segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

ADOÇÃO*

Por Edson Matias Cabral*

     
Definição- O ato de adoção é a conclusão de qualquer ação pela qual uma pessoa, em geral um filho, é levado a um novo relacionamento familiar, no qual tem novos privilégios e responsabilidades como membro da família e ao mesmo tempo perde todos os direitos prévios e é despojado de todas as obrigações préviasde sua família anterior.(H. Leitch, In: Enciclopédia da Bíblia, p.98).

 Utilização no Antigo Testamento- No Antigo Testamento não era considerada pela lei o conceito, muito menos conhecida o termo, pois não havia a necessidade, pois a lei do levirato e a poligamia supria anecessidade de herdeiros, mas há registros de adoção, Ex: Moisés pela princesa Egípcia (Êx 2.10), possivelmente Genubate (1º Rs 11.20), e Ester por Mordecai (Et 2.7,15),É interessante notar que todos esses casos ocorreram fora da Palestina e fora das operações normais da lei Mosaica (H. Leitch, In: Enciclopédia da Bíblia, p.99). Também podemos perceber que os judeus não se referiam a Deus como Pai de forma particular, mas sim de forma coletiva, “Deus é Pai de Israel” não de um israelita em particular, “os judeus podiam dirigir-se a Deus, liturgicamente, como “Iaba'” (‘abi’)(“Meu Pai); mas nunca empregava a forma familiar “ba'” (´ab) (grego: abba) (abba), que soaria desrespeitoso.(Maia, p.18), pois a expressão tem um sentido de papai algo que denota grande intimidade pessoal, e uma grande comunhão com o Senhor, esse foi um dos motivos que despertou a ira dos judeus (Jo 5.18).

Contexto histórico-Na sociedade grega e romana, a adoção era, pelo menos entre as classes superiores, uma prática relativamente comum,na Grécia a ação de adotar dava para aquele que era adotado uma liberdade, principalmente quando ele eraescravo adquira o status de membro da família, que era movida por várias motivos tau como afeição, falta de descendentes, religiosas, que era feito por meio de um testamento, no modo romano “ o relacionamento entre pai e filho era mais severo e mais coeso, devido ao entendimento da autoridade paterna (patriapotestas)” (H. Leitch, In: Enciclopédia da Bíblia, p.99), essa autoridade dava ao pai plenos poderes sobre a vida do filho ao ponto de poder vende-lo ou até mesmo mata-lo se achar conveniente.

Utilização por Paulo- Paulo usa o termo grego “huiothesia” no sentido de “adoção... em Paulo, como nas fontes extra bíblicas contemporâneas, “huitothesia” sempre indica o processo ou o estado de ser adotado(s) como filho(s)(in: Dicionário de Paulo e suas cartas, p.31). Paulo conhecia bem os sistemas de adoção do mundo antigo em especial os Gregos e Romanos, como nos afirma H. Leitch “até onde podemos inferir, ele não tinha em mente nenhuma forma de adoção em particular. Achou oportuna a ideia romana da patriapotestas quando estava enfatizando o livramento, do homem, da escravidão do pecado, a ideia grega era análoga à ênfase dos relacionamentos e dons da filiação; assim, temos a libertação dos débitos e a liberdade dos filhos.” (in: Enciclopédia da Bíblia, p.99).Estudo de caso-Vamos passar agora para analise dos textos bíblicos que tratam do assunto, que são: Gl 4.5; Ef 1.5; Rm 8.15, 23, perceba que são todos de cartas do apostolo Paulo já que ele é o único escritor bíblico que utiliza o termo “adoção” com conotação soteriologica, mostrando uma mudança de situação do individuo que é adotado por Deus. Gl 4:5 ​para resgatar os que estavam sob a lei, a fim de que recebêssemos a adoção de filhos.
Paulo insere a “adoção” em meio a sua argumentação sobre a redenção, isso mostra que adoção tem um caráter rendentivo na vida daquele que foi adotado, não só judeus, (Paulo chega a argumentar que a adoção pertence aos Judeus; Rm 9.4), “... não há artigo em grego antes de “lei”, de modo que a obra redentora de Cristo vai além do povo judaico, fator este naturalmente integrante à teologias de Paulo.” (GUTHRIE, p.144) que gloriosa é a graça de Deus, pois muda completamente nossa situação “trata-se de uma transformação notável de categoria: da escravidão para a filiação.” (GUTHRIE, p.145).Rm 8:15 ​Porque não recebestes o espírito de escravidão,para viverdes, outra vez, atemorizados, mas recebestes o espírito G4151 de adoção, G5206 baseados no qual clamamos:Aba,Pai. Paulo contrata o Espírito de adoção com espírito de escravidão, devemos entender Espírito de adoção referindo-se ao Espírito Santo, pois é Ele que age de forma misteriosa no interior do ser humano a ponto do crente em alta voz clamar Aba, Pai, mudando totalmente sua disposição diante de Deus, e espírito de escravidão como: “... não mais são oprimidos com aquele medo que os dominava quando estavam ainda vivendo no paganismo ou no judaísmo, com sua ênfase em todas as normas que guardavam a fim de serem salvos(HENDRIKSEN, p.327)Rm 8:23 ​Então somente ela, mas também nós,que temos as primícias do Espírito, igualmente gememos em nosso íntimo, aguardando a adoção de filhos, a redenção do nosso corpo. Há uma ideia futura de adoção nas palavras de Hendriksen “mas, em outro sentido, estão ainda aguardando pela exibição pública de sua condição como filhos de Deus (p. 343), mostrando uma dimensão futura de nossa adoção. Ef 1:5 ​nos predestinou para ele, para a adoção de filhos, por meio de Jesus Cristo, segundo o beneplácito de sua vontade, Paulo aqui mostra que a nossa adoção não foi algo planejado de ultima hora, mas foi desde a eternidade passada e muito menos meritória, pois foi de sua livre e boa vontade. O foco desse trecho é a nossa salvação no qual Calvino identifica 3 causas: A causa eficiente é o beneplácito da vontade de Deus; A causa material é Cristo; A causa final é o louvor de sua graça.(p.20).

Adoção nos símbolos de fé de Westminster - Confissão de Fé CAPÍTULO XII - DA ADOÇÃO I. Todos os que são justificados é Deus servido, em seu único Filho Jesus Cristo e por ele, fazer participantes da graça da adoção. Por essa graça eles são recebidos no número dos filhos de Deus e gozam a liberdade e privilégios deles; têm sobre si o nome deles, recebem o Espírito de adoção, têm acesso com confiança ao trono da graça e são habilitados, a clamar "Abba, Pai"; são tratados com comiseração, protegidos, providos e por ele corrigidos, como por um pai; nunca, porém, abandonados, mas selados para o dia de redenção, e herdam as promessas, como herdeiros da eterna salvação. Catecismo Maior pergunta 74: O que é adoção?R. Adoção é um ato da livre graça de Deus, em seu único Filho Jesus Cristo e por amor dEle, pelo qual todos os que são justificados são recebidos no número dos filhos de Deus, trazem o seu nome, recebem o Espírito do Filho, estão sob o seu cuidado e dispensações paternais, são admitidos a todas as liberdades e privilégios dos filhos de Deus, feitos herdeiros de todas as promessas e co-herdeiros com Cristo na glória.Breve Catecismo 34 Que é adoção? R. Adoção é um ato de livre graça de Deus, pelo qual somos recebidos no número dos filhos de Deus, e temos direito a todos os seus privilégios.
Conclusão - Em suma, há nas cartas paulinas um pano de fundo judaico/veterotestamentário coerente e específico de “adoção como filhos” (huiothesia): a palavra ocorre quatro vezes no sentido de adoção esperada pela tradição de 2º Samuel 7,14 (cf 2ºCo 6,18) e isso em um aspecto presente (Gl 4,5; Rm 6,18) ou futuro (Rm 8,23; Ef 1,5).(J M. Scott, in: Dicionário de Paulo e suas cartas, p.33). Essa é uma doutrina que nos mostra o grande amor de Deus, que nos resgatou e nos deu uma nova família, uma nova vida e a certeza de que somos filhos seus.


* esse artigo não tem a pretensão de ser exaustivos, mas apenas informar, escreverei mais sobre o assunto.


Bibliografia
CALVINO, João. Efésios. São Paulo: Editora Fiel, s/d, 161p.
COSTA, Herminster Maia Pereira da.O Pai nosso. São Paulo: Cultura Cristã, 2001, 319p.
GUTHRIE, Donald. Gálatas, introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova, 2006, 208p.
HAWTHORNE, Gerald F; MARTIN Ralph P; REID, Donald G. (Orgs).Dicionário de Paulo e suas cartas, 2ª edição, São Paulo: Vida Nova; Paulus, Edição Loyola, 2008, 1285p.
TENNY, Merriel C.(org). Enciclopédia da Bíblia, Vol:1. São Paulo: Cultura Cristã, 2008, 1319p.

* O autor é membro da IP Filadélfia-Garanhuns-PE, missionário  e aspirante ao ministério pelo Presbitério de Garanhuns.

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