Por Monique Tavares
Tenho observado o comportamento das pessoas nas redes sociais, principalmente facebook e blogs. Sendo um pouco mais específica, tenho observado o comportamento dos cristãos nas redes sociais. Escondidos por trás de seus avatares virtuais, tudo pode. Todos passam a ser escritores, comentaristas, comediantes e o que mais quiserem. É errado isso? Claro que não. É direito democrático nosso falar do que pensamos, desde que respeitemos o direito do outro de também se expressar. Contudo, respeitar o outro não é calar suas opiniões para não “ferir” a opinião alheia, mas falá-las de forma ética e sem depreciar ao que está lendo as postagens do outro lado.
Infelizmente, o que mais vemos neste diálogo virtual é a falta de ética. Palavrões, maldição até a décima geração, gestos obscenos, imagens obscenas, depreciação pessoal são pequenos exemplos do que ocorre nesta selva de possibilidades virtuais. Sim, os cristãos têm se comportado desta forma nas redes sociais.
Observando bem não são todas as postagens que recebem este nível de atenção. Temos aquelas que falam sobre missões, as quais não são tão apreciadas nem recebem tamanha repercussão. Poucas curtidas. Também temos aquelas que divulgam um belo trabalho feito pela igreja, as que nos dão notícias do mundo correlacionadas com as posturas cristãs e que também não repercutem tanto assim. Temos ainda as postagens que bombam. Comentários, réplicas, tréplicas e tanto quanto der para se desenvolver até que se esgote todas as possibilidades de fala, critica e depreciação.
Um dos casos em que esse movimento de respostas enlouquecidas e desenfreadas acontece é quando alguém se arrisca a criticar e opinar sobre os famosos do mundo gospel. Não se pode tecer comentários sobre letras de músicas ou sobre sermões, nem tão pouco sobre o comportamento descabido dos ídolos gospels. Para a grande maioria dos cristãos virtuais isto é considerado depreciação pessoal ou desqualificação ministerial.
Vemos surgir as mais variadas respostas ensandecidas. Algumas, por seu conteúdo absolutamente carnal e de baixo calão, não merecem atenção ou destaque. Vejamos, contudo, as mais famosas respostas que surgem em oposição aos textos acerca do mundo gospel:
• “Ele é um homem de Deus” - Como se os que escrevem críticas equilibradas e biblicamente fundamentadas não o fossem.
• “Ele abençoa tantas pessoas com as pregações dele” - A “benção” sobre as pessoas aparece como sinal da aprovação de Deus sobre ele. Sabemos, contudo, que Deus usa quem ele quer para abençoar a quem deseja. Somos apenas um meio. Se fosse depender da nossa santificação e merecimento para Deus abençoar alguém, esse dia nunca chegaria.
• “Pelo menos ele está fazendo a obra de Deus e você que não está fazendo nada para o reino?” - Sempre me divirto com essa afirmação. Como ele sabe que o autor do texto não tem feito nada para o reino? Se por “fazer a obra de Deus” compreende-se “ser famoso e popular”, estamos, a grande parte dos cristãos, perdidos já que nosso trabalho para Deus não está em evidencia nem possui grande destaque público. Graças a Deus que tudo vê. Precisamos entender que se Deus evidencia alguém não é por mérito desta pessoa, mas por sua vontade soberana. Vale lembrar também que seremos cobrados por Deus de acordo com o que nos é dado e com a posição que ocupamos diante da igreja.
• “Quantas pessoas foram tiradas do reino das trevas através dele” - Essa é uma afirmação perigosa. Não dá para ter certeza que só porque alguém chorou ou levantou a mão ou porque foi “curada” está salva. Conversemos com Paul Washer sobre o tema e leiamos João capitulo 6 para ver como as pessoas que receberam de Deus responderam a sua dura pregação. Se, por acaso, forem salvas o mérito é de Cristo, não do artista gospel. O trabalho de convencer é do Espírito Santo não nosso.
• “Você está falando isso porque tem inveja, você queria ter a unção dele”- Pois é. Isso existe mesmo. Se você emitir qualquer opinião sobre um ídolo gospel, sua música, teologia ou comportamento público, você é invejoso. Como lidar com isso?
• “Vocês só querem ser donos da verdade” – A bíblia é a dona da verdade. Eu preciso crer no que está escrito nela. Portanto, qualquer argumentação que se utilize das verdades bíblicas tem espaço. Sempre se está disposto a dialogar biblicamente, mas o problema é que, na falta de argumentos bíblicos, sobra chamar o outro de “dono da verdade”.
• “Como as pessoas perdem tempo para falar contra a obra de Deus?”- A obra de Deus é de Deus. Deve ser realizada, portanto, da maneira que Deus prescreve (com riqueza surpreendente de detalhes) em sua palavra. É possível que escrever sobre o que outros estão fazendo, cantando ou falando dentro da “obra de Deus” seja, na verdade, a obra de Deus. Já pensou por este ângulo? O mais importante é o tesouro que levamos não o vaso de barro que o leva.
• “Não julguem os ungidos de Deus”- Essa é famosa. O que não se observa, contudo, é a fragilidade deste argumento. Quer dizer que o autor do texto está julgando o artista gospel, ou será que você está julgando o autor do texto? Lembrem-se, toda a igreja do Senhor são os ungidos de Deus!
• “Eu fui tão abençoada por essa música (artista, pregação), Deus curou a minha alma”. Ou seja, o que importa é a minha experiência pessoal e satisfação. A régua não é mais a bíblia, agora é minha alma.
No final das contas quando esprememos essas opiniões percebemos que a defesa para tal é porque se gosta da música ou do artista ou da pregação e principalmente por receber uma cura, uma benção espiritual ou benção material o que se constitui em simples satisfação pessoal e não satisfação em Deus. Sim, no final das contas mais importa me satisfazer do que satisfazer ao Deus a quem devo tudo. Como somos tolos! Às vezes pensamos que Deus é nosso amiguinho que tratamos como queremos. Lembremo-nos: Ele zela por sua palavra.
A palavra “satisfação” me lembra de alguns textos da Bíblia. Por incrível que pareça ela me lembra “comida” que me lembra “idolatria”. Quando olhamos para as Escrituras isso faz muito sentido. Em I Coríntios capítulos 8 a 11 vemos que satisfação pessoal, comida e idolatria estão intimamente ligados.
A comida é um símbolo que está bastante associado à idolatria. É, por exemplo, o que se oferece em consagração ao ídolo, no caso dos pagãos, para se receber alguma graça e “aplacar a ira divina” revelada em alguma doença ou peste que acometa determinada pessoa ou família, principalmente por alguma benção alcançada ou que se deseja alcançar. Interessante observar que, ao mesmo tempo em que se oferece a comida ao ídolo se come dela também. A relação dos pagãos com o ídolo é de extrema necessidade e está sempre baseada na satisfação pessoal. Quer no que se refere ao seu próprio ventre, quer seja por satisfações sexuais ou para obtenção de coisas que promovam a comodidade e o luxo. Ou seja, o foco “sou eu”. Adora-se um ídolo para receber algo de suas mãos. Parece-me que o alvo da idolatria é a pessoa mesmo que está adorando, por sua sobrevivência e alimentação da concupiscência dos olhos e a soberba da vida.
Essa relação da comida com adoração se faz tanto no caso dos ídolos como na adoração ao Deus vivo. No velho testamento temos esse exemplo bem claro. O próprio texto em I Coríntios capítulo 10: 3- 8 relata um exemplo da história de Israel.
“Todos comeram do mesmo alimento espiritual e beberam da mesma bebida espiritual; pois bebiam da rocha espiritual que os acompanhava, e essa rocha era Cristo. Contudo, Deus não se agradou da maioria deles; por isso seus corpos ficaram espalhados no deserto. Essas coisas ocorreram como exemplo para nós, para que não cobicemos coisas más, como eles fizeram. Não sejam idólatras, como alguns deles foram, como está escrito: O povo se assentou para comer e beber, e levantou-se para se entregara à farra. Não pratiquemos imoralidade, como alguns deles fizeram – e num só dia morreram vinte e três mil.”
Vemos Israel caindo por vezes no pecado de idolatria. Nessa passagem fica clara a relação da idolatria com a satisfação pessoal. Eles estavam entregues aos seus desejos e vontades pecaminosas comendo, bebendo e farreando a deriva. Não queriam mais fazer como Deus havia ordenado através de Moisés. Queriam fazer conforme seus próprios instintos. Isso, segundo a opinião deles, era bom e suficientemente satisfatório. Israel comeu e bebeu da comida certa (espiritual que era Cristo) como está escrito nos versos 3 e 4, mas a consciência da maioria era suja, voltada para sua própria cobiça.
Sobre isso pensamos: o que há de errado em comer e beber? Não é algo que fazemos costumeiramente? O próprio Cristo se assentava na mesa com frequência e comia até mesmo com pecadores. Essa resposta temos em capítulos anteriores ao capítulo 10 de I Coríntios. No capítulo 8, vemos Paulo exortando aos irmãos a comerem de tudo no mercado, mesmo que seja sacrificado aos ídolos, pois os mesmos, a comida e o ídolo, não são coisa alguma.
“Contudo, nem todos tem esse conhecimento. Alguns, ainda habituados com os ídolos, comem esse alimento como se fosse sacrifício idólatra; e como a consciência deles é fraca, fica contaminada. A comida, porém, não nos torna aceitáveis diante de Deus; não seremos piores se não comermos, nem melhores se comermos.”
A consciência é o segredo para compreendermos essa questão. Se a consciência estiver pura não há pecado em comer e beber as coisas sacrificadas ao ídolo. No entanto, se um irmão tem a fé fraca e come pensando que está sacrificando ao ídolo, não deve comer, pois a fé do mesmo será abalada. E por isso, “quer comais e quer bebais deve-se fazer tudo para glória do Senhor”.
Dessa forma, o pecado está em ter uma consciência corrompida, não no objeto de adoração em si. Essa complexidade nos esclarece que nós cristãos podemos nos encontrar por diversas vezes no pecado de idolatria, mesmo não tendo imagens, amuletos ou coisas físicas que demostrem a idolatria. Idolatrar é um estado de consciência confirmada ou não com uma prática pagã. Por isso, em I Co 10: 14, Paulo nos diz: “Por isso filhos amados fujam da idolatria”. Em outras palavras, fujam de alimentar os seus próprios desejos e vontades cobiçosos, ansiosos por saciedade sem se preocupar qual seja a santa vontade de Deus.
Como falei anteriormente essa relação da comida com adoração se faz tanto na adoração aos ídolos como na adoração ao Deus vivo. Em contraponto com a mesa da idolatria, a mesa do Senhor dá um banho de água fria na busca enlouquecida pela satisfação pessoal.
Em I Co 11: 20,21 ele faz uma severa crítica aos coríntios pelo modo indevido como estão praticando a ceia. Ele diz:
“Quando vocês se reúnem não é para comer a ceia do Senhor, porque cada um come a sua própria ceia sem esperar pelo outro. Assim, enquanto um fica com fome outro se embriaga”.
Paulo faz uma severa crítica aos irmãos pelo fato de cearem a mesa do Senhor sem esperar pelos outros irmãos. De modo que alguns comiam e se fartavam e outros ficavam com fome. Esses versículos nos trazem uma informação central para a compreensão dessa passagem da ceia. Muitos interpretam o versículo: “Portanto, todo aquele que comer o pão ou beber o cálice do Senhor indignamente será culpado de pecar contra o corpo e o sangue do Senhor. Examine-se cada um a si mesmo, e então como do pão e beba do cálice” erroneamente. Pensam que o impedimento a participar da ceia seria estar em pecado. Mas pensemos bem, estamos em pecado todos os dias. Se o pecado for uma prerrogativa para não cear, nem o próprio Paulo escaparia. O pecado nessa circunstância está em não pensar e não esperar o outro para a ceia. O pecado era pensar em si próprio e na sua própria fome. Esquecer o que os outros necessitavam. Esquecer-se de juntos lembrar-se de Cristo que perdeu tudo para morrer em favor de outros. Queriam mesmo era receber e não dar.
Eis aí a diferença: os pagãos adoram a um deus para receberem o que buscam para si, já os cristãos devem adorar a Deus por quem Ele é e por aquilo que já receberam mesmo sem merecer. A adoração consiste em doar aos outros da mesma forma que receberam tudo de Deus. Os olhos não devem estar abertos a sua própria necessidade, mas ao que Cristo fez por sua misericórdia. Ele nos convida a comer e a beber não com a consciência corrompida pela cobiça, mas a comer e beber dividindo tudo o que se tem.
Gostaria bastante que os cristãos parassem um pouco e pensassem porque tantas vezes preferem proteger um cantor gospel ou pregador do que proteger a própria palavra de Deus. O que mais importa quando o trabalho de um cristão é criticado? Defender aquele que tem lhe proporcionado satisfação pessoal em suas canções ou parar com honestidade para averiguar se, independente de quem seja este artista gospel e do tamanho de sua influência, a palavra santa de Deus está sendo solapada? O que estou dizendo afinal, é que quando Deus desperta seus homens anônimos em defesa de seu próprio evangelho, denunciando equívocos do meio gospel, o povão prefere defender o rico e famoso que está proporcionando pão e circo para a diversão e satisfação do povão embebedado em suas cobiças, do que perguntar-se: “Será que o evangelho está sendo honrado? A palavra de Deus está sendo anunciada com fidelidade e humildade?”.
Enquanto algumas poucas pessoas do Brasil todo se levantavam para criticar posturas anti-cristãs de um certo cantor acima da média que usava a bíblia de maneira equivocada o tempo todo, chegando a dizer que falas de Davi foram ditas por Paulo, demonstrando completa falta de intimidade com os textos mais triviais das sagradas escrituras (isso apesar de ser pastor ungido), o povão, a grande maioria esmagadora dos avatares virtuais, o defendia veementemente. Quando este cantor decide tocar nos ídolos do povo, foi a gota d´Água. Quando ele falou dos demais artistas gospel e os diminuiu e os desprezou aí sim o povão não o aceitou e se postularam absolutamente contra este artista. Ou seja, enquanto ele estava tratando a bíblia com irresponsabilidade, tudo bem. Enquanto ele estava falando sobre Deus com arrogância, tudo bem. Enquanto ele estava se promovendo de todas as formas possíveis, tudo bem. Enquanto ele estava tocando nos elementos espirituais de qualquer forma, tudo bem. Mas, quando ele tocou nos ídolos do povo a casa caiu. De modo que, a conclusão é somente uma: Amamos nossos ídolos que nos divertem e nos “enchem o bucho”. E não respeitamos a palavra de Deus e seu Santo Evangelho.
O que é mais importante afinal? O fato de que é maravilhoso estar envolvido por musicas, e pregações mais engraçadas do que evangelísticas, que oferecem o que se quer ouvir e receber? Ou que, na verdade, cada vez mais o evangelho verdadeiro e compatível com a Bíblia seja pregado não importando que por vezes devamos perder, ouvir e refazer uma obra em prol de se estar satisfeito em Deus e andar em conformidade com sua palavra? A satisfação não deve ser a nossa. Não importa o que achamos ou opinamos. Isso tudo perde o sentido quando ouvimos Cristo dizer:
“Isso é o meu corpo que é dado em favor de vocês; façam isso em memória de mim”
Queridos irmãos repensemos se temos idolatrado a esses artistas a quem admiramos tanto. Vejamos se temos achado o vaso mais importante do que o tesouro que ele leva. Pensemos se temos idolatrado a nós mesmos ansiando por satisfação pessoal em detrimento ao amor pela Palavra e a proclamação genuína do Evangelho de Cristo.
“Mas temos esse tesouro em vasos de barro, para mostrar que esse poder que a tudo excede, provem de Deus, e não de nós.”
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Monique é professora de Libras, esposa de Marco Telles, mãe de João Telles e Theófilo. Membro da Igreja Presbiteriana do Bairro dos Estado, em João Pessoa (PB).
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