quarta-feira, 25 de maio de 2022

O PODER LIBERTADOR DO EVANGELHO

 


O PODER TRANSFORMADOR DO EVANGELHO

Mt 9.9-17

Josh McDowell se converteu depois de ser desafiado a investigar as evidências contra o cristianismo durante a faculdade.

Criado por um pai agressivo e abusado sexualmente desde os 6 anos de idade, Josh McDowell não tinha motivos para acreditar em Deus. Sua história começou a mudar depois que ele foi desafiado por estudantes cristãos de sua faculdade a investigar as evidências contra o cristianismo.

“Especificamente, eles me desafiaram a investigar as evidências da ressurreição. Eu pensei que era brincadeira. De fato, achei que seria fácil reunir as evidências que refutavam as afirmações de Cristo. Como gosto de um bom desafio, aceitei a oferta deles”, disse ele.

McDowell levou o desafio tão a sério que saiu de férias da universidade e viajou pelos Estados Unidos, Europa e Oriente Médio para estudar os manuscritos antigos e reunir provas contra o cristianismo.

“Após meses de estudo, voltei a uma pequena biblioteca na Inglaterra. Me recostei na cadeira, coloquei minhas mãos na parte de trás da cabeça e disse: ‘É verdade, realmente é verdade’”, reconheceu.

Quando McDowell voltou para a faculdade, sua busca chegou a uma conclusão. “Desnecessário será dizer que a minha pesquisa tomou um rumo inesperado. Eu me propus a desmentir a ressurreição histórica de Jesus, mas acabei me tornando um seguidor de Cristo”, destaca.

Depois que Jesus perdoa e cura um paralítico, mandando-o de volta para sua casa, ele convoca um homem rejeitado e odiado em Israel a deixar seu trabalho e segui-lo. Tanto em Marcos 2.14 quanto em Lucas 5.27, Mateus recebe o nome de Levi, embora este não ocorra em nenhuma das listas dos doze apóstolos (10.3; Mc 3.18; Lc 6.15; At 1.13). Ou Mateus é nome que se deu a Levi, quando se tornou discípulo, ou ambos os nomes pertencem à mesma pessoa, desde o começo.

A passagem em apreço ensina-nos algumas lições, como vemos a seguir.

1-NO EVANGELHO  CONTEMPLAMOS A GRAÇA DE JESUS AOS REJEITADOS (9.9)

 Jesus está ainda em Cafarnaum, cidade aduaneira, no caminho de Damasco para o Egito, rota por onde passavam grandes caravanas com suas mercadorias. Ali, Mateus tinha seu posto de coletoria. Ele cobrava impostos sobre os produtos que trafegavam por essa rota comercial, além de cobrar impostos dos barcos que cruzavam o lago para sair do território de Herodes. Os publicanos eram uma classe odiada em Israel. Trabalhavam para o império romano e, no exercício dessa profissão, extorquiam o povo, cobrando mais do que o estipulado. Eram vistos pelos judeus como traidores da pátria. Eram considerados gentios e pagãos por seus compatriotas. Tinham um enorme desfavor público. A. T. Robertson diz que os publicanos eram detestados porque praticavam extorsão.

Robert Mounce ajuda-nos ainda a compreender essa realidade, com as seguintes palavras:

Nos dias de Jesus os romanos impuseram pesados impostos sobre o povo, para todo tipo de coisas. Além dos três principais impostos (territorial, de renda e per capita), havia impostos sobre todas as mercadorias importadas. Todas as caravanas que utilizavam as principais estradas e todos os navios que aportavam eram taxados. Mateus era membro de um grupo desprezadíssimo de funcionários que cobravam impostos do povo judeu, entregando-os a Herodes Antipas, o tetrarca da Galileia e Pereia. Mateus com certeza instalara seu escritório à beira da grande estrada que ligava Damasco ao mar.

É a esse homem odiado pelo povo que Jesus chama para segui-lo. É a esse homem colaboracionista do império romano que Jesus convoca para ser um apóstolo. E esse homem que amealha riquezas cobrando pesados tributos ao povo que escreve o primeiro evangelho. A graça de Deus é surpreendente: alcança os inalcançáveis. Abre a porta da salvação para os rejeitados. John MacArthur Jr. diz que, segundo o padrão de seus dias, Mateus era o pecador mais vil e mais miserável em Cafarnaum. Sendo um publicano, era uma ferramenta voluntária a serviço do governo de Roma, ocupado com a tarefa odiosa de arrancar de seu próprio povo o dinheiro dos impostos. Mateus era visto como um traidor de Israel. Os publicanos não podiam entrar na sinagoga. Eram considerados animais imundos e tratados como porcos. Não podiam servir de testemunhas em nenhum julgamento, porque não eram de confiança. Eram contados como mentirosos, ladrões e assassinos. A tradição rabínica dizia que era impossível a um homem como Mateus arrepender-se.

Jesus não argumenta com Mateus; apenas ordena que ele o siga. O Senhor tem autoridade e a exerce. Sua voz é poderosa. Sua vontade é soberana.

Mateus não questiona nem adia sua decisão. Atende ao chamado de Jesus imediatamente. O texto diz: Ele se levantou e o seguiu. Oh, quão glorioso é o poder de Jesus para transformar homens da pior estirpe em vasos de honra! John Charles Ryle diz, corretamente, que Mateus atendeu prontamente ao chamado de Jesus e em consequência recebeu uma grande recompensa. Ele escreveu um dos evangelhos, um livro que se tornou conhecido em todo o mundo. Tornou-se uma bênção para outras pessoas. Deixou atrás de si um nome que é mais conhecido do que o nome de príncipes e reis. O homem mais rico do mundo, ao morrer, logo é esquecido. Porém, enquanto durar o mundo, milhões de pessoas conhecerão o nome de Mateus, o publicano.5 291 M ateus — Jesus, o Rei dos reis

2-O EVANGELHO ABRE AS PORTAS DA GRAÇA AOS QUE SE RECONHECEM PECADORES (9.10-13)

 Mateus não se contenta em seguir Jesus. Ele quer apresentar Jesus a seus amigos. Oferece um banquete a Jesus e convida seus amigos para um encontro com o seu senhor. Sua casa se enche de publicanos e pecadores. Quem é alcançado pela graça, não retém esse privilégio apenas para si. Quem foi alcançado, é também um enviado. Quem achou pão com fartura, anuncia isso a outrem.

 Os convidados de Mateus não eram pessoas respeitáveis aos olhos dos fariseus. Eram a escória da sociedade. As pessoas mais desprezadas da comunidade. Não podiam participar da sinagoga nem testemunhar nos tribunais. Os fariseus, como fiscais alheios, não perderam a oportunidade de participar também desse encontro. Estão ali para censurar Jesus mais uma vez. Se no caso do paralítico eles acusaram Jesus de blasfemar, colocando-se como Deus, agora o acusam de ter comunhão com pecadores e publicanos, a escória da sociedade (9.11).

 Lawrence Richards diz que a literatura rabínica contém diversas listas de profissões desprezadas. Proeminentes entre os proscritos, sociais, estavam os cobradores de impostos, ou publicanos, que obtinham o seu direito de cobrar impostos mediante urna oferta de dinheiro e depois extorquiam mais dinheiro do que era devido, para enriquecerem. Na cartilha dos fariseus, a graça era apenas para pessoas decentes como eles e jamais para pecadores e publicanos. Jesus, porém, como médico do corpo e da alma, via-se compelido a entrar em estreito contato com os desterrados sociais.Tom Hovestol está correto quando escreve: “O ápice de considerar-me justo é condenar os outros pelos pecados de minha alma”.

Jesus responde aos fariseus com ironia, mostrando que não eram os sãos que precisavam de médico, mas, sim, os doentes. Os sãos eram os fariseus, que viam a si mesmos como não padecendo nenhuma necessidade, embora a verdadeira condição deles fosse bem o contrário. Os doentes eram os marginalizados que reconheciam a necessidade de cura.

Jesus ensina, portanto, que só aqueles que se reconhecem doentes procuram um médico. Da mesma forma, só aqueles que se reconhecem pecadores buscam o abrigo de sua graça. Os fariseus se consideravam sãos e justos e, por isso, rejeitavam a graça. Jesus ainda ensina que a religiosidade pomposa daqueles que se consideram justos não é aceita por Deus. Ao contrário, Deus quer misericórdia, e não holocaustos. A citação é de Oseias 6.6. O ministério de Jesus entre os cerimonialmente inaceitáveis é um ato de misericórdia, algo que agrada mais a Deus do que a atenção cansativa devotada pelos fariseus às ofertas sacrificiais.

John MacArthur Jr. diz que a resposta de Jesus é um poderoso argumento triplo: apela para a experiência (ao comparar os pecadores a enfermos que precisam de um médico); para as Escrituras, fazendo voar pelos ares o orgulho dos fariseus, ao dizer-lhes: Ide, porém, e aprendei (9.13); e para sua autoridade pessoal, ao declarar: Não vim chamar justos e sim pecadores [ao arrependimento] (9.13; v. tb. Lc 3.32). É como se Jesus dissesse:

“Vocês afirmam que são justos, e recebo isso como uma autoavaliação. Mas, se é esse o caso, nada tenho a dizer-lhes, pois vim chamar pecadores ao arrependimento”.

Tom Hovestol diz oportunamente que, se entendermos corretamente o ataque que Jesus desferiu à tradição dos fariseus, a forma com que esmagou seu sistema, como ele destruiu as cercas que eles ergueram, como expôs a insinceridade velada deles, é fácil perceber de que maneira esse grupo passou a desprezá-lo. Na mente desses fariseus legalistas, eles eram justos e bons, enquanto os demais homens eram injustos e maus. Porém, nenhum homem pode ser realmente bom até que saiba quanto é mau ou quanto poderia sê-lo. Nenhum homem é bom até que tenha espremido de sua alma a última gota do óleo dos fariseus.

3-O EVANGELHO ABRE AS PORTAS DA GRAÇA PARA UMA VIDA DE JUBILOSA CELEBRAÇÃO (9.14,15)

No parágrafo anterior, a questão era se Jesus deveria estar comendo com marginais; agora a questão é se ele devia comer. Jesus está sendo questionado agora não mais pelos fariseus, mas pelos discípulos de João. Os discípulos querem saber por que eles jejuam, mas os discípulos de Jesus não o fazem. Ao responder, Jesus reafirma que o jejum é um exercício espiritual legítimo e que chegará o dia em que seus discípulos jejuarão, mas agora, enquanto está com eles, estão como numa festa de casamento, e esse não é um tempo para jejuar, mas para celebrar. A vida cristã não é um funeral, mas uma festa. Não é um rosário de tristeza, mas uma celebração de alegria.

Charles Spurgeon, nessa mesma toada, diz que Jesus é o esposo que veio para conquistar e ganhar sua noiva; aqueles que o seguiam eram os convidados, os melhores companheiros do noivo; eles deveriam regozijar-se enquanto o noivo estivesse com eles, pois a tristeza não é adequada para as bodas. Nosso Senhor é a nossa alegria; sua presença é o nosso banquete. Em sua presença, há plenitude de alegria; em sua ausência, há profundidade de miséria.

4-O EVANGELHO ABRE AS PORTAS DA GRAÇA PARA URNA VIDA TOTALMENTE NOVA (9.16,17)

 Robert Mounce diz que as duas ilustrações da vida diária salientam a descontinuidade essencial entre as antigas formas de adoração no judaísmo e o novo espirito da era messiânica. No contexto, o pano novo e o vinho fresco representam o espirito alegre do cristianismo. O vestuário velho e os odres também velhos representam as formas restritivas do antigo culto.  Vejamos.

Em primeiro lugar, a vida cristã não é uma mera reforma, mas uma vida absolutamente nova (9.16). A vida cristã não é um remendo novo numa estrutura velha. Não é a reforma de uma casa velha nem um verniz de religiosidade numa estrutura podre. O evangelho produz uma mudança radical. A graça é transformadora. Faz do pecador uma nova criatura. Tudo se faz novo. Charles Spurgeon é oportuno quando escreve:

Jesus não veio para reparar o manto desgastado de Israel, mas para trazer novas vestes .Seus discípulos não deveriam reparar a velha religião do judaísmo, que se tornou desgastada. Eles eram homens novos, que não haviam sido escolhidos pelo espírito da tradição [...]. Jesus não veio para consertar nossa velha religiosidade exterior, mas para fazer um novo manto de justiça para nós. Todas as tentativas de adicionar o evangelho ao legalismo somente servirão para piorar as coisas.

Em segundo lugar, a vida cristã não pode ser acondicionada numa estrutura arcaica (9.17).

O farisaísmo com o seu legalismo pesado era como um odre velho, que não podia suportar o vinho novo da mensagem do reino dos céus. O poder do evangelho não pode ser aprisionado em velhas e arcaicas estruturas eclesiásticas. O vinho novo da vida cristã rompe os odres velhos das tradições religiosas. Charles Spurgeon, nessa mesma linha de pensamento, diz que o judaísmo, em sua condição degenerada, era um odre velho que já havia passado de seu prazo de utilidade, e nosso Senhor não deitaria o vinho novo do reino dos céus nele.

Tasker diz que o vinho novo do perdão messiânico não seria conservado nos remendados odres do legalismo judaico. Concordo com Richards quando ele diz que nossas categorias teológicas não devem nunca ter a mesma autoridade que as Escrituras. A medida que cada geração enfrenta novos desafios, precisamos retornar à Palavra de Deus, pedindo ao Espírito Santo que abra nosso coração e nossa mente para compreender a aplicar sua verdade.

Fritz Rienecker diz, com razão, que essa palavra de Jesus tem máxima importância para todos os tempos. Mostra-nos quanto o Senhor ressaltou a importância da forma para o conteúdo. Revela com que clareza o Senhor reconheceu como imprescindível que a forma do cristianismo corresponda à sua natureza interior. Ou seja, não se pode colocar a forma acima da vida nem prender obstinadamente o espírito exuberante pela organização.

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