sábado, 10 de novembro de 2012

AS INDULGÊNCIAS: ESTOPIM DA REFORMA


A base doutrinária para a existência de indulgência era o ensino da Igreja de que ela tinha a custódia (a guarda) dos Tesouros dos Méritos que foram adquiridos pelos grandes santos que haviam excedido as boas obras necessárias para a salvação. Esse excesso de méritos se tornava uma fonte que a Igreja poderia distribuir aos que estavam deficientes espiritualmente, os pecadores necessitados. Isso era feito através de um certificado assinado pelo Papa que era adquirido pelo povo e assim se obter os méritos que necessitavam desta “caixa de méritos”, deste tesouro de méritos. 

Foi nos anos de 1460 a 1470 que o Papa Sixtus IV declarou os benefícios das indulgências para os que haviam ido para o purgatório. Como fruto da ignorância espiritual e da sede de riqueza e poder por parte da Igreja, surgiram as indulgências através dais quais a salvação era comprada por dinheiro. Esse dinheiro era dividido entre os banqueiros da época, o Papa, e uma parte ficava com o mais talentoso vendedor de indulgências: Tetzel. Na venda destas indulgências havia variedade de preços, pois Tetzel era hábil e criou um meio de atingir os ricos e pobres. Quem era rico dava mais e os pobres davam menos, mas todos davam.

Era outono de 1517 quando começaram as vendas destas indulgências. O anúncio era de que os compradores poderiam obter remissão dos pecados das pessoas queridas que já houvessem morrido e ido para o purgatório. Consequentemente pessoas faziam esforços tremendos para libertarem seus queridos dos tormentos do purgatório (lugar de punição temporal pelos pecados) e tivessem a entrada no céu assegurada. Para isso bastava comprar os certificados assinados pelo Papa. Tetzel repetia sempre o “jingle”: “Assim que a moeda no cofre tilintar, alma do purgatório saltará”.

Informações destas atividades de Tetzel chegaram ao conhecimento de um professor de Teologia da Universidade de Wittemberg que as recebeu completamente consternado, mas, provocando sua ira. Seu nome era Martinho Lutero. Ele já havia refletido muito sobre sua condição de pecador e sua incapacidade para ser salvo através de obras meritórias e havia chegado à conclusão, pelas Escrituras, que a salvação é pela graça de Deus somente.

No dia 31 de outubro de 1517, Martinho Lutero, inflamado, desafiou a Igreja protestando de uma forma que ficaria marcada na história da Igreja perpetuamente. Foi à frente da porta da igreja do castelo de Wittenberg com um documento na mão e um martelo na outra, e afixou na porta uma lista com 95 protestos escritos em latim contra a venda das condenáveis e antibíblicas indulgências. Lutero anunciava ao povo que eles estavam sendo cruelmente enganados. A imprensa escrita que havia sido inventada por Gutemberg foi de muita importância para a divulgação das teses de Lutero em toda Europa, sendo traduzido para vários idiomas. Com isso, a venda de indulgências caiu muito e fez “doer” muito o bolso da Igreja. Isso provocaria a Dietade Worms onde Lutero mais tarde seria julgado pelos seus escritos e convicções.

Naquela época a Igreja ensinava que o perdão dos pecados poderia ser conseguido através do sacramento da penitência, quando o padre, representando Jesus, absolvia o pecador que confessava seus pecados e dava uma contribuição à Igreja como penitência. Lutero queria uma reforma na Igreja; queria trazê-la de volta às Escrituras para restaurar a pureza da fé. Não queria se tornar fundador de uma igreja separada. Lutero soube depois que a corrupção já havia atingido a cúpula de Roma e que o Papa Leão X e Albrecht, o arcebispo de Mainz haviam organizado a venda das indulgências.

Manoel Canuto
In: A fé protestante

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