segunda-feira, 20 de junho de 2016

Sendo um jovem cristão em uma universidade anticristã

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Há alguns anos atrás assisti uma palestra do Rev. Augustus Nicodemus na qual ele citou um dado alarmante vindo de uma pesquisa feita nos EUA. Segundo ele, somente 3 de cada 10 jovens cristãos americanos continuavam firmes na fé após a sua saída da faculdade. Isso me chamou muita atenção e fiquei imaginando se no Brasil a situação não seria semelhante ou até mesmo pior.

Desconheço a existência de uma pesquisa como essa feita em solo brasileiro, mas, ainda assim, acredito que nossa situação não seja muito diferente. Baseando-me em minha própria vivência em uma universidade pública e observando relatos de amigos a respeito de suas experiências, percebi que nossos jovens, em sua maioria, não estão preparados para lidar com o ambiente acadêmico principalmente de universidades públicas, que é muito hostil ao jovem cristão.

Por conta disso, decidi escrever esse texto com algumas orientações pessoais aos jovens cristãos que irão ingressar ou já ingressaram em uma universidade. Meu propósito é tão somente ajuda-los a manterem sua fé durante o seu tempo de graduação.

1) Busque a Deus, pois é Ele quem te sustenta e guarda do mal.

Em primeiro lugar, gostaria de te lembrar que quem te protege do mal é o Espírito Santo de Deus. Na sua famosa oração sacerdotal, Cristo nos diz que enquanto esteve aqui Ele mesmo havia protegido seus discípulos do mal, mas agora Ele iria para junto do Pai e, por isso, clamava para que Deus continuasse a os guardar (Jo 17.12-15). Pelo sentido do texto fica bem claro que a preocupação de Cristo não é com o mal físico, como uma enfermidade, por exemplo. Cristo se preocupava com a corrupção moral, com o pecado:
Quando eu estava com eles, guardava-os no teu nome, que me deste, e protegi-os, e nenhum deles se perdeu, exceto o filho da perdição...” Jo 17.12

Um pouco antes, nos capítulos 14 e 16, Cristo havia prometido enviar outro “consolador” (parakletos) aos seus discípulos. Nas palavras de Cristo, “...o Consolador, o Espírito Santo, a quem o Pai enviará em meu nome, esse vos ensinará todas as coisas e vos fará lembrar de tudo o que vos tenho dito” (Jo 14.26). Assim, “a obra do Espírito Santo é glorificar a Jesus Cristo, mostrando aos seus discípulos quem é Jesus e o que Jesus significa para eles. O Espírito ilumina, regenera, santifica e transforma. Ele dá ao povo de Deus aquilo de que o povo precisa para servir ao Senhor”.[1]

Entendemos que quando Cristo incluiu todos os “que vierem a crer” Nele por meio do ministério dos discípulos (Jo 17.20), nós também fomos alcançados por essa oração maravilhosa de nosso Senhor e, portanto, somos também protegidos do mal pelo Santo Espírito de Deus. 

Tudo isso significa, jovem, que por mais que eu vá apresentar aqui uma lista de coisas a serem feitas, somente o Espírito de Deus pode te guardar do mal e te manter firme na fé. Você, por si só, não tem condições de fazer isso. Portanto, é fundamental que você mantenha uma vida sincera de oração e leitura bíblica regulares, reconhecendo que não há força em você para se manter no estreito caminho e que você precisa diariamente da ajuda do Espírito. Ter uma vida devocional assim é uma evidência de que você reconhece sua fraqueza e incapacidade e se submete inteiramente a Deus. 

2) Busque um grupo cristão em sua universidade, pois você poderá partilhar suas dificuldades e desafios com outros cristãos que vivem situações semelhantes.

Tem se tornado comum a presença de grupos cristãos interdenominacionais nas universidades brasileiras. Em geral, o propósito do grupo é tão somente se reunir para orar, ler a Bíblia, louvar a Deus e conversar sobre a vida acadêmica. Essa é, em minha opinião, uma alternativa excelente para ajuda-lo na caminhada cristã dentro da faculdade, pois você terá a oportunidade de compartilhar suas experiências e desafios com quem enfrenta algo semelhante.

Todavia, tome cuidado com as ideologias por trás do grupo e procure se informar a respeito disso antes de ingressar. Convivemos diariamente com “coisas estranhas” no meio cristão tais como feminismo evangélico e crentes socialistas e, por isso, é importante observar e analisar bem o grupo antes de se envolver.

Portanto, seja cauteloso, mas busque um grupo cristão em sua universidade e procure fazer boas amizades nele. 

3) Converse com cristãos mais velhos, que sejam referências na sua vida, sobre os problemas que você tem enfrentado.

Talvez um dos grandes problemas da igreja hoje seja a excessiva divisão por meio de faixas etárias. Jovens só interagem com jovens. Senhoras só interagem no grupo de senhoras. E assim sucessivamente.

Esse tipo de divisão, se feita em demasia, pode evitar uma importante troca de experiências, que deveria ocorrer na igreja. É fundamental que você, jovem cristão, tenha algumas amizades verdadeiras com pessoas mais velhas. Meninas cristãs busquem as senhoras da igreja que sejam modelos de mulher cristã e aprendam com elas. Da mesma forma, meninos busquem verdadeiros homens de Deus e aprendam com eles.

John Crotts, em seu livro “Homens sábios”, o qual eu recomendo fortemente a todo jovem cristão, diz que “não apenas você deve evitar as más companhias como se fossem uma doença, mas a fim de tornar-se sábio, você também deve gastar tempo com aqueles mais sábios que você” [2].  E como Salomão nos lembra:
Quem anda com os sábios será sábio, mas o companheiro dos insensatos se tornará mau”. Pv 13.20

É bem verdade que idade nem sempre significa sabedoria e, por isso, eu friso que você deve procurar homens e mulheres que sejam boas referências na igreja e cristãos sinceros para serem seus conselheiros.

4) Não se isole, mas não se misture demais.

Seguindo ainda o conselho de Crotts e o versículo citado acima, é preciso dizer que você deve evitar as más companhias na faculdade, e elas são abundantes ali, porque podem ter uma influência negativa na sua vida. Me permita ser mais claro: fuja de quem é dado aos vícios (bebida, drogas, lascívia), de quem é imoral, de quem é abertamente um odioso de Deus e de quem não respeita a sua fé. 

Posso, ainda, ampliar esse princípio sugerindo que você evite também ambientes corruptíveis, i.e., lugares como chopadas que foram feitos para satisfazer os prazeres carnais.  E não me venha com essa história de que você vai “ser luz ali, pois a luz só faz diferença no meio das trevas”. Nós dois sabemos que você pode ser “luz” em várias outras situações muito mais propícias ao testemunho e pregação do evangelho. 

Por outro lado, não seja o estranho isolado que não interage com ninguém. Você pode e deve interagir na faculdade. Você pode e deve conversar com seus colegas de classe, fazer parte da equipe de determinado esporte, da equipe de pesquisa, do diretório acadêmico e etc. Eu, por exemplo, fiz grandes amigos na faculdade. Oro sempre por eles e mantemos contato frequente.

Permita-me lembrar que o cristão tem um mandato cultural por entendemos que em todas as esferas da sociedade, Cristo é soberano. Portanto, você deve buscar glorificar a Deus em todas as suas atividades acadêmicas. Lembre-se do que disse Abraham Kuyper:

“Na extensão total da vida humana não há nenhum centímetro quadrado acerca do qual Cristo, que é o único soberano, não declare: Isto é meu!”. [3]

Eu sei que essa missão pode ser um pouco difícil. Mas com a ajuda do Espírito, ela é possível. Portanto, não se isole, mas não se misture demais.


5) Dê o seu melhor na faculdade e, assim, glorifique a Deus.

Seguindo ainda essa linha de raciocínio, gostaria de te aconselhar a ser o melhor universitário que você puder ser. Se empenhe em tirar boas notas e mantenha atividades extracurriculares que seja de seu interesse. Faz parte da cosmovisão cristã se empenhar ao máximo para fazer tudo a que nos propomos, fazer tudo, de fato, para a glória de Deus.

Leland Ryken, em outro livro que recomendo fortemente aos jovens cristãos, “Santos no mundo”, se propõe a explicar como agiam e pensavam os puritanos. Antes de falarmos especificamente sobre educação, leia o resumo que Ryken faz dos puritanos e veja como eles encaravam a vida com seriedade:
“No todo, o puritano típico nos teria impressionado por trabalhar arduamente, ser econômico, sério, moderado, prático em sua perspectiva, doutrinário em assuntos religiosos e políticos, bem informado a respeito dos últimos acontecimentos políticos e eclesiásticos, argumentativo, bem-educado, e inteiramente familiarizado com o conteúdo da Bíblia. Para alcançar isto, os puritanos tinham de ser autodisciplinados. Para qualquer um propenso à negligência nestes assuntos, estar perto de um puritano decerto o faria sentir-se desconfortável...”. [4]

Se quisermos nos aprofundar um pouco mais, podemos observar uma famosa resolução de Jonathan Edwards, que nos ajuda a perceber como esses homens de Deus viviam a vida ao máximo e com grande seriedade:


“Resolvi viver de tal forma como se estivesse sempre vivendo o meu último suspiro.” [5]

No capítulo sobre educação, Leland traz algumas citações interessantes como esta do reformador Martinho Lutero:

“Se tivesse filhos e pudesse dar conta disso, eu os poria a estudar não apenas línguas e História, mas também canto e música, juntos à matemática... Os gregos antigos treinaram seus filhos nestas disciplinas; eles cresciam para serem pessoas de habilidades extraordinárias, subsequentemente aptas para tudo”. [6]

Podemos ver, portanto, que o cristão deve encarar a vida com seriedade e isso inclui, o dedicar-se aos estudos para ser um bom profissional no futuro e ao trabalho para servir bem a sociedade. E, assim, em ambos os casos, glorificar a Deus.


Há, contudo, algo mais para ser dito aqui. Esse tipo de pensamento tem por base o pressuposto de que toda verdade é verdade de Deus. Isso significa que as ciências estão sujeitas a Deus e devemos nos empenhar nelas a fim de glorificar nosso Senhor e conhecer mais a respeito dele. É consenso na tradição reformada admitir que há um conhecimento natural de Deus, percebido na criação, e um conhecimento sobrenatural de Deus, que é o mais importante, uma vez que é o único que conduz à salvação, conhecido através da Bíblia. Apesar de o conhecimento sobrenatural ser o mais importante, o conhecimento natural não deve ser desprezado.

Ryken nos lembra que “o objetivo dos puritanos na sala de aula era medir todo o conhecimento humano pelo padrão da verdade bíblica” [4] e cita Thomas Hall: “devemos... trazer o conhecimento humano para casa para ser podado e aparado com sabedoria espiritual”.[7] A verdade é que os ateus dominaram o terreno no campo das ciências e eles a separaram radicalmente da religião. É como se a ela fosse impossível dialogar com a fé cristã; é como se fosse a não existência de Deus fosse tão óbvia para a ciência que o assunto nem precisasse ser discutido. Embora não tenha espaço para tratar desse assunto com maior profundidade, sabemos que esse pressuposto não é verdadeiro e me impressiona a inércia de boa parte dos cristãos em tal discussão.

Talvez nossa demora combater essa filosofia seja pela ausência de uma “teologia mais relevante para o nosso contexto”, como destacam Ferreira e Myatt em sua obra.[8] Porém, independente da razão, os cristãos precisam voltar a atuar com coragem e sabedoria nessas áreas para que tragam novamente a luz de Deus para as ciências.

6) Defenda a sua fé, mas seja sábio. Esteja sempre aprofundando seu conhecimento sobre a fé cristã.

Jovem, como já disse, a universidade é um ambiente claramente anti-cristão. Alguns de seus professores provavelmente farão ataques diretos à fé cristã. Outros serão um pouco mais sutis. Porém, você vai precisar aprender a se portar com sabedoria nesse ambiente hostil. 

Não ache, por favor, que você é o protagonista de um filme, no qual, com todo o seu conhecimento adquirido após a leitura de um punhado de livros, irá confrontar e derrotar facilmente um professor em debate aberto. Veja bem, não estou dizendo que você deva negar direta ou indiretamente a fé. Nunca faça isso! Estou apenas te exortando a agir com sabedoria e a não ser prepotente ao ponto de achar que você irá vencer um debate como esse com facilidade. Na verdade, se você for humilde e reconhecer que sabe muito pouco para um debate de tal nível, pode ser que você consiga fazer um bom papel caso haja necessidade.

O caminho que considero natural e bom é esse: o ambiente hostil presente na universidade deve te levar a procurar aprofundar o seu conhecimento acerca da doutrina cristã. Leia filosofia cristã, teologia sistemática, doutrina e apologética e, principalmente, como também já disse, leia a Palavra de Deus. Mas não leia como alguém que está ávido para falar e confrontar, ávido para chamar atenção para si, ávido para vencer um debate e ficar famoso. Leia para sua instrução e para poder auxiliar outros que eventualmente necessitem de ajuda nessas áreas. Leia para a glória de Deus! E, se você for levado a uma situação como um debate com um professor ou até mesmo um colega de classe, seja firme, humilde, respeitoso e confie em Deus.

7) Gaste seu tempo com sabedoria. Não fique demais na internet.

Isso tudo nos leva ao próximo ponto. Administre melhor o seu tempo, o utilizando, o máximo possível, para a glória de Deus. Há diversas coisas que podem nos fazer perder tempo na vida e, levando em consideração o público que me lê, devo salientar que a internet é, sim, uma delas. O problema não é a internet em si, mas o uso que fazemos dela.

A internet pode ser uma ótima ferramenta para o aprendizado secular e cristão, uma ótima ferramenta para fazer e manter amizades cristãs, uma ótima ferramenta para se manter bem informado. Porém, ela também tem o potencial de te ajudar exponencialmente em sua procrastinação. 

Portanto, eu diria para você se preocupar mais em estudar/aprender, trabalhar, ajudar nos afazeres domésticos e ajudar a sua igreja local do que com posts e debates no Facebook, por exemplo. Se preocupe mais em orar e estudar a Bíblia do que em postar que ora e lê a Bíblia. Se preocupe mais em estudar os grandes debates da história da fé cristã com as “tretas” de Facebook que diariamente pululam à sua frente.

Acredito que esse ponto seja, na verdade, derivado do primeiro. Em resumo, quanto mais tempo você se dedicar a conhecer a Deus, mais preparado você estará para enfrentar as dificuldades da universidade e as que surgirão durante toda a sua vida.

Conclusão

Eu espero sinceramente que esse texto possa te auxiliar a encarar o desafio que você tem pela frente. Lembre-se, porém, que, dentre tudo o que foi escrito, o primeiro ponto é o mais importante. Submeta inteiramente a sua vida a Deus e peça que Ele te auxilie a enfrentar o desafio de ser um jovem cristão na universidade. 

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Referências:
[1] Bíblia de Estudo de Genebra, editora Cultura Cristã.
[2] Homens sábios, John Crotts, editora Fiel.
[3] Abraham Kuyper, apud Ferreira, Contra a idolatria do Estado, editora Vida Nova.
[4] Santos no Mundo, Leland Ryken, editora Fiel.
[5] Jonathan Edwards, apud Nichols, Conheça Jonathan Edwards, disponível em:
http://voltemosaoevangelho.com/blog/2015/05/conheca-jonathan-edwards/.

[6] Martinho Lutero, apud Ryken, Santos no mundo, editora Fiel.
[7] Thomas Hall, apud Ryken, Santos no mundo, editora Fiel.
[8] Teologia sistemática, Ferreira & Myatt, editora Vida Nova.

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Autor: Pedro Franco
Divulgação: Bereianos

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