sexta-feira, 19 de agosto de 2022

HELEN ROSEVEARE – DECEPÇÕES TRANSFORMADAS EM BENÇÃOS

 



 No momento em que Jesus lavava os pés dos discípulos, junto à reação de Pedro para que os seus pés não fossem lavados pelo Mestre, Jesus fez uma importante declaração: “O que eu faço não o sabes agora; compreendê-lo-ás depois” (Jo 13.7).

Nem sempre entenderemos o porquê das coisas no momento, só depois. A vida da missionária inglesa Dra. Helen Roseveare é um grande atestado dessa verdade. Em 1953 navegou para o Congo, enfrentando já três problemas: era mulher, era branca e solteira.

Helen foi profundamente discriminada pelos nativos e pelos colegas da Cruzada de Evangelização Mundial. Seu alvo principal era evangelizar os nativos. Decidiu criar um centro preparatório de enfermeiras, para aprenderem a Bíblia e medicina básica para atenderem às carências espirituais e físicas da população. Após o treinamento, seriam enviadas de volta às suas cidades a fim de tratar dos casos de rotina e ensinar cuidados médicos preventivos, enquanto serviam como evangelistas leigas.

Construiu, nos dois primeiros anos, na cidade de Ibambi, um Hospital-Escola, com muito sacrifício. Para a sua decepção, em 1955, a Missão a tirou daquela frente de trabalho, e foi forçada a se mudar para outra cidade, Nebobongo. Tudo o que ela fez foi praticamente tomado de suas mãos. Assumiu o novo trabalho em uma maternidade abandonada e um centro de tratamento de leprosos. Tomou aquele centro e o transformou em um hospital com mais de 100 leitos, cuidando de parturientes, leprosos e crianças. Fez ali, também, um centro de treinamento para paramédicos e 48 clínicas rurais. Infelizmente tudo isso parecia causar muito ciúme nos demais missionários.

Ela escolheu um idoso pastor africano para ser seu conselheiro espiritual. Era inaceitável para seus colegas verem um missionário se humilhar para um africano, e o estabelecer como seu conselheiro. A Missão, por sentir que ela era uma ameaça, em 1957, decidiu deslocar um médico novo, Dr. Harris, para ser o superior dela naquele hospital que ela mesma construíra.

Muito esgotada, em 1958 rumou para a Inglaterra para um ano sabático, até pensando em não voltar, por sofrer tanta humilhação da parte da sua própria equipe. Todavia ela retornou, por entender o seu chamado.

Em 1960, o Congo se tornou independente da Bélgica, e em 1964 estourou uma guerra civil, que resultou numa grande aflição para os missionários. Todo o hospital em Nebobongo foi destruído, e juntamente com os missionários foi detida e colocada numa casa pela força rebelde. Depois foram todos levados para uma prisão.

Todos os brancos que estavam no país sofreram retaliação dos rebeldes negros. Helen foi muito espancada, machucada e estuprada. Sentiu naquela ocasião que Deus a tinha abandonado. Mas nisso tudo ela teve uma experiência bem mais profunda com o Senhor e entendeu Deus falando ao seu coração.

Começou a sentir um grande privilégio de sofrer por Cristo ali no campo missionário. Então ela foi levada de volta para sua pátria. Em 1966, retornou para o Congo, na convicção de seu chamado como médica-missionária, para o posto de treinamento dos nativos. Deixou Nebobongo para construir um novo centro médico em Nyankunde, e ali fez um hospital para 250 leitos, enfermarias para maternidade, escola de medicina, centro de tratamento de leprosos e outros vários investimentos.

Claro que ela enfrentou outras várias dificuldades. Num país africano, sua autoridade “branca” era questionada continuamente, o que a levou a sentir-se decepcionada e um pouco abandonada. Ainda assim, ficou mais sete anos na África. Ela entendeu que seus 20 anos ali terminaram numa tragédia, pela ótica humana.

Em 1973 retornou ao Reino Unido, estabelecendo-se na Irlanda do Norte. Nesse tempo, escreveu vários livros. O que ela não sabia é que Deus, a partir de agora, querida usá-la como uma conferencista internacional, falando sobre o desafio missionário. Ela foi tão usada por Deus a partir daí que fez, talvez, mais do que fizera na África.

Toda a sua decepção se converteu numa grande bênção. Deus sempre faz assim com seus servos: transforma grandes decepções em fontes inesgotáveis de bênçãos para o seu reino. Helen faleceu em 2016.

Rev. José João de Paula

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