1 Samuel 1-3
Um dos títulos mais temíveis de nosso grande Deus é " S e n h o r dos Exércitos". Esse título é usado quase trezentas vezes nas Escrituras e é encontrado pela primeira vez em 1 Samuel 1:3. A designação " S e n h o r dos Exércitos" descreve Deus como Senhor soberano das hostes de estrelas (Is 40:26), das hostes angelicais (S l 103:20, 21) e dos exércitos de Israel (Êx 12:41; Sl 46:7, 11). Em seu hino Castelo Forte, Martinho Lutero refere-se ao Senhor como o Deus que luta e vence a batalha.
Nossa força nada faz, estamos, sim,
perdidos;
mas nosso Deus socorro traz e somos
protegidos.
Defende-nos Jesus, o que venceu
na cruz,
Senhor dos altos céus; e, sendo o
próprio Deus, triunfa na batalha,
A
história do povo de Israel, conforme esta se encontra registrada na Bíblia, é
uma demonstração viva de que o Senhor, de fato, triunfa na batalha e de que é
soberano sobre todas as coisas. As pessoas e os acontecimentos registrados nas
Escrituras são parte daquilo que os teólogos chamam de "história da
salvação", o plano bondoso de Deus de enviar ao mundo o Salvador para
morrer pelos pecadores. O Livro de Rute termina com o nome de Davi (Rt 4 :22),
e 1 Samuel conta a história da preparação bem-sucedida de Davi para reinar
sobre Israel. Jesus Cristo, o "Filho de Davi", nasceu na família de
Davi. Os livros de Samuel, Reis e Crônicas registram uma porção de pecados e de
fracassos do povo de Deus, mas também lembram que Deus está assentado no trono
e, quando não lhe é permitido governar, ele prevalece sobre todas as coisas.
Ele é o S e n h o r dos Exércitos, e seus propósitos serão cumpridos.
1. DEUS DIRIGE A HISTÓRIA
"Que são todas as
histórias, senão Deus manifestando a si mesmo?", perguntou Oliver Cromwell
mais de três séculos atrás; mas nem todos concordam com ele. O historiador
inglês Edward Gibbon, que escreveu Decline and Fali of the Roman Empire (Declínio
e Queda do Império Romano) chamou a história de "pouco mais que um
registro dos crimes, da insensatez e dos infortúnios da humanidade", e
seu contemporâneo, Lord Chersterfield, chamou a história de "um
amontoado confuso de fatos". Mas o Dr. A. T. Pierson, pregador e
estadista missionário do século passado, expressou muito bem a realidade ao
dizer que "nossa história é a história de Deus". Trata-se de
algo particularmente verdadeiro no que se refere à história registrada na
Bíblia, pois nela Temos um relato inspirado da mão de Deus operando nos
assuntos da humanidade, de modo a trazer ao mundo o Salvador.
No
Livro de Juízes, "não havia rei era Israel", e o texto descreve uma
nação dominada pela anarquia. "Naqueles dias, não: havia rei em Israel;
cada qual fazia o que achava mais reto" (Jz 17:6; ver também; 18:1; 19:1;
21:25). Israel não era mais um povo unido, como no tempo de Josué, sim uma
confederação informal de tri com juízes designados por Deus governando sobre
áreas distantes umas das outras. Não havia um exército permanente nem líderes
militares fixos. Homens de diferentes tribos se voluntariavam para defender a terra
quando eram chamados para a batalha
No
entanto, é durante esses dias sombrios dos juízes que se desenrola a história
registrada no Livro de Rute. Boaz caso com Rute, a moabita, e de sua união nasceu
Obede, o pai de Jessé, que se tornou pai do rei Davi. Não havia rei em Israel, mas
Deus estava trabalhando de modo a preparar o caminho para o seu servo. Se
Juízes é o livro no qual "não há rei", então 1 Samuel é o livro do
"rei escolhido pelos homens". O povo de Israel pediu um rei, e Deus
lhes deu Saul, da tribo de Benjamim, e o reinado de Saul terminou em tremendo
fracasso. Porém, o Senhor havia preparado Davi para o trono, e 2 Samuel é o
livro do "rei escolhido por Deus".
É impossível ler os registros do passado sem
ver a mão do "Senhor dos Exércitos" operando nos acontecimentos que
chamamos de história. O Senhor é mencionado mais de sessenta vezes em 1 Samuel
1-3, pois ele é o ator principal desse drama. Os seres humanos têm liberdade de
tomar as próprias decisões, sejam elas acertadas ou erradas, mas é Jeová, o
Senhor da história. Que, em última análise, cumpre seus propósitos nas nações e
por meio delas (At 14:15- 17; 17:24-26; Dn 4:25, 32). De fato, "nossa história
é a história de Deus", verdade que serve de grande encorajamento para
o povo de Deus que sofre por sua fé. Porém, ao mesmo
tempo, é uma advertência aos incrédulos que ignoram ou que se opõem à vontade
de Deus, pois, no final, o Senhor dos Exércitos triunfará.
Samuel
foi usado por Deus para trazer união num momento crítico da história de quando
a frágil confederação de tribos precisava desesperadamente de orientação, foi o
último dos juízes (1 Sm 7:15-17; At "5:20) e o primeiro de uma nova linha
de profetas depois de Moisés (3:24). Fundou escola de profetas e ungiu dois
reis – Saul que fracassou, e Davi, que foi bem-sucedido. Numa época em que as
eras se confrontavam e em que nada parecia firme, Samuel foi o líder espiritual
da nação de Israel e ajudou a conduzi-la à unificação nacional e à
reconsagração espiritual.
Aparentemente,
na história humana, a verdade está "sempre no cadafalso", enquanto a
injustiça está "sempre no trono", mas este não é o ponto de vista do
céu. Ao estudar Samuel, veremos claramente que Deus sempre está no controle.
Ao mesmo tempo que ele é longânimo, misericordioso e responde às orações de seu
povo, também é santo, justo e castiga o pecado. Hoje em
dia, vivemos um tempo de mudanças radicais em âmbito mundial, e a igreja
precisa de líderes como Samuel, que ajudem o povo de Deus a entender onde
estão, quem são e o que são chamados a fazer.
2. DEUS RESPONDE AS
ORAÇÕES (1 SM 1:1-28)
No
tempo dos juízes, os israelitas viram-se numa situação crítica, pois lhes
faltava uma liderança temente a Deus. O sacerdócio estava corrompido, o Senhor
não se comunicava constantemente com seu povo (3:1) e a lei de Moisés era
ignorada por toda a terra. Como fez em várias outras ocasiões, Deus começou a
resolver essa situação enviando um bebê. Os bebês são a forma de Deus anunciar
que conhece as necessidades de seu povo, que se preocupa com ele e que está
trabalhando para seu bem. A chegada de um bebê traz nova vida e novo começo; os
bebês mostram o caminho para o futuro, e sua concepção e nascimento são
milagres que só podem ser realizados por Deus (Gn 30:1, 2). Para tornar esse
acontecimento ainda mais extraordinário, Deus por vezes escolhe mulheres
estéreis para serem mães, como quando enviou Isaque a Sara, Jacó e Esaú a
Rebeca e José a Raquel.
Um
lar dividido (vv. 1-8). Elcana era um levita, um coatita da
família de Zufe (1 Cr 6:22-28, 34, 35). Os levitas encontravam-se espalhados
por toda a terra e, sempre que necessário, iam a Siló ministrar no tabernáculo.
Elcana vivia em Ramá, na fronteira entre as tribos de Efraim e de Benjamim (ver
Js 18:25). Samuel, o filho tão conhecido de Elcana, nasceu em Ramá (1 Sm 1:19,
20), onde viveu (1 Sm 7:17) e foi sepultado quando morreu (1 Sm 25:1).’
Em
vários sentidos, Elcana dá a impressão de ser um homem bom e temente a Deus,
exceto pelo fato de que tinha duas esposas. Ao que parece, Ana era sua primeira
esposa e, ao ver que era estéril, Elcana casou-se com Penina para que pudesse
ter uma família. Não sabemos o motivo de Elcana não ter esperado no Senhor e
confiado que realizaria seu plano, mas até mesmo Abraão casou-se com Hagar (Gn
16) e Jacó acabou tendo quatro esposas! Apesar de a bigamia e o divórcio não
serem proibidos pela lei mosaica (Dt 21:15-17; 24:1-4), o plano original de
Deus era que cada homem se casasse com uma só mulher para a vida toda (Mc
10:1-9).
O
nome "Ana" significa "mulher cheia de graça" e, sem
dúvida, Ana demonstrava graça na maneira de lidar com sua esterilidade e com as
atitudes e palavras cruéis de Penina. Elcana conseguiu ter filhos com Penina,
de modo que Ana sabia que ela era o problema e não o marido. Parecia injusto
uma mulher de índole tão má quanto Penina ter uma porção de filhos, enquanto
Ana, com toda sua graça, não ter filho algum. Ana também sabia que somente o
Senhor poderia fazer por ela o que havia feito por Sara e Raquel, mas por que
Deus havia-lhe cerrado a madre? Sem dúvida, essa experiência ajudou a
transformá-la numa mulher de caráter e de fé e a motivou a dar o melhor de si
ao Senhor. Ela expressou sua angústia somente a Deus e não criou problemas na
família discutindo com Penina. Em tudo o que disse e fez, Ana procurou
glorificar ao Senhor. Sem dúvida, foi uma mulher notável que deu à luz um filho
extraordinário.
Uma
oração devota (vv. 9-18). Durante uma das refeições festivas
em Siló, Ana deixou a família e foi ao tabernáculo orar. Havia sentido no
coração que Deus desejava que orasse por um filho, uma criança que devolveria
ao Senhor para servi-lo por toda a vida. É impressionante como, em termos
humanos, o futuro de Israel dependia das orações dessa mulher piedosa. Na
verdade, quanta coisa da história não dependeu das orações de pessoas que
sofreram e que se sacrificaram, especialmente das orações de mães?
Que
exemplo de oração temos em Ana! Sua oração nasceu da tristeza e do sofrimento,
mas apesar de seus sentimentos, derramou a alma perante o Senhor. Foi uma
oração que envolveu submissão, pois se apresentou ao Senhor como uma serva
disposta a fazer aquilo que ele desejasse (ver Lc 1:48). Sua oração também
inclui sacrifício, pois fez um voto de devolver o filho ao Senhor para ser
nazireu (Nm 6) e servir a Deus por toda a vida.
A
fé e a devoção de Ana foram tão fortes que se elevaram acima da interpretação
incorreta e da crítica do mais alto líder espiritual de sua nação. Ao entregar
ao Senhor o que se tem de melhor, não é incomum receber críticas de quem
deveria encorajá-la. Moisés foi criticado pelo irmão e pela irmã (Nm 12), Davi
pela esposa (2 Sm 6:12-23) e Maria de Betânia por um apóstolo (Jo 12:1-8) e, no
entanto, essas três pessoas receberam a aprovação do Senhor. Nos quatro
primeiros capítulos de 1 Samuel, Eli é apresentado como péssimo exemplo de
seguidor de Jeová e de sumo sacerdote. É provável que fosse um homem voltado
aos próprios prazeres (4:18) e, sem dúvida, mostrou-se tolerante com relação
aos pecados dos filhos (2:22-36). No entanto, também se apressou em julgar e em
condenar a devoção de uma mulher temente a Deus. Nas palavras de John Bunyan:
"E melhor orar de coração, mas sem palavras, do que orar com palavras, mas
sem coração". Ana orou de coração.
Um
filho ilustre (vv. 19-28). Quando os sacerdotes ofereceram o
holocausto logo cedo na manhã seguinte, Elcana e a família estavam presentes
para adorar a Deus, e é bem provável que a alma de Ana estivesse transbordando
de alegria, pois ela havia oferecido um sacrifício vivo ao Senhor (Rm 12:1,2).
Ao voltar para casa, Deus respondeu à oração de Ana e permitiu que ela
concebesse e, quando a criança nasceu, Ana chamou o menino de Samuel. O termo hebraico Sa-al
quer dizer "pedido" e sama significa "ouvido ", enquanto el
é um dos nomes de Deus, de modo que Samuel significa "ouvido por
Deus" ou "pedido a Deus". Ao longo de
toda a sua vida, Samuel foi tanto uma resposta de oração como um grande homem
de oração.
Quando
Elcana e Ana apresentaram o filho ao Senhor, Ana lembrou a Eli que ela era a
mulher que havia orado pedindo um filho três anos antes.4 Será que o homem
idoso se lembrava daquela ocasião e, se foi o caso, será que se recordava de
como havia tratado aquela mulher aflita? O texto não registra se Eli se lembrou
do ocorrido, mas ele recebeu o menino para que se tornasse servo de Deus no tabernáculo
e fosse educado segundo as leis do Senhor.
Até
aqui, a história deixa claro que a vida e o futuro de uma nação dependem do
caráter da família, e o caráter da família depende da vida espiritual dos pais.
De acordo com um provérbio africano: "A ruína
de uma nação começa nos lares de seu povo"; até mesmo Confúcio
ensinou que "a força de uma nação nasce da integridade de suas
famílias". Eli e seus filhos tinham lares "religiosos" que, na
verdade, eram ímpios, mas Elcana e Ana tinham um lar piedoso, que honrava ao
Senhor, e lhe entregaram o que tinham de melhor. A esperança do povo de Israel
encontrava-se sobre aquele menino, ainda tão pequeno, que vivia no tabernáculo
e que ali aprenderia a servir ao Senhor. Nunca subestime o poder de um lar
consagrado a Deus ou o poder de uma criança pequena dedicada ao Senhor.
3. DEUS RECEBE LOUVOR E
ADORAÇÃO (1 SM 2:1-11 )
Depois
que Ana deixou o filho com Eli, poderia ter se retirado sozinha para algum
lugar a fim de chorar desconsolada, mas, em vez disso, irrompeu num cântico de
louvor ao Senhor. O mundo não entende a relação entre sacrifício e cântico; não
compreende como o povo de Deus consegue cantar enquanto se dirige para o
sacrifício e sacrificar com cânticos. "Em começando o holocausto, começou
também o cântico ao S e n h o r " (2 C r 29:27). Antes de ir para o jardim
onde seria preso, Jesus cantou um hino com seus discípulos (M t 26:30); Paulo e
Silas cantaram hinos ao Senhor depois de terem sido humilhados e açoitados (At
16:20-26). Nos Salmos, encontram os, em várias ocasiões, Davi louvando a Deus
em meio a circunstâncias difíceis. Depois de açoitados pelos líderes religiosos
em Jerusalém, os apóstolos "se retiraram do Sinédrio regozijando-se por
terem sido considerados dignos de sofrer afrontas por esse Nome" (At
5:41).
O cântico de Ana, quase no início do Livro de
1 Samuel, deve ser com parado ao cântico de Davi, quase no final de 2 Samuel
(22) e também com o cântico de M aria em Lucas 1:46-55. Esses três cânticos
falam da graça imerecida do Senhor com seu povo, da vitória de Deus sobre o
inimigo e da maneira maravilhosa de Deus fazer uma reviravolta nas coisas a fim
de realizar seus propósitos. Aquilo que Maria expressou em seu cântico é
especialmente parecido com o que Ana cantou em seu hino de louvor.
A alegria do Senhor (v. 1).
Ana orava e se regozijava ao mesmo tempo! Pensava nas bênçãos de Deus sobre a
nação bem como sobre si mesma e seu lar. A oração egoísta não é espiritual e
não honra ao Senhor. Ana sabia, em seu coração, que Deus faria grandes coisas
por seu povo e que seu filho teria importante papel no cumprimento da vontade
de Deus. Sua adoração veio de um coração repleto da alegria do Senhor.
No
original, o termo "força", nos versículos 1 e 10, aparece com o
"chifre", uma representação de força ou de pessoa forte (ver Sl 75
:4, 5, 10; 89:17, 24; 92:10; 132:17). Ter sua "força exaltada"
significa receber forças de Deus e ser ajudado por ele de maneira especial
durante um tempo de crise. Ter uma "boca que se ri" é uma referência
a gloriar-se com a vitória de Deus sobre os inimigos. Um povo derrotado deve
calar-se, mas aqueles que participam da vitória de Deus têm o que dizer para a
glória do Senhor.
A
expressão "Alegro-me na tua salvação" não indica apenas que Ana foi
liberta de sua infertilidade. Ana considera esse milagre o começo de novas
vitórias para Israel, que havia sido repetidamente invadido, derrotado e
abusado por seus inimigos (Jz 2:10-23). Mas a palavra hebraica para salvação é yeshua
- Josué -, um dos nomes do Messias prometido. O rei Davi seria o yeshua de Deus
para livrar Israel de seus inimigos, e Jesus, o Filho de Davi, seria o yeshua
de Deus rara livrar todos da escravidão do pecado e da morte.
A majestade do Senhor (vv. 2, 3).
É bom começar as orações com louvores, pois o louvor ajuda a concentrar-se na
glória do Senhor e não no tamanho das necessidades. Quando contemplamos a
grandeza de Deus, começamos a ver a vida de outra perspectiva. Ana conhecia o
caráter de Deus e exaltou seus atributos gloriosos. Começou declarando a
santidade e a singularidade do Senhor. Esses dois atributos andam juntos, pois
tanto no hebraico quanto no grego, o termo "santo" significa
"inteiramente outro, reservado, separado". Os judeus ortodoxos
confessam diariamente: "Ouve, Israel, o Senhor, nosso Deus, é o único
Senhor " (Dt - :4 ). Não há outro Deus, e sempre que Israel se voltava
para os ídolos em busca de ajuda, perdia as bênçãos do Senhor.
O
Senhor também é "Deus da sabedoria" (1 Sm 2:3),
de modo que as pessoas revem ter cuidado do que falam e de como 3lam . Quando
estamos diante de Deus, que ronhece todas as coisas, tudo o que pensamos,
dizemos e falamos, não há lugar para orgulho e arrogância. Deus ouviu todas as palavras
desdenhosas de Penina contra -\na e também ouviu a oração vinda do mais
profundo do coração de Ana. Deus é onisciente: conhece todas as coisas; é
também onipresente e vê todas as coisas.
Ana
se regozijou, pois esse Deus santo é um justo juiz daquilo que seu povo faz. Ao
contrário das pessoas que participam de processos judiciais, o Senhor sabe tudo
e é cap az de nos avaliar, bem com o nossas ações, com precisão. Pesou Belsazar
e descobriu que estava "em falta" (Dn 5:27). O Senhor pesa nossas
motivações (Pv 16:2) e nosso coração (Pv 24:11, 12), e suas balanças são
precisas. Assim com o aconteceu com Ana, pode ser que outros nos entendam mal
ou tenham pensamentos malignos sobre nós, mas o Senhor sempre agirá com
justiça.
A
graça do Senhor (vv. 4-8a). Deus é santo, justo e sempre fiel a
sua Palavra e a seu caráter. Mas também é cheio de misericórdia e de graça, e
com frequência faz coisas que nos surpreendem . Ana descreveu alguns atos do
Senhor e afirmou que ele virava tudo de cabeça para baixo! O "Cântico de M
aria" (Magnificat), em Lucas 1:46-55, expressa algumas dessas mesmas
verdades.
Guerreiros
poderosos caem, enquanto fracos e cambaleantes vencem a batalha (1 Sm 2:4; ver
Ec 9:11). Os ricos, antes fartos, buscam algo para com er e estão dispostos a
trabalhar por sua comida, enquanto os pobres e famintos têm alimento em
abundância (1 Sm 2:5a). A mulher estéril dá à luz sete filhos, enquanto a
mulher com muitos filhos se vê exausta e enfraquecida e sequer consegue
desfrutar sua família (v. 5b). A verdade dessa declaração reflete-se no fato de
Ana ter dado à luz mais cinco filhos (v. 21).
Por
ser soberano, o Senhor controla a vida e a morte e tudo o que acontece entre o
começo e o fim (v. 6). E capaz tanto de nos resgatar da cova como de permitir
que morramos. Se permitir que vivamos, pode nos tornar ricos ou pobres,
exaltados ou humilhados, pois ele sabe o que é melhor. Isso não significa que
as pessoas devam conformar-se mansamente com as circunstâncias difíceis da vida
sem tomar qualquer atitude, mas sim que não podemos mudar essas circunstâncias
sem a ajuda do Senhor (Dt 8:18). Em sua graça, Deus pode escolher os pobres e
exaltá-los, de modo que se assentem entre os príncipes (ver Sl 113:7, 8 e Lc
1:52). Ele os tira do pó e do monturo e os coloca em tronos gloriosos! Não foi
isso o que Deus fez por Jesus (Fp 2:1-10) e que Jesus fez por nós quando nos
salvou (Ef 2:1- 10)? De fato, por causa da cruz, o Senhor "tem
transtornado o mundo" (At 1 7:6), e só possuem visão clara e valores
verdadeiros os que crêem em Jesus.
A
proteção do Senhor (vv. 8b-10a). Deus estabeleceu o mundo
de modo que não se movesse do lugar, e aquilo que acontece em nosso planeta
está sob os cuidados atenciosos do Criador.5 Podemos pensar que Deus abandonou
a Terra nas mãos de Satanás e de seus poderes demoníacos, mas este mundo ainda
pertence a nosso Pai (Sl 24:1, 2), e ele colocou seu Rei no trono celestial (Sl
2:7- 9). Enquanto o povo de Deus caminhar sobre a Terra e andar na luz, o
Senhor os guardará e conduzirá seus passos, mas os perversos caminham na
escuridão espiritual, pois dependem da própria sabedoria e força. Pode parecer
que os perversos são bem-sucedidos, mas um dia a tempestade da ira de Deus
irromperá contra eles em julgamento severo. Deus é longânimo para com os que o
rejeitam, mas seu dia está chegando.
O
reino do Senhor (v. 10b). Trata-se de uma declaração
extraordinária de que o Senhor dará um rei ungido a Israel e de que o
fortalecerá para que sirva a Deus e à nação. Sem dúvida, Ana conhecia a lei de
Moisés, pois nela encontrou as promessas de um futuro rei. Deus disse a Abraão
e a Sara que haveria reis entre seus descendentes (Gn 17:6 ,16 ) e repetiu essa
promessa a Jacó (35:11). Nas últimas palavras que proferiu aos filhos, Jacó
anunciou que Judá seria a tribo real (49:10); em Deuteronômio 17:14- 20, Moisés
deu instruções com referência a um futuro rei. Quando Israel pediu um rei, Deus
estava preparado para conceder-lhes esse pedido. Em vários sentidos, o rei Davi
cumpriu essa profecia, mas seu cumprimento absoluto encontra-se em Jesus Cristo
("o Ungido"), que, um dia, se assentará no trono de Davi e governará
sobre seu reino glorioso (Lc 1:32, 33, 69-75).
Ana e Elcana deixaram o filho em Siló e
voltaram para Ramá com o coração alegre e cheio de expectativa quanto ao que o
Senhor faria. Q ue coisa maravilhosa quando o casal é consagrado ao Senhor,
adorando juntos e crendo em sua Palavra. Ana foi ao lugar de adoração com o
coração quebrantado, mas o Senhor lhe deu paz, pois ela orou e se sujeitou a
sua vontade.
4.
DEUS JULGA O PECADO (1 SM 2:12-36)
Até aqui, a narrativa concentrou-se em Elcana
e em sua família (1 Sm 1:1 - 2:11), mas a partir desse ponto, muda para Eli e
sua família (2:12 - 3:21). Ao longo desta seção, verem os um contraste
intencional entre Samuel e os dois filhos de Eli, Hofni e Finéias. Os filhos de
Eli "desprezavam a oferta do Senhor" (2:17), mas "Samuel
ministrava perante o Senhor" (v. 18). Os dois irmãos cometeram atos de
perversidade no tabernáculo e suscitaram o julgamento de Deus, mas Samuel
serviu no tabernáculo e cresceu no favor do Senhor (v. 26). A linhagem
sacerdotal chegaria ao fim na família de Eli, mas Samuel seria cham ado por
Deus para dar continuidade a um sacerdócio santo (1 Sm 2:34 - 3:1). Do ponto de
vista humano, a impressão era a de que os perversos filhos de Eli escaparam
incólumes com sua desobediência, mas Deus estava preparando o julgamento deles,
enquanto capacitava seu servo Samuel para continuar a obra divina.
O
julgamento de Deus é merecido (vv. 12-21). Um a vez que Eli
era um homem idoso que não conseguia mais enxergar muito bem (4:15), deixou o
trabalho do tabernáculo ao encargo dos dois filhos que, por sua vez se
aproveitaram do pai fazendo o que bem entendiam. Hofni e Finéias não conheciam
ao Senhor pessoalmente; antes, eram "filhos de Belial", expressão
hebraica para descrever pessoas desprezíveis que praticavam abertamente o mal
(Dt 13:13; Jz 19:22; 1 Sm 25:25; Pv 16:27). Em 2 Coríntios 6:15, Paulo usa Belial
como um sinônimo de Satanás A lei descrevia com precisão as porções dos 1 S A M
U E L 1 - 3 207 sacrifícios que pertenciam aos sacerdotes Lv 7:28-36; 10:12-15;
Dt 18:1-5), mas os dois nnãos tomavam para si toda a carne que rje ria m e,
ainda, as partes de gordura que rertenciam ao Senhor. Chegavam até a pegar a
carne crua para assá-la e não ter de ;omê-la cozida. Eles "desprezavam a
oferta ;o S e n h o r " (2:17) e pisavam (escarneciam ) -os sacrifícios do
Senhor (v. 29).
Hofni
e Finéias não apenas desrespeitaram aTi os sacrifícios no altar, com o também
não tinham consideração alguma pelas mu- -«res que serviam à porta do
tabernáculo 22; Êx 38:8). Em vez de promover o cres- :m ento espiritual dessas
mulheres, os dois "nãos as seduziam . Não eram servas ofi- : ais
designadas pela lei, mas sim voluntá- *as que auxiliavam os sacerdotes e
levitas. É rossível que ajudassem a cuidar das crianças pequenas que vinham com
os adultos adorar no templo ou, talvez, que estivessem a simplesmente para
ficar próximas à presença do Senhor. Hoje em dia, a imoralidade no ministério
aparece ocasionalmente -os noticiários e, apesar de ser algo trágico, não é
novidade. Contrastando com a perversidade dos filhos de Eli, vê-se a fidelidade
de Samuel 1 Sm 2:18-21). Era uma espécie de aprendiz re sacerdote que recebia
instruções quanto ao trabalho no santuário e até usava vestes re linho com uma
estola, como faziam os sacerdotes e levitas adultos. A cada ano, quando os pais
vinham a Siló, sua mãe trazia .estes novas para o menino em fase de crescimento.
Nas Escrituras, é comum as vestes se referirem à vida espiritual (Is 61:10; Z c
1:1-5; Ef 4:22-32; Cl 3:8-17; 1 Pe 5:5), e murar de roupa simboliza um novo com
eço (Gn 35:2; 41:14; 45:22; Êx 19:10; Ap 3:18). As • estes novas de cada ano
representavam não aoenas o crescimento físico de Samuel, mas •ambém seu crescim
ento espiritual (1 Sm 2:21), o que nos lembra como "crescia Jesus em
sabedoria, estatura e graça, diante de Deus e dos homens" (Lc 2:52). Deus
estava prestes a executar seu julgamento sobre a casa de Eli, mas o Senhor
abençoou Elcana e Ana, bem com o o lar resse casal, pois lhes deu mais cinco
filhos (1 Sm 2:21; ver Sl 113:9). Esse foi o presente de Deus, em sua graça, e
também uma resposta à oração de Eli (1 Sm 2:20), que se agradava de Sam uel e
era grato por seu ministério. Ana deu um filho ao Senhor e ele lhe devolveu
cinco!
O
julgamento de Deus é desprezado (vv. 22-26). De nada adiantou
que pessoas tementes a Deus contassem a Eli os pecados que os dois filhos dele
estavam praticando. Eli não era um pai muito piedoso nem um grande líder
espiritual, e seus filhos desprezaram suas admoestações. É triste quando um pai
- especialmente aquele que também é líder espiritual - perde a influência sobre
a própria família, restando-lhe apenas esperar a vinda do julgamento de Deus.
Ló perdeu a influência sobre a família (Gn 19:12-14) e, depois que Davi pecou
com Bate-Seba, sua influência sobre os filhos enfraqueceu consideravelmente. Hofni
e Finéias não tinham respeito algum pelo Senhor nem pela posição do pai como
sumo sacerdote, de modo que só restava a Deus julgá-los e colocar em seu lugar
servos que fossem fiéis.
O
julgamento de Deus é declarado (vv. 27-36). Um "homem de
Deus", cujo nome não é mencionado, apareceu em Siló para declarar os
termos do julgamento do Senhor sobre Eli e a família. O título "homem de
Deus" é usado cerca de setenta vezes no Antigo Testamento e costuma
referir-se a um profeta enviado pelo Senhor. Em primeiro lugar, o profeta
tratou do passado (vv. 27, 28) e lembrou a Eli que seu cargo como sumo
sacerdote era uma dádiva recebida pela graça de Deus. O Senhor havia escolhido
Arão para ser o primeiro sumo sacerdote e concedido a ele a prerrogativa de
passar essa honra adiante para o filho mais velho (Êx 4:14-16; 28:1-4). Era um
privilégio para o sumo sacerdote e seus filhos oferecer sacrifícios no altar de
bronze, queimar incenso no altar de ouro, usar as vestimentas sagradas e com er
das santas ofertas. Em seguida, o mensageiro voltou a atenção para o presente
(1 Sm 2:29) e acusou Eli de colocar os filhos à frente do Senhor e de
participar de seus pecados. Tolerar o pecado e não tratar dele com severidade é
o mesmo que tomar parte dessa transgressão. Com o sumo sacerdote, Eli possuía a
autoridade de disciplinar os filhos, mas se recusou a fazê-lo. "Não te
tornes cúmplice de pecados de outrem" (1 Tm 5:22). Se Eli fosse um homem
de Deus, preocupado com a glória de Deus, teria censurado os filhos e os
chamado ao arrependimento, e caso se recusassem a mudar seus caminhos, teria
colocado outros sacerdotes no lugar deles.
O
tema principal da mensagem do profeta girava em torno do futuro (1 Sm 2:30-36).
Deus havia dado o sacerdócio a Arão e a seus descendentes para sem pre, e
ninguém poderia tomar deles essa honra (Êx 2 9 :9 ; 4 0 :1 5 ; Nm 18:7; D t 1
8:5). Porém , os servos de Deus não podem viver como bem entendem e esperar que
o Senhor os honre, "porque aos que me honram, honrarei" (1 Sm 2:30).
O privilégio do sacerdócio continuaria sendo da tribo de Levi e da casa de
Arão, mas Deus o tomaria da linhagem de Eli. Os descendentes de Eli se
enfraqueceriam e se extinguiriam e não haveria mais homens idosos como Eli na
família. Teriam de mendigar sua comida e suplicariam uma oportunidade de servir
(v. 36). No tempo de Davi, havia pelo menos dois descendentes de Eleazar para
cada descendente de Itamar (1 Cr 24:1-5), de modo que a família de Eli foi, aos
poucos, desaparecendo. O pior, porém, era que, em breve, os dois filhos mimados
de Eli morreriam no mesmo dia. Até mesmo o tabernáculo ficaria angustiado (1 Sm
2:32), o que, de fato, aconteceu com a captura da arca e, por fim, a
transferência do tabernáculo de Siló para Nobe (21:1-6; Jr 7:14). No entanto,
grande número de sacerdotes morreu pelas mãos de Doegue em Nobe, episódio que
constituiu o cumprimento parcial dessa profecia.
Eli
era descendente de Arão pela linhagem de Itamar, o quarto filho de Arão, mas
Deus abandonaria essa linhagem e se voltaria para os filhos de Eleazar, o
terceiro filho de Arão e seu sucessor como sumo sacerdote. Durante o reinado de
Davi, tanto Zadoque quanto Abiatar serviram no ofício de sumo sacerdote (2 Sm
8:17), mas quando Salomão subiu ao trono, removeu Abiatar, tataraneto de Eli,
de seu sumo sacerdócio, pois havia cooperado com Adonias, filho de Davi, em sua
tentativa de tomar o trono. Salomão nomeou Zadoque , da casa de Eleazar, sumo
sacerdote (ver 1 Rs 2:26,27,35). Os nomes de Eli e de Abiatar não aparecem na
lista de sumos sacerdotes israelitas em 1 Crônicas 6:3-15. Ao confirmar Zadoque
como sumo sacerdote, Salomão cumpriu a profecia proferida pelo homem de Deus
quase um século e meio antes.
No entanto, o futuro não era de todo sombrio,
pois o homem de Deus anunciou que o Senhor levantaria um sacerdote fiel, que
agradaria o coração de Deus e faria a vontade dele (1 Sm 2:35). A referência
imediata é a Zadoque, mas, em última análise, essas palavras apontam para Jesus
Cristo, o único que teria uma "casa estável" e que seria o sacerdote
ungido de Deus "para sempre". Jesus veio da tribo de Judá, de modo
que não tinha ligação alguma com a casa de Arão, mas foi instituído sumo
sacerdote segundo a ordem de Melquisedeque (Hb 7 - 8).
5.
DEUS RECOMPENSA A FIDELIDADE (1 SM 3:1-21)
Mais
uma vez, vemos o contraste entre a perversidade da família de Eli e a
fidelidade do menino Samuel (v.1). Ele ministrou perante o Senhor sob a
orientação de Eli num tempo em que Deus não estava falando a seu povo com muita
frequência. Os líderes espirituais eram corruptos e, de qualquer modo, o povo
de Deus não obedecia à lei; então, por que Deus deveria revelar-lhes algo novo?
Eram tempos de grande tristeza para a nação de Israel, quando o Deus vivo
deixava de enviar sinais e mensagens proféticas ao povo (Sl 74:9; Ez 7:26; Am
8:11, 12; Mq 3:6). O silêncio de Deus era o julgamento divino.
Porém,
Deus estava prestes a mudar a situação e a proferir sua preciosa Palavra a um
menino que ouviria e que obedeceria.
Um
ouvido atento (vv. 1-9). E bem provável que Samuel tivesse
cerca de 12 anos de idade quando Deus lhe falou. A Palavra do Senhor veio a
Samuel enquanto o menino encontrava-se deitado num cômodo contíguo ao
tabernáculo, onde Eli também Tnia. A "lâmpada de Deus" era o cande-
^rro de ouro com sete hastes, que ficava ■o lugar santo diante do véu, à
direita do í'a r de ouro do incenso (Êx 25:31-40; 27:20, É1; 37:17-24). Era a
única fonte de ilumião no lugar santo, e os sacerdotes de- ~m mantê-la sempre
acesa (Êx 27:20) e * :a ra r os pavios todas as manhãs e noites, .jnd o
oferecessem incenso (Êx 30:7, 8). candelabro era um símbolo da luz da verde
Deus, concedida ao mundo por seu . Israel. Infelizmente, naqueles dias, o da
luz da Palavra de Deus era muito , e o sumo sacerdote de Deus mal conia
enxergar! A arca estava lá, e, dentro encontrava-se a lei de Deus (Êx 25:10-
37:1-9; Hb 9:1-5), mas a lei não estava J c honrada pelo povo de Deus.
O
Senhor falou a Samuel quatro vezes Sm 3:4, 6, 8, 10), e, nas três primeiras, í^
T iu e l pensou que fosse Eli quem o cha- ~ =\a. Uma das características de um
servo é ter ouvidos atentos e resposta imediato Porém, Samuel nunca havia
escutado a n z de Deus, de modo que não sabia quem rs:ava cham ando seu nome.
Assim como 5 - íjIo de Tarso, o chamado e a conversão ^ Samuel foram
simultâneos, mas a expe- 'é n cia de Samuel ocorreu durante a noite, ■enquanto
Saulo viu uma luz resplandecente quando ouviu a voz de Deus (At 9:1-9). Eli foi
perspicaz o suficiente para entender que ira Deus quem estava falando ao
menino, Je modo que instruiu Samuel sobre como deveria responder.
Uma
disposição obediente (vv. 10-14). Samuel obedeceu a Eli,
voltou para o lugar :nde dormia e esperou que a voz o chamasse novamente. Dessa
vez, Deus disse o nome do menino duas vezes, pois o Pastor chama fala as
ovelhas pelo nome e elas lhe dão ouvidos (Jo 10:3, 14).8 Além disso, o Senhor
aproximou-se de Samuel enquanto falava com ele. Essa experiência não foi um
sonho ou visão, Tias sim um exemplo de manifestação da presença do Senhor. A
resposta de Samuel foi: Fala, porque o teu servo ouve" (1 Sm 3:10). Mas
por que Samuel deixou de fora a palavra "S e n h o r" (ver v. 9)?
Porque ainda não conheço Senhor pessoalmente (v. 7), de modo que não tinha como
saber de quem era a voz que havia falado com ele. Talvez estivesse usando de
cautela ao não aceitar a voz como sendo de Jeová antes de ter como se assegurar
disso. Por ser obediente a Deus e a Eli, Samuel ouviu a mensagem do Senhor e
ficou sabendo o que Deus planejava fazer. Sem dúvida, era uma mensagem pesada
para transmitir a um menino tão jovem , mas ao fazê-lo, é possível que Deus
estivesse repreendendo a letargia espiritual dos adultos, pois a qual deles
Deus poderia ter transmitido tal mensagem? Quando Deus não encontra um adulto
obediente, por vezes chama uma criança. "DarIhes-ei meninos por príncipes"
(Is 3:4).
Samuel
nada sabia da mensagem que o profeta anônimo havia transmitido a Eli, mas a
mensagem que recebeu de Deus confirmava as palavras proféticas. O Senhor
julgaria a casa de Eli, pois seus dois filhos "se fizeram execráveis"
e Eli não tomou atitude alguma para refreá-los. Apesar de Eli e seus filhos
serem sacerdotes, não havia sacrifício algum que pudessem oferecer para expiar
seus pecados! Suas transgressões eram deliberadas e provocadoras e, para
pecados desse tipo, não era possível oferecer sacrifícios (Nm 15:30). Não
apenas haviam profanado a si mesmos, mas também ao sacerdócio. O Senhor havia
sido longânimo para com a casa de Eli, mas seus filhos não haviam se
arrependido nem deixado seus pecados, e o tempo do arrependimento já havia
passado.
Um
coração humilde (vv. 15-18). Samuel ouviu a voz de
Deus e recebeu a mensagem dele, mas ainda assim se levantou logo cedo e foi
cumprir suas tarefas habituais. Abriu as portas do santuário para que o povo
pudesse entrar e oferecer sacrifícios9 e não comentou com Eli o que Deus havia
lhe dito. Essas atitudes mostram um grau extraordinário de maturidade para um
menino com o ele. A maioria dos jovens teria se orgulhado de sua experiência
com o Senhor e corrido de um lado para outro, transmitindo a mensagem sem ao
menos parar a fim de abrir as portas. Foi somente quando Eli assim lhe ordenou
que Samuel contou a mensagem de julgamento que Deus havia lhe revelado.
Qual
teria sido a reação de Eli à mensagem: submissão ativa ou resignação passiva?
Meu voto vai para a resignação, a mesma atitude demonstrada por Ezequias quando
Isaías lhe disse que suas atitudes insensatas um dia causariam a ruína do reino
de ]udá (Is 39). Eli era um homem idoso e não havia sido bom pai nem sacerdote
fiel; já fora advertido de que o julgamento estava a caminho. Seus dois filhos
morreriam no mesmo dia, e sua família perderia o privilégio do sacerdócio;
assim, que motivo havia para viver? Deus havia escolhido Samuel para ser juiz,
sacerdote e profeta, de modo que a luz da verdade continuasse a brilhar em
Israel. Tudo o que restava ao velho era esperar pacientemente que a espada
caísse sobre ele e sua família.
Como todos nós, Eli tinha seus defeitos, mas
devemos dar o devido valor a sua atitude positiva em relação ao jovem Samuel,
seu sucessor como líder espiritual de Israel. Não é todo servo veterano que
mostra cortesia na hora de descansar as ferramentas de trabalho e deixar que o
aprendiz assuma seu lugar. Até o fim da vida, pode-se dizer que Eli pelo menos
se preocupou com a arca de Deus e com o futuro de sua nação, e sua morte foi
causada pela notícia da derrota de Israel e da captura da arca. Se tivesse m ostrado
um pouco dessa consideração quando os filhos ainda eram jovens como Samuel, as
coisas teriam sido diferentes.
Um viver piedoso (vv. 19-21).
O texto diz, pela segunda vez, que Samuel cresceu (2:21; 3:19), mas a essa
afirm ação é acrescentado que "o S e n h o r era com ele". A mesma
declaração é feita mais adiante sobre o jovem Davi (1 Sm 16:18; 18:12,14). O
Senhor estava contra Eli e seus filhos, mas suas bênçãos encontravam -se sobre
Sam uel e seu ministério. Ao contrário dos outros juízes, as palavras e a
influência de Samue. alcançaram a nação toda. O povo reconheceu que Deus havia
chamado Samuel para ser profeta e proclamar a Palavra e a vontade de Deus. O
Senhor voltou a aparecer de tempos em tempos em Siló e a revelar-se a seu
profeta. Israel estava prestes a passar por um recomeço que o levaria a novos
desafios e perigos, bem com o a novas bênçãos e vitórias.
Pr. W. Wiersbe
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