quinta-feira, 21 de setembro de 2017

Do que o homem precisa? Argumentos para a existência de Deus ou persuasão de sua própria culpa?

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A doutrina calvinista do conhecimento de Deus implica numa apologética que, ao invés de fornecer uma demonstração da existência de Deus, persuade os homens a reconhecerem que eles estão suprimindo essa verdade. Uma vez que todos nós sabemos que Deus existe, as alegações de ignorância acerca de Sua existência são apenas um véu utilizado para justificar a nossa rebelião contra Deus. Este conhecimento interno de Deus é a base sobre a qual a apologética deve procurar deixar os homens sem a desculpa de precisarem de provas para acreditar. É este sensus divinitatis (ou sentido do Divino) que torna todos os homens culpáveis diante de Deus. Como tal, a metodologia da apologética não procura demonstrar a verdade de Deus, antes, procura persuadir os homens da verdade de sua culpa.

Como Calvino argumenta nas Institutas, o fundamento de qualquer conhecimento sobre Deus é o próprio Deus. [i] O homem não tem a capacidade de conhecer a Deus por conta própria nem tem direito a tal conhecimento. C.S. Lewis capta isso com razão em sua analogia de Shakespeare: “Se Shakespeare e Hamlet pudessem se encontrar, isso deve ser algo que parte de Shakespeare. Hamlet não pode iniciar nada. [ii] Portanto, os homens que afirmam não haver evidências para se crer em Deus, fazem isso em contradição com o que Deus nos revelou em Sua palavra. Eles esquecem que em um universo em que Deus existe, é prerrogativa do próprio Deus proporcionar conhecimento de si mesmo às suas criaturas e definir os critérios para tal conhecimento. Van Til afirma adequadamente que “qualquer revelação que Deus dá de si mesmo é … inteiramente voluntária”. [iii] Calvino condena a loucura de homens que acham que têm a autoridade de determinar a maneira que Deus deve dar testemunho de si mesmo: “De onde vem esta lei aos mortais que eles podem, por sua própria autoridade, definir aquilo que ultrapassa o mundo? […] Cada homem irá defender Seu próprio juízo ao invés de se submeter à decisão de outro […] Permanece apenas ao próprio Deus o dar testemunho de si mesmo. [iv] Os homens que exigem que Deus forneça uma determinada evidência de si mesmo esquecem suas relações morais e ontológicas com Deus. Este erro pede pela mesma resposta que Paulo retoricamente dá aos romanos que esqueceram a ordem de seu relacionamento com Deus: “O oleiro não tem direito sobre a argila?” [v] A resposta é, com toda a certeza, positiva. Portanto, nossas afirmações sobre o que sabemos sobre Deus não são justificadas por aquilo que afirmamos acreditar, mas pelo que Deus afirma que acreditamos.

Com base nessa antropologia de Romanos 1:20-21, Calvino argumenta que Deus forneceu a todos os homens um sensus divinitatis ou semen religionis. De acordo com Scott K. Oliphint, “Calvino parece usar essas duas noções […] de maneira semelhante” em todas as Institutas. [vi] Hoeksema descreve esta religião como “verdadeiro conhecimento e temor a Deus e o serviço do amor. [vii] Usando esses termos, Calvino “não fala apenas de um conhecimento objetivo e de uma religião objetiva, mas inclui a resposta subjetiva a esse conhecimento no temor e o amor a Deus. [viii] Em outro lugar, Oliphint argumenta que esse conhecimento “foi intuitivo, imediato, não ratiocinativo em sua apreensão de Deus. [ix] Assim, a posição de Calvino é que todos os homens têm uma possessão inata e objetiva que lhes comunica o conhecimento de Deus, de modo que todos são inescusáveis por saberem que Deus existe. John Frame lembra-nos que “a revelação de Deus é ‘acomodada’ para a compreensão humana. [x] Este conhecimento é cognitio insita (isto é, um conhecimento implantado) e se torna o fundamento para nossa culpabilidade. B.B. Warfield resume a posição de Calvino até agora:
“Calvino está completamente seguro de que o conhecimento de Deus é inato (I. iii.3), naturalmente gravado nos corações dos homens (I. iv. 4), e assim uma parte de sua constituição (I. iii.1), de que é uma questão de instinto (I. iii.1, I. iv.2), e de que todo homem é autodidata desde o seu nascimento (I. iii.3). Ele estabelece como um fato incontestável que ‘a mente humana, pelo próprio instinto natural, possui algum senso de uma divindade’ (I.iii.1).[xi]

Ao desenvolver essa epistemologia a partir das Escrituras, Calvino mostrou uma apologética que procurava persuadir os leitores daquilo que eles já sabiam ser verdade ao invés de demonstrar aquilo que ele acreditava já ser claro para eles. Falando sobre o ímpio, Calvino apela à sua condição: “Aqueles que são de uma mente estranha à justiça de Deus sabem que esse tribunal está pronto para punir as transgressões contra ele. […] Essa semente permanece e não pode, de modo algum, ser desenraizada. […] Se alguma ocasião desesperadora os pressiona, ela os incita a procurá-lo. […] A partir disso, fica claro que eles não são completamente ignorantes quanto a Deus…” [xii] Aqui, Calvino nos persuade de que todos os homens, mesmo aqueles que estão em rebelião contra Deus, exibem esse sensus divinitatisquando, levados pelo desespero, correm até Ele. Portanto, vemos a partir destes dois pontos que os homens são inescusáveis: primeiro, o homem é inteiramente dependente de Deus para que Ele se revele, o que Ele já fez por evidência de Sua palavra. Em segundo lugar, a palavra de Deus argumenta que todos nós recebemos um conhecimento interno dele. Deus nos declarou que somos compelidos por dentro a acreditar. Além disso, nossa crença é evidenciada pelo nosso próprio comportamento quando a calamidade nos atinge.

Além deste cognitio insita, os homens receberam o cognitio acquita, ou seja, um conhecimento adquirido da existência de Deus. O sensus divinitatis de Calvino se refere inteiramente ao conhecimento interno do homem sobre Deus. Para expandir ainda mais esse conhecimento, Deus forneceu a todos uma garantia externa de Sua existência. Calvino, comentando sobre Romanos 1:20, descreve o propósito da ordem externa: “Deus sendo o engenheiro das coisas, nos comunica divindade. [xiii] Assim, todos os homens receberam uma comunicação externa por meio do design do universo de que Deus existe. Esta comunicação externa de Deus para a sua criação é claramente o argumento de Paulo em Romanos 1:19-20: “Pois o que de Deus se pode conhecer é manifesto entre eles, porque Deus lhes manifestou. Pois desde a criação do mundo os atributos invisíveis de Deus, seu eterno poder e sua natureza divina, têm sido vistos claramente, sendo compreendidos por meio das coisas criadas. A interação entre o cognitio insita e o cognitio acquita impossibilita que alguém se refugie na pretensão da ignorância”. [xiv] Esta é a conclusão de Paulo no final de Romanos 1:20: “eles são inescusáveis. Portanto, em nossa metodologia apologética, aqueles que argumentam que não existem evidências para se crer em Deus e que, portanto, tem desculpas para não crer, estão em contraste com o que Deus revelou sobre si mesmo e sua criação.

A partir dos pontos acima, vemos que os homens são inescusáveis uma vez que eles possuem uma confissão interna e externa da verdade da existência de Deus. Em outras palavras, aqueles que argumentam que não têm motivos para acreditar fazem isso não porque precisam de uma demonstração da verdade, mas porque precisam ser libertados da supressão voluntária da verdade. Primeiro, por autoridade da revelação de Deus, sabemos que os homens não precisam se convencer da verdade porque eles já não podem escapar dos testemunhos persuasivos que Deus colocou dentro e ao redor deles. Agora devemos demonstrar que os homens estão reprimindo a verdade.

Calvino é consistente com o argumento de Paulo em Romanos 1 quando comenta que “embora a estrutura do mundo e o mais belo arranjo dos elementos devessem ter induzido o homem a glorificar a Deus, ninguém cumpriu esse dever e, portanto, todos eram culpados de sacrilégio, perversidade e abominável ingratidão.” [xv] É importante notar que Calvino não vê o homem como sem religião, mas sem uma visão adequada de Deus e sua glória. Calvino argumenta que “de fato não houve quem não buscasse formar alguma opinião acerca da majestade de Deus, tornando-o numa divindade tal como podiam concebê-la de acordo com a própria razão. [xvi] Em outras palavras, não é que os homens não possuam o sensus divinitatis mas sim que eles reprimem esse sentido na busca de uma religião própria. Esta supressão torna o sensus divinitatis ineficaz, uma vez que não leva mais os homens a uma visão correta de Deus. No entanto, esse sentido é suficiente para deixar os homens inescusáveis, ao usar o fato de que não existe um ser humano sem uma posição religiosa como prova de que todos sabem que Deus existe. Warfield argumenta que esta semente da religião fornece a base para toda a religião. Essa semente é tão prevalente no homem que chega a ser o fundamento de todos os que procuram se opor à religião:

“[Esse conhecimento de Deus] forma a silenciosa suposição de todas as tentativas de expor a origem da religião como uma fraude ou um artifício político, assim como também de todas as corrupções da religião, que acham seu nervo nas propensões incuráveis das religiões dos homens (I.iii. 1). Os próprios ateus testemunham a persistência do pavor mal-escondido à divindade que eles professam desprezar (I.iv.2); e os ímpios … não são permitidos pela natureza de esquecê-lo (I.iii.3).” [xvii]

Em outras palavras, todo motivo para abolir ou manipular a religião é por si só uma profissão de convicção religiosa que resulta do fato de que todos os homens sabem que Deus existe. É este coletivo de atividades espúrias intencionadas a perverter ou abolir a religião que testifica a nossa supressão da verdade. Calvino, lembra-nos que “aquele que mais ousadamente despreza a Deus é, dentre todos os homens, o mais assustado com o sussurro de uma folha caindo … Se, para este, há uma pausa na ansiedade da consciência, essa pausa não difere muito do sono de pessoas embriagadas ou frenéticas…” [xviii] Todos os homens retratam a supressão da verdade ao manter uma corrupção acalorada da religião. Isso se mostra na universalidade da religião e no dogmatismo, baseado no medo, daqueles que buscam explicar a religião.

Uma vez que todos os homens possuem testemunho suficiente da existência de Deus e que esses mesmos homens o distorcem, o evangelismo existe para persuadir os homens da supressão da verdade cometida por eles e não apenas da própria verdade. Calvino argumenta, a partir das Escrituras, que simplesmente defender o cristianismo é algo insuficiente porque os homens não são ignorantes mas sim supressores da verdade. Portanto, o cristianismo não precisa ser liberto das acusações dos homens. Ao invés disso, os homens precisam conhecer a verdadeira condição deles. Calvino explica claramente esta filosofia nas Institutas:
“Os que se esforçam para construir a fé na Escritura através da disputa estão dando passos para trás … Se eu estivesse lutando contra os que mais desprezam a Deus… Estou confiante de que não seria difícil para mim silenciar suas vozes clamorosas … Mas mesmo que alguém defendesse a palavra de Deus dos males proferidos pelos homens, esse alguém não imprimiria imediatamente em seus corações a crença que a piedade exige. Uma vez que, para os incrédulos, a religião parece ser apenas uma opinião e, para não acreditar em nada de forma tola ou leviana, desejam e exigem uma prova racional daquilo que … os profetas divinamente falaram… Mas Deus por si só é um testemunho adequado de si mesmo em seu mundo, logo também a palavra não encontrará aceitação nos corações dos homens antes de ser selada pelo testemunho interno do Espírito … O Espírito é chamado de “selo” e “garantia” para confirmar a fé dos piedosos; porque até que Ele ilumine as suas mentes, eles permanecerão vacilando em muitas dúvidas. [xix]

Uma vez que o homem está num estado de supressão da verdade, nenhuma tentativa de justificar a verdade pode libertá-lo. O problema do homem não é que a verdade não é clara, mas que a verdade, ao atingir seus olhos, é pervertida. Calvino observa que “assim que [os homens] começarem a pensar em Deus, eles se espalharão em invenções perversas, e assim a semente pura [da religião] se degenerará em versões corrompidas. [xix] Portanto, Oliphint argumenta, “toda incrível tentativa de se construir uma teologia natural verdadeira inevitavelmente levará à condenação. [xx] É ineficaz buscar apenas convencer o homem da verdade da existência de Deus e da autenticidade de Sua Palavra. Isso porque o homem não está em uma luta para acreditar em Deus ou não. Ao invés disso, a condição do coração do homem leva-o a exercer toda a verdade em condenação em vez de liberdade. A situação do homem não é que ele não compreende a verdade, mas sim que ele não deseja a verdade. Warfield, de acordo com Calvino, argumenta: “Ainda que as provas teístas sejam objetivamente válidas, elas são ineficazes para produzir um conhecimento justo de Deus no coração pecaminoso. [xxi] Portanto, é ineficaz meramente demonstrar a verdade que os homens já conhecem.

Para que a demonstração da verdade seja efetiva, os homens devem estar em condições de serem persuadidos a amar a verdade. Portanto, como demonstrado na citação acima, Calvino argumenta que a persuasão é obra do Espírito. Portanto, em nosso evangelismo, o objetivo não é apenas tentar demonstrar aquilo que é verdadeiro, antes, queremos pressionar a verdade da palavra de Deus sobre os ouvintes na esperança de que o Espírito trabalhe neles. Isso significa que grande parte do evangelismo é menos persuasão dos homens e mais persuasão de Deus. Isso não significa que Deus deve ser persuadido de sua vontade, mas que a oração e a intercessão formam o meio efetivo de trazer a obra do Espírito aos homens. Não seria a oração a principal razão pela qual as igrejas não apresentam verdadeiras conversões hoje em dia? Ao invés de buscarmos a Deus e pedirmos Seu favor para com os homens, nos convencemos de que devemos buscar homens para Deus. O problema é que, sem Deus, ninguém pode ser salvo. Jesus lembrou aos discípulos que “é o Espírito que dá vida; A carne em nada se aproveita. [xxii] Portanto, as metodologias destinadas a reunir pessoas com o propósito de demonstrar a verdade de Deus na esperança de que elas sejam convertidas serão infrutíferas. Mesmo que algumas sejam persuadidas naquele momento, mais tarde a apresentação de contra-evidências feita por um opositor poderá muito bem persuadi-las de volta ao seu estado anterior. Os homens precisam da regeneração que somente Deus oferece. Oliphint lamenta os efeitos do Iluminismo sobre o evangelismo contemporâneo: “Tem havido, desde o século XVIII, um pressuposto subjacente da capacidade da razão de conhecer a Deus por conta própria, uma suposição que está em desacordo com a ortodoxia reformada. [xxiii] A metodologia evangelística é inútil sem o Espírito. Sem o Espírito os homens não serão convencidos de sua corrupção. Ao invés de procurar demonstrar a razão ineficaz do homem, devemos implorar a Deus para reviver os homens enquanto proclamamos o Evangelho aos homens.

No evangelismo contemporâneo, precisamos fazer a seguinte pergunta: os homens precisam de provas de Deus ou precisam ser persuadidos de sua culpa? A doutrina de Calvino sobre o conhecimento de Deus é hoje um lembrete necessário de que devemos retornar a um estado consciente da obra que o Espírito tem no evangelismo. Todos os homens sabem que Deus existe, mas esses mesmos homens corrompem esse conhecimento de acordo com seus propósitos. Isso significa que nosso evangelismo não pode ser meramente fruto de eloquência e verdade. Nós não temos o poder de converter outros homens ainda que nossos argumentos contenham verdades certeiras. Isso porque continua a ser a prerrogativa de Deus fornecer conhecimento de si mesmo aos homens, continua sendo a sua prerrogativa levantar os homens do túmulo. Portanto, nosso evangelismo deve retornar a uma metodologia centrada em Deus. Devemos retornar ao evangelismo que é alimentado por igrejas em oração. Fora da obra iluminadora do Espírito, nenhum homem pode ser persuadido de sua verdadeira condição.

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Bibliografia:
Calvin, John. Commentaries on the Epistle of Paul the Apostle to the Romans. ed. John Owen. Calvin’s Commentaries 19. Grand Rapids: Baker, 1979.
Calvin, John. Commentaries on the Acts of the Apostles. ed. John Owen. Calvin’s Commentaries 19. Grand Rapids: Baker, 1979.
Calvin, John. Institutes of the Christian Religion. ed. John T. McNeill, trans. Ford Lewis Battles, 2 vols., Library of Christian Classics 20-21. Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 1960.
Frame, John. The Doctrine of God. A Theology of Lordship Series. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2002.
Hoeksema, H. C. “Calvin’s Theory of Semen Religionis.” In Protestant Reformed Theological Journal vol. 8, no. 2, (1975).
Lewis, C.S. Surprised by Joy: The Shape of My Early Life. Orlando, Florida: Harcourt, Inc., 1955.
Oliphint, Scott K. “A Primal and Simple Knowledge.” In A Theological Guide to Calvin’s Institutes. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2008.
Oliphint, K. Scott. Reasons for Faith: Philosophy in the Service of Theology. Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2006.
Van Til, Cornelius. “Nature and Scripture.” In The Infallible Word: A Symposium by the Members of the Faculty of Westminster Theological Seminary, 2011 edition, ed. N. B. Stonehouse and Paul Wooley, 263-301. Philadelphia, PN: Presbyterian and Reformed, 1967.
Warfield, Benjamin B. “Calvin’s Doctrine of the Knowledge of God.” In Calvin and Calvinism, 29-130. New York: Oxford University Press, 1931.

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Notas:
[i] John Calvin, Institutes of the Christian Religion (Louisville, KY: Westminster John Knox Press, 1960), I.iii.1
[ii] C. S. Lewis, Surprised by Joy (Orlando, FL: Harcourt, Inc., 1955), XIV.
[iii] Cornelius Van Til, Nature and Scripture (Philadelphia, PN: P&R Publishing, 1967), 3.
[iv] Calvin, Institutes, I.v.13.
[v] Romanos 9:21
[vi] Scott K. Oliphint, A Primal and Simple Knowledge (Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2008), 27.
[vii] H. C. Hoeksema, “Calvin’s Theory of Semen Religionis,” Protestant Reformed Journal 8, no. 2 (1975): 27.
[viii] Hokesema, “Calvin’s Theory of Semen Religionis,” 33.
[ix] Scott K. Oliphint, Reasons for Faith (Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2006), location 142.
[x] John Frame, The Doctrine of God (Phillipsburg, NJ: P&R Publishing, 2002), location 4582.
[xi] B. B. Warfield, Calvin’s Doctrine of the Knowledge of God (New York: Oxford University Press, 1931), 3.
[xii] Calvin, Institutes, I.iv.4
[xiii] John Calvin, Commentaries on the Epistle of Paul the Apostle to the Romans, (Grand Rapids: Baker, 1979), 73.
[xiv] Calvin, Institutes, I.iii.1
[xv] Calvin, Romans, 71.
[xvi] Ibid., 73.
[xvii] Warfield, Calvin’s Doctrine, 3.
[xviii] Calvin, Institutes, I.iii.2.
[xix] Calvin, Institutes, 1.7.4.
[xix] John Calvin, Commentaries on the Acts of the Apostles (Grand Rapids: Baker, 1979), 169.
[xx] Oliphint, A Simple and Primal Knowledge, 38.
[xxi] Warfield, Calvin’s Doctrine, 41-42
[xxii] João 6:63
[xxiii] Oliphint, Reasons for Faith, location 153.

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Autor: Taylor Sines
Fonte: Sines of The Times 
Tradução/adaptação: Erving Ximendes

quarta-feira, 20 de setembro de 2017

Ministro da Fazenda pede orações a pastores pela economia do Brasil

PARE, LEIA E PENSA!

Henrique Meirelles, pediu orações pela economia em um vídeo direcionado a pastores da Assembleia de Deus em Madureira.

O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, pediu orações pela economia do Brasil em um vídeo direcionado a pastores da Assembleia de Deus em Madureira, no Rio de Janeiro.
Segundo a assessoria de imprensa do Ministério da Fazenda, o ministro foi convidado a participar de um evento da igreja no último sábado (16), mas registrou sua mensagem por não poder comparecer.
“Nossa meta é, de fato, fazer com que esse País volte a ter emprego. Para isso, preciso contar com a oração de vocês”, afirmou Meirelles no vídeo que é finalizado com a mensagem: “Outubro, mês de oração pela economia”.
Segundo o ministro, as orações são necessárias para tirar o Brasil da maior recessão de sua história, que foi iniciada no “início do ano passado”. “Desde o começo do século passado, nunca houve uma recessão como essa. Desta vez, no entanto, o Brasil está crescendo e criando empregos”, ele afirmou.
Meirelles ainda observou que compartilha os mesmos valores do cristianismo. “Estamos juntos todos trabalhando, dentro dos princípios da ética, da idoneidade, do trabalho duro”, disse o ministro da Fazenda.
“Eu me sinto muito à vontade para conversar com vocês [evangélicos] porque temos os mesmos valores, são os valores das leis de Deus, visando crescer, visando colaborar com o País. Portanto, preciso da oração de todos e estaremos aqui trabalhando e conto com vocês”, acrescentou.
Essa não é a primeira vez que o ministro da Fazendo se aproxima da comunidade evangélica. Em agosto, Meirelles concedeu uma palestra sobre a agenda econômica na Convenção da Assembleia de Deus em Juiz de Fora, Minas Gerais.
O ministro também participou da Convenção Geral das Assembleias de Deus no Brasil, do aniversário de 106 anos da Assembleia de Deus no Pará e do aniversário de 85 anos do bispo primaz mundial das Assembleias de Deus, Manoel Ferreira.

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DE O GLOBO

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Gustavo Bessa conta que passou 5 anos nas drogas: “Eu me perdi dentro da igreja”

PARE, LEIA E PENSE!

O pastor se afastou da igreja ao completar 17 anos, mesmo sendo de família cristã.
Gustavo Bessa é pastor e esposo da cantora Ana Paula Valadão. (Foto: Lagoinha).
Gustavo Bessa é pastor e esposo da cantora Ana Paula Valadão. (Foto: Lagoinha).

É fácil encontrar testemunhos de pessoas que abandonaram o pecado quando conheceram a Cristo. Mas, pouco se fala de pessoas que “se perderam na igreja”. Esse foi o caso do pastor Gustavo Bessa, esposo da cantora Ana Paula Valadão. Durante uma ministração na conferência Radicais Livres 2017, o líder contou que mesmo tendo nascido em uma família evangélica, ele se afastou dos caminhos de Deus e passou cinco anos no mundo das drogas.
“Eu nasci em um lar cristão. Sou a quinta geração de evangélicos na minha família. Meu tataravô se converteu no Triângulo Mineiro quando um caixeiro viajante foi até a fazenda dele e vendeu uma Bíblia. Ele se converteu. Eu nasci nesse contexto de igreja, cresci no contexto de igreja, mas quando eu fiz 17 anos eu me afastei. Eu não tinha problemas com os meus pais, eles sempre foram muito amorosos, muito carinhosos. Um homem de Deus o papai, uma mulher de Deus a mamãe, mas eu me perdi dentro da igreja”, confessou.
“Eram amigos meus da adolescência que pouco a pouco, sem que eu me desse conta… De repente eu estava afundado nas drogas. Comecei na igreja. Já sabia teologia, participava dos concursos bíblicos. Respondia as perguntas da Bíblia doidão. E isso me fez perceber depois que eu voltei para Jesus, que o simples conhecimento de textos bíblicos não é o suficiente para que a pessoa tenha paz no coração”, ressaltou.

“Muito doido”
“Durante cinco anos eu fiquei longe dos caminhos do Senhor. Muito doido. Vivia uma vida de sexo, drogas e rock’n roll. Durante um período da minha vida eu estava fazendo física na universidade e eu me lembro que saía das aulas e ia atá a escola de veterinária em cima do esterco de vaca para catar cogumelo e comer porque eu estava em busca de uma resposta”, salientou o pastor.
“Eu não havia encontrado essa resposta na teologia, não havia encontrado essa resposta nos comentários bíblicos. Eu não havia encontrado essa resposta nas reuniões da igreja. Eu estava em busca, meu coração tinha um vazio infinito. E durante cinco anos eu vivi assim. Eu frequentava os cultos da igreja, mas havia um vazio no meu coração e quando eu saia dos cultos eu ia para festas, para a doideira, para as drogas, para viagens”, disse.

Restauração
O pastor contou como seus olhos se abriram para a realidade. “Em uma noite, no dia 15 de agosto de 1996, eu estava em um quarto de hotel, no Chile, participando de um encontro de estudantes de direito do Mercosul. Era o primeiro encontro de estudantes de direito que englobava pessoas de todo o Mercosul”, colocou.
“Mas, eu não estava nem aí para a conferência, eu estava muito doido no meu quatro. Estava cheirando cocaína e tomando whisky quando de repente esse amor me alcançou. Era três horas da manhã. Alguém disse muito acertadamente que não existe nenhum caminho do homem para Deus. Nenhum caminho que possa levar o homem até Deus. Só existe um caminho de Deus até o homem e esse caminho se chama Jesus. E eu estava naquele quarto de hotel quando a luz do Senhor brilhou no meu coração e o meu grito naquela madrugada, às três horas da manhã, era ‘ele me ama, ele me ama, ele me ama’”, lembrou.
“Outro sujeito que estava no quarto comigo não entendeu nada. Ele disse: ‘Cara, você está doido?’. Eu disse: ‘Não, eu descobri que Deus me ama. Ele me ama. Você não sabe de onde eu vim, eu conheço a Deus e Ele veio me encontrar aqui nesse quarto de hotel. Ele não esqueceu de mim, Ele não me abandonou, Ele não virou as costas para mim, ainda que eu tenha virado as coisas para ele em busca de outras respostas. Ele permaneceu me buscando até me encontrar aqui nesse quarto de hotel”, pontuou.

Confira o testemunho na íntegra (a partir de 8:00):


FONTE: GUIAME


Psicólogos poderão atender homossexuais que querem voltar a ser héteros

Até então, psicólogos poderiam ter seu registro profissional cassado, se atendessem homossexuais que quisessem mudar sua conduta sexual.

Psicólogos eram proibidos de atender homossexuais egodistônicos, conforme a Resolução 01-99, do CFP. (Foto: Reset.me)
Psicólogos eram proibidos de atender homossexuais egodistônicos, conforme a Resolução 01-99, do CFP. (Foto: Reset.me)

Uma decisão recente da Justiça Federal da Seção Judiciária do Distrito Federal pode significar uma considerável vitória para a liberdade profissional dos psicólogos e também um avanço para homossexuais egodistônicos (aqueles que se mostram insatisfeitos com sua atual conduta sexual e querem ajuda para se reorientar).
Na última sexta-feira (15), a Justiça divulgou uma decisão liminar sobre a Resolução 01/99, autorizando psicólogos a atenderem homossexuais nesta situação de insatisfação com sua atual conduta sexual.
A decisão foi proferida após uma ação popular ter sido apresentada por um grupo de mais de 30 psicólogos, que lutavam pelo direito de atender, também homossexuais egodistônicos. O documento tramitava desde 2014 e citava o caso da paranaense Marisa Lobo e da carioca Rozângela Justino, que foram perseguidas pelos Conselhos Regionais e Federal, acusadas de "promover a cura gay" em seus consultórios.
Confira imagens do documento da ata oficial de audiência, às quais o Guiame teve acesso:




"Sendo assim, defiro, em parte, a liminar requerida para, sem suspender os efeitos da Resolução nº 001/1990, determinar ao Conselho Federal de Psicologia que não a interprete de modo e impedir os psicólogos de promoverem estudos ou atendimento profissional, de forma reservada, pertinente à (re) orientação sexual, garantindo-lhes, assim, a plena liberdade científica acerca da matéria, sem qualquer censura ou necessidade de licença prévia por parte do C.F.P., em razão do disposto no art. 5º, inciso IX, da Constituição de 1988", disse o juiz federal Waldemar Cláudio de Carvalho em sua decisão.
Após a decisão liminar ser proferida, o Conselho Federal de Psicologia (o qual tinha primeiramente formulado primeiramente a Resolução que limitava a liberdade profissional dos psicólogos) publicou uma nota, na qual chamou o posicionamento da Justiça de "equivocada".
"Justiça Federal do DF preserva a íntegra do texto normativo, mas se equivoca ao definir como o Conselho Federal de Psicologia deve interpretar a resolução", destacou o texto publicado no site do CFP.
"A decisão liminar, proferida nesta sexta-feira (15/9), abre a perigosa possibilidade de uso de terapias de reversão sexual. A ação foi movida por um grupo de psicólogas (os) defensores dessa prática, que representa uma violação dos direitos humanos e não tem qualquer embasamento científico", acrescentou a nota do Conselho.
Ao final de sua nota, o Conselho Federal comunicou que ainda irá recorrer dessa liminar.
"O Conselho Federal de Psicologia informa que o processo está em sua fase inicial e afirma que vai recorrer da decisão liminar, bem como lutará em todas as instâncias possíveis para a manutenção da Resolução 01/99", afirmou.

Conquista
Segundo o advogado Leonardo Loiola Cavalcanti, a decisão da 14ª Vara Federal representa uma conquista, não somente para a psicologia, mas para a ciência de forma geral e também para o direito do consumidor.
"Dessa forma, todos os psicólogos podem atender os homossexuais egodistônicos, aqueles que não se aceitam em sua orientação sexual, sem o receio de serem punidos pelo Conselho Federal de Psicologia.
Viva a liberdade científica e o direito do consumidor!", afirmou o advogado em seu comentário sobre esta notícia.

FONTE: GUIAME, POR JOÃO NETO


terça-feira, 19 de setembro de 2017

Aborto: um contrassenso fatal

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A prática do aborto é uma ação recorrente na sociedade. Sua repetição, porém, não a torna livre de controvérsia, mas lança luz sobre a necessidade de se investigar seus subsídios, científicos e filosóficos, que, supostamente, justificam tal atitude.

Inicialmente, Geisler (2010, p. 153) explica que há três posições básicas sobre o aborto. A primeira diz que os nascituros são subumanos, o que possibilita a prática indiscriminada de aborto. Outros entendem que os nascituros são plenamente humanos e não aceitam a prática do aborto. Por fim, há os que argumentam que os nascituros são potenciais humanos, podendo o aborto ser praticado em situações específicas.

No presente texto, contrapor-se-á a primeira posição com a segunda, defendendo-se essa última, de que o feto é um ser humano que ainda não se desenvolveu de todo, mas que não pode ser abortado, isto é, sua vida deve ser preservada.

Em geral, os pró-aborto pressupõem que o nascituro não é uma pessoa humana real. Segundo Geisler (2010, p. 155), argumentam que o bebê não é um ser humano até possuir autoconsciência; que ele é uma extensão do corpo da mãe, de modo que ela tem o poder de decidir sobre seu corpo, inclusive sobre a do feto; que as mulheres devem ser protegidas da precariedade de clínicas abortivas ilegais; que as crianças não planejadas e indesejadas poderiam ser prevenidas de negligência; que fetos de má formação devem ser evitados para a preservação da raça humana; que se é impossível saber quando a vida começa; que o conceito de pessoa é um consenso social, implicando que o indivíduo só se torna pessoa quando a sociedade o aceita assim. Vejamos.

Da vida fetal

É recorrente o argumento que a ciência prova que o feto não é pessoa. Mas qual a validade desse argumento?

Razzo (2016, p. 75) argumenta que o cientista que observa os processos biológicos de um feto não pode julgar, em termos científicos, a pessoalidade ou impessoalidade de um ente, já que esse é um debate filosófico. Ou seja, o feto não pode ser avaliado, em termos qualitativos, pelos processos biológicos que determinam a dignidade do homem ou seu valor como pessoa.

O ponto crítico é a tentativa de se usar da biologia para se legitimar um posicionamento ético-moral. Abortar ou não é uma decisão humana, da bioética (ramo da ética filosófica), não é uma determinação que possa se sustentar sobre argumentos científicos.

Com efeito, esse é um debate de valor, como aponta Razzo (2016, p. 77):
A descrição em termos físicos e biológicos pode explicar como o ser humano funciona em termos físicos e biológicos. Mas não basta para explicar o que o ser humano é. E pela maneira como experimentamos a nós mesmos, podemos concluir que, no que diz respeito ao ser, está implícito um valor.
Nesse sentido, os processos biológicos não abrangem a experiência humana subjetiva (consciência), de modo que reduzir a esfera de debate filosófica à biológica é inadequado. Julgar, biologicamente, que o embrião não tem consciência, enquanto valor antropológico, é inferir além do que os processos empíricos analisados podem oferecer. Por isso, “o alguém (a pessoa humana) nunca será um tema da biologia, mas tão somente da antropologia filosófica” (RAZZO, 2016, p. 81).

Desse modo, é inválido dizer que o bebê não é, cientificamente, uma pessoa e que tal conceito é um consenso social.

Da engenharia social

A prática abortiva constitui-se um elemento importante de uma “engenharia social”, em que se afirma que algumas pessoas são quem controlam a vida e a morte, de acordo com seus próprios parâmetros.

Com efeito, esse pensamento demonstra uma espécie cruel de seletividade. Ilustrativamente, quando, como pontua Platt (2016, p. 85), a princesa britânica Kate ficou grávida, as pessoas não se referiam a ele como uma “célula embrionária não diferenciada”, nem como “uma massa informe gelatinosa” ou “pedaço de tecido”, mas como um bebê “real” (da realeza).

Nessa esteira, pais poderiam ter o direito de abortar caso descubram no ventre da mãe que o filho tem Síndrome de Down, ou alguma doença rara, ou alguma inaptidão física. A permissão de se escolher fetos dentro de um padrão de qualidade tem antecedentes lógicos nas práticas nazistas, eugenista, que pregava uma raça pura, sem imperfeitos ou socialmente inconvenientes.

Essa lógica é perversa. Como Carvalho (2013, p. 386) diz:
Se a condição de ser humano é uma convenção social, nada impede que uma convenção posterior a revogue, negando a humanidade de retardados mentais, de aleijados, de homossexuais, de negros, de judeus, de ciganos ou de quem quer que, segundo os caprichos do momento, pareça inconveniente.

Como meio de controle de natalidade, apoiada, por vezes, pelos responsáveis de clínicas de aborto, que lucram muito onde tal prática é legalizada, a prática abortista serve a interesses escusos que se conglomeram na determinação do direito básico à vida.

Nas palavras de Venâncio (2012, p. 113),
A lógica do aborto é sempre reificadora. No limite, pronunciar sentença de morte sobre um feto ou um idoso por doença é condenar a humanidade inteira, imperfeita, ao aniquilamento. Assim é que, todos os dias, em países que acolheram o aborto e a eugenia, somos postos fora displicentemente, como aparelhos danificados que não prestam mais.

Então, o aniquilamento de fetos mal formados para preservar a raça humana e a propagação de clínicas de aborto para sanar a precariedade do ato abortista são argumentos de finalidade obtusa e que servem a grupos que pensam em: ou remodelar a sociedade ou lucrar às custas de indefesos.

Do Direito Penal brasileiro

Se na modernidade, usando a noção kantiana de dignidade, o homem é um fim em si mesmo, ele tem tal dignidade que não pode ser ameaçada por outrem. Como defende Craig (2010, p. 125), “se o feto em desenvolvimento é um ser humano, então ele é dotado de valor intrínseco e, portanto, possui direitos humanos inerentes, incluindo o direito à vida”. O aborto seria um homicídio, exigindo-se, contra tal prática, a proteção da lei.

O Código Penal Brasileiro, em seus artigos 124 a 128, tipifica o crime de aborto. Apesar de sua pouca aplicação nos dias atuais, é notável que os defensores do aborto defendam a ação do Estado em promover tal prática, em flagrante apologia a um crime.

Bittencourt (2015) explica que o aborto abrange a expulsão prematura do feto e a interrupção do processo de gestação, resultando, necessariamente, na morte fetal. A gravidez deve estar em curso e o feto estar vivo. Com isso, o bem jurídico protegido pela legislação penal é a vida humana em formação.

Por isso, é crime provocar aborto em si mesma ou consentir que outrem provoque (art. 124). Quando terceiro, propositalmente, provoca o aborto, sem ou com o consentimento da gestante, também incorre em crime (art. 125 e 126).

Uma das grandes críticas feitas pelos favoráveis à descriminalização do aborto é que a normativa não alcança o aborto social, isto é, o abandono por parte dos pais que rejeitam seus filhos. Dirão que essa é uma punição apenas às mulheres. Porém, o fato é que, em caso de haver o aborto, o Estado não poderá punir o pai que pratica esse tipo de “aborto social”, já que não haverá objeto jurídico da relação a ser protegido, a dizer, a criança desassistida.

Então, é relevante que se mantenha a criminalização do aborto, já que o desincentivo a praticar tal ato poderá, por parte do Estado, ensejar em uma proteção legal à mulher e à criança nascida, notavelmente, pela cobrança de pensão alimentícia.

Assim, afora às exceções, em regra, o aborto é um crime contra a vida e dignidade humana. Atenta contra tais valores e princípios desde a concepção que é protegida por lei.

Do direito de escolha


É sabido que o Estado deve intervir em situações de flagrantes ameaças contra a vida da alguém. Com isso, ninguém pode ter o direito de planejar sobre o modo de por fim a vida de outrem.

Com a fecundação já existe um organismo vivo que, se for lhe dada a possibilidade de se desenvolver, tornar-se-á um adulto de sua espécie. Segundo Craig (2010, p. 126), o embrião humano tem autonomia completa do esperma e do óvulo não fertilizado. A combinação entre esses formam uma nova célula viva que é um indivíduo singular que nunca existiu antes e doutro modo jamais existiria.

Conforme Geisler (2010, p. 160), a partir da concepção, o feto passa a ter seu próprio sexo. Dos quarenta dias da concepção, eles possuem as próprias ondas cerebrais individuais. Em poucas semanas da concepção, os fetos possuem seu próprio tipo de sangue e impressões digitais. O bebê em formação é um “totalmente outro” em relação à mãe, ainda que ligado a ela para sua sobrevivência.

Como o desenvolvimento do feto é contínuo, não há ponto em que se possa alegar que o mesmo não é humano e pode ser interrompido. Traçar uma linha que defina um feto já ser humano de um que não é, constitui-se em uma arbitrariedade.

De acordo com Craig (2010, p. 129), “desde o momento de sua concepção e implantação na parede do útero da mãe, o feto nunca é uma parte do corpo da mãe, mas é um ser vivo biologicamente distinto e completo”.

Ilustrativamente, Platt (2016, p. 87) conta a história de Rachel, descrita por Gregory Koukl: Rachel nasceu prematura na 24ª semana de gestação da mãe. De tão pequena cabia na palma da mão de seu pai. Se um médico entrasse no quarto do hospital e tirasse sua vida na hora da amamentação, configurar-se-ia o homicídio. Entretanto, se a mesma menina estivesse no útero de sua mãe, a centímetros de distância, ela poderia ser, de acordo com o pensamento pró-aborto, morta para ser retirada sem que houvesse ilegalidade.

A contradição é que, por vezes, os defensores do aborto não o aceitam se forem aplicados aos animais, especialmente se estiverem ameaçados de extinção.

O aborto é um assassinato silencioso para muitas pessoas. Segundo Platt (2016, p. 81), além dos fetos impossibilitados de se desenvolverem e nascerem sem nenhuma chance de defesa, muitas mães carregam feridas profundas e cicatrizes amargas em sua vida.

De fato, o aborto legalizado é promovedor de mortes, de mães e fetos. Na realidade americana, por exemplo, o doutor Geisler (2010, p. 161) coloca que “o aborto tira a vida de aproximadamente 1.3 milhões de bebês nos Estados Unidos da América a cada ano desde o caso de Roe vs. Wade (1973)”.

Agora, por que quem defende o aborto não se coloca no lugar dos fetos que pretende eliminar? Por que quem defende o aborto esquece que também já foi um feto?

Na verdade, como argumenta Stott (2014, p. 422), “o aborto induzido é o assassinato de um feto, é a destruição deliberada de uma criança que ainda não nasceu, é um derramamento de sangue inocente”.

Portanto, é ilegítimo argumentar que o bebê não é um ser humano por não ter consciência, ou que a mãe pode decidir por abortá-lo, ou que o aborto é um direito pró-liberdade da mãe. Esses argumentos promovem a morte do feto, e, muitas vezes, a morte psicológica ou física da mãe.

In dubio pro fetu: um exercício de abstração

Cientificamente, alguns argumentam que o feto é mera extensão do corpo da mãe, outros que já é um ser humano. Porém, em âmbito científico propriamente, ninguém jamais provou a qualidade existencialdo feto, nem poderá fazê-lo.

Mesmo que a sociedade tenha pensamentos divergentes sobre se o feto é vida, argumenta Carvalho (2013, p. 384), “se há 50% de probabilidades de que o feto seja humano e 50% de que não o seja, apostar nesta última hipótese é, literalmente, optar por um ato que tem 50% de probabilidades de ser um homicídio”. Desse modo, ainda que a sociedade não concorde sobre a humanidade ou inumanidade do feto, extingui-lo do ventre materno é uma decisão moral ou imoral que é tomada em zona cinzenta. Arremata o autor referido (2013, p. 384), “apostar na inumanidade do feto é jogar na cara ou coroa a sobrevivência ou morte de um possível ser humano”.

Desse modo, se diante da incerteza do julgamento segue-se o princípio de “in dubio pro reo”, na dúvida decide-se a favor do réu, quanto à vida de um feto deve-se seguir o liame de “in dubio pro fetu”, isto é, na dúvida o julgamento tem de ser em favor do feto. Consequentemente, a única opção moralmente justificável é não praticar o aborto. Se a inumanidade não pode ser provada, abortar o feto é arriscar um desumano assassinato de uma possível vida.

Feto: a voz do sem voz

O feto é plenamente humano, de modo que as tentativas de tirar sua vida são assassinas e a defesa de tal retirada é uma apologia ao crime.

Os defensores do aborto são pessoas que, obviamente, nasceram e não foram abortadas. Como fruto da relação entre seres humanos, o feto é da mesma espécie, sendo, desde logo, humano.

Para Geisler (2010, p. 159), a “autoconsciência não é necessária para caracterizar um ser humano”. De fato, se o fosse, os que se encontram em estado de coma não seriam humanos. Para além disso,
Todos esses argumentos a favor do aborto também são aplicados a favor do infanticídio e da eutanásia. Se crianças nascituras podem ser mortas por causa de malformação, pobreza ou falta de desejo dos pais, então tanto crianças quanto idosos podem ser descartados pelas mesmas razões. (GEISLER, 2010, p. 178).

O brilhante escritor inglês G.K. Chesterton (1874-1936) escreveu o poema intitulado “By the Babe Unborn” (“O não nascido”) em referência a um bebê que não pode nascer. Da perspectiva do infante, o aborto é de fato uma tragédia. Já na parte final do poema, o bebê não-nascido, ilustrativamente, declara:

Que venham as tempestades: melhor é viver
em meio a luta e lágrimas
que todas as eras em que tenho
governado os impérios da noite
Penso que, se me deixassem
entrar e ficar no mundo,
eu seria bom durante o dia todo
que passasse nesta terra encantada.
Eles não ouviriam de mim uma só palavra
de egoísmo ou de desdém,
se eu apenas tivesse encontrado a porta,
se eu apenas tivesse nascido.¹

_______________________
Notas:
[1] Tradução de Norma Venâncio. A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã. 2012. p. 215-216.

Referências bibliográficas:
BITENCOURT, Cezar Roberto. Tratado de direito penal 2: parte especial: dos crimes contra a pessoa. – 15 ed. rev., ampl e atual. – São Paulo: Saraiva, 2015.
CARVALHO, Olavo de. O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota. Organização Felipe Moura Brasil – 5. Ed. – Rio de Janeiro: Record, 2013.
CRAIG, Wiliam L. Apologética para questões difíceis da vida. São Paulo: Vida Nova, 2010.
GEISLER, Norman L. Ética cristã: opções e questões contemporâneas. 2ª ed. – São Paulo: Vida Nova, 2010.
PLATT, David. Contracultura: um chamado compassivo para confrontar um mundo de pobreza, casamento com pessoas do mesmo sexo, racismo, escravidão sexual, imigração, perseguição, aborto, órfãos e pornografia. - São Paulo: Vida Nova, 2016.
RAZZO, Francisco. A imaginação totalitária: os perigos da política como esperança. 1. ed. Rio de Janeiro: Record, 2016.
STOTT, John. Os cristãos e os desafios contemporâneos. Viçosa, MG: Editora Ultimato, 2014.
VENÂNCIO, Norma Braga. A mente de Cristo: conversão e cosmovisão cristã. São Paulo: Vida Nova, 2012.

***
Sobre o autor: Anderson Barbosa Paz é seminarista do Seminário Teológico Betel Brasileiro. Bacharelando em Direito pela Universidade Federal da Paraíba. Congrega na Igreja Presbiteriana do Bairro dos Estados em João Pessoa-PB. Atua na área de Apologética Cristã, debatendo e ensinando.
Divulgação: Bereianos

Caso Santander: o que a nota da Mackenzie pode ensinar à arquidiocese de Porto Alegre

A se comparar a nota da universidade evangélica com a nota do arquidiocese gaúcha percebe-se quão omissa foi a manifestação da entidade católica

Pare, leia e Pense!
Foto: divulgação.

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Foto: divulgação.


As manifestações de repúdio à exposição abusiva do Santander Cultural não param e é difícil fazer menção a todas, mas a nota da Universidade Presbiteriana Mackenzie se sobrepõe às outras. É um primor.
Primeiro, por que uma universidade sediada em São Paulo teoricamente não teria a menor obrigação de se manifestar publicamente sobre um caso que, embora escandaloso, ocorreu em outro estado e não tem relação direta com seu campo de atuação. Certamente foi esse o raciocínio dos dirigentes de milhares de instituições “moralmente relevantes” que escolheram não dar um pio sobre toda aquela bizarrice. A espontaneidade da manifestação do presidente do Instituto Mackenzie, portanto, torna o ato muito mais honrado.
Em segundo lugar, por que ela é direcionada ao presidente do Santander. Não é mera ação de marketing trabalhada em redes sociais para acompanhar a maioria revoltada. É um ato que pretende resultado, pois mira em quem tem mais poder dentro daquele que agora é o banco com a pior fama no país.
E terceiro, por que é tremendamente bem escrita, elegante e firme. Traz argumentos sólidos e é dotada de uma clareza invejável.
Todas essas qualidades ficam muito mais evidentes quando se compara com a insossa e confusa nota emitida pela arquidiocese de Porto Alegre. A Igreja Católica, que foi a instituição mais violentada naquela exposição, foi muito mal representada pela arquidiocese da cidade onde ocorreu aquele escárnio. No site da instituição, o texto é sequer assinado pelo arcebispo local, dom Jaime Spengler, e, ao invés de manifestar repúdio, preferiu manifestar “estranheza”.
Parece que para o episcopado da capital gaúcha, hóstias pichadas com as palavras “vagina”, “vulva”, entre outras de mesma conotação, merecem “estranheza”, não repúdio. O mesmo vale para referências à Nossa Senhora com um macaco no colo, ou para uma imagem de Jesus com muitas opções de braços postiços, sendo alguns deles afeminados. A pintura da criança com os dizeres “Criança viada travesti da lambada” ou a que exibia uma dupla fazendo sexo com uma cabra também, não mereciam repúdio. Só “estranheza”.

Leiam as duas e comparem por si mesmos.

Primeiro a nota insossa:

Agora a que merece toda a nossa admiração:
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OBS: Parabéns ao Mackenzie pela coragem em se posicionar diante desta situação. Ao nosso Deus toda glória(Pr. Eli Vieira).

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Por Jônatas Dias Lima

Fonte: Blog da Vida


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