quinta-feira, 25 de fevereiro de 2016

Evangelismo moderno: tem algo errado nesta receita

image from google


Imagine que um grupo de pessoas começa um novo empreendimento na área alimentícia. A produção vai de vento em popa e os resultados financeiros que foram programados em longo prazo começam a serem vistos em curto tempo. O grupo se encontra extasiado com o sucesso e só falam em prosseguir com a produção e as vendas. Porém, um imprevisto ocorre. Pessoas começam adoecer ao ingerir aquele alimento produzido, passar mal e muitos começam a dar entrada em hospitais diversos. O caos é notório. Qual deveria ser o procedimento daquele referido grupo de empreendedores em relação à sua produção? temos três alternativas:

1) Continuar a todo vapor as vendas, mesmo sabendo que seus clientes vão passar mal e correr risco de morte. 
2) Parar a produção e refletir sobre os ingredientes da receita, encontrar os possíveis erros, pois antes não ocorria este tipo de problema, corrigi-los e retornar às atividades de venda. 
3) Abandonar tudo e decretar falência.

Qual você escolheria?


Nossa opinião recai sobre a alternativa de número 2. Pois, a partir de uma base reflexiva se encontraria o problema e este seria corrigido. Com isso as vendas regressariam e, consequentemente, todo o sucesso anterior seria retomado.

A grande pergunta que vos faço a partir desta pequena analogia é a seguinte: Por que não se age assim em relação à prática do Evangelismo moderno? O produto está sendo fornecido com algum erro na receita que tem levado muitos a adoecerem. O Evangelismo contemporâneo tem sido marcado muito pelo aspecto emocional e não pelo aspecto teológico-reflexivo. É preciso sentir menos a presença de Deus e vivê-la mais. Quem sente, logo logo não sente mais, é igual a dor de dente, às vezes demora, mas passa. A presença de Deus precisa ser vivida, pois viver é diferente de sentir. 

Os clichês e jargões têm permeado todo o ambiente do evangelho brasileiro, com isso, a prática do evangelismo moderno também é afetada. Um dos clichês mais utilizados na evangelização moderna é este: “Deus tem um grande plano para realizar na sua vida”. Meus irmãos, bem possível seja que quem profira estas palavras em direção a alguém na evangelização esteja repleto de boa vontade e até com o coração puro – boas intenções. Porém, boa vontade, boa intenção e coração puro só são de bom proveito no reino de Deus quando se coadunam com a vontade de Deus expressa nas Sagradas Escrituras. Será que Davi não estava cheio de boas intenções e com o coração puro quando carregou a Arca da Aliança sobre bois, em festejo pelo regresso da Arca que estava sob domínio filisteu (1º Crônicas 13: 6-8)? Será que Uzá não estava repleto de boa vontade e de coração puro quando tentou livrar da queda a Arca da Aliança a segurando (1º Crônicas 13: 9-10)? A resposta é sim, mas a Arca da Aliança não era nem para ser carregada por bois (e Davi conhecia o preceito divino [1º Crônicas 15: 1-2]), nem muito menos ser tocada por mãos humanas. As consequências destes atos foram trágicas, mesmo mediante a boa intenção, boa vontade e coração puro dos personagens em questão. Parece-nos que o ambiente de festa suprime todo e qualquer senso reflexivo, como já mencionamos; Davi e seu séquito estava festejando o regresso da Arca do Senhor do domínio dos filisteus para o domínio israelita, motivo suficiente para comemoração, mas comemorar não significa deixar a emoção sobrepujar à razão, mas é o que mais ocorre. Não quero aqui colocar a razão no trono e vê-la como a rainha soberana. Mas um bom senso reflexivo em todas as áreas da vida, juntamente canja de galinha, não faz mal a ninguém – e isso faltou a Davi na ocasião mencionada.

O Evangelismo moderno, sobre tudo aquele que envolve os jovens, é marcado por uma verdadeira festa nas ruas, mais parece um carnaval fora de época. Grupos de jovens nos semáforos, muitos deles com a face pintada, outros até segurando faixas com dizeres cristãos enquanto o semáforo está vermelho, outros entregando literaturas etc. Sabe-se de igrejas que formam grupos e estipulam metas evangelísticas para estes grupos; quem entregar mais panfletos e quem conseguir maior número de conversões é o campeão, e no final do dia, ainda rola um lanchinho para o grupo vencedor enquanto o grupo perdedor vai servir os campeões. Deva ser por este ambiente festivo que envolve a evangelização moderna, sobre tudo a que se utiliza de pessoas jovens sem o devido treinamento, que muitos pontos principais do evangelho em si, e a capacidade reflexiva, são suprimidos. Se, se erra no início, tudo mais que vier após isso, estará errado também. Ou seja, aparentes conversões, aparentes novos cristãos e um aparente “Evangelho” sendo alimentado. Um “Evangelho do Falso”: falsas conversões, que gera falsos cristãos, que gera falsa adoração, que gera uma falsa compreensão da genuína Fé Cristã. Como dizíamos anteriormente, o clichê que “Deus tem um plano para realizar na sua vida” é grande prova disso. Está carregado de emocionalismo de festejo, mas de pouco senso de reflexão bíblico-teológica. Na realidade, Deus não tem plano nenhum para realizar na vida de seu ninguém. Sabe por quê? Porque Ele já realizou! O plano redentivo da salvação já fora realizado por Deus na vida de sua igreja e esta notícia é muito mais atrativa do que àquela anterior (de que o plano ainda estar por ser feito). É muito melhor saber que alguém já fez algo de bom para nós do que saber que ainda vai fazer.

Parafraseando o professor Leandro Karnal, “o maior desafio dos cristãos modernos é cristianizar os próprios cristãos”. Entendemos que é muito melhor propagar uma fé bem digerida do que propagar uma fé inacabada ou com uma falha na receita principal que adoece pessoas. Uma fé bem digerida, ruminada e processada gerará frutos com sementes, e não frutos ocos sem conteúdos. Algumas alas cristãs de nosso país precisam, de fato, cessar com a propagação de uma fé mal digerida, que mais adoece do que faz bem. Parar com a propagação de um evangelho que se distingue da receita principal. Precisam regressar ao ambiente interno, rever o que está errado, corrigir, e depois voltar às ruas propagando uma fé bem digerida e que gera saúde espiritual. Não se pode continuar fornecendo um alimento que faz mal por tempo prolongado! Os consumidores correm risco eminente de morte! E em muitos casos, o óbito já fora atestado!
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Autor: Thiago Azevedo
Divulgação: Bereianos
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