publicados pela Editora Ultimato), Robinson Cavalcanti era o mais antigo colaborador da revista Ultimato. O último artigo de sua lavra sairá na edição de março/abril. Nele o bispo anglicano queixa-se de que “os cristãos não querem sair da zona de conforto, se engajar, se libertar da imprensa manipuladora, lançar mão das ferramentas das ciências sociais, se chocar com os donos do poder...”.
Conheça e participe do Memorial Robinson Cavalcanti.
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