Jo 2.1 -12
Nas palavras de Werner de Boor, Jesus não foi um asceta. Na agenda de Jesus, havia espaço para celebrar as alegrias da vida. E muito significativo que Jesus tenha aceitado o convite para um casamento, pois ele não veio tirar a alegria e o prazer dos seres humanos. Esse primeiro milagre de Jesus repele o temor desarrazoado de que a religião rouba da vida, a felicidade da vida, ou de que a lealdade a Cristo não se coaduna com a expansividade dos espíritos e com os prazeres inocentes.
Meus irmãos as Escrituras dizem: Sejam honrados entre todos o matrimônio (Hb 13.4). Foi Deus quem instituiu o casamento (Gn 2.24). Proibir o casamento é doutrina do anticristo, e não de Cristo (lTm 4.3). O casamento é uma instituição divina e uma fonte de felicidade tanto para o homem como para a mulher. Jesus foi a essa festa com seus discípulos em Caná da Galileia, mostrando que ele aprova as alegrias sãs e santifica o casamento, bem como nossas relações sociais. Ele celebra conosco nossas alegrias.
John MacArthur corrobora esse pensamento:
Ao comparecer à festa de casamento e realizar ali seu primeiro milagre, Jesus santificou a ambos: tanto a instituição do casamento como a cerimônia pública de casamento. O casamento é a sagrada união entre um homem e uma mulher, na qual ambos se tornam uma só carne aos olhos de Deus.
Larry Richards explica que os casamentos judaicos eram realizados em duas etapas. O noivado envolvia um contrato entre duas famílias. O casal que noivava já era considerado marido e mulher. A união em si acontecia um ano depois, quando o noivo ia à casa da noiva com seus amigos e a trazia para o seu novo lar. A festa podia durar até uma semana (Jz 14.10-18), e a noiva e o noivo eram tratados como rainha e rei.
William Hendriksen mostra que, de acordo com João 3.29 e Apocalipse 19.7, Jesus é o noivo que, com sua encarnação, obra de redenção e sua manifestação final, vem para a sua Noiva (a igreja). Como, então, Jesus não honraria aquilo que simboliza o próprio relacionamento com seu povo? O ministério terreno de Jesus começou com um casamento, e a história humana terminará com um casamento. No final da história humana, o povo de Deus celebrará as bodas do Cordeiro (Ap 19.9).
Durante a história o diabo tem tentado destruir a família lançando muitos ataques, mas não irá destruí-la, porque a família é um projeto de Deus e Deus não desistiu da família.
Ao ler este texto da Palavra de Deus, podemos aprender algumas lições para vivermos como família do Senhor nesta atualidade desafiadora. Passo a destacar alguns pontos importantes:
1º)JESUS DEVE SER CONVIDADO PARA ESTAR EM NOSSA CASA (2.1,2). Neste texto nos diz que Maria, mãe de Jesus, estava no casamento. Provavelmente, ela era próxima da família dos nubentes. O evangelista João não a cita nominalmente, e a omissão do nome de José pode ser uma evidência de que ele já tivesse falecido. Jesus, como filho mais velho, foi convidado, junto com os discípulos. Temos informação de que Natanael, discípulo de Cristo, era da cidade de Caná (21.2).
Graças ao nosso Deus por Jesus está presente naquela casa naquele momento tão especial para aquela família, quando uma nova família estava surgindo, a família surge do casamento de um homem e uma mulher. Quando os jovens se conhecem e começam a pensar no casamento, muitos ficam preocupados com a festa, os convidados, onde morar, com o sucesso, etc. Sabemos que estas coisas tem o seu lugar e importância, mas não devem ocupar o ponto principal do casamento ou da família, a maior necessidade é da presença de Jesus.
A maior necessidade da família é da presença de Jesus, muito mais do que bens, casa, carro, conforto e sucesso, a família precisa da presença de Jesus. Porque se Jesus não estiver presente na família, ela não poderá resistir as lutas e os desafio do dia a dia. Como disse o salmista se o Senhor não edificar a casa em vão trabalham os que edificam (Sl 127).
2º) PORQUE MESMO QUANDO JESUS ESTÁ PRESENTE, PODE SURGIR CRISE NO CASAMENTO (2.3A). Meus irmãos, os servos de Deus, não estão isentos de enfrentarem crises neste mundo, momentos de dúvidas e incertezas no casamento, muitas vezes por causa dos ataques do inimigo.
No presente contexto da festa em que Jesus estava participando, o vinho era a principal provisão no casamento e também simbolizava a alegria (Ec 10.19). As vezes, o vinho da alegria, acaba no casamento, desde o início da família.
Como disse o pastor Hernandes Dias Lopes disse:
“A vida cristã não é um parque de diversões nem uma colônia de férias. Ser cristão não é viver numa estufa espiritual nem mesmo ser blindado dos problemas naturais da vida. Um crente verdadeiro enfrenta lutas, dissabores, tristezas e decepções. Os filhos de Deus também lidam com doenças, pobreza e escassez. Mesmo quando Jesus está conosco, somos provados para sermos aprovados”.
O comentarista Hendriksen destaca corretamente o fato de que o vinho, de acordo com passagens como Gênesis 14.18, Números 6.20, Deuteronômio 14.26, Neemias 5.18 e Mateus 11.19, era considerado um artigo indispensável para alimentação. Isso não significa, porém, que a embriaguez fosse aceitável, pois seu uso era proibido na execução de certas funções; e a indulgência excessiva era sempre definitivamente condenada (Lv 10.9; Pv 23.29-35; 31.4,5; Ec 10.17; Is 28.7; lTm 3.8). A intemperança, portanto, contraria o espírito tanto do Antigo quanto do Novo Testamentos. Assim, não há nada nessa história que possa, de alguma maneira, dar abrigo àqueles que abusam ou fazem uso excessivo das dádivas divinas.8 Concordo com John Charles Ryle quando ele escreve: “Feliz é aquele que pode usar sua liberdade cristã sem dela abusar”.
Ao lermos a Bíblia podemos que ver que muitas famílias de homens de Deus enfrentaram crises ou problemas os mais diversos, olhe para a família do pai da fé Abraão, ele enfrentou alguns problemas, com o seu sobrinho Ló e dentro de sua própria casa. Jó era um homem temente a Deus e se desviava do mal e sua família foi atacada pelo inimigo. O diabo atacou os bens de Jó, seus filhos, seu casamento e até os levantou os seus amigos contra o próprio Jó, mas Deus não deixou nem desamparou os seus servos, nem desistiu da família. Mas, precisamos ficarmos atentos para enfrentarmos os problemas que vierem a surgir em nossas famílias, assim como podemos aprender com o texto de João capítulo 2. Portanto, quando surgirem problemas em nossas famílias, precisamos:
a- Diagnosticar o problema com urgência (2.3b). Carson diz que Maria provavelmente tinha alguma responsabilidade na organização e distribuição da comida, daí sua tentativa de lidar com a escassez de vinho. Uma ocasião festiva como essa podia prolongar-se por uma semana inteira, e o término do vinho antes do fim seria um sério golpe que afetaria principalmente a reputação do hospedeiro.
No Oriente, a hospitalidade é um dever sagrado. Qualquer falta de provisão numa festa de casamento era vista como um constrangimento enorme e uma profunda humilhação para a família. Maria, mãe de Jesus, percebeu que a família poderia passar por um grande vexame. A provisão era insuficiente para atender todos os convidados. Parece-nos que as mulheres têm uma percepção mais aguçada para ver o que está faltando na família. Por isso, não foi o noivo nem os garçons que perceberam a falta de vinho, mas uma mulher. Quanto mais cedo forem identificados os problemas que atingem a família, mais rápida e fácil será a solução do problema. Warren Wiersbe destaca o fato de que, embora Maria tenha percebido a falta de vinho, não disse a Jesus o que fazer; simplesmente lhe contou o problema. Esse é o ponto que enfatizaremos a seguir.
B-Levar o problema à pessoa certa (2.3). Como já dissemos, as festas de casamento naquela época duravam até uma semana e, embora a responsabilidade financeira por todo o suprimento da festa coubesse ao noivo, Maria não espalhou a notícia da falta de vinho entre os convidados, evitando um clima de murmuração. Ela levou o problema a Jesus. Antes de comentarmos as crises que atingem a família, devemos levar o assunto aos pés de Jesus. Nossos dramas familiares não devem se tornar motivos de murmuração, mas de intercessão; em vez de envergonharmos a família com a divulgação de nossas limitações e fraquezas, devemos confiadamente apresentar essa causa a Deus em oração.
C – Aguardar o tempo certo de Jesus agir (2.4). Jesus não foi indelicado com Maria ao responder: Mulher, que tenho eu contigo? A minha hora ainda não chegou. Essa é a mesma palavra que Jesus usou com sua mãe, quando estava pendurado na cruz (19.26), e com Maria Madalena ao aparecer ressurreto dentre os mortos (20.13). Em Homero, “mulher” é o título com o qual Odisseu se dirige a Penélope, sua esposa amada. E o título com o qual Augusto, o imperador romano, se dirige a Cleópatra, a famosa rainha egípcia. Dessa forma, longe de ser uma palavra descortês e grosseira, era um título de respeito.
Nessa mesma linha de pensamento, F.F. Bruce diz que nosso Senhor, ao dirigir-se à sua mãe com o mesmo termo gynai (mulher) que usou quando estava na cruz (19.26), demonstrou extrema cortesia, uma vez que esse termo poderia ser traduzido por “madame” ou “minha senhora”.15 Concordo com David Stern quando ele diz que Jesus tanto honrou sua mãe quanto lhe proveu cuidado: na agonia de ser executado, confiou sua mãe ao discípulo amado (19.25-27). E, no final, ela veio a honrá-lo como Senhor, pois estava presente e orava com os demais discípulos no cenáculo após a ressurreição (At 1.14).16
Hendriksen lança mais luz sobre o assunto:
Ao dizer “Mulher”, o Senhor não intencionava ser rude. Muito pelo contrário. Ele foi muito gracioso ao enfatizar, com o uso dessa palavra, que Maria não devia mais pensar nele como sendo apenas seu filho, pois, quanto mais ela o visse como seu filho, mais haveria de sofrer, ao vê-lo sofrendo. Maria devia começar a vê-lo como seu Senhor}
Jesus disse a Maria que agia de acordo com uma agenda celestial, determinada pelo Pai. Não era pressionado pelas circunstâncias nem pelas pessoas, mesmo que fossem as mais achegadas. Seu cronograma de ação já havia sido traçado na eternidade. Jesus deixa claro que, iniciado o seu ministério público, tudo, incluindo os laços de família, estava subordinado à sua missão divina. Todos, incluindo seus familiares, precisavam ter consciência de que ele andava conforme a agenda do céu, não conforme as pressões da terra.
No evangelho de João, “a hora” de Jesus está estreitamente relacionada à sua morte (7.30; 8.20; 12.23,27; 13.1; 17.1). Carson faz uma aplicação do texto: “Tratando o desenvolvimento das circunstâncias como uma parábola encenada, Jesus está inteiramente correto ao dizer que a hora do grande vinho, a hora de sua glorificação, ainda não chegara”.
D- Obedecer prontamente às ordens de Jesus (2.4-8). D. A. Carson esclarece que, em João 2.3, Maria aborda Jesus como sua mãe, e é repreendida; em João 2.5, ela reage como crente, e sua fé é honrada. Maria ainda não sabia o que Jesus faria, mas entrega o problema ao filho e nele confia.19 Nas palavras de Hendriksen, “há em Maria uma completa submissão e uma contundente expectativa”.20 Jesus ordenou que os servos enchessem as talhas de água. Estes poderiam ter argumentado e até questionado Jesus. Mas, obedeceram prontamente, completamente. Não é nosso papel discutir com Jesus, mas obedecer-lhe. Suas ordens não devem ser discutidas, mas obedecidas. Concordo com Werner de Boor quando ele diz: “O milagre de Caná começa com uma ordem que parece totalmente absurda. Falta vinho, e Jesus manda ^ ‘ ” 21 trazer agua .
Aqueles seis podes (talhas) feitos de pedra tinham a capacidade de armazenar cerca de 600 litros, uma vez que cada uma comportava duas a três medidas (metreta a metreta era uma medida de capacidade de cerca de 40 litros), em cada pode cabiam entre oitenta e cento e vinte litros. A provisão de Jesus é farta e generosa.
F. F. Bruce informa que a função da água armazenada naquelas talhas era permitir aos hóspedes enxaguarem as mãos e possibilitar a lavagem dos utensílios usados na festa, de acordo com a tradição antiga (Mc 7.3-13). A referência que João faz às suas purificações é a chave para o sentido espiritual da presente narrativa. A água que servia para a purificação exigida pela lei e pelos costumes judaicos representa toda a antiga ordem do cerimonial judaico, a qual Cristo haveria de substituir por algo melhor. O vinho simboliza a nova ordem, assim como a água nas talhas simboliza a antiga.23 Um ponto digno de destaque é que todos os milagres de Jesus tinham propósitos bem definidos. John MacArthur é oportuno quando diz que todos os milagres de Jesus atenderam a necessidades específicas, seja abrindo os olhos aos cegos, seja dando audição aos surdos, libertando os oprimidos pelos demônios, alimentando os famintos ou acalmando a fúria da tempestade. Nesse milagre especial, Jesus atendeu à genuína necessidade de uma família e seus convidados, a fim de que não enfrentassem um vexame social. Esse milagre foi visto como um “sinal”, que apontava para a nova ordem inaugurada por Cristo: o vinho novo em substituição à antiga ordem dos rituais judaicos.
3- PORQUE QUANDO JESUS ESTÁ PRESENTE NA FAMÍLIA MILAGRES ACONTECEM (2.9-12)
Meus irmãos Jesus sempre tem o melhor para os seus filhos, por isso você precisa “ENTENDER QUE COM JESUS O MELHOR SEMPRE VEM DEPOIS (2.9,10). A narrativa evidencia que Cristo veio ao mundo para cumprir e encerrar a ordem antiga, substituindo-a por um culto novo, em espírito e em verdade, que excede o antigo da mesma forma que o vinho é melhor do que a água.25
O responsável pela festa, ao provar o vinho novo, chama o noivo, porque cabia a ele a provisão para o casamento. O homem pensou que o noivo tinha quebrado o protocolo, ao deixar o melhor vinho para o final da festa. Mal sabia ele que aquele vinho era o resultado do milagre de Jesus! Quando Jesus intervém, o melhor sempre vem depois. “Naquele milagre, Jesus trouxe plenitude onde havia vazio; alegria onde havia decepção e algo interior onde havia apenas algo exterior.”26 Quando Jesus opera o seu milagre no casamento, o melhor sempre vem depois. Carson, fazendo uma aplicação cristocêntrica, diz que o vinho que Jesus forneceu é inigualavelmente superior, como deve ser tudo que está ligado à nova era messiânica, a qual Jesus está trazendo.27
Quando Jesus realiza um milagre em nossa casa, grandes coisas acontecem (2.11,12). João usa a palavra semeion, “sinal”, para descrever os milagres de Jesus. O termo aparece 77 vezes no Novo Testamento, sempre autenticando quem faz o sinal como pessoa enviada por Deus.28 Essa palavra não descreve cruas manifestações de poder, mas manifestações significativas de poder que apontam para além de si mesmas, para realidades mais profundas que podiam ser percebidas com os olhos da fé.29
Warren Wiersbe escreve:
O termo que João usa neste evangelho não é dunamis, que enfatiza o poder, mas sim semeion, que significa “um sinal”. O que é um sinal? É algo que aponta para além de si, para outra coisa maior. Não bastava o povo crer nas obras de Jesus; precisa crer nele e no Pai que o havia enviado (5.14-24). Isso explica porque, em várias ocasiões, Jesus fez um sermão depois de um milagre e explicou o sinal. Em João 5, a cura do paralítico no sábado deu-lhe a oportunidade de falar sobre sua divindade como “o Senhor do sábado”. Ao alimentar os cinco mil em João 6, fez uma transição natural para o sermão sobre o Pão da Vida.30
Estou de acordo com o que escreve Charles Erdman: “Nenhum milagre de Jesus jamais foi operado como simples manifestação de força prodigiosa para impressionar os espectadores. Aqui está ele a obviar um vexame; a produzir alegria”. Warren Wiersbe é oportuno ao defender que, ao contrário dos outros três evangelhos, João compartilha o significado interior – a relevância espiritual – dos atos de Jesus, de modo que cada milagre é, na verdade, um sermão prático .
Depois do milagre, são registradas duas consequências: a glória de Jesus se manifestou, e os discípulos creram nele. Concordo com Carson quando ele diz que os servos viram o sinal, mas não a glória; os discípulos, pela fé, perceberam a glória de Jesus por trás do sinal e creram nele.33
John Charles Ryie, citando Lightfoot, sugere cinco razões pelas quais esse milagre que estamos considerando foi o primeiro realizado por Jesus: 1) Como o casamento foi a primeira instituição divina, Cristo realizou seu primeiro milagre numa festa de casamento. 2) Como Cristo tinha manifestado a si mesmo de forma tão discreta no jejum no monte da tentação, agora se manifestava publicamente oferecendo provisão. 3) Jesus não transformou pedras em pães para atender a Satanás, mas transformou água em vinho para manifestar sua glória. 4) O primeiro milagre operado pelo homem no mundo foi um milagre de transformação (Ex 7.9), e o primeiro milagre operado pelo Filho do homem foi da mesma natureza. 5) Na primeira vez em que ouvimos falar sobre João Batista, somos informados a respeito de sua dieta restrita, mas na primeira vez em que ouvimos falar sobre Cristo em seu ministério público, nós o vemos em uma festa de casamento.
Você já convidou Jesus para estar em sua casa? Se você ainda não fez, faça agora, nós precisamos da presença de Jesus em nossas casas, em Jesus encontramos o que realmente importa para vivermos. A sua família está passando por lutas? Não desanime, entregue os problemas a Jesus, ele pode fazer um milagre hoje em tua casa, nada é impossível para o Senhor. Sua família está sendo atacada pelos dardos inflamados do inimigo, clame pelo Senhor Jesus para te livrar, para salvar a sua família, só assim você poderá falar como Josué “eu e a minha casa serviremos ao Senhor”(Js 24.15b).Não desista da sua família, mas entregue a sua família nas mãos de Deus. Família é um projeto de Deus. Somente a glória de Deus.
Adap. do Comentário de João do pastor Hernandes D. Lopes.
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