Porque, quem despreza o dia das coisas pequenas? Pois esses se alegrarão, vendo o prumo na mão de Zorobabel; esses são os sete olhos do Senhor, que percorrem por toda a terra.
Zacarias 4:10
"E disse: A que assemelharemos o reino de Deus,
ou com que parábola o compararemos? É como um grão de mostarda, que, quando se
semeia na terra, sendo a menor de todas as sementes que há na terra, e,
semeado, sobe e se faz a maior de todas as hortaliças, e lança grandes ramos,
de tal maneira que as aves do céu podem aninhar-se à sua sombra."
Marcos 4:30-32
A poeira da desolação ainda pairava sobre Jerusalém.
O templo, outrora símbolo da glória divina e do coração da nação, jazia em
ruínas, uma ferida aberta na alma do povo que retornava do exílio babilônico. A
tarefa de reconstrução parecia monumental, esmagadora diante dos escassos
recursos e da oposição dos vizinhos. O desânimo era um espectro que rondava os
corações, sussurrando dúvidas sobre a viabilidade de restaurar a antiga
grandeza.
Nesse cenário de incerteza e aparente impotência, a
voz profética de Zacarias ecoou, trazendo consigo não uma reprimenda pela
pequenez dos começos, mas uma mensagem surpreendente de encorajamento e
esperança. No capítulo 4, versículo 10, somos confrontados com uma pergunta que
transcende o contexto histórico imediato e fala diretamente aos nossos corações
em qualquer época de recomeço: "Quem despreza o dia dos pequenos
começos?"
Essa indagação não é meramente retórica; ela carrega
consigo uma profunda sabedoria sobre a natureza do progresso e o valor
intrínseco de cada passo inicial. Em um mundo que muitas vezes valoriza apenas
os resultados grandiosos e imediatos, a pergunta de Zacarias nos convida a uma
mudança de perspectiva radical. Ela nos desafia a reconhecer a importância
fundamental dos primeiros esforços, mesmo quando parecem modestos e
insignificantes diante da magnitude do objetivo final.
Imagine comigo a cena: Zorobabel, o governador
designado para liderar a reconstrução do templo, provavelmente se sentia
sobrecarregado pela imensidão da tarefa. Os recursos eram limitados, a mão de
obra talvez escassa e a oposição externa constante. Diante dos escombros e da
memória da antiga glória, os primeiros tijolos assentados deviam parecer uma
gota d'água no oceano da destruição. Era nesse contexto de aparente
insignificância que a palavra do Senhor, através de Zacarias, oferecia uma
perspectiva divina.
A segunda parte do versículo, revela o olhar atento e
apreciativo de Deus sobre esses humildes começos: "Os sete olhos do
Senhor, que percorrem toda a terra, se alegrarão ao ver o prumo na mão de
Zorobabel." (Zacarias 4:10b). A imagem dos "sete olhos do
Senhor" simboliza a onisciência e a atenção completa de Deus sobre toda a
criação. Ele não está distante ou alheio aos esforços humanos, mesmo aqueles
que nos parecem pequenos. Ao contrário, há alegria divina ao testemunhar a
diligência e o compromisso representados pelo prumo na mão de Zorobabel.
O prumo, uma ferramenta simples utilizada para
garantir a verticalidade e a solidez de uma construção, torna-se aqui um
símbolo poderoso. Ele representa a importância da precisão, do cuidado e da
integridade nos fundamentos de qualquer empreendimento. Deus se alegra não com
a grandiosidade da obra finalizada, mas com a dedicação e a retidão aplicadas
desde o início. Isso nos ensina uma lição crucial: a qualidade dos nossos
começos, por menores que sejam, é fundamental para a solidez e o sucesso do que
virá.
A visão profética continua, expandindo a mensagem de
esperança e provisão divina. Zacarias questiona sobre as duas oliveiras e os
dois tubos de ouro que derramam azeite dourado (Zacarias 4:11-12). A resposta
revela uma promessa de capacitação contínua: "Estes são os dois ungidos
que servem ao Senhor de toda a terra." (Zacarias 4:14). As oliveiras,
símbolos de frutificação e bênção, e o azeite dourado, representando o Espírito
Santo e a unção divina, ilustram que os recursos e o poder necessários para a
conclusão da obra não dependem apenas da capacidade humana limitada. Há uma
fonte divina inesgotável disponível para aqueles que se dispõem a trabalhar na
obra do Senhor.
Essa imagem é profundamente encorajadora para nós
hoje. Seja qual for o "pequeno começo" que estejamos enfrentando – um
novo projeto profissional, a construção de um relacionamento, a busca por um
hábito saudável, ou a superação de um desafio pessoal – a mensagem de Zacarias
ressoa com clareza: não despreze a insignificância aparente do ponto de
partida. Deus se alegra com a sua disposição de pegar o "prumo" e
começar com diligência e integridade. E mais do que isso, há uma promessa de
capacitação divina para sustentar e levar adiante a obra iniciada.
Assim como Zorobabel e o povo de Israel foram
chamados a reconstruir o templo em meio às ruínas, somos frequentemente
chamados a construir algo novo em meio a desafios e limitações. A tentação de
desanimar diante da magnitude da tarefa ou da modéstia dos nossos recursos é
real. No entanto, a semente de esperança plantada em Zacarias 4:10-12 nos
lembra que o poder não reside apenas na grandiosidade dos resultados, mas na
fidelidade e na perseverança dos pequenos começos, sustentados pela graça e
pela provisão divina.
Neste primeiro capítulo, somos convidados a
internalizar essa perspectiva transformadora. A abraçar a beleza e o potencial
dos inícios humildes, reconhecendo que cada pequeno passo dado com propósito e
fé é uma semente de esperança que, nutrida pela diligência e pela capacitação
divina, pode florescer em uma realidade muito maior do que jamais imaginamos.
Que possamos aprender a valorizar o "dia dos pequenos começos", pois
nele reside a promessa de um futuro construído sobre fundamentos sólidos e
sustentado por uma força que transcende a nossa própria.
Mas, ao olharmos para a imagem da semente, tão
presente nas palavras de Jesus, ecoa através dos tempos como uma poderosa
metáfora do potencial latente em cada pequeno começo. Assim como o reino de
Deus, muitas vezes o início de uma grande jornada se assemelha a uma semente
diminuta, quase imperceptível. No entanto, dentro dessa aparente
insignificância, reside a força vital que, sob as condições adequadas, irrompe
em crescimento exuberante e abundante.
Essa metáfora da semente nos convida a refletir
sobre a natureza da esperança. Em seu livro, Em Busca de Sentido, o
neuropsiquiatra austríaco Viktor Frankl (2017) nos lembra que, mesmo nas
circunstâncias mais adversas, a capacidade de encontrar um propósito, um
"porquê" para viver, é o que nos impulsiona a seguir em frente. Essa
busca de sentido, esse vislumbre de um futuro melhor, é a semente que plantamos
em nosso coração, a força motriz que nos impele a dar o primeiro passo, mesmo
quando a realidade ao nosso redor parece desoladora ou difícil.
No contexto dos pequenos começos, a esperança se
manifesta na crença de que cada ação, por menor que seja, contribui para a
realização de um objetivo maior. É a convicção de que, como afirma James Clear
(2019) em Hábitos Atômicos, "pequenas mudanças notáveis" podem levar
a resultados extraordinários ao longo do tempo. Essa perspectiva nos encoraja a
não desprezar os estágios iniciais de um projeto, mas a valorizar cada etapa do
processo, sabendo que cada passo nos aproxima do florescimento que almejamos.
Charles Duhigg (2012), em O Poder do Hábito, explora
a mecânica por trás da formação de hábitos, demonstrando como pequenos laços de
comportamento podem se transformar em rotinas poderosas que moldam nossa vida.
Essa compreensão nos capacita a cultivar a esperança de que, ao semearmos
pequenos hábitos positivos em nosso dia a dia, estamos construindo um alicerce
sólido para um futuro de crescimento e realização.
A semente da esperança, portanto, é nutrida pela
visão de longo prazo, pela capacidade de enxergar além das dificuldades
imediatas e de acreditar no potencial de desabrochar que reside em cada pequeno
começo. É a certeza de que, como nos lembra John C. Maxwell (2010) em O Pequeno
Livro das Grandes Coisas, "o sucesso é construído dia após dia, através de
uma série de pequenas decisões e ações".
Da mesma forma, em nossa jornada pessoal, seja na
busca por um novo emprego ou na superação de um desafio, a esperança é o
combustível que nos impulsiona a dar o primeiro passo. É a convicção de que,
como nos encoraja Napoleon Hill (2015) em seu livro Pense e Enriqueça,
"qualquer que seja seu objetivo, você pode alcançá-lo se persistir em seus
esforços e manter uma atitude mental positiva". Pois, “uma coisa é certa:
se você não tiver persistência, não alcançará sucesso notável em nenhuma profissão”(Hill,
2021, p.229).
Para ilustrar essa verdade e inspirar-nos, podemos
ver a história de Deyvid Vieira Vilela que não se deixou abater pelas lutas e
desafios a sua volta, mas cheio de esperança foi determinado e persistente.
A vida de Deyvid nos serve de inspiração, nascido na
zona rural, num local com parcos recursos e escassas oportunidades, a sua
trajetória de vida se afigura como um exemplo notável de como a persistência e
a determinação podem superar desafios e abrir caminhos. Sua jornada, marcada
por sonhos e aspirações, ilustra a ideia de que o local de origem de alguém não
define o limite do seu potencial.
Ainda criança, motivado pelo incentivo de seus pais,
Késia Vilela e Demerval Vieira, Deyvid iniciou sua educação na escola João
Vieira Vilela, na área rural, em um sítio conhecido como Catonho, local onde
residia à época, no município de Jupi, cidade do agreste Pernambucano. Na
adolescência, para continuar seus estudos, ele enfrentou uma rotina
demasiadamente exaustiva, tendo que pegar um ônibus que buscava os estudantes
da área rural e os conduzia para a Escola Napoleão Teixeira na cidade de Jupi,
a cerca de 16 quilômetros de sua residência. A busca por conhecimento o levara
ainda mais longe, a Garanhuns-PE, onde cursou o ensino médio no Colégio
Presbiteriano XV de Novembro, viajando diariamente cerca de 40 km, mais uma
prova de sua dedicação e foco.
Após concluir o ensino médio, Deyvid continuou a
"semear" seu futuro. Ele ingressou na Universidade Federal de
Pernambuco, na unidade acadêmica de Garanhuns, hodiernamente conhecida como
Universidade Federal do Agreste, com o intuito de cursar Agronomia; Ao concluir
o curso, forneceu auxílios ao seu pai, que era produtor rural, nas atividades
desenvolvidas no sítio da família. Doravante, o jovem se propôs a prestar
concurso para a polícia militar do seu estado, sob uma rotina intensa de preparação,
não só intectual como física, subiu mais um degrau na sua jornada; foi, pois,
aprovado no concurso para a Polícia, instituição na qual atuou por oito anos.
Não obstante, seu espírito inquieto foi o dínamo que o impulsionou a desbravar
novos desafios. Assim que iniciou seus serviços na polícia militar, ingressou
na faculdade de Direito e se formou, pois tinha planos maiores e almejava
"voos mais altos".
Passado todo esse período de estudo e trabalho, após
ter concluído essa nova graduação, começou novamente uma preparação, dessa vez
para o tribunal superior eleitoral, nesse período mais uma vez se dedicou
devotamente aos estudos, perfazendo cargas diárias de conteúdos de até 12
horas, vencendo dia após dia um material
longo e exaustivo. Prestou o concurso, entretanto, dessa vez, conseguiu passar
na primeira fase, mas não na segunda. Depois de tanta dedicação, essa
reprovação poderia ter sido um golpe fatal nos seus propósitos, mas não foi.
Surgiu mais uma oportunidade, dessa vez um certame para o ministério da
Agricultura, cargo de auditor-fiscal federal; Deyvid encarou a desventura
pretérita como aprendizado e mais uma vez se dedicou com uma incrível contumácia
aos estudos. Seu sonho se concretizou de forma surpreendente para muitos: ele
foi aprovado no concurso, se tornando auditor-fiscal federal, deixando a PM.
Por fim, Deyvid mudou-se para o Mato Grosso do Sul para assumir o seu novo
cargo; foi lotado na fronteira do Brasil com o Paraguai, numa unidade aduaneira
fluvial do vigiagro, onde fiscaliza importações e exportações brasileiras
provenientes e destinadas a todos os países do mundo. Sua história é um
testemunho de que uma pequena semente plantada e cultivada com esforço e
perseverança pode se transformar em algo grandioso.
A trajetória de Deyvid Vieira Vilela nos serve de
inspiração. Ela mostra que, independentemente de onde nascemos—em um sítio, em
uma vila ou em uma grande cidade—a combinação de coragem, determinação e
dependência de Deus pode nos levar a conquistar objetivos que, para alguns,
parecem inalcançáveis.
Portanto, abracemos a semente da esperança que
reside em nosso coração. Nutramos essa pequena chama com ações consistentes,
com a certeza de que, com o tempo, ela se transformará em uma árvore frondosa,
capaz de abrigar os nossos sonhos e de inspirar outros a cultivarem os seus
próprios pequenos começos.
Texto extraído do Livro "O Poder dos Pequenos Começos" do pastor Eli Vieira