Rev. Valdeci Santos
Talvez alguns pastores não tenham se dado conta, mas o trabalho realizado na igreja local é, em grande medida, dependente do esforço de voluntários. As atividades semanais de uma igreja só são humanamente possíveis pela colaboração de pessoas que livremente deixam sua zona de conforto, renunciam algumas horas de descanso e se dedicam àquilo que é necessário para manter as rotinas da comunidade. Essas pessoas atuam como presbíteros, diáconos, professores de Escola Dominical, músicos, sonoplastas, recepcionistas, babás, líderes de pequenos grupos e assim por diante. Não importa quão grande seja a congregação ou quão numeroso seja o quadro de seus assalariados; o fato, é que as demandas de uma igreja exigem a participação e colaboração de um exército de voluntários.
Dessa maneira, é possível descrever o pastor como o “líder de um exército de voluntários”. O problema é que nem todo pastor sabe como lidar com essa realidade e alguns acabam entrando em choque, machucando e frustrando as expectativas dos voluntários no seu rebanho. Esses pastores, na melhor das hipóteses, contarão apenas com a colaboração temporária de seus voluntários, pois quando eles cumprem a tarefa que lhes foi atribuída, logo desistem por estarem desanimados, desmotivados e alguns até amargurados. Em contrapartida, é também frustrante para o pastor não perceber seu rebanho motivado, frequentemente murmurando e deixando de colaborar na execução do trabalho necessário. Conduzir um rebanho de desmotivados rouba grande parte da alegria do ministério.
Conduzir um “exército de voluntários” exige sabedoria e paciência dos pastores do rebanho. Muito embora alguns pastores tenham iniciado seus ministérios sem obter algumas informações necessárias para prática tão importante no serviço pastoral, é possível aprender algumas lições a esse respeito. Assim, com o objetivo de diminuir os prejuízos relacionais e ampliar as alegrias ministeriais, algumas diretrizes básicas devem ser consideradas.
O propósito desse ensaio é destacar algumas diretrizes necessárias na liderança de voluntários. Devido à objetividade desse texto, limitaremos nossa consideração a cinco tópicos. A experiência e o conhecimento de outras pessoas a esse respeito certamente podem ampliar essa reflexão.
1. Liderança pelo exemplo é muito mais eficaz do que pela posição
As pessoas não seguem um líder apenas pela posição que ele ocupa. Nenhuma ovelha atende ao pastor simplesmente por causa de seu título. Conquanto o pastor seja respeitado por sua posição à frente do rebanho, ele só conseguirá inspirar e motivar pessoas a segui-lo pelo exemplo estabelecido. Como acontece com qualquer líder, se o pastor não possuir um procedimento exemplar, seus voluntários ficarão desanimados e logo dispersarão.
O sucesso de uma boa liderança é, em grande medida, estabelecido pela confiança dos liderados em seu líder. É preciso sempre lembrar que confiança não se impõe, mas se conquista. A confiança das ovelhas em seu pastor precisa ser conquistada pelo exemplo e relacionamento desse em relação ao seu rebanho. O fato de Jesus ensinar que a “ovelha ouve a voz do seu pastor e o segue” indica que a liderança desse homem deve ser exercida principalmente pelo exemplo e não pela mera posição que ele ocupa. A ovelha precisa ver “o pastor em movimento” antes de segui-lo. Afinal de contas, ele é pastor e não vaqueiro, tocando o gado.
O voluntário é, geralmente, inspirado pelo exemplo do líder. Uma boa experiência nesse sentido pode ser feita em algum refeitório da igreja quando, depois de algum evento, as cadeiras precisam ser guardadas em uma determinada ordem. Se o pastor se levanta e começa a guardar as cadeiras, logo ele é seguido por vários outros irmãos que alegremente fazem o mesmo (inclusive crianças!). Contudo, se ele apenas permanece sentado e dá ordens para que o trabalho seja feito, a execução do trabalho não possui o mesmo resultado. O fato é que na liderança de voluntários, o exemplo é mais eficaz do que o respeito exigido pela posição ocupada.
2. Voluntários são motivados por um ideal, muito mais do que por cobranças
Infelizmente alguns pastores aparentam conhecer somente o apelo à obrigação ou a imposição da culpa no processo de motivar voluntários ao trabalho. Assim, quando eles desejam que algo seja realizado, logo lembram que a pessoa foi “nomeada” ou “eleita” para aquele fim e se ela não o fizer, deveria se sentir culpada. É verdade que esse método funciona algumas vezes, mas ele possui pouca durabilidade. Basta a pessoa não se sentir mais obrigada ou culpada que deixará de executar a tarefa necessária. Culpa e cobranças não inspiram pessoas, mas somente as instigam ao trabalho mecânico e a tarefa feita “sem alma e sem alegria”.
Voluntários gostam de servir em cumprimento a um “senso de chamado”, a uma “vocação pessoal” para o trabalho a ser realizado. As pessoas não se sentem obrigadas a servir em áreas com as quais elas não se identificam. O esforço e a dedicação de alguém que se voluntaria a um trabalho necessita ser cativado por um ideal a ser alcançado. Essa é a razão pela qual inúmeras pessoas abandonam seus países e se submetem a difíceis condições de vida para servir a entidades como Green Peace, Médicos sem Fronteira ou alguma outra ONG conhecida. Essas pessoas são atraídas e motivadas pelo ideal apresentado.
Antes de apresentar a tarefa a ser realizada, o pastor sábio apresentará o ideal a ser atingido. Se ele conseguir comunicar com clareza a relevância do alvo a ser alcançado, certamente poderá contar com o esforço de vários voluntários em seu rebanho. Muitos pastores conseguem apontar o que deve ser feito, quando e como isso deverá ser feito, mas poucos apresentam com clareza o “porque” a tarefa deve ser realizada e, por isso, falham em inspirar e recrutar voluntários para o serviço. Cobranças funcionam, mas não inspiram!
3. Palavras de encorajamento são mais eficientes do que críticas
Essa lição deveria ser aprendida primeiramente no ambiente doméstico. Pais que estão sempre criticando seus filhos pela qualidade do esforço apresentado, acabam gerando desânimo e amargura em seus filhos. O mesmo ocorre em qualquer esfera de liderança. O líder crítico pode até obter resultados, mas ele dificilmente terá seguidores que voluntariamente o ajudem. É difícil permanecer ao redor de uma pessoa crítica! É difícil manter o relacionamento com alguém que só observa o que fazemos de errado e raramente oferece alguma palavra de encorajamento. Porém, devemos lembrar que essa mesma dificuldade que temos em relação a outros, alguns têm em relação a nós.
Certamente há um lugar para a crítica ao avaliarmos a realização de qualquer tarefa executada. Afinal, parte da tarefa do líder é corrigir os erros cometidos na execução de um trabalho e colaborar com o aperfeiçoamento daquele que o executou. No entanto, uma boa norma a esse respeito é o seguinte: para cada crítica a ser feita, o líder deverá ter feito, no mínimo, cinco elogios à pessoa a ser corrigida. Além do mais, devemos lembrar que correção de erros não se dá apenas pela observação negativa, mas pelo reforço do que foi positivamente executado.
Encorajamentos são especialmente eficazes em relação ao trabalho com voluntários, pois aquele que serve voluntariamente gosta de saber que seu esforço está sendo apreciado e valorizado. Afinal, grande parte desse esforço é fruto do sacrifício dessa pessoa em relação a outras esferas de sua vida. Por isso, o bom pastor será sempre intencional em encorajar e ressaltar os aspectos positivos do trabalho de seus voluntários.
4. O voluntário precisa ter clareza quanto às expectativas de sua contribuição
Normalmente os pastores ridicularizam a definição popular de fé como sendo um “pulo no escuro”. Todavia, a maneira como alguns pastores tentam recrutar e motivar voluntários se parece muito com a exigência para que esses deem um “salto no escuro”. Isso acontece especialmente quando o convite para servir deixa de vir acompanhado com a explicação clara sobre as expectativas em relação ao trabalho a ser realizado. Qual será a responsabilidade do voluntário? Qual deve ser a principal participação dele? Quais são seus limites? Com quem ele poderá contar ou a quem recorrer diante de alguma imprevisibilidade? Haverá algum recurso financeiro para atender demandas necessárias? Enfim, as respostas a essas perguntas são extremamente necessárias para que o voluntário saiba o que é esperado de sua contribuição.
O pastor que lidera seu exército de voluntários deve considerar não apenas aquilo que precisa ser realizado, mas também o que é esperado das pessoas que o ajudam. Nesse processo, a comunicação clara é fundamental para que o voluntário compreenda sua tarefa e se sinta valorizado na execução dela. Uma boa prática a esse respeito é se colocar na posição do voluntário e considerar quais informações ele precisa receber para continuar mais motivado em sua colaboração. Não se pode esperar desempenho satisfatório de nenhuma pessoa que não sabe ao certo o que deve ser realizado. Por isso, não é nenhum desperdício dedicar tempo e atenção esclarecendo aos voluntários as reais expectativas do trabalho a ser realizado.
5. O voluntário gosta de saber que ele é um parceiro e não apenas um executor
Particularmente, precisei aprender essa lição de uma maneira não muito agradável. Há alguns anos eu conversava com o Dr. Ed Welch, um mentor e grande amigo, alguém que tenho admirado ao longo dos anos e através de quem tenho sido grandemente abençoado por Deus. Ed me informou sobre uma conversa que teve com o seu pastor, na qual o pastor pedia sua colaboração para lecionar numa classe sobre aconselhamento bíblico na EBD. Como Ed já ministra nessa área há anos, sendo conhecido internacionalmente por meio de livros e palestras sobre o assunto, logo presumi que ele aceitaria o convite do pastor. Para minha surpresa, porém, ele disse que declinou. Curioso de suas razões para ter se negado a ajudar naquele projeto, perguntei por que ele havia feito aquilo. Sua explicação foi simples: “Porque entendi ser aquela uma boa oportunidade de ensinar ao meu pastor, e a você também, que vocês não podem simplesmente idealizar e desenvolver projetos e depois convidar suas ovelhas para executá-los. Nós queremos ser participantes dos projetos também!”. As palavras de Ed me fizeram olhar para os meus erros e como eu tratava alguns membros de minha igreja: não como parceiros, mas como executores.
É claro que no processo de participação de voluntários, encontraremos dificuldades em responder adequadamente algumas sugestões apresentadas. Nesse sentido, nem toda sugestão oferecida pelos voluntários terá que ser acatada. Muitas vezes alguns apresentam sugestões que são apenas preferências pessoais e não uma necessidade do rebanho. Outras vezes, eles insistem em alguma sugestão porque não possuem uma visão abrangente do rebanho e nem conhecem outras ovelhas o suficientemente para avaliarem as implicações e as consequências de suas ideias. O pastor sábio deve esclarecer que toda sugestão é bem-vinda, mas nem toda será acatada. Além do mais, algumas sugestões demandam tempo, recurso e até mudança de uma cultura antes de sua implementação. Mas até a abordagem dessa questão pode levar o voluntário a se sentir participante ao invés de ser simplesmente uma “ferramenta” para que o trabalho seja executado.
A realidade é que o pastor é o líder desse exército de voluntários que ele encontra em sua igreja local. Conduzir esse rebanho exige sabedoria, paciência e prudência. Mas a consideração desses princípios acima pode nos ajudar grandemente nessa missão.
Rev. Valdeci Santos
Fonte: Portal IPB https://www.ipb.org.br/conteudos_detalhe?conteudo=444