terça-feira, 14 de junho de 2022

O que é o ISWAP(Estado Islâmico da Província da África Ocidental) ?

 



Entenda como atua o grupo Estado Islâmico da Província da África Ocidental

Um dos resultados da ação do ISWAP é o crescimento de deslocados em países como o Chade

ISWAP é a sigla em inglês usada para denominar o grupo extremista Estado Islâmico da Província da África Ocidental. O grupo é uma facção afiliada ao Estado Islâmico (EI), que dominou países como Síria e Iraque em 2014. Essa ramificação atua no Oeste Africano em países como Burkina FasoCamarõesChadeMaliNíger e Nigéria.

Qual o objetivo do Estado Islâmico da Província da África Ocidental?

O objetivo do ISWAP é o mesmo do EI, estabelecer um califado, ou seja, um estado governado de acordo com a interpretação radical da sharia (conjunto de leis islâmicas). O líder desse governo é o califa e seria o representante de Alá na terra, por isso todos os demais países muçulmanos devem obedecê-lo.

Para que esse plano aconteça, os jihadistas utilizam a violência para eliminar todos que são considerados infiéis, ou seja, os não muçulmanos que, segundo os jihadistas, desejam impedir a dominação do islã no mundo. De acordo com suas crenças, a batalha com os governos locais faz parte dos confrontos do final dos tempos, descritos nas profecias apocalípticas da religião.


A força militar dos governos no Oeste Africano não consegue conter a ação dos jihadistas

Quando surgiu o Estado Islâmico da Província da África Ocidental? 

O ISWAP surgiu em 7 de março de 2015, quando o líder do grupo Boko Haram, Abubakar Shekau, jurou lealdade ao Estado Islâmico (EI) no Iraque e ao Levante na Síria. Nesse período, o nome foi mudado para Estado Islâmico da Província da África Ocidental.

No mesmo mês, o EI aceitou a promessa e o porta-voz do grupo, Abou Mohamed al Adnani, orientou os membros expulsos do Iraque e da Síria a viajarem para a África Ocidental, com o objetivo de treinar os insurgentes em assuntos como técnicas de combate, fabricação de armas artesanais e manuseio de explosivos.


Em agosto de 2016, os líderes do EI escolheram Abu Musab al-Barnawi como o líder do ISWAP. Mas houve conflitos internos e o grupo se dividiu em duas facções: ISWAP, liderada por al-Barnawi, e Boko Haram, liderada por Shekau. 

Desde a formação, o grupo ataca vilas e até bases militares. Além de assassinar pessoas, muitos delas cristãs, o ISWAP sequestra estudantes e trabalhadores humanitários.

Como o Estado Islâmico da Província da África Ocidental é financiado?

Um ano após a filiação, o ISWAP recebia uma quantia de 500 mil dólares do Estado Islâmico (EI) a cada quatro meses. Em 2018, o grupo radical já não precisava mais de dinheiro externo, pois era capaz de se autofinanciar.

O ISWAP recolhe impostos nos territórios onde domina e também é um dos principais produtores e distribuidores de peixe seco, arroz e pimenta. Há uma estimativa de que os jihadistas recebam de 2 a 3 milhões de dólares mensalmente.

Quantos combatentes o Estado Islâmico da Província da África Ocidental tem?

De acordo com estimativas da CIA, o ISWAP tinha 7 mil membros em junho de 2016. Em 2018, o Centro de Combate ao Terrorismo acreditava que a facção tinha de 3.500 a 5 mil combatentes. Mas em 2019, o pesquisador Vincent Foucher, do Centro Nacional Francês de Pesquisa Científica, garantiu que os números eram entre 2.500 a 5 mil homens.

Os soldados do ISWAP têm o conhecimento sempre atualizado. Eles costumam participar de treinamento militar também na Líbia e receberam jihadistas líbios como instrutores.

Quem são os soldados do ISWAP?

De acordo com o site de notícias Deutsch Weller (DW), os jihadistas que estão no controle ao redor do Lago Chade, por exemplo, têm uma relação profunda com as comunidades. O governo islâmico deles promete segurança, disciplina, lei e ordem em uma região de fraca presença do Estado, onde a pobreza é extrema e a oportunidade de melhores condições de vida é nula.


Os jovens decidem fazer parte de grupos extremistas como maneira de mudar de vida e garantir a segurança social (foto representativa)
Para os jovens na região, juntar-se ao ISWAP é uma maneira de melhorar e dar um sentido à vida. Em entrevista ao DW, o analista político nigeriano, Bulama Bukarti, afirmou que a propaganda é crucial para o crescimento do grupo. Uma prova disso é o testemunho de que um homem escolheu servir o Estado Islâmico da Província da África Ocidental  porque o grupo mostrou qual farda ele usaria durante as batalhas.

Os homens recrutados costumam ser das regiões que serão dominadas, por isso eles têm vantagem quando o assunto é conhecer a área, em detrimento das forças de segurança nacionais e regionais. Essa estratégia é fundamental para que o ISWAP tenha sucesso.  

Como o ISWAP persegue cristãos no Oeste Africano?

O Estado Islâmico da Província da África Ocidental deseja acabar com a presença cristã onde atua. Por isso, utiliza a violência para atacar e destruir vilas, igrejas e prédios cristãos, como hospitais e escolas. Outra maneira de expandir a ação é assassinar homens e jovens cristãos e sequestrar mulheres e crianças.

De acordo com os dados da Lista Mundial da Perseguição 2022, o grupo contribuiu com boa parte das 4.659 mortes de cristãos, que aconteceram entre 1 de outubro de 2020 a 30 de setembro de 2021, na Nigéria.

Fonte: Portas Abertas

segunda-feira, 13 de junho de 2022

O que é a Igreja Perseguida?

 


Por meio da sua oração e doação, você ajuda os cristãos perseguidos a se manterem firmes na fé

Entenda o que os cristãos perseguidos enfrentam e saiba como fortalecê-los

Quando os cristãos ao redor do mundo têm os direitos negados, por escolherem seguir a Jesus, eles se tornam vulneráveis a hostilidades em diferentes esferas da vida: vida privada, família, comunidade, nação e igreja. Isso faz com que eles sejam considerados cristãos perseguidos e pertençam à Igreja Perseguida. De acordo com os dados da Lista Mundial da Perseguição 2022, coletados entre 1 de outubro de 2020 e 30 de setembro de 2021, mais de 360 milhões de cristãos no mundo enfrentam algum tipo de oposição como resultado da identificação com Cristo.

Essa perseguição religiosa ocorre quando os seguidores de Jesus não têm os direitos de liberdade religiosa garantidos; a conversão ao cristianismo é proibida devido a ameaças vindas do governo ou de grupos extremistas; nossos irmãos são forçados a deixar as casas ou empregos por medo da violência; os cristãos são agredidos fisicamente ou até mesmo mortos por causa da fé; os irmãos são presos, interrogados e, por diversas vezes, torturados por se recusarem a negar a Jesus.

Qual a diferença entre Igreja Perseguida e Igreja Sofredora?

Em 2002, a Portas Abertas realizou uma reformulação da identidade corporativa a fim de ressaltar a fundamentação bíblica de nossa atuação. Nesse processo, nos deparamos com a necessidade de fazer uma distinção clara entre sofrimento e perseguição.

Sofrimento é algo passivo, enquanto perseguição é algo ativo. É por isso que falamos sobre os cristãos perseguidos ou a Igreja Perseguida, deixando de usar as expressões cristãos sofredores ou Igreja Sofredora no contexto do ministério da Portas Abertas.

Sofrimento implica em todos os esforços e sacrifícios assumidos para que a missão cristã seja cumprida, independentemente do local onde o cristão viva. Ou seja, todos os cristãos envolvidos na vida da igreja podem se considerar cristãos sofredores. O sofrimento também pode vir de situações variadas de angústia, como doenças, questões familiares, problemas financeiros etc. Então dizemos que é sofrimento quando tais situações não são resultado direto de professar a fé cristã.



Igreja na Nigéria, onde a Portas Abertas trabalha em prol dos cristãos perseguidos

Já a perseguição implica em todos os tipos de injustiça, de maus-tratos e desrespeito aos direitos humanos com o objetivo de impedir a proclamação do evangelho, seja por parte de um indivíduo, grupo ou comunidade.

O foco da Portas Abertas é apoiar a parte do corpo de Cristo que é perseguida. É por isso que quando a Portas Abertas é solicitada a atender cristãos que estejam sofrendo, mas não estão vivendo sob perseguição, ela busca fazer o contato com alguma outra missão ou organização voltada a atender aquele tipo de fonte de sofrimento. Reconhecendo, assim, a importância de que irmãos que estejam sofrendo também recebam a ajuda adequada.

O que é o Domingo da Igreja Perseguida (DIP)?

O Domingo da Igreja Perseguida (DIP) é um movimento de oração em favor dos cristãos perseguidos idealizado pelo Irmão André, fundador da Portas Abertas. Atualmente, estima-se que mais de 360 milhões de cristãos enfrentam algum tipo de perseguição.

O DIP acontece no Brasil desde 1988 e tem como objetivo servir aos cristãos perseguidos por meio da oração e contribuição para fortalecê-los em meio a adversidades, além de conscientizar a igreja brasileira a respeito da hostilidade enfrentada por nossos irmãos e irmãs. Milhares de igrejas do Brasil participam do DIP por entenderem que um dos papéis fundamentais que exercemos como igreja, em um país livre, é interceder por nossos irmãos perseguidos, que não desfrutam da mesma liberdade de adorar sem medo. 

Como é possível participar do DIP?

A participação da sua igreja no DIP consiste em um compromisso de mobilizar os membros para orar e agir em favor dos cristãos presos nos países da Lista Mundial da Perseguição. Esse tempo dedicado à Igreja Perseguida pode acontecer antes, durante ou após o culto. Cada igreja local decide o formato que o DIP terá.

A data da realização do DIP pode variar a cada ano, pois acontece no domingo após o Pentecostes. Isso porque o relato bíblico de Atos 4 marca o início da perseguição aos cristãos logo após a descida do Espírito Santo, com a prisão de Pedro e João. Simbolicamente, então, podemos dizer que esse foi o “início” da Igreja Perseguida.



Após cadastrar sua igreja no DIP, você terá acesso aos materiais exclusivos para a realização do evento

O primeiro passo para participar é pedir autorização para o pastor da sua igreja. Depois é só se cadastrar em nosso site, no qual você terá acesso a um manual de como realizá-lo, além de diversos materiais exclusivos na área restrita do site para ajudar na realização do evento. Realizando o DIP em sua igreja, você dará a oportunidade de mais cristãos conhecerem sobre a causa da Igreja Perseguida e, o mais importante, poderá interceder e agir para que o Senhor fortaleça nossos irmãos que enfrentam perseguição por amor a Jesus.

Como posso ajudar a Igreja Perseguida?

Há muitas maneiras de servir aos cristãos perseguidos, mas a oração é o principal pedido deles à igreja global. Você também pode ser um voluntário, engajando-se em divulgar as necessidades e pedidos da Igreja Perseguida em sua comunidade cristã e entre amigos. Também é possível doar para projetos que apoiam os seguidores de Jesus em mais de 60 países.

Ao se tornar um parceiro Portas Abertas, você pode mudar a vida de um cristão perseguido ao redor do mundo


Nosso trabalho só é possível com o apoio de milhares de parceiros, pessoas como você, que decidiram apoiar a causa. A Portas Abertas é a ponte que conecta você, parceiro, àqueles a quem servimos, os cristãos perseguidos. Enquanto você socorre nossos irmãos apoiando esse trabalho, sua fé é aprofundada e enriquecida com os testemunhos de transformação.

Faça parte do grupo de pessoas que está fazendo a diferença na vida de milhões de cristãos perseguidos. Ao realizar qualquer doação em nosso site você se torna um parceiro e recebe de presente a Revista Portas Abertas, na qual você lerá testemunhos impactantes dos cristãos perseguidos apoiados pela missão.

LIÇÕES SOBRE LIDERANÇA PASTORAL

 












Se liderança é uma arte, confesso que muitas vezes me vejo desprovido de qualquer veia artística nessa área. Se o seu exercício for comparado a uma maratona, me sinto arrastando na pista, enquanto outros me ultrapassam rapidamente. Todavia, contrário aos que acreditam que liderança é um “dom nato”, defendo a tese de que o Deus que vocaciona é o mesmo que capacita seus servos para essa atividade. Isso é especialmente verdadeiro em se tratando de liderança pastoral. Parte do processo de capacitação inclui o aprendizado com outros líderes mais experientes e mais capacitados para esse ministério.

Nesse sentido, tenho sido especialmente abençoado pelas ministrações do Dr. Guy Richardson, no módulo de Liderança Pastoral, que faz parte do Programa de Doutorado em Ministério (DMin) na parceria entre o Reformed Theological Seminary (RTS) e o Centro Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper (CPAJ). Guy é um grande amigo e alguém que geralmente tenho o privilégio de traduzir em sala de aula naquela disciplina. Até antes de sua aposentadoria em meados de 2021, ele foi diretor presidente do RTS-Jackson, por quase 22 anos. Mas sua experiência em liderança também incluiu a coordenação do Programa de Aconselhamento nas unidades do RTS-Jackson e RTS-Orlando. Atualmente Guy continua na direção de outras instituições internacionalmente conhecidas, como, por exemplo, a RUF – Reformed University Fellowship. No entanto, as aulas ministradas por ele não se fundamentam apenas em suas experiências pessoais, mas em seus estudos acadêmicos e reflexões sobre esse importante assunto. 

As aulas ministradas por Guy têm me ensinado e desafiado em vários aspectos. Destaco aqui quatro lições nem sempre encontradas em livros sobre liderança pastoral, mas extremamente úteis à dinâmica do pastoreio do rebanho de Cristo.

1. Pastor, você lidera um exército de voluntários

Muitos problemas e tensões em liderança pastoral provém da incompreensão de alguns pastores quanto ao grupo liderado por eles. Lamentavelmente, alguns pastores esperam que suas ovelhas respondam ao trabalho a ser desempenhado da mesma maneira que um assalariado procede na empresa onde foi contratado. Essa expectativa empresarial requer dedicação e comprometimento contratual que, na realidade, não possui fundamento. O assalariado trabalha motivado por um ganho salarial, expectativas de promoções e deveres estabelecidos no contrato de trabalho. O assalariado é responsável por apresentar boa produtividade, número de horas trabalhadas e, muitas vezes, obediência passiva a seus superiores. Nada disso prevalece no universo das atividades voluntárias!

O voluntário não pauta suas atividades por demandas contratuais. No geral, ele é motivado para trabalhar por um ideal a ser atingido. Essa motivação é alimentada pelo benefício resultante de suas ações e o reconhecimento por parte daqueles com quem colabora. Se o voluntário não percebe o valor de seu trabalho, logo desanima e desiste. Assim, a função do líder pastor consiste, em grande medida, em ajudar a manter o interesse do voluntário no trabalho a ser realizado. Voluntários precisam saber que são participantes não apenas de uma tarefa, mas de um projeto maior.

Como líder, o pastor precisa desenvolver paciência e boa compreensão em relação ao seu exército de voluntários. Embora o pastor lidere pessoas com grandes potenciais, essas mesmas pessoas possuem agendas e recursos limitados na execução de suas tarefas. Além disso, ele necessita aprender a motivar pelo exemplo e empolgação com o trabalho a ser realizado, nunca se esquecendo de ser um encorajador de seus liderados.

2. Gentileza é mais importante em liderança do que imaginamos. Muito mais!

Infelizmente alguns líderes, inclusive cristãos, se esquecem de praticar gentileza e generosidade em relação aos seus liderados. A mentalidade de celebridade do líder pode levá-lo a exigir que outros sejam gentis com ele, enquanto desconsidera seu dever em relação aos outros. Isso já parece tão comum na sociedade que algumas pessoas até se surpreendem quando notam gentileza em seus líderes. Mas no contexto da igreja a gentileza deve sempre ser uma norma, principalmente na liderança pastoral.

Algo que o pastor precisa sempre se lembrar é “as pessoas não se interessam pelo quanto sabemos até que saibam, de fato, o quanto nos interessamos”. Em suas aulas, Guy Richardson normalmente lembra seus alunos que nosso interesse pelas pessoas é mais efetivamente comunicado nas expressões de generosidade e gentileza com elas. Algumas de suas sugestões para a prática nesse sentido incluem: lembrança de datas de aniversário de membros do rebanho, o envio de mensagens de encorajamento a pessoas em situações difíceis, visitação de enfermos e enlutados, celebração de ocasiões especiais, auxílio financeiro quando possível, etc. Essas pequenas ações podem ser extremamente importantes para solidificar a confiança e determinação de alguns em seguirem a liderança do pastor. No geral, as pessoas seguem um déspota por medo, mas alegremente seguem um líder gentil por amor.

3. As pessoas que parecem menos importantes são, de fato, mais valiosas do que consideramos

Em 1974, Francis Schaeffer publicou uma série de dezesseis sermões sob o título: No little people [Não há pessoas pequenas]. Nessa obra ele esclarece que a perspectiva bíblica sobre as pessoas é muito diferente da cultura ao redor. Schaeffer lembra os leitores de seu livro que: “Não há pessoas pequenas aos olhos de Deus”. Todavia, diferente de Schaeffer, vários líderes tentam minimizar a importância de seus liderados, tratando-os quase como se eles fossem “descartáveis”. O líder dedicado, porém, notará que aqueles que parecem menos importantes são extremamente valiosos. Uma frase que Guy sempre repete em suas aulas é que “quanto mais elevado o cargo e função desempenhamos, mais dependentes somos dos que estão sob nosso cuidado e liderança”.

O pastor sábio procurará atentar para as pessoas que parecem menos importantes em seu rebanho. Por exemplo, ele prestará atenção e interesse especial pelas crianças, chamando-as pelo nome e cumprimentando-as sempre que se encontra com elas. O próprio Jesus ensinou que devemos atentar para os pequeninos (cf. Lucas 18.15). Também, o pastor poderá atentar para os menos favorecidos em seu rebanho e receber a esses com o mesmo entusiasmo e alegria com os quais ele recebe os mais abastados. Cada pessoa é importante para Deus, para o rebanho e para o sucesso do trabalho do pastor, inclusive aqueles que parecem menos importantes. O pastor deve “velar” pela alma de todos, pois ele prestará contas a Deus por cada ovelha de seu rebanho (cf. Hebreus 13.17).

4. O líder não é avaliado apenas pelo que ele faz, mas também pelo que deixa de fazer

Normalmente estamos conscientes que seremos avaliados pelas nossas palavras e ações. Isso faz com que sejamos cuidadosos com aquilo que falamos e fazemos. Mas as pessoas sob nossa liderança também nos julgam pelo que deixamos de fazer, seja isso positivo ou negativo. O melhor nesse caso é que elas percebam as coisas negativas que deixamos de fazer, pois, isso reforça nosso comprometimento com o progresso de cada uma delas.

As pessoas notam como o pastor trata suas ovelhas, especialmente se ele recusa cometer alguns erros comuns de outros líderes. Por exemplo, se ele evita tratar as pessoas de maneira pejorativa, se ele não trata seus liderados com opressão e imposições, se ele luta para não ser um peso para o seu rebanho, se ele luta para não agir como um dominador das ovelhas, mas procura liderar pelo bom exemplo (cf. 1Pedro 5.1-5), etc. É necessário lembrar que as pessoas comentam não apenas os defeitos de seus líderes, mas também seus esforços em deixar de praticar alguns “vícios da liderança”. Quando evitamos esses defeitos comuns na área da liderança, facilitamos para que as pessoas se submetam à nossa direção. Por isso, o líder pastor deve estar atento não apenas em “fazer o que é certo”, mas também em “evitar o que é errado”. Isso é especialmente verdadeiro na área dos relacionamentos.

Eu espero continuar aprendendo outras lições de liderança pastoral com meus amigos e pessoas que o Senhor providencialmente coloca ao meu redor. Também espero não me esquecer desses pontos mencionados acima, pois até o apóstolo Pedro escreveu que nossa mente esclarecida precisa ser lembrada devido ao nosso esquecimento. Contudo, também espero que essas lições por mim aprendidas sejam úteis para ajudar outros pastores amigos que desejam crescer nessa área. 

Rev. Valdeci Santos

Fonte: Portal IPB https://www.ipb.org.br/conteudos_detalhe?conteudo=436

COMO LIDERAR UM “EXÉRCITO DE VOLUNTÁRIOS”?

 


Rev. Valdeci Santos

Talvez alguns pastores não tenham se dado conta, mas o trabalho realizado na igreja local é, em grande medida, dependente do esforço de voluntários. As atividades semanais de uma igreja só são humanamente possíveis pela colaboração de pessoas que livremente deixam sua zona de conforto, renunciam algumas horas de descanso e se dedicam àquilo que é necessário para manter as rotinas da comunidade. Essas pessoas atuam como presbíteros, diáconos, professores de Escola Dominical, músicos, sonoplastas, recepcionistas, babás, líderes de pequenos grupos e assim por diante. Não importa quão grande seja a congregação ou quão numeroso seja o quadro de seus assalariados; o fato, é que as demandas de uma igreja exigem a participação e colaboração de um exército de voluntários.

Dessa maneira, é possível descrever o pastor como o “líder de um exército de voluntários”. O problema é que nem todo pastor sabe como lidar com essa realidade e alguns acabam entrando em choque, machucando e frustrando as expectativas dos voluntários no seu rebanho. Esses pastores, na melhor das hipóteses, contarão apenas com a colaboração temporária de seus voluntários, pois quando eles cumprem a tarefa que lhes foi atribuída, logo desistem por estarem desanimados, desmotivados e alguns até amargurados. Em contrapartida, é também frustrante para o pastor não perceber seu rebanho motivado, frequentemente murmurando e deixando de colaborar na execução do trabalho necessário. Conduzir um rebanho de desmotivados rouba grande parte da alegria do ministério.

Conduzir um “exército de voluntários” exige sabedoria e paciência dos pastores do rebanho. Muito embora alguns pastores tenham iniciado seus ministérios sem obter algumas informações necessárias para prática tão importante no serviço pastoral, é possível aprender algumas lições a esse respeito. Assim, com o objetivo de diminuir os prejuízos relacionais e ampliar as alegrias ministeriais, algumas diretrizes básicas devem ser consideradas.

O propósito desse ensaio é destacar algumas diretrizes necessárias na liderança de voluntários. Devido à objetividade desse texto, limitaremos nossa consideração a cinco tópicos. A experiência e o conhecimento de outras pessoas a esse respeito certamente podem ampliar essa reflexão.

1. Liderança pelo exemplo é muito mais eficaz do que pela posição

As pessoas não seguem um líder apenas pela posição que ele ocupa. Nenhuma ovelha atende ao pastor simplesmente por causa de seu título. Conquanto o pastor seja respeitado por sua posição à frente do rebanho, ele só conseguirá inspirar e motivar pessoas a segui-lo pelo exemplo estabelecido. Como acontece com qualquer líder, se o pastor não possuir um procedimento exemplar, seus voluntários ficarão desanimados e logo dispersarão.

O sucesso de uma boa liderança é, em grande medida, estabelecido pela confiança dos liderados em seu líder. É preciso sempre lembrar que confiança não se impõe, mas se conquista. A confiança das ovelhas em seu pastor precisa ser conquistada pelo exemplo e relacionamento desse em relação ao seu rebanho. O fato de Jesus ensinar que a “ovelha ouve a voz do seu pastor e o segue” indica que a liderança desse homem deve ser exercida principalmente pelo exemplo e não pela mera posição que ele ocupa. A ovelha precisa ver “o pastor em movimento” antes de segui-lo. Afinal de contas, ele é pastor e não vaqueiro, tocando o gado.

O voluntário é, geralmente, inspirado pelo exemplo do líder. Uma boa experiência nesse sentido pode ser feita em algum refeitório da igreja quando, depois de algum evento, as cadeiras precisam ser guardadas em uma determinada ordem. Se o pastor se levanta e começa a guardar as cadeiras, logo ele é seguido por vários outros irmãos que alegremente fazem o mesmo (inclusive crianças!). Contudo, se ele apenas permanece sentado e dá ordens para que o trabalho seja feito, a execução do trabalho não possui o mesmo resultado. O fato é que na liderança de voluntários, o exemplo é mais eficaz do que o respeito exigido pela posição ocupada.

2. Voluntários são motivados por um ideal, muito mais do que por cobranças

Infelizmente alguns pastores aparentam conhecer somente o apelo à obrigação ou a imposição da culpa no processo de motivar voluntários ao trabalho. Assim, quando eles desejam que algo seja realizado, logo lembram que a pessoa foi “nomeada” ou “eleita” para aquele fim e se ela não o fizer, deveria se sentir culpada. É verdade que esse método funciona algumas vezes, mas ele possui pouca durabilidade. Basta a pessoa não se sentir mais obrigada ou culpada que deixará de executar a tarefa necessária. Culpa e cobranças não inspiram pessoas, mas somente as instigam ao trabalho mecânico e a tarefa feita “sem alma e sem alegria”.

Voluntários gostam de servir em cumprimento a um “senso de chamado”, a uma “vocação pessoal” para o trabalho a ser realizado. As pessoas não se sentem obrigadas a servir em áreas com as quais elas não se identificam. O esforço e a dedicação de alguém que se voluntaria a um trabalho necessita ser cativado por um ideal a ser alcançado. Essa é a razão pela qual inúmeras pessoas abandonam seus países e se submetem a difíceis condições de vida para servir a entidades como Green Peace, Médicos sem Fronteira ou alguma outra ONG conhecida. Essas pessoas são atraídas e motivadas pelo ideal apresentado.

Antes de apresentar a tarefa a ser realizada, o pastor sábio apresentará o ideal a ser atingido. Se ele conseguir comunicar com clareza a relevância do alvo a ser alcançado, certamente poderá contar com o esforço de vários voluntários em seu rebanho. Muitos pastores conseguem apontar o que deve ser feito, quando e como isso deverá ser feito, mas poucos apresentam com clareza o “porque” a tarefa deve ser realizada e, por isso, falham em inspirar e recrutar voluntários para o serviço. Cobranças funcionam, mas não inspiram!

3. Palavras de encorajamento são mais eficientes do que críticas

Essa lição deveria ser aprendida primeiramente no ambiente doméstico. Pais que estão sempre criticando seus filhos pela qualidade do esforço apresentado, acabam gerando desânimo e amargura em seus filhos. O mesmo ocorre em qualquer esfera de liderança. O líder crítico pode até obter resultados, mas ele dificilmente terá seguidores que voluntariamente o ajudem. É difícil permanecer ao redor de uma pessoa crítica! É difícil manter o relacionamento com alguém que só observa o que fazemos de errado e raramente oferece alguma palavra de encorajamento. Porém, devemos lembrar que essa mesma dificuldade que temos em relação a outros, alguns têm em relação a nós.

Certamente há um lugar para a crítica ao avaliarmos a realização de qualquer tarefa executada. Afinal, parte da tarefa do líder é corrigir os erros cometidos na execução de um trabalho e colaborar com o aperfeiçoamento daquele que o executou. No entanto, uma boa norma a esse respeito é o seguinte: para cada crítica a ser feita, o líder deverá ter feito, no mínimo, cinco elogios à pessoa a ser corrigida. Além do mais, devemos lembrar que correção de erros não se dá apenas pela observação negativa, mas pelo reforço do que foi positivamente executado.

Encorajamentos são especialmente eficazes em relação ao trabalho com voluntários, pois aquele que serve voluntariamente gosta de saber que seu esforço está sendo apreciado e valorizado. Afinal, grande parte desse esforço é fruto do sacrifício dessa pessoa em relação a outras esferas de sua vida. Por isso, o bom pastor será sempre intencional em encorajar e ressaltar os aspectos positivos do trabalho de seus voluntários.   

4. O voluntário precisa ter clareza quanto às expectativas de sua contribuição

Normalmente os pastores ridicularizam a definição popular de fé como sendo um “pulo no escuro”. Todavia, a maneira como alguns pastores tentam recrutar e motivar voluntários se parece muito com a exigência para que esses deem um “salto no escuro”. Isso acontece especialmente quando o convite para servir deixa de vir acompanhado com a explicação clara sobre as expectativas em relação ao trabalho a ser realizado. Qual será a responsabilidade do voluntário? Qual deve ser a principal participação dele? Quais são seus limites? Com quem ele poderá contar ou a quem recorrer diante de alguma imprevisibilidade? Haverá algum recurso financeiro para atender demandas necessárias? Enfim, as respostas a essas perguntas são extremamente necessárias para que o voluntário saiba o que é esperado de sua contribuição.

O pastor que lidera seu exército de voluntários deve considerar não apenas aquilo que precisa ser realizado, mas também o que é esperado das pessoas que o ajudam. Nesse processo, a comunicação clara é fundamental para que o voluntário compreenda sua tarefa e se sinta valorizado na execução dela. Uma boa prática a esse respeito é se colocar na posição do voluntário e considerar quais informações ele precisa receber para continuar mais motivado em sua colaboração. Não se pode esperar desempenho satisfatório de nenhuma pessoa que não sabe ao certo o que deve ser realizado. Por isso, não é nenhum desperdício dedicar tempo e atenção esclarecendo aos voluntários as reais expectativas do trabalho a ser realizado.

5. O voluntário gosta de saber que ele é um parceiro e não apenas um executor

Particularmente, precisei aprender essa lição de uma maneira não muito agradável. Há alguns anos eu conversava com o Dr. Ed Welch, um mentor e grande amigo, alguém que tenho admirado ao longo dos anos e através de quem tenho sido grandemente abençoado por Deus. Ed me informou sobre uma conversa que teve com o seu pastor, na qual o pastor pedia sua colaboração para lecionar numa classe sobre aconselhamento bíblico na EBD. Como Ed já ministra nessa área há anos, sendo conhecido internacionalmente por meio de livros e palestras sobre o assunto, logo presumi que ele aceitaria o convite do pastor. Para minha surpresa, porém, ele disse que declinou. Curioso de suas razões para ter se negado a ajudar naquele projeto, perguntei por que ele havia feito aquilo. Sua explicação foi simples: “Porque entendi ser aquela uma boa oportunidade de ensinar ao meu pastor, e a você também, que vocês não podem simplesmente idealizar e desenvolver projetos e depois convidar suas ovelhas para executá-los. Nós queremos ser participantes dos projetos também!”. As palavras de Ed me fizeram olhar para os meus erros e como eu tratava alguns membros de minha igreja: não como parceiros, mas como executores.

É claro que no processo de participação de voluntários, encontraremos dificuldades em responder adequadamente algumas sugestões apresentadas. Nesse sentido, nem toda sugestão oferecida pelos voluntários terá que ser acatada. Muitas vezes alguns apresentam sugestões que são apenas preferências pessoais e não uma necessidade do rebanho. Outras vezes, eles insistem em alguma sugestão porque não possuem uma visão abrangente do rebanho e nem conhecem outras ovelhas o suficientemente para avaliarem as implicações e as consequências de suas ideias. O pastor sábio deve esclarecer que toda sugestão é bem-vinda, mas nem toda será acatada. Além do mais, algumas sugestões demandam tempo, recurso e até mudança de uma cultura antes de sua implementação. Mas até a abordagem dessa questão pode levar o voluntário a se sentir participante ao invés de ser simplesmente uma “ferramenta” para que o trabalho seja executado.

A realidade é que o pastor é o líder desse exército de voluntários que ele encontra em sua igreja local. Conduzir esse rebanho exige sabedoria, paciência e prudência. Mas a consideração desses princípios acima pode nos ajudar grandemente nessa missão.

Rev. Valdeci Santos

Fonte: Portal IPB https://www.ipb.org.br/conteudos_detalhe?conteudo=444

terça-feira, 7 de junho de 2022

COMO LIDERAR SE VOCÊ NÃO ESTÁ NO COMANDO?

 


Essa parece ser uma pergunta contínua na mente de muitos envolvidos no ministério pastoral. Facilmente identificamos essa preocupação entre pastores auxiliares, evangelistas, presbíteros e diáconos. Todavia, em alguns casos, até o pastor titular da igreja pode não ter o comando, pois esse pode pertencer a outra pessoa ou a algum grupo da igreja. Em outras palavras, posição de liderança nem sempre equivale ao exercício do comando.

Isso não deveria ser nenhuma surpresa, pois nos mais diferentes empreendimentos humanos a maioria das pessoas desempenha papeis coadjuvantes e nem por isso são menos importantes. Além do mais, em se tratando do Reino de Deus, todos os cristãos são coadjuvantes, pois somente UM é digno de todo louvor e honra (cf. Ap 5.12). Até os pastores titulares são assistentes do Supremo Pastor das ovelhas (cf. 1Pe 5.4) e, portanto, não estão na posição de comando. No entanto, Cristo exerce sua autoridade sobre o rebanho que lhe pertence por meio de pessoas que desempenham liderança e, muitas vezes, essa posição não está diretamente relacionadas à função de comando.

No ministério pastoral, um exemplo claro a esse respeito é a condição do pastor auxiliar na Igreja Presbiteriana do Brasil. Ele desempenha uma função de liderança na igreja, mas trabalha sob a direção e orientação do pastor efetivo, isto é, “sem jurisdição sobre a igreja, podendo, eventualmente, assumir o pastorado da igreja, quando convidado pelo pastor ou, em sua ausência, pelo conselho” da mesma (CI/IPB art. 33, parágrafo 2). Em outras palavras, o pastor auxiliar exerce uma função coadjuvante no ministério da igreja, mas isso não significa que o seu trabalho não seja importante e nem que ele não seja um líder do rebanho. A grande questão nesse e em outros casos (evangelistas, por exemplo) é: como liderar quando não se está no comando? Não estar na posição de comando não é impedimento para que se lidere corretamente o rebanho de Cristo. Para que isso ocorra, é necessário considerar cinco tópicos básicos.

Defina o que é liderança

Para alguns, liderança equivale a posições, cargos e títulos. Nesse caso, quando uma dessas condições não é atendida, a pessoa se sente desmotivada e julga insignificante o seu trabalho. Às vezes é tragicômico observar a reação marcada por fragilidade e desespero, daqueles que confundem a posição de comando com o papel de liderança no ministério pastoral. Alguns, desanimados, logo desistem. Outros, insatisfeitos, procuram por posições melhores e até articulam contra quem está na posição de comando.

O exemplo de Jesus deixa claro, porém, que a verdadeira liderança equivale à influência e não à posição hierárquica. Na verdade, Cristo não considerou sua posição “algo a que se devesse apegar” (cf. Fp. 2.6). Quem, contudo, contestaria sua liderança? Quem duvidaria de sua influência sobre seus discípulos? Liderança implica em ter influência e isso independe da posição que a pessoa ocupa. Nesse caso, qualquer obreiro do Reino tem o privilégio de influenciar, persuadir e inspirar várias pessoas e, assim, exercer corretamente a liderança que Deus lhe conferiu. Se esse conceito não estiver claro para quem exerce o pastorado, a disputa por posições pode ter consequências horríveis tanto para os ministros quanto para as demais ovelhas do Bom Pastor. 

Aprenda a liderar a você mesmo

A menor esfera em que você exercerá sua liderança será sobre você mesmo: suas paixões, seu ímpeto, suas ambições e seus sonhos. Essa é uma importante esfera a ser liderada. Se você deseja liderar uma igreja, negócios ou algo do gênero, deve aprender como liderar a si mesmo. De outra sorte, o comportamento contraditório em relação ao que se diz pode ser interpretado como hipocrisia, mesma acusação de Paulo em relação ao comportamento do apóstolo Pedro na cidade de Antioquia da Síria (cf. Gl 2.14).

Muitos líderes caem em ruína durante o processo de gestão de pessoas porque não conseguem governar a eles mesmos. Escândalos geralmente ocorrem quando o líder abandona a disciplina, deixando, assim, de exercer domínio próprio e de lutar contra suas próprias paixões. O exemplo do apóstolo Paulo deveria orientar todo líder nesse sentido, especialmente os pastores. Ao comparar seu trabalho à disciplina de um atleta ele escreveu: “Todo atleta em tudo se domina; aqueles, para alcançar uma coroa corruptível; nós, porém, a incorruptível. Assim corro também eu, não sem meta; assim luto, não como desferindo golpes no ar. Mas esmurro o meu corpo e o reduzo à escravidão, para que, tendo pregado a outros, não venha eu mesmo a ser desqualificado” (1Co 9.25-27). Portanto, se você quer liderar, aprenda a governar a si mesmo, viva de maneira íntegra, e outros terão você como exemplo a ser seguido.

Seja um servo

Os melhores líderes pensam primeiramente naqueles que se encontram sob sua responsabilidade e na maneira como estes podem servi-los apropriadamente. Mas os líderes egocêntricos são condenados por Deus desde a época do Antigo Testamento. O texto bíblico de Ezequiel 34.2-4 afirma: “Filho do homem, profetiza contra os pastores de Israel; profetiza e dize-lhes: Assim diz o SENHOR Deus: Ai dos pastores de Israel que se apascentam a si mesmos! Não apascentarão os pastores as ovelhas? Comeis a gordura, vestis-vos da lã e degolais o cevado; mas não apascentais as ovelhas. A fraca não fortalecestes, a doente não curastes, a quebrada não ligastes, a desgarrada não tornastes a trazer e a perdida não buscastes; mas dominais sobre elas com rigor e dureza”. Quem deseja liderar corretamente deve ser, antes de tudo, um servo. Primeiramente, um servo de Deus, e depois, um servo do povo de Deus.

Jesus ensinou ou o modelo de liderança servidora, pois ele “não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos” (Mt 20.28). Dessa maneira, qualquer um que deseja desempenhar a função de embaixador de Cristo e pastor-auxiliar do Supremo Pastor necessita ser um servo de todos. Muitos obreiros apresentam falhas no processo de liderar o rebanho por estarem mais preocupados em serem servidos, honrados e reconhecidos do que em agirem como servos. Portanto, se você quer liderar, disponha-se a servir.

 Valorize relacionamentos

O ministério pastoral demanda estudo aprofundado em várias áreas: exegese, teologia, história, filosofia, cultura geral e outras tantas. Semanalmente, o pastor dedica tanto tempo em sua preparação que é tentado a se esquecer de que esse conhecimento não é um fim em si mesmo, mas tem como propósito edificar o rebanho. Se o conhecimento teológico não for traduzido em ensino amoroso e edificante, o resultado, segundo Paulo, será a soberba e o autoengano (cf. 1Co 8.1-2). Por essa razão, aquele que deseja liderar com maestria precisa valorizar seus relacionamentos.

Somente pela familiaridade com o rebanho, o pastor conquistará suas ovelhas para seguir seus ensinamentos. Dificilmente elas seguirão um estranho. Se o contato do pastor com seu rebanho se limitar aos domingos, quando ele ocupa o púlpito, ele pode até ser um mandatário, mas não um líder a inspirar outros. Relacionamentos providenciam o contexto para a interação próxima, afetiva e cuidadosa. O crente tende a se importar mais com o que o pastor diz quando experimenta que o pastor se importa com ele. Dessa maneira, pastor, cultive e valorize o relacionamento com o rebanho que Cristo lhe confiou.

 Ajude a desenvolver outros líderes

A igreja de Cristo necessita de novos líderes que contribuam para o avanço do Reino e pastoreiem corretamente o rebanho do Senhor. Uma excelente maneira de exercer nossa liderança é ajudar no desenvolvimento desses futuros líderes. Nesse sentido, dedicar tempo e cuidado com aqueles que possuem dons e talentos para conduzir a igreja no futuro é não apenas um notável investimento, mas é também uma boa estratégia para influenciar a próxima geração. Conselhos de igreja serão ocupados por esses líderes potenciais com os quais podemos colaborar diariamente, mesmo quando não estamos na posição de comando.

O treinamento de novos líderes é algo que pode ser feito por qualquer pastor auxiliar ou por um obreiro. Isso certamente alivia a carga de trabalho do pastor titular. Enquanto o último se ocupa com a tomada de decisões de questões imediatas, os primeiros podem contribuir com o preparo daqueles que se ocuparão com as decisões no futuro. Dessa maneira, o assistente não apenas presta um eminente serviço, como também tem a oportunidade de exercer sua influência sobre uma importante esfera do corpo de Cristo.

Em vista do que acima foi escrito, se você é alguém que está no ministério pastoral, mas no momento não está na posição de comando, não há razões para se sentir menos importante nem para cobiçar o que no momento não lhe pertence. Há inúmeras maneiras de servir a Cristo e influenciar pessoas. O pastor, não importando a sua posição, deveria estar mais preocupado em discernir a maneira de liderar mais eficientemente o rebanho do que em competir com aqueles que estão na posição de comando.   

Rev. Valdeci da Silva Santos – SNAP

sábado, 4 de junho de 2022

A SERIEDADE DO MINISTÉRIO DA PALAVRA

 



Rev. Valdeci Santos

Notícias sobre pastores deixando o ministério, envergonhando o ministério e usando o ministério para benefício próprio geralmente despertam a atenção nas mídias do setor publicitário. Contudo, pela graça de Deus, muitos pastores têm cumprido fielmente o ministério, zelando de suas vidas e da doutrina bíblica, o que resulta no avanço do Evangelho e benefício da igreja de Cristo. Usando uma explicação comumente atribuída a Billy Graham, é possível afirmar que todos os dias, de diferentes partes do mundo, milhares de aviões levantam voos e pousam em segurança nas pistas dos aeroportos de seus destinos. Mas se acontece algum acidente com algum deles, a exceção vira notícia e alguns passam a desconfiar da eficácia do transporte aéreo. O mesmo acontece com os escândalos no universo pastoral. Infelizmente, nenhuma denominação está imune a essa desventura.

A trágica situação de pastores que não desempenham corretamente o ministério da Palavra é tratada com seriedade nas páginas das Escrituras e deveria servir de advertência àqueles que labutam na obra ministerial. Textos como Tiago 3.1 que ensina que aquele que ensina receberá “maior juízo”, bem como Mateus 18.6 que afirma ser melhor pendurar uma pedra de moinho ao pescoço e ser afogado nas profundezas do mar do que fazer um pequenino do reino tropeçar, deveriam ser suficientes para colocar em alerta qualquer líder sobre o rebanho de Cristo. Contudo, temos também inúmeros exemplos de como algumas pessoas que erroneamente conduziram o povo de Deus foram julgadas pelo próprio Senhor.

Nesse sentido, é importante considerar como o Senhor tratou alguns sacerdotes do Antigo Testamento, pois a função dos sacerdotes não consistia apenas em oferecer sacrifícios, mas em ensinar e liderar o povo de Deus. No livro de Malaquias temos a afirmação de que “os lábios do sacerdote devem guardar o conhecimento, e da sua boca devem os homens procurar a instrução, porque ele é mensageiro do Senhor dos Exércitos” (Ml 2.7). Assim, é possível considerar o ministério da Palavra como uma vocação análoga àquela exercida pelos sacerdotes da antiga aliança. Eles deveriam ensinar e ser reconhecidos como “mensageiros do Senhor”, semelhante ao trabalho exercido pelos pastores atualmente. Por isso, as exortações divinas aos sacerdotes na primeira parte de Malaquias 2, apontam para a seriedade do ministério e são relevantes aos pastores contemporâneos.

Compreendendo o Texto Bíblico

Malaquias 2 é uma mensagem de juízo aos sacerdotes que exerciam o ministério de maneira displicente. A exortação é diretamente dirigida a eles no verso 1: “Agora, ó sacerdotes, para vós outros é esse mandamento”. Em outras palavras, o próprio Deus julga o proceder daqueles que ministram na função de ensino e liderança sobre o seu povo. Essa dimensão espiritual geralmente é esquecida por aqueles que estão “familiarizados com o sagrado”, pois caem na armadilha de considerar o ministério apenas no sentido horizontal e não no vertical. Porém, o profeta Malaquias lembra que Deus está ativamente comprometido em julgar seus ministros e exigir deles seriedade no desempenho de suas funções.

Para enfatizar o juízo divino, o profeta lembra aos sacerdotes as ameaças do próprio Senhor sobre suas vidas e ministérios. No texto em questão, há quatro ameaças divinas claramente dirigidas àqueles sacerdotes que não ouvissem e não se propusessem a honrar o nome do Senhor. Em primeiro lugar, Deus promete enviar maldições sobre eles (v 2). Essas maldições seriam provenientes daquele que é o Senhor do universo, que possui toda a autoridade nos céus e na terra e cuja palavra possui eficácia criadora. Logo, aquela era uma séria ameaça. Em segundo lugar, Deus amaldiçoaria as bênçãos daqueles sacerdotes (v 2). De fato, Deus afirmou que já havia amaldiçoado aquelas bênçãos. Ou seja, as palavras proferidas pelos lábios daqueles homens se transformavam em pragas sobre a cabeça daqueles que os ouviam. O coração daqueles pastores não era reto diante de Deus e as ovelhas sofriam as consequências de suas ações.

Em terceiro lugar, Deus afirmou que reprovaria a descendência e o trabalho daqueles sacerdotes (v 3). A palavra usada para “descendência” aqui não é clara, podendo também significar “colheita”, o resultado da participação laboral daqueles homens. O fato é que os esforços daqueles ministros que desconsideravam a seriedade do ministério seriam punidos pelo próprio Deus. E, em último lugar, Deus prometeu envergonhá-los publicamente (v 3). A linguagem usada pelo profeta é chocante, pois ele diz que o Senhor lançaria excremento na face dos sacerdotes. Em outras palavras, o ministério daqueles homens teria o mesmo valor que excremento aos olhos do Senhor e o próprio Deus transformaria a glória deles em vergonha. Esse castigo parece especialmente irônico, considerando que muitos que exercem o ministério almejam o reconhecimento humano e ambicionam glórias, pois o Senhor os ameaça com a perda da dignidade.

Ao considerarmos a estrutura e as ameaças em Malaquias 2, podemos ter uma ideia da seriedade do ministério da Palavra aos olhos do Senhor. Assim, é possível observar os erros comuns dos que labutam nesse ministério, tanto na antiga quanto na nova aliança, e, por fim, atentar para aquilo que Deus exige de seus ministros.

Fracassos Comuns no Ministério da Palavra

No texto de Malaquias, o Senhor estava irado com os seus sacerdotes por causa de cinco erros cometidos por eles. Infelizmente aqueles erros não eram prerrogativas apenas dos sacerdotes na época de Malaquias, mas continuam sendo praticados por alguns pastores do rebanho de Cristo na atualidade.

1. Deixar de ouvir a Deus (v 2). Aqueles que eram responsáveis por ensinar o povo, não inclinavam seus ouvidos aos ensinamentos do próprio Deus. Isso pode ser especialmente observado em nossos dias entre aqueles pregadores que estudam o texto bíblico, não dizem “absolutamente nada” sobre o que o texto ensina e impõem suas ideias descaradamente na pregação e ainda chamam aquilo de sermão. Esse erro continua atormentando os ministros da Palavra.

2. Deixar de buscar a honra do Senhor em seu coração (v 2). Aqueles sacerdotes eram culpados de não inclinarem o coração para buscar a honra do Senhor. O inverso daquela atitude era que desprezavam o Senhor em seu próprio coração. Assim, um pastor cujo coração não se inclina para buscar a glória de Deus é, em última instância, um fracasso, não importa quantos seguidores ele tenha ou qual o tamanho de sua congregação. Ao final, seu interesse é sua própria glória e não a glória daquele que é o Senhor da igreja.  

3. Se desviar dos caminhos do Senhor (v 8). Os sacerdotes se desviavam do caminho que eles exigiam ser seguidos pelo povo de Deus. Ou seja, eram incoerentes em relação àquilo que ensinavam, pois viviam de modo contrário ao que pregavam. Deus ainda afirma que ele os havia feito indignos diante do povo, pois não guardavam os caminhos do Senhor (v 9). Lamentavelmente esse continua sendo um fracasso de muitos ministros que ensinam uma coisa e praticam outra diferente do que pregam. Malaquias interpreta isso como sendo um “desvio dos caminhos do Senhor”.

4. Parcialidade na aplicação dos mandamentos do Senhor (v 9). Os mandamentos do Senhor não eram ensinados de maneira integral, mas apenas parcialmente. Além do mais, eles também falhavam na aplicação dos ensinamentos do Senhor. No caso dos sacerdotes, assim como eles ofereciam os animais de sua preferência (cap. 1), também selecionavam apenas os temas e tópicos de sua preferência no ensino da Palavra de Deus. Embora eles tivessem sido vocacionados para instruir “toda” a Palavra, ministravam apenas aquilo com o qual concordavam e não lhes traria problemas diante do povo. Esse é mais um erro que persiste entre os ministros de Deus na atualidade.

5. Colaborar com o tropeço de muitos (v 8). Ao considerar todos os erros anteriores, o leitor compreenderá melhor o miolo do verso 8, pois qualquer líder que caminhar nas falhas anteriormente apresentadas, certamente levará muitos ao tropeço. É necessário entender que, embora o pecado do ministro não seja diferente em termos de qualidade, da transgressão de qualquer outro crente, ele difere em termos de gravidade, pois ele pode influenciar muitos ao tropeço por suas falhas. Além do mais, liderança exige confiança e os erros dos líderes corroem a confiança dos seus liderados a tal ponto que eles são desmotivados na busca por uma retidão maior. Assim como os sacerdotes eram culpados por colaborar com a queda e tropeço de algumas pessoas no passado, há pastores hoje laborando no mesmo erro.

Um modelo a ser seguido

É consolador observar que no meio desse texto de maldições e acusações, há alguns versículos que apresentam um sacerdote que foi bem-sucedido em seu ministério. Os versos 4-6 fazem referência a Levi, com quem Deus fez uma aliança perpétua. Embora o procedimento de Levi antes da aliança com o Senhor tenha sido violento e vergonhoso, o fato é que após Deus ter estabelecido uma aliança com ele, seu procedimento e ministério foram elogiados nesses versos.

De acordo com as palavras desses versículos, o sucesso de Levi em seu ministério se deveu ao fato de ele ter “temido e tremido por causa do nome de Deus”. Ou seja, ele compreendeu a seriedade do seu chamado à luz do caráter daquele que o vocacionou. O ministério da Palavra é sério porque o ministro serve ao Deus santo e verdadeiro. Há uma dimensão espiritual no ministério que não pode ser esquecida por nenhum pastor ou obreiro na causa do Senhor. 

Em segundo lugar, o texto ensina que Levi foi fiel ao cerne do seu chamado, ou seja, instruir o povo de Deus. O verso 6 afirma que a “verdadeira instrução esteve em sua boca, e a injustiça não se achou em seus lábios”. Ou seja, o realce do ministério de Levi não foi o número de sacrifícios realizados e nem a estatística de sua popularidade, mas sua fidelidade ao ensino. Infelizmente há muitos pastores que desperdiçam o tempo realizando aquilo para o qual não foram chamados e, lentamente, se desviam do cerne do seu chamado. É comum encontrar alguns cuja paixão por cargos, posições e popularidade é exponencialmente maior do que seu desejo de ensinar os princípios do Senhor ao seu povo.

Por último, é enfatizada a intimidade de Levi com o Senhor, pois o texto afirma que ele andou com Deus em “paz e retidão”. Aquele mesmo caminhar com Deus deveria caracterizar todos os outros sacerdotes que vieram após Levi. Semelhantemente, aquele proceder deve ser uma marca na vida de todo ministro que representa o Senhor no cuidado do seu rebanho. Infelizmente, porém, intimidade com o Senhor raramente faz parte da lista de prioridade de muitos pastores contemporâneos e escândalos continuam se multiplicando na igreja do Senhor. 

O resultado do ministério de Levi mencionado nesses versos é contundente. O texto sagrado afirma que “da iniquidade [ele] apartou a muitos” (v 6). O Senhor certamente abençoa o ministério de alguém dedicado a ele. Se zelarmos por nossa devoção contínua ao Senhor seremos como um daqueles aviões que levanta voo e pousa seguramente em seu destino. 

É necessário que o ministério pastoral seja considerado seriamente. É necessário que os ministros da Palavra considerem os ensinamentos da Palavra, tanto por exortações quanto por exemplos a fim de evitarem que trágicas notícias sobre escândalos ministeriais continuem satisfazendo o apetite desenfreado da mídia publicitária.   

Fonte: Portal IPB | A seriedade do Ministério da Palavra

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