A Bíblia nos mostra, em
Efésios 2.1-3, uma imagem clara e sombria da nossa condição humana sem a
intervenção divina. Paulo descreve nossa vida como uma jornada na escuridão,
seguindo os caminhos deste mundo e as vontades do "príncipe da potestade
do ar". Éramos, por natureza, "filhos da desobediência", com
mentes e corações voltados para a satisfação de desejos pecaminosos. A
consequência dessa realidade era inevitável: éramos "por natureza, filhos
da ira", destinados a uma separação completa de Deus. Essa passagem nos
confronta com uma verdade difícil, mas essencial: a nossa condição inicial era
de morte espiritual, uma completa incapacidade de nos aproximarmos do Criador
por nossos próprios méritos.
Contudo, é aqui que o
Evangelho revela seu poder transformador. Em contraste com a nossa miséria
espiritual, o versículo 4 nos apresenta uma das frases mais belas das
Escrituras: "Mas Deus...". Essa conjunção muda tudo. A nossa história
não termina na morte, porque a grande riqueza da misericórdia de Deus e o seu
imenso amor por nós alteram radicalmente o nosso destino. Mesmo quando
estávamos mortos em nossos pecados, Ele, em sua infinita bondade, nos deu vida
juntamente com Cristo. Essa não é uma transformação gradual, mas um ato
instantâneo de ressurreição espiritual, um novo nascimento que nos tira da
escuridão e nos leva para a luz.
A transformação que a graça
opera não é parcial; ela nos eleva a uma nova realidade, como vemos nos
versículos 5 e 6. Por meio dessa graça, fomos não apenas salvos, mas também
ressuscitados e, mais ainda, "nos fez assentar nos lugares celestiais, em
Cristo Jesus". Isso significa que a nossa posição diante de Deus foi
completamente mudada. Não somos mais inimigos, mas filhos. Não estamos mais
separados, mas unidos a Ele. Estar "assentado nos lugares celestiais"
não é apenas uma promessa para o futuro, mas uma realidade presente que molda
nossa identidade. Em Cristo, temos acesso direto ao Pai, uma comunhão plena e
um status que jamais poderíamos ter conquistado por nossos esforços.
Para que não haja dúvida sobre
a fonte dessa transformação, o apóstolo Paulo é enfático nos versículos 8 e 9.
A salvação é "pela graça, mediante a fé". Não é o resultado de nossas
obras, do nosso bom comportamento ou de qualquer mérito pessoal. Se fosse
assim, teríamos motivo para nos orgulhar. Mas a salvação é um dom gratuito de
Deus, para que ninguém possa se vangloriar diante dEle. Essa verdade liberta,
pois nos tira o peso de tentar ser "bons o suficiente" e nos leva a
um lugar de humildade e dependência total da bondade divina. A graça não é um
prêmio para os merecedores, mas um presente para os indignos.
Finalmente, a transformação pela graça nos leva a um novo propósito. O versículo 10 nos revela que somos "feitura d'Ele", ou seja, a obra de arte de Deus. Fomos "criados em Cristo Jesus para as boas obras, as quais Deus de antemão preparou para que andássemos nelas". A graça não é apenas para nos salvar do pecado, mas para nos capacitar a viver uma vida que O glorifique. As boas obras não são o caminho para a salvação, mas o resultado natural de uma vida transformada. Elas são a evidência de que a graça de Deus está operando em nós, nos moldando para sermos instrumentos de Sua luz e amor neste mundo.
Pr. Eli Vieira

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