No atual processo de secularização da Igreja, antigas terminologias eclesiásticas são utilizadas para rotular os que estão envolvidos. Os que tentam secularizar a Igreja são chamados de liberais pelos resistentes. O liberalismo teológico, também conhecido como modernismo, teve sua origem na Alemanha, no final do século XIX. As suas características principais são: (1) adaptar o cristianismo a cultura e ao pensamento contemporâneo através de uma nova linguagem; (2) a Bíblia não é o registro infalível da revelação sobrenatural de Deus, mas um livro histórico e, portanto, não possui autoridade absoluta; (3) a negação da transcendência divina e defesa da sua total imanência na criação - panteísmo; (4) a valorização da experiência religiosa subjetiva em detrimento da fé e da obediência a Bíblia; (5) o otimismo humanista que prega a evolução ética da sociedade pelo esforço humano, por meio da implantação do reino terrestre divino. Não se deve confundir Liberalismo com Neo-Ortodoxia.
Os que resistem a secularização da Igreja são chamados de fundamentalistas pelos liberais. O Fundamentalismo foi um movimento que surgiu nos Estados Unidos, logo após a Primeira Guerra Mundial, com o objetivo de reafirmar o protestantismo ortodoxo, defendendo-o do liberalismo teológico, da alta-crítica e do darwinismo. Na série de doze volumes chamada Os Fundamentos, a ortodoxia era reafirmada por meio do combate a teologia liberal. Os autores eram das diversas denominações evangélicas (presbiterianos, batistas, anglicanos etc) e os editores responsáveis eram do Instituto Bíblico Moody e do Instituto Bíblico de Los Angeles. Não se deve confundir o Fundamentalismo com o Evangelicalismo.
No Brasil, como produto made in Brazil, temos aqueles que se intitulam hoje de moderados, ou seja, não são nem liberais nem fundamentalistas. Moderado é o adjetivo que qualifica a pessoa que age prudentemente, sem exageros, comedidamente. O termo latino moderatio significa a capacidade ou virtude de permanecer na exata medida. O apóstolo Paulo recomenda aos cristãos: "Seja a vossa moderação conhecida de todos os homens" (Fp 4.5). A palavra grega denota o espírito magnânimo que supera ofensas, ou um espírito paciente. Jesus é o exemplo supremo (2 Co 10.1). No atual contexto eclesiástico, porém,moderação ganha novos significados, diferentes dos acima citados.
Primeiro, toda a pessoa que não têm uma posição teológica definida e não defende princípios é reconhecida hoje como moderada. Filosoficamente, diríamos que o moderado é aquele que convictamente tem como posição não ter uma posição definida. Um exemplo bíblico é o do povo de Israel, na época do profeta Elias: "Então, Elias se chegou a todo povo e disse: Até quando coxeareis entre dois pensamentos? Se o SENHOR é Deus, segui-o; se é Baal, segui-o. Porém, o povo nada lhe respondeu" (1 Rs 18.21). Observe que o texto apresenta dois perfis: o de Elias claramente definido: o SENHOR é Deus; e o do povo indeciso claudicando entre dois pensamentos ou duas proposições teológicas: o povo nada lhe respondeu. A indefinição do povo de Israel representa o moderado de hoje.
Segundo, toda pessoa que age politicamente hoje é chamado de moderado. É o politicamente correto ou o que tem jogo de cintura. O fato de não ter convicção, esse tipo de moderado passa a agir pela conveniência, isto é, pelo interesse ou o seu maior benefício pessoal. A convicção estará sempre onde o lucro for maior. O apóstolo Paulo repreendeu a Pedro por atitude semelhante: "Quando, porém, Cefas veio a Antioquia, resisti-lhe face a face, porque se tomara repreensível. Com efeito, antes de chegarem alguns da parte de Tiago, comia com os gentios; quando, porém, chegaram, afastou-se e, por fim, veio a apartar-se, temendo os da circuncisão. E também os demais judeus dissimularam com ele, a ponto de o próprio Barnabé ter-se deixado levar pela dissimulação deles" (Gl 2.11-13). Infelizmente, na Igreja hoje, a posição teológica dependerá sempre do emprego oferecido ou ameaçado.
Terceiro, toda pessoa que foge da luta cristã é chamada hoje de moderada. Entende-se por esse prisma que o rebanho de Deus e a sã doutrina não precisam ser defendidas. Entretanto, conforme a Bíblia, a fé cristã é por natureza confrontadora e é dever de cada cristão pelejar pela fé: "Amados, quando empregava toda a diligência em escrever-vos acerca da nossa comum salvação, foi que me senti obrigado a corresponder-me convosco, exortando-vos a batalhardes, diligentemente, pela fé que uma vez por todas foi entregue aos santos" (Judas 3). O verdadeiro pastor é aquele que, em benefício do rebanho, enfrenta o lobo. Jesus reconhece que a característica principal do mercenário é a covardia: "O mercenário, que não é pastor, a quem não pertencem as ovelhas, vê vir o lobo, abandona as ovelhas e foge; então, o lobo as arrebata e dispersa" (Jo 10.12). Aquele que foge à luta em prol da proteção do rebanho de Deus, não é visto por Jesus Cristo como moderado, mas, sim, como mercenário.
Autor: Rev. Arival Dias Casimiro
Fonte: Resistindo a Secularização, SOCEP 2002. Págs. 60-63.
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