terça-feira, 21 de agosto de 2018

DA ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA – NATUREZA E FUNÇÃO DO MAGISTRADO CIVIL

Série Política Calvinista
A NATUREZA E FUNÇÃO DO MAGISTRADO CIVIL, POR MAIS COERCITIVAS E AUTORITÁRIAS QUE PAREÇAM, NÃO SÃO CONTRÁRIAS À VOCAÇÃO E À FÉ
CRISTÃS

Aqueles, porém, que não se sentem movidos por tantos testemunhos da Escritura a que não ousem invectivar este sagrado ministério, como sendo algo que não se coaduna com a religião e piedade cristã, que outra coisa fazem senão ultrajar ao próprio Deus, cuja ignomínia não pode deixar de ser associada com o opróbrio de seu ministério? E não rejeitam simplesmente aos magistrados, mas também alijam a Deus para que sobre eles não reine. Ora, se isso foi realmente dito pelo Senhor a respeito do povo de Israel, visto que recusara o mando de Samuel [1Sm 8.7], por que menos verdadeiramente se dirá hoje daqueles que persistem na liberdade de ferozmente falar contra todos os governos instituídos por Deus? Uma vez que, porém, aos discípulos foi dito pelo Senhor que os reis das nações dominam sobre eles, mas que entre eles não é assim, onde para ser o primeiro então se faça o menor [Mt 20.24-27; Mc 10.42-44; Lc 22.25, 26], argumentam que com esta palavra foi proibido a todos os cristãos que assumam reinos ou soberanias. Oh, destros intérpretes! Surgira entre os discípulos a contenda sobre quem seria superior ao outro. Para reprimir esta vã ambição, o Senhor ensinou que seu ministério não é semelhante aos reinos deste mundo, nos quais entre os demais um só tem a preeminência. Em que, pergunto eu, esta comparação denigre a dignidade régia? Mais ainda, o que simplesmente convence, senão que o ofício régio não é o ministério apostólico?

     Além disso, ainda que entre os próprios magistrados as formas são variadas, entretanto não há neste aspecto nenhuma diferença para que não devam ser tomados por todos nós como ordens de Deus. Ora, Paulo inclusive abrange a todas em conjunto quando diz que não existe potestade, senão da parte de Deus [Rm 13.1]; e aquela que de todas é menos aprazível, isto é, o senhorio de um só, foi recomendada por exímio testemunho acima das outras, a qual, porque consigo leva a servidão pública de todos, excetuado aquele único a cujo talante sujeitou todas as coisas, aos engenhos heróicos e mais excelentes pôde ser outrora menos aprovado. Mas a Escritura, para remediar os juízos humanos iníquos, afirma expressamente que os reis reinam pela providência da divina sabedoria [Pv 8.15], e preceitua particularmente que o rei seja honrado [Pv 24.21; 1Pe 2.17].

João Calvino
As Institutas – Livro IV Capítulo XX

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