quarta-feira, 9 de maio de 2012

AS INDULGÊNCIAS: ABUSOS E FATOS




Por Wilson Porte Jr.
Dias atrás, um comentário que fiz sobre as indulgências causou má compreensão por parte de alguns colegas católico-romanos. Naquele comentário, falei brevemente sobre os abusos que alguns romanos no século XVI cometeram. Neste artigo, pretendo esclarecer de modo simples e breve o que penso sobre as indulgências.
Instância de uma "Carta de Indulgências"
do 19 de Dezembro de 1521
Johan Staupitz, na Alemanha, foi um destes que cometeram abusos. Antes dele, na Idade Média, outros divulgaram documentos falsos falando de indulgências de centenas ou milhares de anos. Todavia, vale ressaltar que a própria Igreja Católica Apostólica Romana foi contrária a tais abusos cometidos. O próprio Quarto Concílio de Latrão (1215), buscou negar tais alegações afirmando que as indulgências não devem ter mais de 40 dias. Nestes abusos, alguns chegavam a afirmar que “assim que uma moeda tilinta no cofre [de Roma], uma alma sai do purgatório”.
Quando os reformadores (século XVI) empreenderam uma batalha pelo Evangelho, buscaram escrever contra os abusos sobre a indulgência, e também contra aquilo que a Tradição e os Cânones da igreja afirmavam.
Verdade seja dita, as indulgências, como a maioria dos evangélicos a entende, não são o perdão dos pecados, muito menos a compra desse perdão. São o perdão das penas temporais, consequência dos pecados.
Explico: segundo o dicionário Oxford da igreja cristã (The Oxford Dictionary of the Christian Church), no artigo sobre asindulgências“para a doutrina católica, as indulgências são concedidas para perdoar as penas temporais causadas pelo pecado, ou seja, para reparar o mal causado como consequência do pecado, através de boas obras. Ou seja, você pecou, pelo “sacramento da confissão” você recebe o perdão mediado pela igreja/sacramento e, por alguma boa obra, também orientada pela igreja, você pode receber o perdão das penas temporais do seu pecado já perdoado.
Sei que é confuso, se você está estudando isso pela primeira vez. Mas, só para clarear um pouco, o Purgatório está ligado a estas penas temporais como um lugar onde a pessoa sofrerá as consequências do pecado dela, podendo sair de lá, inclusive, por indulgências praticadas por pessoas “vivas” em lugar daquela no Purgatório.
Segundo o Código de Direito Canónico“A indulgência é a remissão, perante Deus, da pena temporal devida aos pecados cuja culpa já foi apagada; remissão que o fiel devidamente disposto obtém em certas e determinadas condições pela acção da Igreja que, enquanto dispensadora da redenção, distribui e aplica, por sua autoridade, o tesouro das satisfações de Cristo e dos Santos”. (Enchiridion indulgentiarum, Normae de indulgentiisLibreria Editrice Vaticana 1999, pág. 21; Código de Direito Canónico, cân. 992; e Catecismo da Igreja Católica, n. 1471).
As indulgências são um tipo de perdão e/ou “alívio” que a igreja dá àquele que está sofrendo as consequências de um pecado já perdoado. Preste atenção, o pecado já foi perdoado! Todavia, segundo a tradição romana, há uma “pena temporal” que permanece sobre o pecador. É essa pena temporal que a indulgência remove.
A igreja romana se entende no direito de administrar “as satisfações de Cristo” sobre quem eles quiserem. Isso é um absurdo! Segundo a Epístola do apóstolo Paulo aos Efésios, capítulos 1 e 2, estas “satisfações de Cristo” são aplicadas somente sobre a vida daqueles que a Santíssima Trindade predestinou para a santidade “antes da fundação do mundo” (Ef 1.4).
Todavia, a Enciclopédia Católica assim afirma: “no sacramento da Penitência a culpa do pecado é removida, e com ele o castigo eterno devido ao pecado mortais, ainda permanece a pena temporal exigida pela Justiça Divina, e essa exigência deve ser cumprida na vida presente ou no mundo vindouro, isto é, o Purgatório. Uma indulgência oferece ao pecador penitente meios para cumprir esta dívida durante sua vida na terra” (Catholic Encyclopedia, Indulgences).
Uma vez que a teologia romana entende que são necessários meios para cumprir ou pagar esta dívida, ela se choca com a última palavra de Cristo no Calvário: Τετέλεσται (tetélestai). Esta palavra está ligada à doutrina da Expiação, que, por si, está ligada à doutrina do Pacto da Graça. No ponto sobre a Expiação, entendemos que a satisfação de Cristo foi completa e perfeita – “está consumado” (João 19.30), da palavra grega Τετέλεσται (tetélestai). Quando Cristo disse “Τετέλεσται”, ele usou uma palavra comum aos mercadores daquele tempo. Quando se comprava algo a prazo, após o pagamento da última prestação dizia-se “está consumando” – Τετέλεσται. Ou seja, sua dívida foi totalmente paga, quitada, e você não deve mais absolutamente nada! Cristo satisfaz a ira e a justiça de Deus em nosso lugar. Uma vez que o Τετέλεσται foi pronunciado, não há mais “penas temporais”. Não há mais penas a serem pagas. Tudo já está pago. Apenas recebemos os benefícios desse pagamento pela fé, e SOMENTE pela fé (Gálatas 3.11; Habacuque 2.4; Romanos 1.17; Hebreus 10.38).
Segundo Jehan Cauvin (século XVI), “a doutrina romanista da satisfação priva a Cristo de Sua honra e glória e a consciência de certeza e paz”, Institutas 3, IV, 27.
O site Wikipédia traz no verbete indulgência a seguinte frase: “As indulgências removem, assim, algumas ou todas estas penalidades devidas pelos pecados dos fiéis; e pode ser feita em favor de si mesmo ou em favor de um defunto que está a ser purificado no Purgatório pelas suas penas temporais, dependendo da obra de indulgência. Ir ao cemitério rezar pelos falecidos, por exemplo, concede indulgência aplicável apenas a almas no purgatório”.
Embora eu respeite a opinião e crença dos romanos, deixo aqui meu esclarecimento e opinião quanto às indulgências. As entendo como totalmente desnecessárias além de contrárias à Palavra de Deus. 
Em amor,
Wilson Porte Jr.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Formulário de contato

Nome

E-mail *

Mensagem *