quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE (13)-Os Cristãos e a Cultura


O relacionamento dos cristãos com a cultura na qual estão inseridos sempre representou um grande desafio para eles. Opções como amoldar-se, rejeitar a cultura, idolatrá-la ou tentar redimi-la têm encontrado adeptos em todo lugar e época. Em nosso país, com uma cultura tão rica, variada e envolvente, o desafio parece ainda maior nos dias atuais.
Existem muitas definições disponíveis e parecidas de cultura. No geral, define-se como o conjunto de valores, crenças e práticas de uma sociedade em particular, que inclui artes, religião, ética, costumes, maneira de ser, divertir-se, organizar-se, etc.
Os cristãos acrescentam um item a mais a qualquer definição de cultura, que é a sua contaminação. Não existe cultura neutra, isenta, pura e inocente. Ela reflete a situação moral e espiritual das pessoas que a compõem, ou seja, uma mistura de coisas boas decorrentes da imagem de Deus no ser humano e da graça comum, e coisas pecaminosas resultantes da depravação e corrupção do coração humano. Toda cultura, portanto, por mais civilizada que seja, traz valores pecaminosos, crenças equivocadas, práticas iníquas que se refletem na arte, música, literatura, cinema, religiões, costumes e tudo mais que a compõe.
Não é de se estranhar, portanto, que aqueles cristãos que levam a Bíblia a sério sempre tiveram uma atitude, no mínimo, cautelosa em relação à cultura, por perceberem nela traços da corrupção humana - ou seja, do mundo.
Ao mesmo tempo em que a Bíblia define o mundo de maneira negativa, ela admite que existem coisas boas na sociedade em decorrência do homem ainda manter a imagem de Deus – em que pese a Queda – e em decorrência de Deus agir na humanidade em geral de maneira graciosa. Deus concede às pessoas, sendo elas cristãs ou não, capacidade, habilidades, perspicácia, criatividade, talentos naturais para as artes em geral, para a música – enfim, aquilo que chamamos de graça comum. É interessante que os primeiros instrumentos musicais mencionados na Bíblia aparecem no contexto da descendência de Caim (Gênesis 4.21) bem como os primeiros ferreiros (4.22) e fazedores de tendas (4.20). Paulo conhecia e citou vários autores da sua época, que certamente não eram cristãos (Epimênides, Tito 1.12; Menander, 1Coríntios 15.32; Aratus, Atos 17.28). Jesus participou de festas de casamento (João 2) e Paulo não desencorajou os crentes de Corinto a participar de refeições com seus amigos pagãos, a não ser em alguns casos de consciência (1Co 10.27-28).
Portanto, a grande questão sempre foi aquela do limite – onde eu risco a linha de separação? Até que ponto os cristãos podem desfrutar deste mundo, até onde podem se amoldar à cultura deste mundo e fazer parte dela?
Dá para ver porque ao longo da história a Igreja cristã foi considerada algumas vezes como obscurantista, reacionária, um gueto contra-cultural. Nem sempre os seus inimigos perceberam que os cristãos, boa parte do tempo, estavam reagindo ao mundo, àquilo que existe de pecaminoso na cultura, e não à cultura em si. Quando missionários cristãos lutam contra a prática indígena de matar crianças, eles não estão querendo acabar com a cultura dos índios, mas redimi-la dos traços que o pecado deixou nela. Eles estão lutando contra o mundo. Quando cristãos criticam Darwin, não estão necessariamente deixando de reconhecer sua contribuição para nosso conhecimento dos processos naturais, mas estão se posicionando contra a filosofia naturalista que controlou seu pensamento. Quando torcem o nariz para Jacques Derrida, não estão negando sua correta percepção das ambiguidades na linguagem, mas sua conclusão de que não existe sentido num texto.
É preciso reconhecer que nem sempre os cristãos conseguiram perceber a distinção entre mundo e cultura. Historicamente, grupos cristãos têm sido contra a ciência, a arte, a música e a literatura em geral, sem fazer qualquer distinção. Todavia, estes grupos fundamentalistas não representam a postura cristã para com a cultura e nem refletem o ensino bíblico quanto ao assunto. Os reformados, em particular, caracteristicamente sempre se mostraram sensíveis às artes e viam nelas uma manifestação da graça comum de Deus à humanidade. Apreciavam a pintura, a música, a poesia e a literatura.

--> O grande desafio que Jesus e os apóstolos deixaram para os cristãos foi exatamente este, de estar no mundo, ser enviado ao mundo, mas não ser dele (João 17.14-18). Implica em não se conformar com o presente século, mas renovar-se diariamente (Rm 12.1-3), de não ir embora amando o presente século, como Demas (2Timóteo 4.10). É ser sal e luz.
Augustus Nicodemus Lopes

Postado por Augustus Nicodemus Lopes.

Sobre os autores:
Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.
O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.
O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.

terça-feira, 6 de fevereiro de 2018

CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE (12) Uma Visão Cristã Crítica da Tecnologia


Ora, em toda a terra havia apenas uma linguagem e uma só maneira de falar. Sucedeu que, partindo eles do Oriente, deram com uma planície na terra de Sinar; e habitaram ali. E disseram uns aos outros: Vinde, façamos tijolos e queimemo-los bem. Os tijolos serviram-lhes de pedra, e o betume, de argamassa. Disseram: Vinde, edifiquemos para nós uma cidade e uma torre cujo tope chegue até aos céus e tornemos célebre o nosso nome, para que não sejamos espalhados por toda a terra. Então, desceu o SENHOR para ver a cidade e a torre, que os filhos dos homens edificavam; e o SENHOR disse: Eis que o povo é um, e todos têm a mesma linguagem. Isto é apenas o começo; agora não haverá restrição para tudo que intentam fazer. Vinde, desçamos e confundamos ali a sua linguagem, para que um não entenda a linguagem de outro. Destarte, o SENHOR os dispersou dali pela superfície da terra; e cessaram de edificar a cidade” (Gênesis 11.1-8).

A tecnologia deixou sua marca na cultura ocidental e se tornou um sistema que circunda o mundo. Basta suprimir a tecnologia e toda a nossa cultura se desmorona. A palavra “tecnologia” vem do grego, e significa em termos bem amplos o estudo ou a aplicação da técnica ou da arte. É usada pra descrever a aplicação do conhecimento técnico e científico e a produção de processos e materiais com este conhecimento. Devemos à tecnologia as máquinas, processos, métodos e materiais que facilitam a nossa vida e nos ajudam na resolução dos problemas que encontramos. Fica claro, portanto, porque somos tão dependentes dela.

O que eu gostaria de lembrar nesta postagem é que a tecnologia é fruto da ciência moderna, que por sua vez procedeu da visão cristã do mundo. Já vimos este ponto em postagens anteriores. A cosmovisão cristã nos fala da criação do mundo e do homem à imagem de Deus e defende que o alvo maior da ciência e consequentemente da tecnologia é ser instrumento para o bem do homem e para a glória de Deus.

Na cosmovisão cristã, a tecnologia é um instrumento pelo qual o ser humano cumpre sua missão dada por Deus de conquistar o mundo, dominá-lo e usá-lo para seu proveito e do próximo. A tecnologia tem trazido muitas bênçãos para a humanidade. Menciono aqui algumas delas, enumeradas por Egbert Schuurman (Religião e Tecnologia, 2006):

  • A expectativa de vida aumentou.

  • A canalização de esgotos e os sistemas de tratamento de água melhoram o ambiente.

  • A mecanização, a automação e a robotização aliviaram os seres humanos do árduo trabalho manual e repetitivo.

  • Tratamentos médicos que curam doenças.

  • A fome de muitos foi abrandada.

  • Os modernos meios de comunicação nos proporcionam amplas informações e a possibilidade da educação à distância de milhares de pessoas ao mesmo tempo.

Todavia, por causa da propensão inata do ser humano ao mal, existem perigos e desafios por detrás do uso da tecnologia. Aquilo que deveria ser um instrumento do bem de todos acaba sendo usado de maneira errada.

No trecho bíblico que lemos no início desse post temos o relato bíblico da construção da torre de Babel. Embora para muitos se trate de uma lenda, os cristãos oriundos da Reforma protestante e que permanecem fiéis aos seus princípios, consideram o relato como histórico. E dele podemos aprender algumas coisas.

Desde cedo na sua história o ser humano aprendeu a usar a tecnologia para conseguir seus desejos e construir seu mundo. Aqui no caso, conforme o relato de Gênesis, aprendeu como construir cidades, edifícios, torres. As descobertas arqueológicas mostram que a tecnologia é quase tão antiga quanto nossa raça.

Também desde cedo o ser humano começou a usar a tecnologia como instrumento para propósitos egoístas. O alvo dos construtores da torre de Babel era simplesmente deixar o seu nome para a posteridade. No entanto, Deus havia mandado que eles se espalhassem por toda a terra, que a colonizassem e civilizassem. Num desafio claro à orientação divina, usaram seus conhecimentos técnicos para erigir um monumento à autonomia humana.

A avaliação de Deus quanto ao que estava acontecendo estava correta: “isto é só o começo – agora não haverá mais limites para o que os homens planejam fazer.” A história mostra quão acertada foi a avaliação divina. Cada vez mais o homem supera limites e estende as fronteiras do conhecimento e da tecnologia e nem sempre para buscar o bem do próximo e garantir um futuro melhor para a humanidade.

Fica claro, portanto, que a tecnologia não é neutra. Aliás, nem poderia ser, pois sua mãe, a ciência, também não é. Por “neutra,” queremos dizer isenta de preconceitos ideológicos. É evidente que nem uma e nem a outra estão livres da infiltração e da influência de ideologias, uma vez que cientistas e técnicos são seres humanos movidos por pressupostos que antecedem suas pesquisas.

Aqui é importante mencionar o trabalho do famoso filósofo francês Jacques Ellul, que dedicou boa parte de seus esforços para mostrar que a tecnologia moderna representa uma ameaça à liberdade humana e se constitui, em si mesma, uma religião. Ele declara no sua obra clássica, The Technological Bluff (1990): “a técnica é neutra; a tecnologia traz ideologias por detrás”.

A tecnologia tem a ver com o controle do mundo, concebido como um enorme mecanismo onde tudo pode ser ponderado e mensurado. Ela representa a possibilidade de dar forma à realidade segundo nossos anseios. Não há limites religiosos ou éticos para a busca desse controle. O limite é aquilo que é possível.

A tecnologia também se propõe a trazer a prosperidade e o bem estar do ser humano, garantindo o seu futuro – e isso mesmo ao preço da natureza e do próprio homem. Em seu livro Religião e Tecnologia (2006), Egbert Schuurman, pensador holandês, lamenta que não é somente o homem que é ameaçado pela tecnologia, mas a natureza também é explorada e a sociedade humana é desintegrada. Segundo ele, fala-se de ameaças nucleares de armas ou outros resíduos radioativos das centrais nucleares, do esgotamento dos recursos naturais, da extinção de muitas espécies vegetais e animais, o desmatamento, assoreamento e desertificação – com a perda de solos e de alimentos ricos – o esgotamento da camada de ozônio, a emissão de gases de escape com consequências de longo alcance para a vida e clima, a destruição rápida e em larga escala e a poluição da natureza, e a ameaça acelerada da superestimação de técnicas de manipulação genética, tendo como desdobramento a possibilidade técnica da clonagem e manipulação genética de seres humanos, etc.

Existe também o risco de que a tecnologia se torne a religião do homem moderno. David Noble fala da tecnologia como uma religião, em que o homo tecnicus se comporta como Deus, criando e resolvendo os problemas e assegurando o futuro (The Religion of Technology, 1997). Isto porque a tecnologia é vista como a solução para todos os problemas e doenças do homem. Sua tendência é colocar a ideia de um Deus que intervém para fora do círculo da realidade. Quem precisa dele, quando a tecnologia resolve nossos problemas e assegura nosso futuro?

Nossa geração tem crescido sob o domínio da tecnologia em todas as áreas da vida. O impacto se faz através da mídia de todos os tipos, do estilo de vida, da sociedade em geral e da cultura. É um paradigma cultural. É um tipo de estrutura dentro da qual muitas pessoas pensam e agem.

Ela tem um significado normativo. As razões, valores e normas da nossa cultura e sociedade são derivados dela. Assim, ela também forma uma estrutura ética. A tecnologia tem marcado cada vez mais o desenvolvimento do Ocidente, deixando sua marca também na atual globalização, e gerando materialismo, egoísmo, desejo de controle e poder, falta de sensibilidade para com as pessoas e a natureza.

Como resultado da absolutização do pensamento tecnológico, grande parte da realidade foi perdida. O que não se enquadra no modelo tecnológico é desconsiderado ou esquecido. A geração atual cresce, então, sob o relativismo absoluto e acaba elegendo a tecnologia como referencial utilitarista. O materialismo e pragmatismo dos nossos dias acabam entrando na mistura, deixando-nos com uma cultura dominada por uma visão técnico-utilitarista de mundo.

Entendo que a tarefa dos educadores e desenvolvedores da tecnologia, especialmente aqueles que professam a fé cristã, não é deixar nossa geração à mercê dessas influências tecnológicas, sociais e éticas. A tendência para o mal inerente na humanidade certamente penderá a balança para o lado errado.

A visão cristã de mundo serve de fundamento para uma educação sólida, relevante, atenta para as questões atuais e para a tomada de decisões equilibradas e sensatas. O cristianismo vê o ser humano como tendo sido criado por Deus, à sua imagem, e colocado no mundo de Deus, para viver para sua glória e para fazer o bem ao seu próximo. Vê também que a humanidade sempre tem escolhido caminhos que a afastam de Deus e que nos afastam uns dos outros, por causa de nossa sede de poder. Vê também que os recursos que Deus nos deu são poderosos para fazer o bem, se cuidarmos de usá-los corretamente.

Uma visão cristã da tecnologia prioriza as necessidades básicas da humanidade, como vencer a fome e as doenças, promover o conhecimento e a educação. Da mesma forma, assume responsabilidade ecológica, que leve à busca de tecnologias que não destruam o meio ambiente. Também, coloca o foco na busca de soluções para os problemas fundamentais do homem, como fome, doença, trabalho árduo, sofrimento, ignorância e falta de educação, sem se deixar dominar pelas demandas do mercado e pelo domínio econômico. O foco são as pessoas e não o lucro.

Na visão cristã de mundo, a tecnologia deveria ser uma serva da humanidade e não sua dominadora. Não ser uma religião, mas um instrumento. Desta forma, deveria contribuir para que as pessoas conheçam melhor a si mesmas e assim, a Deus.

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O grande desafio das escolas, colégios e universidades confessionalmente cristãs é preparar profissionais que, além de competentes em suas respectivas áreas de conhecimento, sejam igualmente guiados pelos referenciais morais e éticos da visão cristã de mundo.

Postado por Augustus Nicodemus Lopes.

Sobre os autores:
Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.
O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.
O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.
Fonte: O Tempora, O Mores

CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE (9) – Ciência e Religião – Modelos de Interação

Deus colocou a eternidade no coração do homem” (Eclesiastes 3.11).
Estatísticas recentes mostram que o Brasil continua sendo um país muito religioso. Embora crescente, o número de ateus e agnósticos não chega a ser significativo. Mas, quando a pesquisa é feita nas universidades, aumenta número de ateus e agnósticos, embora a predominância é de pessoas que professam crer em Deus. Um dos impactos destes números para a academia é este: uma grande parte de professores e alunos é religiosa. Num ambiente onde predomina o espírito científico, como é a academia, como se desenvolve a relação entre ciência e o cristianismo?

Há diversas maneiras de ver a relação entre ciência e cristianismo. O primeiro modelo é o do conflito. Este modelo, chamado de cientificismo, diz que a ciência moderna destruiu as reivindicações da teologia tradicional. Os pensadores cristãos antigos, muito frequentemente, invocavam a Deus como resposta para aquilo que a filosofia natural e a ciência não podiam ainda explicar, como Newton, que atribuiu a Deus as irregularidades nas órbitas dos planetas que não se encaixavam na sua teoria astronômica. O conflito ocorre, portanto, quando a ciência descobre uma explicação para aquilo que era antes atribuído a uma ação direta de Deus. Fica parecendo que a responsabilidade de Deus como governador do mundo fica diminuída mais e mais à medida que a ciência passa a explicar o sobrenatural e o misterioso.

Contudo, esta visão de Deus não é aquela do cristianismo reformado. O Deus da Bíblia não é um deus ex machinaa ser invocado quando alguém precisa de uma explicação para o incompreensível, mas Ele é a causa de todas as coisas. Tudo no mundo depende de Deus, regularidade e irregularidade.

O conflito entre ciência e cristianismo pode também provocar uma reação do lado de cristãos, que tomam uma atitude anti-intelectual. Aqui a ciência é vista como uma alternativa inferior, incompatível com o cristianismo, pois rejeita as ações de Deus e as considera como irrelevantes.

Num outro modelo, o da adaptação, o cristianismo tradicional é redefinido para se encaixar melhor nas mudanças no conhecimento científico. Neste modelo, a Bíblia é vista como uma coleção antiga de mitos e estórias piedosas que refletem a fé de Israel e dos cristãos primitivos. Um exemplo são as ideias de Pierre Teilhard de Chardin, teólogo católico. O problema com esta abordagem é que parte aprioristicamente da tese que a razão determina a realidade. Assim sendo, os elementos transcendentes do cristianismo são reduzidos, logo de partida, a mitos e lendas piedosos, visto que não se encaixam na visão de mundo adotada pelo racionalismo.

Outro modelo é o chamado de “nova síntese”. Ele defende uma transformação radical tanto da ciência quanto da teologia, possibilitando uma síntese entre ambos. Ele tem sido defendido por grupos ligados às religiões orientais, a Nova Era, Shirley McLaine e outros grupos minoritários. Esta combinação de pseudociência duvidosa e de uma heterodoxia pseudoteológica é um modelo inadequado para quem deseja levar tanto a ciência quanto o cristianismo a sério.

Há também o compartimentalismo. Este modelo entende que ciência e cristianismo estão tratando de dois campos completamente distintos. Eles nos dão diferentes informações sobre coisas diferentes e não há campo comum entre eles. A ciência não tem absolutamente nada a dizer ao cristianismo e o reverso também é verdade. E já que não têm nada em comum, um conflito entre eles é totalmente impossível. Esta perspectiva se inspira no dualismo kantiano que jogou a fé para o andar de cima, para longe do alcance da análise racional. Ele é insatisfatório, pois pensadores cristãos não gostam da ideia de que aquilo que creem é simplesmente um salto no escuro, ou que se refere a uma realidade distinta da nossa.

Um modelo mais aceitável é o do complementarismo. O modelo complementarista entende que as diferentes percepções da ciência e do cristianismo aplicam-se ao mesmo mundo e frequentemente aos mesmos eventos. A Natureza é vista como a revelação geral de Deus e a Bíblia como a revelação especial. A realidade é composta de níveis diferentes, cada um deles requerendo um modo diferente de explicação. Estas descrições diferentes se complementam e proporcionam uma percepção mais profunda do mundo.

A propriedade e relevância de cada uma destas percepções dependerão da pergunta feita, do contexto e da necessidade. Assim, uma resposta, numa certa altura, poderá ser mais apropriada que a outra.

Eu gostaria de sugerir que diante dos seguintes fatores, um modelo complementarista é o mais adequado e correto para uma universidade confessional e que tenha princípios cristãos. Primeiro, pelas estatísticas, que mostram que não podemos deixar a questão da religião e da fé – e especialmente do cristianismo – do lado de fora da academia. Segundo, pela relação histórica entre cristianismo e ciência moderna. Em várias postagens dessa série (Cristianismo e Universidade) mencionarei como o cristianismo contribuiu para o surgimento da ciência. E por fim, pelo fato que nenhuma abordagem isolada pode responder de forma completa às questões que os seres humanos geralmente fazem.

Postado por Augustus Nicodemus Lopes.

Sobre os autores:
Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.
O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.
O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.
Fonte: O Tempora, O Mores

CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE (8) – Fundamentos

Ora, destruídos os fundamentos, que poderá fazer o justo?” (Salmos 11.3)

Esta citação bíblica nos ensina a necessidade de fundamentos para podermos praticar e viver a justiça. Assistimos hoje ao avanço de uma mentalidade cuja característica é a demolição dos fundamentos da sociedade ocidental cristã, como a conhecemos.

Esta mentalidade é chamada por muitos estudiosos de pós-modernidade. Como o nome indica, a pós-modernidadeé o período da história que veio para tomar o lugar do período moderno. Este tempo foi iniciado, conforme se pensa, com a falência do comunismo, com a derrocada do muro de Berlim, em 1989, e com o insucesso da economia, dos organismos mundiais e da tecnologia e ciência modernas de resolver os problemas mais agudos da humanidade.

Passou-se a questionar os fundamentos anteriormente estabelecidos e começou a questionar-se também a existência de verdade absoluta em todas as áreas da vida e do conhecimento humanos.

A pós-modernidade não é propriamente um movimento organizado, mas um espírito, uma maneira de ver a realidade, uma mentalidade, cuja influencia se percebe na academia, na religião, na arte, na cultura, na economia.

Nessa postagem eu gostaria de refletir sobre as oportunidades e desafios que esta mentalidade pós-moderna representa do ponto de vista do cristianismo histórico. O ponto central é este do Salmo 11.3 – é preciso fundamentos para que se possa fazer justiça.

Vejamos, primeiramente, os fundamentos que a mentalidade pós-moderna tende a derrubar. No topo da lista temos o fundamento da existência de valores, conceitos e verdades absolutos e universais.

O pensamento pós-moderno rejeita o conceito defendido pela modernidade de que existam verdades absolutas e fixas. Toda verdade é relativa e depende do contexto social e cultural onde as pessoas vivem. Cada um percebe a verdade de sua própria forma. Não existe “verdade”, mas sim “verdades” que não se contradizem, mas se complementam. Isso inclui verdades religiosas. Conceitos como “Deus” são totalmente relativos. A única “inverdade” que existe é alguém insistir que existe verdade fixa e absoluta!

Em seguida vem o fundamento da racionalidade. A mentalidade pós-moderna rejeita o ideal do pensamento moderno de que a verdade pode ser alcançada através da análise racional. Considera que a promessa do Iluminismo, de encontrar uma resposta unificada para a realidade falhou completamente. A pós-modernidade, assim, abandonou a busca de verdades absolutas e fixas, que caracterizou o período anterior, rejeitando igualmente o conceito de dogmas e definições exatas.

Para a mentalidade pós-moderna, a mensagem cristã é muito ofensiva, pois esta apresenta a Bíblia como única revelação de Deus, a existência de absolutos morais, e o Evangelho como sendo a verdade.

Temos também o fundamento da análise crítica. Surgimento do conceito do politicamente correto – Na mentalidade pluralista e inclusivista, a opinião e as convicções de todos têm de ser respeitadas. A razão para esse “respeito” é que a opinião de um é vista como tão verdadeira quanto a opinião do outro. Assim, torna-se politicamente incorreto criticar as opiniões, a conduta e as preferências morais, políticas, religiosas de alguém.

Deve-se amenizar os comentários críticos com eufemismos ou generalidades que não ofendam. Já que não existem conceitos absolutos na área de religião e de moral, não pode haver proselitismo, isto é, alguém tentar convencer outro a mudar de religião ou de comportamento.

Por fim, menciono o fundamento do certo e do errado. Com o abandono das verdades absolutas, não há parâmetros objetivos a serem seguidos. O pós-modernista Steven Connor (Postmodernist Culture, 1989), diz que “desde a música ao turismo, à TV e mesmo à educação, o consumidor não quer mais aquilo que é bom, mas ele quer experiências”. O parâmetro passa ser o sentimento, a experiência. Daí começou a surgir a filosofia do “sentir bem”.

Um exemplo pertinente do que estamos dizendo é a declaração do educador e ex-pastor presbiteriano Rubem Alves, numa fala durante uma cerimônia por ocasião da Reforma Protestante no Rio de Janeiro (2003):

Gente, isso aí é uma das coisas mais centrais do espírito da Reforma que significa que nós somos livres, não é? Não é pecado pensar errado, porque ninguém sabe o que é pensar certo. Então a gente pode pensar do jeito que for, que não tem ortodoxo e herege. E quem quiser dizer que o outro é herege não está entendendo direito o espírito da Reforma.

Contudo, há vários aspectos positivos na pós-modernidade. Primeiro, ela acentua o conceito de tolerância. Segundo, estimula os estudos acadêmicos sobre multiculturalismo, gênero e sexualidade. Ainda, ela inibe a discriminação preconceituosa por conta de gênero, raça e posição social e abre espaços na academia para integrantes de grupos minoritários. Por fim, mencionamos que ela desperta os estudiosos para o papel do horizonte do indivíduo na percepção da realidade.

Ainda assim, existem sérias inconsistências da mentalidade pós-moderna que apontam para a necessidade de fundamentos. Por exemplo, a inconsistência acadêmica. Pós-modernos escrevem textos para demonstrar que textos não têm sentido algum, ou porque se descontroem ou porque têm tantos sentidos que acabam não tendo nenhum. Eles precisam do fundamento da hermenêutica: o texto quer dizer o que o seu autor quis dizer, para poder provar o contrário.

Há também uma certa inconsistência axiomática. Pós-modernos negam a existência de verdades universais e absolutas. Entretanto, defendem um axioma que consideram absoluto e universal, “não existem verdades absolutas”. Precisam partir do fundamento da existência de verdades absolutas para poder argumentar que elas não existem.

Uma outra inconsistência é aquela da atitude. Pós-modernos defendem o conceito de tolerância como a total complacência para com o pensamento de outros quanto à política, sexo, religião, raça, gênero, valores morais e atitudes pessoais. Entretanto, existe claramente um ponto de vista que eles não toleram: o daqueles que insistem em se apegar a conceitos e valores definidos e objetivos.

inconsistência religiosa. Pós-modernos pregam o fim do cristianismo por ser uma religião absolutista, que crê em verdade, revelação, certo e errado. Porém, a religião por excelência da pós-modernidade é o antigo paganismo, que ressurge modernamente com seu dualismo cósmico entre o bem e o mal. Não consegue se livrar do conceito de que existe o certo e o errado, o bem e o mal.

Por fim, vem a inconsistência ética. É comum vermos pós-modernistas negando a verdade absoluta e, ao mesmo tempo, lutando pelos “direitos humanos” ou pelo estabelecimento da “justiça”, ou em favor da ecologia, especialmente nos países do terceiro mundo. Os pós-modernistas acabam caindo na inconsistência de aceitar verdades universais para resolver situações específicas. Eles aceitam regras gerais de coletividade ética, mas afirmam não existir padrão de verdades.

Os desafios que a pós-modernidade traz para uma universidade confessional são grandes. Primeiro, o desafio de não sermos um gueto. Segundo, o desafio de não engolirmos a mentalidade pós-moderna, que às vezes se oferece sob capa acadêmica, de forma acrítica. Por fim, o desafio de mantermos uma adesão a fundamentos éticos e morais em meio ao relativismo e pluralismo da nossa época.

Gostaria de sugerir que o cristianismo tem uma visão de mundo e de realidade que respeita e reafirma todos os fundamentos que nossa lógica e bom senso declaram existir.

Postado por Augustus Nicodemus Lopes.

Sobre os autores:
Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.
O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.
O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.
Fonte: O Tempora, O Mores

CRISTIANISMO E UNIVERSIDADE (7) – Verdade e Pluralidade

Todos os que chegam à universidade logo se apercebem da pluralidade de entendimentos, concepções e valores que marcam o ambiente universitário. Embora a diversidade esteja presente em sua vida muito antes de se tornar um universitário, é aqui na academia que o estudante sentirá mais de perto a sua força.[1]
A pluralidade é um dos conceitos ícones da nossa geração, uma das marcas da moderna universidade. Todavia, ainda que a pluralidade seja considerada como um dos postulados mais bem estabelecidos da nossa era, é saudável refletirmos sobre sua natureza, efeitos e desafios.

Embora o ensino superior exista desde a Antiguidade, a universidade moderna teve suas origens na Europa do séc. XII, conforme a opinião mais aceita, e deve sua forma atual às universidades de Bolonha, Paris e Oxford, que surgiram durante o século XIII. Apesar de ter sofrido influências e transformações oriundas da Renascença, da Reforma e do Iluminismo, a universidade permaneceu basicamente a mesma e é uma das instituições mais antigas e estáveis do mundo ocidental.

As universidades medievais surgiram graças a diferentes fatores, como atender à crescente demanda de pessoas em busca de educação, o desejo idealista de obter conhecimento, a resistência ao monopólio do saber pelos mosteiros, a vitalidade das escolas mantidas pelas catedrais e o desejo de reformar o ensino. Todavia, elas tinham um objetivo comum, uma mesma missão, que era a busca do conhecimento unificado que permitisse a compreensão da realidade.

Universitas, na Idade Média, era um termo jurídico que, empregado para as escolas, significava um grupo inteiro de pessoas engajadas em ocupações científicas, isto é, professores e alunos. Só mais tarde o termo viria a significar uma instituição de ensino onde essas atividades ocorriam. Tal designação já aponta para a tarefa que pessoas diferentes tinham em comum: a busca da verdade em meio à pluralidade de compreensões. Esse alvo requeria uma síntese das diferentes visões e compreensões de mundo, um campo integrado que desse sentido aos mais diversos saberes. O princípio subjacente à criação das universidades, portanto, era a procura das verdades universais que pudessem unir as diferentes áreas do conhecimento. Daí o nome “universidade”.

Quando as universidades medievais surgiram, a cosmovisão cristã que dominava a Europa fornecia os pressupostos para essa busca da unidade do conhecimento. Hoje, a visão cristã de mundo é excluída a priori em muitas universidades modernas pelos pressupostos naturalistas, humanísticos e racionalistas que passaram a dominar o ambiente acadêmico depois do Iluminismo. Tais pressupostos não têm conseguido até o presente suprir uma base comum para as diferentes áreas do saber. A fragmentação do conhecimento tem sido um resultado constante na academia, como se as diferentes disciplinas tratassem com mundos distintos e contraditórios.

Lamentavelmente, hoje, muitas universidades viraram multiversidades ou diversidades, abandonando a busca de um todo coerente, de uma cosmovisão que dê sentido e relacionamento harmônico a todos os campos de conhecimento. Esse fenômeno se verifica primariamente na área das ciências humanas; todavia, nem mesmo a área das exatas lhe é totalmente imune, como testemunham as diversas percepções, por vezes conflitantes entre si, na matemática, física e química.

Conforme Allan Harman, a palavra “universidade” tem a ideia de unidade de conhecimento ou de abordagem. Derivada do latim “universum,” refere-se à totalidade ou integração. Claramente reflete o conceito de que, dentro de uma universidade, deveria existir aderência a uma base comum de conhecimento que possa interligar o ensino em todas as escolas.[2]

Edgar Morin, intelectual francês contemporâneo, percebe corretamente essa fragmentação do conhecimento e da educação nas diversas obras que tem publicado. Para ele,

… o sistema educativo fragmenta a realidade, simplifica o complexo, separa o que é inseparável, ignora a multiplicidade e a diversidade… As disciplinas como estão estruturadas só servem para isolar os objetos do seu meio e isolar partes de um todo. Eliminam a desordem e as contradições existentes, para dar uma falsa sensação de arrumação. A educação deveria romper com isso mostrando as correlações entre os saberes, a complexidade da vida e dos problemas que hoje existem.[3]

É evidente que existe uma grande pluralidade ou diversidade no mundo. A criação de Deus é plural, a humanidade feita à imagem dele é plural, as culturas são plurais, as ideias são plurais. Há uma enorme e fascinante diversidade na realidade que nos cerca. Para nós, essa impressionante variedade da existência revela a riqueza, o poder e a criatividade de Deus, conforme a Bíblia registra no Salmo 104.24,

Que variedade, Senhor, nas tuas obras!
Todas com sabedoria as fizeste;
cheia está a terra das tuas riquezas.

Tal entendimento em nada compromete nossa busca na academia por verdades absolutas e universais. As dificuldades surgem quando se confunde pluralidade com relativismo radical e absoluto. Esse último nega os conceitos de unidade, igualdade, harmonia e coerência que existem no mundo, entre ideias, pessoas e culturas. O relativismo total pretende desconstruir o princípio implícito de verdade absoluta, de valores, conceitos e ideias que sejam válidos em qualquer lugar e a qualquer tempo. Nesse sentido, a pluralidade se confunde com o relativismo que domina a mentalidade contemporânea, sendo entendida como a convivência de ideias e concepções contraditórias que devem ser igualmente aceitas, sem o crivo do exame da veracidade e sem que uma prevaleça sobre a outra, visto serem consideradas todas verdadeiras.

Para uma universidade confessional cristã que se orienta por um conjunto de fundamentos – no caso, a fé cristã reformada –, a pluralidade, entendida como diversidade, é muito bem-vinda. A enorme variedade que caracteriza nosso mundo não anula de forma alguma a existência de verdades gerais e universais. Quando, todavia, a pluralidade é entendida como relativismo total ou sistema de contradições igualmente válidas, precisamos analisar o assunto com mais cuidado.

O relativismo absoluto gera diversos problemas de natureza prática, como, por exemplo, a dificuldade de se viver o dia a dia de forma coerente com a crença de que tudo é relativo. Mesmo os relativistas mais radicais são obrigados a capitular diante da inexorável realidade: a vida só pode ser organizada e levada à frente com base em princípios, valores e leis universais que sejam observados e reconhecidos por todos.

Dificilmente o ser humano consegue conviver em paz com o relativismo absoluto. Existe uma busca interior em cada indivíduo por coerência, síntese e unidade de pensamento, sem o que não se pode encontrar sentido na realidade, um lugar no mundo e nem mesmo saber por onde caminhar. Acreditamos que este ímpeto é decorrente da imagem de Deus no homem, um Deus de ordem, de propósitos, coerente e completo.

Para muitos, o ideal do pluralismo de ideias no ensino significa simplesmente que a universidade deveria ser o local neutro onde todas as ideias e seus contraditórios tivessem igualdade de expressão, cabendo aos alunos uma escolha, ou não, daquelas que lhe parecerem mais corretas. Todavia, conforme bem escreveu Robert P. Wolff (O Ideal de Universidade, 1993), a neutralidade da universidade diante dos valores é um mito. É inevitável o posicionamento ideológico diante das questões da vida e do conhecimento. Esse ponto é inclusive reconhecido, ainda que timidamente, pela Lei de Diretrizes e Bases, quando define as universidades confessionais como aquelas que “atendem a orientação confessional e ideologia específicas” (LDB, Artigo 20, inciso III).

As universidades de orientação confessional cristã há muito têm procurado desenvolver um modelo acadêmico em que a busca da verdade seja feita a partir da visão de mundo cristã em constante diálogo com a pluralidade de ideias e com a diversidade de visões e entendimentos. Não é tarefa fácil diante do mundo pluralista em que vivemos, a ponto de que alguns têm defendido que as próprias universidades confessionais desistam desse ideal.

Por fim, reconhecemos a diversidade e a complexidade das ideias, conceitos, costumes e valores existentes. Questionamos, todavia, que a pluralidade implica na total relativização da verdade. Afirmamos a existência de ideias e valores absolutos, princípios e verdades espirituais, éticas, morais, epistemológicas universais. Concordamos com Edgar Morin quanto à sua percepção da complexidade da vida e da existência. Todavia, entendemos que o reconhecimento de que todas as áreas de atividades e conhecimento são complexamente interligadas reflete um propósito unificado e uma origem única, apontando para o Criador.

Cremos que o cristianismo bíblico fornece o fundamento para a compreensão da realidade como um todo coerente, sempre levando em conta a fabulosa variedade da existência humana.

Todos deveríamos refletir sobre o fato de que a pluralidade, entendida como saudável diversidade, dentro de referenciais e sem a negação da verdade, enriquece o conhecimento humano e leva à melhor percepção de nós mesmos, de nosso mundo e de nosso Criador.

[1] Este texto é baseado na Carta de Princípios do Mackenzie, “Verdade e Pluralidade” de 2008.

[2] Allan Harman, “Vision and Reality: The Challenges Facing Christian Higher Education Today,” palestra inaugural na Universidade Presbiteriana da Coréia em 1998, pp. 24-25

[3] Cf. http://educador.brasilescola.com/trabalho-docente/cidadania-terrestre-na-comunidade-planetaria.htm (acesso em 09/08/2012)

Postado por Augustus Nicodemus Lopes.

Sobre os autores:
Dr. Augustus Nicodemus (@augustuslopes) é atualmentepastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Goiânia, vice-presidente do Supremo Concílio da Igreja Presbiteriana doBrasil e presidente da Junta de Educação Teológica da IPB.
 O Prof. Solano Portela prega e ensina na Igreja Presbiteriana de Santo Amaro, onde tem uma classe dominical, que aborda as doutrinas contidas na Confissão de Fé de Westminster.
O Dr. Mauro Meister (@mfmeister) iniciou a plantação daIgreja Presbiteriana da Barra Funda.

segunda-feira, 5 de fevereiro de 2018

“Não prego contra ninguém, somente sobre Cristo”, diz pastor repudiado por grupos LGBTs

Grupos LGBTs estão pedindo que o evangelista Franklin Graham seja proibido de pregar no Reino Unido.

"Eu não vou odiar, estou aqui para falar sobre um salvador, Jesus Cristo", disse Franklin Graham. (Foto: Reprodução).
“Eu não vou odiar, estou aqui para falar sobre um salvador, Jesus Cristo”, disse Franklin Graham. (Foto: Reprodução).

Na semana passada, o aclamado evangelista Franklin Graham respondeu publicamente a uma petição que exigia sua proibição de entrar no Reino Unido depois de ter sido rotulado como “um pregador de ódio”. Em uma declaração feita em vídeo, para uma plataforma cristã de notícias, o líder afirmou que ele não pregaria contra o Islã ou contra os LGBTs.

“Eu não vou odiar, estou aqui para falar sobre um salvador, Jesus Cristo que pode fazer a diferença em nossas vidas se colocarmos nossa fé e confiança Nele”, disse.

Graham ainda está programado para ministrar no Blackburn’s Lancashire Festival of Hope (Festival de Esperança) em setembro, mas a petição do Change.org ainda tenta proibir sua fala no país e já foi assinada por mais de 7.500 pessoas.

Ainda assim, Graham lembrou que esse tipo de controvérsia não é novidade para ele e que sempre houve grupos e igrejas que foram adversárias em relação à sua pregação. Ele afirmou que espera todas as pessoas em seu evento e disse, sobre a questão do casamento homossexual: “É importante que os pastores compreendam que não podemos comprometer a verdade”.

Quanto a sua posição sobre o Islã, Graham apontou que o próprio Jesus era “ofensivo” quando disse: “Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por Mim”. Graham acrescentou que Jesus “ofendeu muitas pessoas”, e que o Evangelho “ainda ofende as pessoas hoje”.

Ele reiterou que não estará lá para “falar contra o Islã, contra os homossexuais”, e que todos são bem-vindos ao festival. “Nós não estamos aqui para pregar contra ninguém, estamos aqui para falar sobre Deus”.

Não é novidade

Graham também observou que seu pai, o evangelista mundialmente famoso Billy Graham, enfrentou críticas semelhantes quando pregou no Reino Unido no início de seu ministério. “Eles tentaram impedir que ele falasse”, disse ele. “Ele estava vindo em um barco para Southampton e havia petições para impedir que ele chegasse lá”.

No entanto, Graham lembrou que seu pai, um homem impávido, continuou a pregar apesar dos impedimentos, incluindo os comunistas ateus na Europa Oriental. Através da perseverança de seu pai na divulgação do Evangelho, Graham diz que muitas dessas pessoas conheciam Cristo.

A entrevista pode ser conferida na íntegra (em inglês):

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