terça-feira, 21 de agosto de 2018

DA ADMINISTRAÇÃO POLÍTICA-MINISTROS DE DEUS NO EXERCÍCIO DO OFÍCIO DE GOVERNAR

Série Política Calvinista
MINISTROS DE DEUS NO EXERCÍCIO DO OFÍCIO DE GOVERNAR, OS MAGISTRADOS CIVIS DEVEM ESMERAR-SE NO FIEL DESEMPENHO DE SUA OCUPAÇÃO

Esta consideração deve exercitar continuamente aos próprios magistrados; uma vez que pode servir-lhes de forte estímulo, pelo qual sejam animados para sua atividade e trazer-lhes singular consolação, pela qual sejam aliviadas as dificuldades de seu ofício; as quais certamente são muitas e pesadas. Pois, quão grande zelo de integridade, de prudência, de mansuetude, de domínio próprio, de inocência devem aplicar a si próprios aqueles que forem constituídos ministros da divina justiça? Com que ousadia haverão de admitir a iniqüidade diante de seu tribunal, do qual aprendem ser o trono do Deus vivo? Com que audácia haverão de pronunciar uma sentença injusta com essa boca que entendem ser um instrumento destinado à divina verdade? Com que consciência haverão de assinar ímpios decretos com essa mão que sabem ser ordenada para registrarem-se os atos de Deus? Em suma, caso se lembrassem de que são vigários de Deus, impõe-se que vigiem com todo cuidado, zelo, diligência, para que representem em si, aos homens, uma como que imagem da divina providência, proteção, bondade, benevolência e justiça.

     E devem ter isto perpetuamente diante de si: “Maldito aquele que fizer a obra do Senhor fraudulentamente; e maldito aquele que retém sua espada do sangue” [Jr 48.10]. Muito mais gravemente malditos aqueles que, em uma vocação justa, se conduzem fraudulentamente. Assim sendo, como quisessem Moisés e Josafá exortar a seus juízes para, com seu ofício, nada mais eficaz tiveram com que incitar seu ânimo do que o que referimos antes: “Ouvi a causa entre vossos irmãos, e julgai justamente entre o homem e seu irmão, e entre o estrangeiro que está com ele” [Dt 1.16]. “Vede o que fazeis; porque não julgais da parte do homem, mas da parte do Senhor, e ele está convosco quando julgardes. Agora, pois, seja o temor do Senhor convosco; guardai-o, e fazei-o; porque não há no Senhor nosso Deus iniqüidade nem acepção de pessoas, nem aceitação de suborno” [2Cr 6, 7]. E noutro lugar se diz que “Deus está na congregação dos poderosos; julga no meio dos deuses” [Sl 82.1], para que sejam animados ao dever, enquanto ouvem que são legados de Deus, a quem importa um dia prestar contas do cargo administrado. E entre eles, merecidamente, deve valer muito esta exortação, pois, se cometem alguma falta, não só estão lesando aos homens, a quem celeradamente molestam, mas também estão sendo injustos para com o próprio Deus, cujos sacrossantos juízos poluem [Is 3.14, 15]. Por outro lado, têm também donde claramente se consolem, enquanto refletem consigo que não estão engajados em ocupações profanas, nem alheias a um servo de Deus; pelo contrário, em um ofício santíssimo, visto que, de fato, a desempenham por delegação de Deus.

João Calvino
As Institutas – Livro IV capítulo XX

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