Por Nick Horton
“Cara, eu queria poder fazer algo realmente importante para Deus! Você sabe… tipo uma viagem missionária! Escrever um livro que todo mundo goste, ser um pastor conhecido, ou algo assim…”
“É cara, isso seria muito legal. Eu tenho certeza que nós poderíamos fazer algo para Deus, ao invés desses nossos empregos comuns”
Você já pensou assim? Eu já. Eu já pensei esse tipo de coisa e já ouvi
outros expressarem sentimentos semelhantes. Esse tipo de pensamento
assume que causar um impacto em prol do Reino de Deus depende de
plataforma, proeminência e posição. Nós assumimos que é preciso ter uma
plataforma a partir da qual podemos proclamar a palavra de Deus e contar
aos outros sobre Sua glória. Proeminência, pensamos, nos ajudará a
sermos eficientes em alcançarmos o maior número possível de pessoas com o
evangelho. Nossa posição precisa ser significativa: pastor, autor ou
músico famoso, para combinarmos com a plataforma e a proeminência.
Há alguns elementos de verdade nisso. De fato, Billy Graham alcançou
milhares de pessoas com o evangelho. Lecrae Moore alcança milhares de
vidas com sua proeminência artística. John Piper tem um alcance enorme,
não apenas pela sua pregação, mas também pelos muitos livros que já
escreveu. Eles já alcançaram milhões de pessoas com o evangelho e o
impacto disso é inegável. Entretanto, é isso que é necessário para
impactar o mundo em prol de Cristo?
Não. Nós romantizamos as coisas que consideramos grandes e damos de
ombros para a santidade do dia a dia. Isso é um vestígio de justificação
baseada em obras que se infiltra em nossas mentes. Assumimos que Deus
ficará muito feliz se fizermos algo grande (em termos humanos) para ele.
Será?
Você realmente pensa que Deus precisa que eu ou você façamos qualquer
coisa para alcançar aquilo que Ele deseja? Estamos supervalorizando
completamente nosso valor se pensarmos assim. Deus usa meios para
cumprir sua vontade, sim. Entretanto, ele decide os meios, não nós. Ele
escolhe seus servos, grandes e pequenos, para realizar as obras que ele
deseja que eles realizem. Estamos entendendo tudo errado se medirmos o
impacto em prol do Reino com números terrenos.
Deus usou uma prostituta pagã, Raabe, para salvar os espias em Jericó.
Ela fez parte da genealogia de Jesus. Ela não escreveu um livro ou
gravou um CD. Deus usou a fidelidade ordinária de diversos cristãos para
promover o ministério de Paulo, por meio de encorajamento e suporte.
Leia o fim de suas cartas e veja a gratidão que ele demonstra a pessoas
que você nunca ouviu falar. Há muitos outros exemplos.
Deus não nos chamou para impactar o mundo inteiro. Ele nos chamou à fé e
ao arrependimento. Nós fomos impactados pelo evangelho compartilhado
por outra pessoa. Seja essa pessoa que foi usada grande ou pequena a
seus olhos, o poder não estava nelas, mas no evangelho. Nenhum homem
salvou eu ou você. Jesus Cristo o fez. Graças a Deus por seus servos,
sim, mas lembre-se que eles são seus companheiros de serviço na família
de Deus.
E aí?
Por que eu estou perdendo seu tempo? “Eu já sei de tudo isso”, você pode
pensar. É porque você precisa ouvir novamente. Eu preciso ouvir
novamente. O que o mundo precisa é do evangelho. O que nós podemos dar é
o evangelho. Nós o compartilhamos com nossas palavras e demonstramos
com nossas ações. Não estou dizendo que demonstramos o evangelho e nunca
pregamos. Nós sempre proclamamos o evangelho. Mas nossas obras precisam
estar de acordo com ele.
Você quer saber qual é a melhor apologética contra o adultério em todas
as suas formas? Casamentos cristãos fiéis e duradouros cheios de amor,
demonstrando a glória de Deus.
Você sabe qual é a melhor apologética contra o aborto? Pais cristãos
fiéis e amorosos que criam seus filhos, sejam eles biológicos ou unidos
pela adoção. A adoção demonstra o valor que damos à vida humana, ao
tomar para si filhos que não eram desejados por mais ninguém.
Você quer saber qual é a melhor apologética contra a cultura do
consumismo? Cristãos fiéis e amorosos que usam suas posses de formas que
honram a Deus e buscam glorificá-lo em tudo que fazem: no trabalho, no
lazer e em casa.
Viva uma vida fiel e ordinária, pronto a ir para onde Deus te chamar.
Deus te chamou para Seu Reino e Seu serviço. Não deixe nossa cultura
idólatra ditar sua noção de utilidade. Deixe Deus ditar o quanto e onde
você deve servir, por meio de Sua Palavra e das paixões que ele deu
especificamente a você.
“Ande cada um segundo o Senhor lhe tem distribuído, cada um conforme
Deus o tem chamado. É assim que ordeno em todas as igrejas. Foi alguém
chamado, estando circunciso? Não desfaça a circuncisão. Foi alguém
chamado, estando incircunciso? Não se faça circuncidar. A circuncisão,
em si, não é nada; a incircuncisão também nada é, mas o que vale é
guardar as ordenanças de Deus. Cada um permaneça na vocação em que foi
chamado. Foste chamado, sendo escravo? Não te preocupes com isso; mas,
se ainda podes tornar-te livre, aproveita a oportunidade. Porque o que
foi chamado no Senhor, sendo escravo, é liberto do Senhor;
semelhantemente, o que foi chamado, sendo livre, é escravo de Cristo.
Por preço fostes comprados; não vos torneis escravos de homens. Irmãos,
cada um permaneça diante de Deus naquilo em que foi chamado.” (1
Coríntios 7.17-24)
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Traduzido por Filipe Schulz no Reforma 21