Imagem ilustrativa. Brasileiras são mantidas em cárcere privado na Turquia. (Foto: Freepik)
Missionária que já se colocou em risco afirma que algumas dessas mulheres hoje estariam mortas, não tivessem sido resgatadas.
A Turquia, o 6º país mais visitado do mundo, é também destino de diversas brasileiras solteiras e divorciadas. Influenciadas por novelas, filmes e séries turcas, elas acreditam que a vida imita a arte e que os turcos da vida real são tão românticos quanto os personagens da ficção. Na busca desse príncipe encantado, várias brasileiras chegam à Turquia acreditando que estão prestes a viver um conto de fadas.
Ao chegarem, percebem que foram enganadas e o luxo prometido infelizmente não existe. Algumas, após viverem sob ameaças, fome e violência doméstica, finalmente buscam ajuda. É nessa hora que uma missionária brasileira, que vive na Turquia e prefere manter o anonimato por questões de segurança, entra em ação.
Conforme a missionária, muitas dessas brasileiras que vão à Turquia com esse sonho, começam a perceber que algumas promessas começam a mudar.
“Alguns turcos se aproveitam da vulnerabilidade dessas brasileiras fazendo falsas promessas de uma vida melhor na Turquia, com casa, carro, sustento e tudo o que elas precisarem, como estão iludidas não percebem que tudo isso é na verdade um plano para tirar o dinheiro delas, pois depois de se casarem começam a dizer que infelizmente tiveram alguns problemas financeiros e precisam de um dinheiro emprestado para saírem dessa crise”, disse a missionária ao Guiame.
Voltar ou permanecer?
Infelizmente, muitas dessas brasileiras continuam iludidas e entregam todas suas economias nas mãos do “príncipe encantando”, mas segundo a missionária, a causa pela qual elas não voltam ao Brasil nesse primeiro instante envolve dois fatores:
“Várias me disseram que não iriam voltar ao Brasil, pois antes de embarcarem para cá, parentes e amigas as aconselharam a não virem, e a maioria delas não querem aceitar e expor o fato de que todos estavam certos. Eu acredito que o orgulho fala alto nessa hora, criando um bloqueio para que não retornem ao Brasil.Aqueles que julgam essas mulheres acabam se esquecendo do contexto espiritual que vivemos aqui: um país 99% islâmico e apenas 1% cristão.Esse contexto espiritual é o segundo fator, que acaba criando uma prisão mental para que essas brasileiras permaneçam por aqui.”
Nada é tão ruim que não possa piorar
Entregar todas as finanças nas mãos de alguém do qual conheceram pela internet, segundo a missionária, ainda não é o pior a acontecer com elas.
“Fico muito triste, pois essas brasileiras só buscam ajuda no Consulado Brasileiro de Istambul quando a situação chega em um nível bem crítico. Uma vez que elas entram em contato com eles, o Consulado faz contato comigo para que eu possa ajudar essas mulheres. Houve uma vez em que chegou para mim o caso de uma brasileira que já estava vivendo em situação de cárcere privado, pois o marido saía para trabalhar e deixava a mãe e um irmão vigiando, para que ela não escapasse. Ele até disse que se houvesse alguma tentativa de fuga, ele esfaquearia a própria perna, iria então à polícia e a acusaria, fazendo-a passar o resto da vida em uma cadeia turca”, relatou a missionária.
Mais 15 minutos
“Quando escutei todo esse relato não pensei duas vezes e fui resgatá-la. No meio do trajeto, o taxista errou o caminho, o que fez com que o percurso ficasse 15 minutos mais longo. Ao chegarmos lá, apenas a sogra turca estava em casa. Eu e mais uma obreira entramos rapidamente na casa em que ela estava, e a levamos para o táxi. A sogra, ao perceber que a estávamos levando, começou a gritar, mas sem darmos ouvidos a ela saímos correndo; e foi ali no táxi que percebemos o milagre que Deus acabara de fazer, pois ela disse que 15 minutos antes da nossa chegada, o cunhado havia saído para ir ao mercado”, continuou a missionária.
“E comecei a pensar que se não fosse aquele erro do taxista que tornou o caminho mais longo, não saberíamos como é que esse resgate iria acontecer”, ela ponderou.
Além desta, a missionária já resgatou outras cinco brasileiras. Algumas tiveram que pular a janela para fugir, em outros casos a polícia precisou ser acionada pois o marido turco estava armado, mas o que ela ressalta é que em cada um desses resgates ela viu as mãos de Deus operando milagres.
Depois do resgate
A missionária, junto à organização da qual faz parte, mantém uma casa abrigo onde leva essas brasileiras para prestar os primeiros cuidados, seja ele físico, psicológico ou espiritual.
“Houve ocasiões que não tínhamos espaço para receber novas mulheres em nossa casa abrigo, então não pensava duas vezes e as levava para minha casa. Para mim não há sensação melhor do que vê-las desfrutar da simples liberdade, fazerem uma refeição e escutar que aquilo era um luxo do qual não viviam há muito tempo, pois algumas estavam vivendo apenas com uma refeição diária”, conta.
Uma vez que essas mulheres recebem os primeiros cuidados, a missionária passa para a segunda etapa, que é levantar os recursos para as passagens de retorno delas ao Brasil.
“Me alegra o fato de sabermos que a igreja brasileira tem se envolvido nesses resgates, seja nos ajudando a manter a casa abrigo, ou na compra das passagens, e o que mais me traz ânimo para seguir em frente é saber que, neste momento, essas mulheres resgatadas estão no Brasil em segurança, reconstruindo suas vidas”, a missionária afirma. “A penúltima mulher que resgatamos já até reabriu o salão de cabeleireiro da qual tinha vendido antes de se mudar para a Turquia e nos escreveu dizendo que já voltou para a igreja e está levando uma vida de consagração e retidão perante Deus.”
Sobre o futuro
Como esse não é um projeto em que existem dias ou horários específicos para ocorrer, a missionária não sabe nos dizer quando o seu celular irá tocar com um novo pedido de resgate, mas de algo ela tem certeza:
“Estarei disposta a ser o instrumento de Jesus para esse resgate, pois assim como Ele fez, quero também entregar minha vida em resgate de muitas.”
* Por questões de segurança, não divulgaremos o nome da missionária, nem das brasileiras resgatadas.
FONTE: GUIAME, LUKAS C. F.
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