terça-feira, 28 de novembro de 2023

O Perfil de uma Igreja Ideal

 


1 Ts 1 :1 -1 0

Você certamente já ouviu algum pastor dizer:

- Se você encontrar uma igreja perfeita, não se torne membro dela, pois, se o fizer, ela deixará de ser perfeita!

Uma vez que as congregações locais são constituídas de seres humanos, salvos pela graça de Deus, nenhuma igreja é perfeita. Mas algumas se encontram mais próximas do ideal do Novo Testamento do que outras. A igreja de Tessalônica encaixava-se nessa categoria. Em pelo menos três ocasiões nesta epístola, Paulo dá graças pela igreja e pela maneira como ela respondeu a seu ministério (1 Ts 1:2; 2:13; 3:9). Nem todo pastor pode ser tão grato.

Que características tornavam esta igreja próxima do ideal e um motivo de alegria para o coração de Paulo?

1. UM POVO ELEITO (1 Ts 1:1-4)

O termo "igreja", em 1 Tessalonicenses 1:1, significa "um povo chamado para fora". Todos os chamados sobre os quais lemos na Bí­blia indicam eleição divina: Deus chama um povo, separando-o deste mundo e para si (At 15:13-18). Sete vezes em João 17, Jesus refere-se aos cristãos como os que o Pai lhe deu (Jo 17:2, 6, 9, 11, 12, 24). Paulo declara sua certeza de que os tessalonicenses haviam sido escolhidos por Deus (1 Ts 1:4).

 Observemos alguns fatos evidentes acerca da eleição divina.

A salvação começa com Deus. "Porque Deus vos escolheu desde o princípio para a salvação" (2 Ts 2:13). "Não fostes vós que me escolhestes a mim; pelo contrário, eu vos escolhi a vós outros" (Jo 15:16). "Assim como nos escolheu nele antes da fundação do mundo" (Ef 1:4). Todo o plano da salvação nasceu no coração de Deus muito antes de o homem ser criado ou de o universo ser formado.

A salvação envolve o amor de Deus. Paulo afirma que os santos são irmãos amados (ver 1 Ts 2:17), não só pelo apóstolo, mas também por Deus. Foi o amor de Deus que tornou possível o Calvário em que Jesus Cristo morreu por causa de nossos pecados (Rm 5:8). Mas não é o amor de Deus que salva o pecador, e sim sua graça. Em sua graça, ele nos dá aquilo que não merecemos e, em sua misericórdia, deixa de nos dar o que merecemos. Isso explica por que Paulo costumava com eçar suas cartas dizendo: "em Deus Pai e no Senhor Jesus Cristo, gra­ ça e paz a vós outros" (1 Ts 1:1).

A salvação envolve fé. "Porque pela gra­ça sois salvos, mediante a fé" (Ef 2:8). Paulo, Silas (cujo nome é escrito aqui na forma romana) e Timóteo levaram o evangelho a Tessalônica e pregaram no poder de Deus (1 Ts 1:5). Alguns dos que ouviram a mensagem creram, deixaram a idolatria e se voltaram para o verdadeiro Deus vivo (1 Ts 1:9). O Espírito de Deus usou a Palavra de Deus para gerar fé (Rm 10:1 7). Paulo chama isso de "santificação do Espírito e fé na verdade" (2 Ts 2:13).

A salvação envolve a Trindade. Ao ler esta carta, deparamo-nos com a doutrina da Trindade. Os cristãos crêem em um Deus que existe na forma de três Pessoas: Deus o Pai, Deus o Filho e Deus o Espírito Santo. É importante ter em mente que essas três Pessoas participam da salvação. Isso nos ajuda a escapar dos extremos perigosos que negam a responsabilidade humana ou minimizam a soberania divina, pois a Bíblia ensina ambas as coisas.

A salvação transforma a vida. Como Paulo sabia que esses tessalonicenses eram eleitos de Deus? Por meio da mudança que observou na vida deles. Ao comparar 1 Tessalonicenses 1:3 com 1 Tessalonicenses 1:9, 10, verifica-se:

A operosidade da vossa fé. / Deixando os ídolos, vos convertestes a Deus.

A abnegação do vosso amor. / Para servirdes o Deus vivo e verdadeiro. A firmeza da vossa esperança. / Para aguardardes do céu o seu Filho.

Quem afirma ser um dos eleitos de Deus, mas cuja vida não mudou, está apenas enganando a si mesmo. Deus transforma seus escolhidos. Isso não significa que somos perfeitos, mas sim que possuímos uma nova vida que não pode ser escondida.

Outra evidência da salvação é o amor. "porque o amor de Deus é derramado em nosso coração pelo Espírito Santo, que nos foi outorgado" (Rm 5:5). Somos "por Deus instruídos que [devemos amar] uns aos outros" (1 Ts 4:9). Servimos a Cristo porque o amamos, e essa é a "abnegação do vosso amor" à qual Paulo se refere. "Se me amais, guardareis os meus mandamentos" (Jo 14:15).

A terceira evidência da salvação é a esperança com a qual se aguarda pela volta de Jesus Cristo (1 Ts 1:10). A volta de Jesus Cristo é o tema central das epístolas aos tessalonicenses. Os não salvos não aguardam com grande expectativa a volta do Senhor. Quando o Senhor arrebatar sua Igreja nos ares, os incrédulos ficarão surpresos (1 Ts 5:1-11).

A fé, a esperança e o amor são evidências da eleição. Essas qualidades espirituais estão ligadas entre si e só podem vir de Deus. Para mais exemplos, ver as seguintes passagens: 1 Coríntios 13:13; Romanos 5:1-5; Gálatas 5:5, 6; Colossenses 1:4, 5; Hebreus 6:10-12; 10:22-24; 1 Pedro 1:21, 22.

Uma igreja local deve ser constituída de eleitos salvos pela graça de Deus. Um dos problemas das igrejas de hoje é a presença em seu meio de não salvos, cujos nomes encontram-se registrados no rol de membros, mas não no Livro da Vida do Cordeiro. Todo membro da igreja deve examinar seu cora­ção e se certificar de que é, verdadeiramente, nascido de novo e faz parte dos eleitos de Deus.

2. UM POVO EXEMPLAR (1 Ts 1:5-7) Desde o início desta igreja, Paulo a contemplou com alegria e gratidão, como cristãos dignos deste nome. São exemplares em diversas áreas de sua vida.

Receberam a Palavra (v. 5). O evangelho chegou até eles pelo ministério de Paulo e de seus colaboradores. Muitos pregadores e filósofos itinerantes daquela época só estavam interessados em ganhar dinheiro à custa de pessoas ignorantes.

 Apesar das perseguições em Filipos, Paulo e Silas tiveram "ousada confiança em nosso Deus, para [...] anunciar o evangelho" (1 Ts 2:2); e o povo creu e foi salvo. Em momento algum perderam o anseio pela Palavra de Deus (1 Ts 2:13).

Seguiram seus líderes espirituais (v. 6a). O termo "imitadores" indica que esses recém-convertidos não apenas aceitaram a mensagem e os mensageiros, mas também imitaram a vida deles. Em decorrência disso, foram terrivelmente perseguidos. Não basta aos cristãos maduros ganhar almas para Cristo; também devem cuidar dessas almas e incentivar os recém-convertidos a obedecer à Palavra de Deus.

Sofreram por Cristo (v. 6b). Ao deixar os ídolos para servir a Deus, esses cristãos provocaram a ira de amigos e parentes e sofreram perseguições. Sem dúvida, alguns perderam o emprego por causa de sua nova fé. Assim como os judeus incrédulos perseguiram os cristãos na Judéia, também os gentios incrédulos perseguiram os cristãos tessalonicenses (1 Ts 2:14-16). A fé é sempre provada, e a perseguição é uma das formas de testá-la (M t 13:21; 2 Tm 3:12).

Encorajaram outras igrejas (v. 7). Os cristãos podem ser motivo de ânimo ou de desânimo a outros. Esse princípio também se aplica às igrejas. Paulo usou as igrejas da Macedônia como estímulo para a igreja de Corinto contribuir com a oferta missionária (2 Co 8:1-8). Apesar de serem novos na fé, os tessalonicenses deram um bom exemplo que serviu de encorajamento para as congregações a seu redor. As igrejas não devem competir entre si de maneira mundana, mas

podem "[estimular] ao amor e às boas obras" (Hb 10:24).

A igreja de Tessalônica mostrou-se exemplar em todos os sentidos. Seu segredo era sua fé, esperança e amor, os três elementos espirituais que motivam a vida cristã.

3. UM POVO ENTUSIASMA DO (TESTEMUNHAVA)(1 Ts 1:8) A "operosidade da [sua] fé, e abnegação do [seu] amor" expressavam-se em seu testemunho do evangelho a outros. Eram tanto "receptores" (a Palavra chegou até eles; 1 Ts 1:5) quanto "transmissores" (a palavra repercutiu deles; 1 Ts 1:8). Todo cristão em toda congregação local deve receber e transmitir a Palavra de Deus.

O verbo "repercutir" significa "soar como uma trombeta". Mas os tessalonicenses não estavam se vangloriando, tocando trombetas diante de si como faziam os fariseus (M t 6:1-4). Antes, anunciavam as boas-novas da salvação, e sua mensagem tinha um som claro e certo (1 Co 14:8). Em todo lugar por onde Paulo passava, ouvia as pessoas comentarem sobre a fé dos cristãos de Tessalônica.

É responsabilidade e privilégio da igreja local levar a mensagem da salvação ao mundo perdido. No final de cada um dos quatro Evangelhos e no começo do Livro de Atos, encontra-se uma comissão que deve ser obedecida pelas igrejas (M t 28:18-20; M c 16:15, 16; Lc 24:46-49; Jo 20:21; At 1:8).

Mas a eleição e o evangelismo andam juntos. Quem diz: "Deus não precisa de minha ajuda para salvar os que ele escolheu" não entende o que é eleição nem o que é evangelismo. Na Bíblia, a eleição sempre envolve responsabilidade. Deus escolheu o povo de Israel e fez dele uma nação eleita para que testemunhasse aos gentios.

Da mesma forma, Deus escolheu a Igreja para testemunhar hoje. O fato de sermos o povo eleito de Deus não nos exime da responsabilidade de evangelizar. Pelo contrário, a doutrina da eleição é um dos maiores estí­ mulos ao evangelismo.

Hoje, é necessário haver mais igrejas com pessoas cheias de entusiasmo para compartilhar a mensagem da salvação. Enquanto escrevo, 2,4 bilhões de pessoas não têm qualquer testemunho visível do evangelho nem qualquer igreja em seu meio. Apesar da expansão dos programas de rá­dio e de televisão bem como dos textos impressos, estamos perdendo território no trabalho de alcançar os perdidos. Você é um cristão entusiasmado? Sua igreja testemunha com entusiasmo?

4. UM POVO ESPERANÇOSO (1 Ts 1:9,10)

A operosidade de sua fé tornava-os um povo eleito, pois deixaram seus ídolos, voltaramse para Deus e creram em Jesus Cristo. A abnegação de seu amor tornava-os um povo exemplar e entusiasmado, que colocava em prática a Palavra de Deus e compartilhava o evangelho. A firmeza de sua esperança fazia deles um povo esperançoso, que aguardava a volta do Senhor.

Enquanto adoravam ídolos, os tessalonicenses não tinham esperança alguma. Mas depois que creram no "Deus vivo", passaram a ter uma "viva esperança" (ver 1 Pe 1:2, 3). Os que foram criados dentro da doutrina cristã não conseguem entender a escravidão da idolatria pagã. Antes de Paulo chegar até eles com o evangelho, eram pessoas sem esperança "e sem Deus no mundo" (Ef 2:12). No Salmo 115, encontra-se uma descrição clara da vida de idolatria.

Os cristãos são "filhos do Deus vivo" (Rm 9:26). Seu corpo é "santuário do Deus vivente" (2 Co 6:16), habitado pelo "Espírito do Deus vivente" (2 Co 3:3). A Igreja é "a igreja do Deus vivo" (1 Tm 3:15); e Deus está preparando para ela a "cidade do Deus vivo" (Hb 12:22). O Deus vivo nos deu uma esperança viva ao ressuscitar seu Filho Jesus Cristo dentre os mortos.

Aguardar envolve atividade e perseverança. Alguns dos cristãos tessalonicenses pararam de trabalhar e se tornaram fofoqueiros desocupados, alegando que o Senhor estava preste a voltar. Mas, se cremos, de fato, que o Senhor está voltando, provaremos nossa fé mantendo-nos ocupados e obedecendo à Palavra de Deus. A parábola dos talentos que Jesus contou (Lc 19:11-27) ensina que devemos nos manter ocupados (nesse caso, "negociar", investindo o dinheiro) até sua volta.

Os cristãos aguardam a volta de Jesus Cristo, e ele pode voltar a qualquer momento. Não esperamos "sinais", mas sim o Salvador. Aguardamos a redenção do corpo (Rm 8:23-25) e a esperança da justiça (Cl 5:5). Quando Jesus Cristo voltar, receberemos um novo corpo (Fp 3:20, 21) e seremos como ele (1 Jo 3:1,2). Ele nos levará ao lar que preparou (Jo 14:1-6) e nos recompensará pelos serviços que prestamos em seu nome (Rm 14:10-12).

Uma igreja local que vive, de fato, a expectativa de ver Jesus Cristo a qualquer momento é um grupo vibrante e vitorioso. Esperar a volta de Cristo é uma grande motivação para ganhar almas (1 Ts 2:19,

quinta-feira, 16 de novembro de 2023

A contribuição da Reforma Protestante para a Educação Pública: esboço introdutório

 

Mesmo a Reforma Protestante do século XVI tendo como fundamento original a questão religiosa-espiritual, tornou-se um movimento de grande alcance cultural, institucional, social e político na história da Europa e, posteriormente em todo o Ocidente. A amplitude da influência da Reforma em diversos setores da vida estava implícita em sua própria constituição: Era impossível alguém abraçar a Reforma apenas no campo da religião e continuar em tudo o mais a ser um homem de uma ética medieval, com a sua perspectiva da realidade e prática intocáveis.  

1. Martinho Lutero

Lutero quem lançou as bases da moderna escola pública e do ensino obrigatório; e para isso a sua tradução das Escrituras foi fundamental no processo de alfabetização.

A Reforma não apenas ampliou o plano pedagógico renascentista como também, foi efetiva no desenvolvimento da escola primária pública.

Lutero insistiu com as autoridades públicas no sentido de se criarem escolas com vistas à educação secular e eclesiástica. Neste particular, pode-se dizer que Melanchthon (1497-1560) foi o Ministro da Educação de Lutero. A Reforma se valeu amplamente na imprensa como elemento de instrução dos fiéis.  “Sempre defendendo a divulgação da palavra impressa, a Alemanha liderou a alfabetização européia no século XVI”.[1] O fator religioso tornou-se fundamental como estímulo à alfabetização.

Na carta “Aos Conselhos de Todas as Cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs”, de 1524, Lutero, além de tratar do descaso para com as escolas, o esvaziamento das universidades, a necessidade do estudo do alemão e de outros idiomas, a utilização de melhores métodos na educação, a criação de boas bibliotecas e a formação de cidadãos responsáveis, sendo estes o verdadeiro patrimônio de uma cidade.[2]

A ênfase dada por Lutero à Educação, é decorrente da sua visão teológica; isto se torna ainda mais patente, no Prefácio do Catecismo Menor(1529).[3]

Em 1530, num sermão, Lutero declarou a responsabilidade do Estado em obrigar as crianças a irem à escola.[4]

As disciplinas estudadas consistiam em: Leitura, escrita, religião, música sacra e latim, com adaptações do sistema de Melanchthon (1528). Monroe, conclui: “Nenhum outro povo chegou, mesmo aproximadamente, ao aperfeiçoamento dos Estados alemães em assuntos de educação2.”.[5]

2. João Calvino

O reformador francês João Calvino (1509-1564) foi o principal arquiteto da tradição Reformada do Protestantismo.

Para Calvino, cosmovisão é um compromisso de fé e prática. Por isso, o seu trabalho em Genebra consistiu na aplicação de sua fé às condições concretas de sua existência. A fé é chamada a se materializar nos desafios que se configuram diante de nós em nossa história de vida.

Já na sua primeira permanência em Genebra (1536-1538) insistiu junto aos Conselhos para melhorar  as  próprias  condições do ensino, bem como os recursos das  escolas. Ele apresentou ao conselho municipal um projeto educacional (1536) gratuito que se destinava a todas as crianças – meninos e meninas –, tendo um grande apoio público.  Desta proposta surgiu o Collège de Rive. Temos aqui o surgimento da primeira escola primária, gratuita e obrigatória de toda a Europa.

A partir de 1541 Calvino pôde reestruturar o sistema educacional desta cidade. Visto que o Estado estava empobrecido, apelou para doações  e  legados. Calvino criou uma Academia em Genebra (1559).A Academia teve uma origem modesta. Calvino,  no entanto, esforçou-se por constituir um corpo docente competente.

A base da formação educacional em Genebra era a Bíblia. Competia à família (apesar de suas limitações iniciais) e ao Estado o cuidado com a educação. No entanto, a igreja tinha um papel especialíssimo. 

Com o estabelecimento da Academia, o historiador Charles Borgeaud (1861-1941), antigo professor da Universidade de Genebra, disse que “Esta foi a primeira fortaleza da liberdade nos tempos modernos”.[6]

Considerações finais

A ignorância era algo extremamente temido dentro do modelo educacional Reformado-puritano. Para tanto o estudo era amplo, oferecendo uma visão abrangente de todos os ramos do saber, evitando a dicotomia entre o saber religioso e não-religioso, o espiritual e o natural. Como exemplo disso, vemos que “os estudantes ministeriais em Harvard não apenas aprendiam a ler a Bíblia na sua língua original e a expor teologia, mas também estudavam matemática, astronomia, física, botânica, química, filosofia, poesia, história e medicina”.[7]

A ênfase puritana foi marcante em todos os níveis educacionais podendo ser avaliada tanto quantitativa como qualitativamente. Seguindo a tradição da obrigatoriedade do ensino público, conforme enfatizada por Lutero  e pelos calvinistas franceses (1560) e holandeses (1618), “em 1647, o Estado de Massachussets decreta a obrigatoriedade de uma escola primária, sempre que uma povoação agrupe mais de 50 lares”.[8]

Por trás deste ardor pedagógico e social herdado da Reforma estava um firme fundamento teológico. Esta perspectiva amparava-se num conceito de Deus, do homem e de qual o propósito do homem nesta vida.

  1. Deus é reconhecido como o Criador e Senhor de todas as coisas,  sendo o doador da vida e de tudo que temos, a Quem devemos conhecer experiencialmente, amar, obedecer e cultuar.  
  2. O homem como “imagem e semelhança” de Deus deve ser respeitado, amado e ajudado.

A educação, portanto, visava preparar o ser humano para melhor servir a Deus na sociedade a fim de que Deus fosse glorificado. A educação Reformada-Puritana não tinha um fim em si mesma, antes, era caracterizada por um propósito específico conforme definiu John Milton (1608-1674) em 1644.[9]  O saber é para viver autenticamente em comunhão com Deus, refletindo isso no cumprimento de nossos deveres religiosos, familiares, políticos e sociais, agindo no mundo de forma coerente com a nossa nova natureza, objetivando em tudo a Glória de Deus.   

A educação Reformada sempre foi ativista no sentido de que não somente o indivíduo fosse purificado, antes, que envolvesse todas as esferas da vida humana, se manifestando na sociedade em modo de formação e transformação.

Autor Rev Hermisten Maia


[1]Steven R. Fischer, História da leitura, São Paulo: Editora UNESP., 2006, p. 206.

[2] M. Lutero, Aos conselhos de todas as cidades da Alemanha para que criem e mantenham escolas cristãs: In: Martinho Lutero: Obras selecionadas, São Leopoldo, RS.; Porto Alegre:  Sinodal; Concórdia, 1995, v. 5.

[3]Martinho Lutero, Catecismo Menor, Prefácio, § 19-20: In: Lutero, os catecismos, Porto Alegre; São Leopoldo, RS.: Concórdia; Sinodal, 1983, p. 365.

[4] Martinho Lutero, Uma prédica para que se mandem os filhos à escola (1530): In: Martinho Lutero: Obras selecionadas, São Leopoldo, RS.; Porto Alegre:  Sinodal; Concórdia, 1995,  v. 5, p. 362.

[5] Paul Monroe, História da educação,11. ed. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 1976, p. 190

[6] Charles Borgeaud, Historie de l’Université de Genève: L’Académie de Calvin  1559-1798,  Genève: Georg & Co: Libraires de L’Université, 1900, p. 83.  

[7]Leland Ryken, Santos no mundo,São José dos Campos, SP.: FIEL,  1992, p. 175.

[8]Jean Vial, Introdução. In: Gaston Mialaret; Jean Vial, dirs., História mundial da educação,  Porto: RÉS-Editora, (s.d.), v. 2, p. 9.

[9] John Milton, Milton’s Tractate on Education: A facsimile reprint from the edition of 1673, Cambridge: The University Press, 1897, p. 3-4.8. 

OS 5 PILARES DA REFORMA PROTESTANTE

 


CINCO PILARES DA REFORMA PROTESTANTE DO SÉCULO XVI 31 DE OUTUBRO DE 1517

A reforma protestante do século XVI começou com o monge agostiniano Martinho Lutero. Em 31 de outubro surgiu Tetzel vendendo o perdão de Deus na forma de indulgências, que eram venda pública de documentos e relíquias que garantiam a seus adeptos o perdão pelos pecados cometidos, meio utilizado pela igreja para obter fundos. Lutero, indignado com tudo isso, (com o chamado comércio sagrado das indulgências), afixa 95 teses na porta da capela da Igreja de Wittemberg (Alemanha) em 31 de outubro de 1517 protestando contra esse ensino herético da Igreja Católica Romana daquela época. Os cinco “Solas da Reforma Protestante” são proposições teológicas que sintetizam os principais pensamentos dos reformadores. Os Solas são os principais pontos de oposição da teologia reformada contra os ensinos da Igreja Católica Apostólica Romana. Todos eles são frases no latim e o termo “Sola” significa “somente” em português. São eles: Sola Scriptura – somente as Escrituras; Sola Fide – somente a Fé; Sola Gratia – somente a Graça; Solus Christus – somente Cristo; Soli Deo glória – somente a glória de Deus. Os cinco solas surgiram durante a reforma protestante e princípios fundamentais da reforma, em oposição ao ensino da Igreja Católica Romana da época. As cinco solas sintetizam os credos teológicos básicos dos reformadores e constituem os pilares da reforma protestante, os quais creram ser essenciais da vida e prática cristã. Todas cinco “solas” rejeitam e se contrapõe aos ensinamentos da então dominante igreja romana.

1) Sola Scriptura – somente as Escrituras (2 Tm 3.16,17). O papa não tem a palavra final. De acordo com a teologia católica romana o papa é infalível, isto é, isento de erros. A teologia romana definiu essa infalibilidade do papa afirmando que, quando o papa fala “ex cathedra”, isto é, quando trata de assuntos doutrinários, moral e ético, ele é infalível. Os reformadores refutaram e rejeitaram essa loucura e heresia. A tradição oral não tem a palavra final. Os reformadores sustentavam que a Escritura é a única autoridade infalível dentro da igreja. Deste modo, a autoridade dos Credos (Apostólico, Nicéia, Calcedônia), eram documentos importantes e considerados pelos reformadores, contudo, somente as Escrituras são incondicionalmente autoritativas. A Igreja não tem a palavra final. Nenhuma denominação religiosa está isenta de erros neste mundo. Os concílios são compostos por pessoas e, por melhores que sejam as intenções dessas pessoas e por mais sólido que seja seu conhecimento teológico, elas continuam sendo sujeitas a erros. Nossos concílios e igrejas são falíveis, não há denominação cristã perfeita. Para os reformadores, a autoridade fundamental, segundo a qual a igreja deve moldar sua fé não é a opinião de pessoas por mais ilustres que sejam. Toda doutrina, ensinamentos, conselho, aconselhamento, conceito, instrução e direção deve ser fundamentado na Bíblia que é a única autoridade divina, infalível, inerrante regra de fé e prática.

2) Sola Fide – somente a Fé (Rm 1.16,17). “A salvação não é alcançada pelas obras nem por uma parceria entre a fé e as obras. A salvação é recebida pela fé e pela fé somente. Pelas obras ninguém pode ser justificado diante de Deus. A salvação não é conquista pelas obras, mas recebida pela fé. Não é fruto do que fazemos para Deus, mas do que Deus fez por nós. A fé é a causa instrumental da salvação. Todo aquele que crê em Cristo tem a vida eterna. A fé, portanto, é como a mão de um mendigo estendida para receber o presente de um rei. Somos justificados pela fé. Somos salvos pela graça mediante a fé. Somos salvos pela fé para as obras. As obras não são a causa da nossa salvação, mas a sua evidência. A salvação é obra exclusiva de Deus. Deus planejou, executa e garante a salvação” (Transcrito: Rev. Hernandes D. Lopes).

3) Sola Gratia – somente a Graça (Ef 2.8,9). Deus não nos salva porque fazemos boas obras ou porque merecemos alguma coisa. Não há nada que podemos fazer para merecer a salvação. O que você e eu merecemos é o juízo e a condenação de Deus, mas pela maravilhosa graça Deus nos concede em Cristo Jesus misericórdia, nos livra do inferno e nos levará para o céu. Os seres humanos nascem espiritualmente mortos e nem mesmo são capazes de cooperar com a graça regeneradora.

4) Solus Christus – somente Cristo. A igreja romana alega ser necessária, (além da obra de Cristo), mais alguma coisa, para que a salvação seja completa. Como resultado, a doutrina católica romana acrescenta como mediadores Maria e outros santos. Mas, refutamos totalmente essa heresia e reafirmamos que “há um só Deus e um só Mediador entre Deus e os homens Cristo Jesus, homem” (1 Tm 2.5,6). Somente Cristo é o verdadeiro e perfeito mediador entre Deus e os homens e que a nossa salvação é realizada tão somente pela obra mediadora e redentiva de Jesus Cristo. “Jesus Cristo não é uma verdade entre outras; ele é a verdade. Ele não é um caminho entre muitos; ele é o Caminho. Ele não é um mediador no meio de panteão de intercessores; ele é o único Mediador entre Deus e os homens. Ele não é um salvador entre outros salvadores. Ele é o único nome dado entre os homens pelo qual importa que sejamos salvos. Fora dele não há salvação. Ele sendo Deus, fez-se carne. Sendo Rei da glória, fezse servo. Sendo santíssimo, fez-se pecado. Ele tomou o nosso lugar, como nosso substituto e fiador e morreu pelos nossos pecados e ressuscitou para a nossa justificação. Só por meio dele podemos ser reconciliados com Deus. Só nele temos vida eterna” (Transcrito: Rev. Hernandes D. Lopes).

5) Soli Deo glória (Sl 115.1; 1 Tm 1.17). Deus é o único que merece toda honra, toda glória e toda adoração. “Toda glória dada ao homem é glória vazia, é vanglória, é idolatria, é abominação para Deus. Só o Senhor é Deus. Ele subsiste em três pessoas da mesma essência e substância: o Pai, o Filho e o Espírito Santo. Ele é glorioso em si mesmo, mas criou-nos e salvou-nos para o louvor de sua glória. Ele não divide a sua glória com ninguém. O fim principal do homem é glorificá-lo e gozá-lo para sempre. Nenhum outro propósito, por mais elevado, pode dar significado à nossa vida. Fomos criados por ele e nossa alma só encontrará descanso, quando vivemos para o louvor de sua glória” (Transcrito: Rev. Hernandes Dias Lopes).

Rev. Carlos Eduardo Baptista

A Reforma Protestante e a Contribuição Política

 


Neste segundo artigo da série Reforma Protestante, vamos tratar das contribuições da Reforma na área política



Estátua de Martinho Lutero, reformador protestante do século XV. (Foto: Wikipedia)

A Reforma Protestante trouxe várias contribuições que aconteceram naquela época e que ainda se refletem em nossos dias. Neste segundo artigo da série Reforma Protestante, vamos tratar das contribuições da Reforma na área política.

Naquele contexto, a Igreja Católica Romana dominava os países católicos, sem esses terem a liberdade de se posicionarem contra o sistema romano. Por essa razão, vários reis, nobres e autoridade em geral estavam interessados em romper com poder católico. E foi a Reforma que trouxe essa possibilidade de rompimento com o poder Papal.

Lutero entendia que atuação política do Estado deveria funcionar no modelo que chamamos hoje de “Estado laico”. Nessa questão, Lutero tinha discordância com o João Calvino. Acerca do cristão em cargos públicos, Lutero destaca:

“Agora continua perguntando se também os oficiais da justiça, carrascos, juízes e advogados e os que são dessas áreas podem ser cristãos e estar em estado de graça. Resposta: Se a autoridade e a espada são serviços de Deus, como mostrado acima, deve ser serviço de Deus também tudo quanto é necessário à autoridade para que possa usar a espada. Pois é necessária que haja alguém que prenda os maus, os acuse, degole e mate, e projeta os bons, os inocentes, defenda e salve. Portanto, se não o fazem para seus próprios fins, mas somente ajudam a executar o direito e a autoridade, para que os maus sejam coercidos, não correm perigo e podem exercer o cargo como qualquer outra pessoa exerce um ofício para ganhar o pão. Pois, como já foi dito, o amor ao próximo não olha para seus próprios interesses, também não avalia se a obra é grande ou pequena, mas apenas pergunta pela utilidade e necessário que tem para o próximo ou para a comunidade” (LUTERO, 1996, p.96).

Na visão de Lutero no seu contexto alemão, cristãos que não exercem cargos públicos, que não contribuíssem de uma forma benéfica para o povo (principalmente os necessitados), não estariam sendo verdadeiros cristãos. Samuel Valério afirma que “Lutero entendia que os cristãos de sua época precisavam ser cidadãos com relevância social” (VALÉRIO, 2017, p.19).

Lutero fortemente combateu o abuso de poder do Catolicismo Romano, e com apoio político que obteve, isso exerceu forte influência no monge agostiniano para continuar a propagar as suas doutrinas e exercer oposição ao Papa Leão X. O Tratado de Martinho Lutero sobre Liberdade Cristã, destaca que “a liberdade cristã é proveniente de Deus, é presente dele, e não é conseguida através de ativismo que busca autorrealização religiosa” (LUTERO, 1989, p. 436).

Na perspectiva de Lutero, o cristão é um ser humano capacitado a ter sua independência e, por esse motivo, não necessitava depender do clero romano. A Reforma trouxe uma nova expectativa do cristão a política. Lutero entende que a responsabilidade política e social, e a comunhão com Deus, poderia proporcionar uma qualidade de vida para todos. Lutero não era exclusivista no aspecto.

No cenário brasileiro, a política tem sido um assunto polarizado. Infelizmente, na histórica da política, as tristes narrativas trazem um pessimismo que parece que não há solução. Mas como cristão, creio que mudanças podem ocorrer nas pessoas por intermédio de Jesus Cristo, porque Ele é único Senhor e Salvador. Mas, como protestante, acredito que o legado da Reforma Protestante, pode proporcionar aos cristãos uma forma melhor de entendermos a importância da política e servir ao próximo, sem preconceito. E, em tudo isso, Deus é glorificado!          

Referências bibliográficas:

LUTERO, Martinho. Obras Selecionadas – Ética: Fundamentos: Fundamentação da Ética Política Governo, Guerra dos Camponeses Guerra contra os turcos e Paz Social. Volume 6, São Leopoldo: Porto Alegre: Editora Sinodal; Concórdia Editora, 1996.

________________. Obras Selecionadas – O Programa da Reforma Escritos de 1520. Volume 2, São Paulo: Porto Alegre: Editora Sinodal; Concórdia Editora, 1989.

VALÉRIO, Samuel Pereira. Possíveis contribuições sociais da Reforma Protestante e do Pentecostalismo Brasileiros. In: VALÉRIO, Samuel Pereira e Osiel Lourenço de Carvalho (Orgs). Reforma Protestante e Pentecostalismos no Brasil – Aproximações e Distanciamentos. São Paulo. Editora Reflexão. 2017.

Ediudson Fontes é Pastor auxiliar da Assembleia de Deus – Ministério Cidade Santa no RJ. Teólogo. Pós-graduação em Ciência das Religiões. Mestrado em Teologia Sistemática. Professor de Teologia, autor das obras: “Panorama da Teologia Arminiana”, “Reforma Protestante e Pentecostalismo – A Conexão dos Cinco Solas e a Teologia Pentecostal” e “A Soteriologia na relação entre Arminianismo e Pentecostalismo”, todos publicados pela Editora Reflexão. Casado com Caroline Fontes e pai de Calebe Fontes.

* O conteúdo do texto acima é de colaboração voluntária, seu teor é de total responsabilidade do autor e não reflete necessariamente a opinião do Portal Agreste Presbiteriano.

FONTE: GUIAME, EDIUDSON FONTES

terça-feira, 19 de setembro de 2023

Pastor visita igreja no Marrocos após pior terremoto no país: ‘Estão em oração’

 


Église Évangelique Au Maroc Paroisse de Marrakech. (Foto: Reprodução/Cvandaag)

Após visita em igreja evangélica marroquina, Jurjen de Groot deu um panorama sobre comunidade cristã local.

Jurjen de Groot, diretor da Igreja Protestante dos Países Baixos (Igreja Reformada Holandesa), visitou uma igreja evangélica no Marrocos, após o terremoto que atingiu o país na sexta-feira (08), com uma magnitude de 6,8, segundo os serviços geológicos norte-americanos.

O tremor, um dos mais destrutivos no mundo nos últimos anos, aconteceu nas montanhas do Atlas, a 80 quilômetros da cidade de Marraquexe.

Até o momento desta matéria, 2.860 pessoas morreram, principalmente nas aldeias montanhosas.

O pastor Jurjen, que também é diretor da Kerk in Actie (‘Igreja em Ação’, em tradução livre), uma organização holandesa que se dedica a atividades de caridade e ajuda humanitária, estava no Marrocos na ocasião da tragédia.

Jurjen visitou uma igreja em Marraquexe e descreveu o que encontrou:

“Quando cheguei lá na sexta-feira à noite, eles estavam apenas tendo uma reunião de oração. Duzentas pessoas oraram lá a noite toda.”

Muitos não sabem que existem igrejas em Marrocos. No entanto, a igreja evangélica foi fundada no país em 1907, diz o pastor.

Jurjen conversou com o pastor Thierry Nizigiyimana, que lidera uma delas.

“Esta igreja foi fechada depois que os franceses se retiraram de Marrocos. Mas como muitos estudantes e também migrantes de países africanos vêm para cá, uma igreja foi estabelecida novamente em 1990.”

Pastor Jurjen de Groot e sua esposa. (Foto: EOL)

Igrejas dependem de apoio de organizações cristãs

Atualmente, existem doze igrejas evangélicas com um total de 3.000 membros, incluindo esta igreja em Marraquexe, que é apoiada pela organização “Kerk in Actie” em sua formação teológica e no trabalho diaconal.

Jurjen conta que há muitas dificuldades para a igreja no Marrocos, embora não exista proibições:

“Vi que eles estavam recolhendo caixas para distribuir alimentos. Mas não é permitido fazer nada sem consultar o governo marroquino. É por isso que eles não podem tomar medidas imediatas.”

Essa realidade faz com que os cristãos precisem de apoio, como o oferecido pela Kerk in Actie, diz o pastor.

“A Kerk in Actie irá apoiá-los com uma contribuição extra para ajuda de emergência” nesta situação pós-terremoto, explica Jurjen.

Bênçãos como Igreja

Jurjen falou sobre suas bênçãos como igreja aos cristãos marroquinos:

“Precisamente porque tantas culturas se reúnem aqui, eles não se preocupam com a tradição. Todos são bem-vindos. É realmente uma questão de essência: em que acreditamos? Não evangelizam, mas são testemunhas vivas. Como resultado, eles têm muito impacto.”

O Pastor Nizigiyimana explicou sobre suas reais preocupação:

“Nossa igreja aqui consiste principalmente de estudantes. Todo aluno já está passando por momentos difíceis e só pode contribuir com um pouco do que tem. Portanto, é um desafio para nós sobrevivermos financeiramente. E muitos estudantes vêm e vão, por isso é difícil construir uma comunidade.”

Controle governamental

Jurjen de Groot conclui dizendo que “as igrejas são legalmente permitidas em Marrocos, mas há controle”.

“Todos que entram e saem da igreja são monitorados. Dizem que é para proteção, mas é por isso que poucos marroquinos vão à igreja. Então esse é o contexto em que eles são igreja”.

FONTE: GUIAME, COM INFORMAÇÕES DO CVANDAAG

O ENCONTRO DE JESUS COM A MULHER SAMARITANA

 


UM ENCONTRO INCOPARÁVEL

João 4.1-42

Uma vez que os fariseus tentavam provocar uma competição entre Jesus e João Batista (Jo 3:25-30), Jesus saiu da Judeia e se dirigiu para o norte da Galileia. Poderia escolher entre três caminhos para chegar a seu destino: (1) seguindo pela costa; (2) atravessando o Jordão e subindo pela Pereia; ou (3) indo por Samaria. Os judeus ortodoxos evitavam passar por Samaria por causa do ódio antigo e profundo existente entre eles e os samaritanos.

Os samaritanos eram uma raça mestiça, parte judia e parte gentia, que havia se formado durante o cativeiro assírio das dez tribos do norte a partir de 727 a.C. Rejeitados pelos judeus por não poderem provar sua genealogia, os samaritanos estabeleceram seu próprio templo e cultos religiosos no monte Gerizim, o que só serviu para aumentar o preconceito. A aversão dos fariseus pelos samaritanos era tal que oravam para que nenhum samaritano fosse revivido no dia da ressurreição! Numa tentativa de insultar Jesus, seus inimigos o chamaram de samaritano (Jo 8:48). Uma vez que operava dentro do plano de Deus, era necessário que Jesus passasse por Samaria. Lá, encontraria uma mulher e a conduziria à fé salvadora, o tipo de fé que teria impacto sobre uma vila inteira. Jesus não fazia acepção de pessoas. Em uma ocasião anterior, havia aconselhado um judeu moralista (Jo 3) e, agora, estava prestes a testemunhar a uma mulher samaritana imoral!

Chegou ao poço de Jacó por volta do meio dia, horário em que as mulheres iam buscar água. Os discípulos foram à cidade mais próxima para buscar comida, enquanto Jesus esperou, de propósito, ao lado do poço. Estava cansado, faminto e sedento. João não mostra Jesus apenas como o Filho de Deus, mas também como um homem. Cristo passou pelas experiências normais da vida humana e é capaz de identificar-se conosco em cada uma delas.

Neste texto de João 4.1-42, Jesus nos ensina algumas lições que precisamos aprender. Jesus nos ensina que:

1- É PRECISO ROMPER AS BARREIAS PARA PREGAR O EVANGELHO (4.1-6)

Jesus foge do conflito sobre o batismo e sai da Judeia rumo à Galileia (4.1-3). Nessa jornada em direção ao norte, ele opta por passar pela província de Samaria (4.4). Meus irmãos, a agenda de Jesus começa no céu. Era-lhe necessário passar por Samaria. Havia três estradas para fazer esse trajeto do sul ao norte: uma nas proximidades da costa, outra através da Pereia, e outra que passava pelo centro de Samaria. Esta era a mais curta, porém algumas vezes evitada por causa do conflito entre judeus e samaritanos.

Jesus faz a transição de um diálogo com um doutor da lei para um diálogo com uma mulher samaritana pecadora. O contraste entre Nicodemos e a samaritana é gritante: ele, homem, judeu, fariseu, mestre, membro do Sinédrio; ela, mulher, samaritana, inculta, vivendo uma vida imoral. Ambos, porém, precisavam de Jesus e foram alvos do amor de Jesus.

Nicodemos era um erudito, poderoso, respeitado, ortodoxo, teologicamente preparado; a samaritana era inculta, sem influência, desprezada, capaz somente de praticar uma religião popular. Ele era um homem, um judeu, um líder; ela era uma mulher, uma samaritana, uma pária moral. E ambos necessitavam de Jesus.

Jesus ao se encontrar com aquela mulher ele não a acusou, apontando os seus pecados, mas lhe pediu um favor, depois apresentou a mulher a mensagem do evangelho.

Para alcançar aquela mulher Jesus ultrapassou algumas barreiras: Primeiro, a barreira cultural. O nome Sicar significa “cidade dos bêbados”. Jesus, porém, mandou que seus discípulos comprassem comida em Sicar. Os judeus consideravam imunda a comida dos samaritanos. Além do mais, um rabino não podia conversar com uma mulher em público. Jesus não só conversou com ela, mas lhe pediu um favor. A mulher tinha uma vida moral reprovada pela lei. Já tinha tido cinco maridos e agora vivia com um amante. Era uma mulher desprezada, mas Jesus a valorizou.

Segundo, a barreira racial – o povo samaritano era uma espécie de caldeamento de raças (2Rs 17.6,24). O povo samaritano era meio judeu e meio gentio. Havia perdido sua identidade racial. No tempo de Jesus, a desavença entre judeus e samaritanos perdurava por mais de quinhentos anos. Um judeu considerava um samaritano combustível para o fogo do inferno. Eles não se davam. Não bebiam nos mesmos vasos. No entanto, Jesus conversou com a samaritana e lhe pediu um favor.

Terceiro, a barreira religiosa. A separação entre judeus e samaritanos se relacionava, também, com a apostasia religiosa dos samaritanos. Eles haviam perdido a integridade doutrinária. Os samaritanos não preservaram a fé intacta. Diziam que o monte Gerizim era o lugar do verdadeiro templo e o lugar da verdadeira adoração. Rejeitaram o Antigo Testamento. Criam apenas nos livros da lei, o Pentateuco. Está provado que os samaritanos tinham uma religião sincrética, misturada e herética. Quando João Hircano, o general caudilho judeu, em 129 a.C. atacou Samaria e destruiu o templo samaritano, o ódio dos samaritanos pelos judeus agravou-se intensamente. A conversa de Jesus com a mulher samaritana tem todo esse cenário religioso como pano de fundo. Jesus supera todos esses obstáculos, vence todas essas barreiras e triunfa sobre todos esses preconceitos para alcançar o coração dessa mulher e lhe dar uma nova vida.

2- É PRECISO PREGAR O EVANGELHO AO PECADOR (4.7-18)

O evangelho precisa se pregado para libertar os pecadores que estão mortos em seus delitos e pecados. Meus irmãos, podemos aprender com Jesus coisas maravilhosas no diálogo dele com esta mulher samaritana, ele lhe despertou:

A SIMPATIA (4.7-9) – Jesus fez um ponto de contato com aquela mulher pedindo-lhe algo: Dá-me um pouco de água. Concordo com William Hendriksen quando ele diz que, “se alguém deseja penetrar o coração de outra pessoa, pode usar dois métodos: fazer-lhe um favor ou pedir-lhe um favor”. Com frequência, a segunda opção é mais eficaz que a primeira. Jesus, no entanto, combinou as duas.

Jesus se identificou com a mulher. Ele deu valor a ela, quando todos fugiam. Jesus quebrou a barreira cultural, conversando com a mulher em público. Ele não fugiu dela nem a desprezou, mas a olhou com simpatia. Não a julgou nem a condenou. John Charles Ryle explica: “É em vão esperar que as pessoas virão a nós em busca de conhecimento. Nós devemos começar por elas. Devemos entender qual é o melhor acesso ao coração delas”.

A CURIOSIDADE (4.10-12) – “A mulher precisava conhecer o dom de Deus, a água da vida” (4.10). A água da vida que Jesus oferece não vem de um poço comum. É uma dádiva que só o Messias pode conceder. Muitas pessoas vivem uma vida infeliz, vazia e prisioneira porque não conhecem Jesus, o supremo dom de Deus. A mulher samaritana talvez não esperasse nada de Deus. Estava desiludida. Por isso, Jesus tocou no nervo exposto de sua curiosidade: “Se conhecesses […] não conheceis”. Essa fala de Jesus aguçou na mulher o desejo de saber quem era aquele interlocutor.

O SENSO DE NECESSIDADE (4.13-15) – a mulher samaritana não entendeu quando Jesus falou sobre a água da vida. Tanto o erudito Nicodemos quanto a ignorante samaritana não entenderam a linguagem espiritual de Jesus. As coisas deste mundo não satisfazem. Nada que o homem jogue para dentro do coração satisfaz. A água do poço de Jacó não satisfaz para sempre. A água do poço de Jacó fica fora da alma e não é capaz de satisfazer as necessidades do coração. A água do poço de Jacó é de quantidade limitada, diminui e desaparece.

Charles Erdman disse: “Satisfação era exatamente aquilo a que essa pobre mulher aspirava. Atrás disso andara toda a vida, e nessa busca não respeitara nem as leis de Deus, nem as dos homens. Entretanto, continuava sedenta; e a sede nunca seria satisfeita, senão quando achasse em Cristo o Senhor e Salvador pessoal”.

Que água é essa, a água da vida? A promessa de Deus é derramar água sobre o sedento (Is 44.3). Deus convida todos: Vos, todos os que tendes sede, vinde às águas (Is 53.1). Deus prometeu que seu povo tiraria com alegria águas do poço da salvação (Is 12.3). Jesus disse: Se alguém tem sede, venha a mim e beba (Jo 7.37). O Espírito que flui como rio dentro de nós é essa fonte que jorra para a vida eterna (Jo 7.38). William Barclay diz que, para o judeu, água viva significava água corrente. Tratava-se da água que fluía de uma nascente, em oposição à água estancada, parada de uma cisterna.

D. A. Carson quando ele diz que há ecos de promessas do Antigo Testamento nessa promessa de Jesus. No dia da salvação, o povo de Deus tirará águas das fontes da salvação com alegria (Is 12.3); eles não sentirão fome nem sede (Is 49.10). O derramar do Espírito de Deus será como o derramar de água sobre o sedento e torrentes sobre a terra seca (Is 44.3). A linguagem da satisfação e transformação interior traz à mente uma série de profecias, antecipando o novo coração e a troca do falido formalismo religioso por um coração que conhece e experimenta Deus, ansioso por fazer sua vontade (Jr 31.29-34; Ez 36.25-27; Jl 2.28-32).19 Jesus desperta sua consciência (4.16-18) para uma vida em uma nova dimensão.

3- O PECADOR PRECISA SE ARREPENDER PARA SER SALVO (4.16-18)

Ela se arrependeu dos seus pecados (4.16-18) – Convicção de Pecado. Jesus despertara sua consciência (4.16-18) Jesus faz uma transição radical na conversa com a mulher e ordena: Vai, chama teu marido (4.16). Essa transição, porém, tem uma ligação estreita entre o pedido da mulher e a ordem de Cristo. A mulher quer essa água viva, mas tem sede suficiente para recebê-la? Hendriksen comenta: “Essa sede não será completamente despertada a menos que haja um senso de culpa, uma consciência de pecado”.

 A menção de seu marido é a melhor maneira de lembrá-la de sua vida imoral. O Senhor está, agora, falando à consciência da samaritana. Jesus mostra que, antes de beber a água da vida, ela precisa ter convicção de pecado e passar pelo arrependimento. Não há salvação sem arrependimento. Jesus destampa tanto o passado quanto o presente da mulher samaritana, preparando seu coração para receber o dom de Deus (4.14-16).

John Charles Ryle sustenta que, a menos que homens e mulheres sejam levados à consciência de sua pecaminosidade e de sua necessidade, nenhum bem poderá ser feito à sua alma. Até que o pecador veja a si mesmo como Deus o vê, ele continuará sem nenhuma ajuda. Nenhum pecador desejará o remédio da graça até se reconhecer como doente. Ninguém está habilitado a ver a beleza de Cristo até ver a própria hediondez. A ignorância do pecador levará à negligência a Cristo.

A mulher samaritana dá uma resposta verdadeira, mas incompleta. A resposta era formalmente correta, mas potencialmente enganosa. Nas palavras de Werner de Boor, a mulher proferiu uma meia verdade, por meio da qual esperava esquivar-se para uma escuridão protetora.

A mulher disse: “Não tenho marido” (4.17). Jesus, elogiou sua sinceridade formal, enquanto afirmou que ela já havia tido cinco maridos (mortos ou divorciados), e o homem com quem ela vivia agora não era de forma alguma legalmente seu marido (4.17,18). 

O conhecimento preciso de Jesus sobre o seu passado provava que Jesus é o Messias. A mulher percebeu que Jesus conhecia sua vida. A mulher samaritana reconheceu que estava diante de um profeta. A mulher percebeu que Jesus conhecia sua vida. A mulher samaritana reconheceu que estava diante de um profeta.

Jesus desperta seu sentimento religioso (4.19-24) –A mulher até então tão falante se calou quando Jesus tocou no seu pecado. Outros acreditam que ela mudou de assunto, passando a uma discussão teológica, uma vez que a conversa havia se tornado incômoda. É mais fácil discutir teologia do que enfrentar os próprios pecados. Nas palavras de D. A. Carson “é mais fácil falar de teologia que tratar com uma verdade pessoalmente angustiante”.

Contudo, como os samaritanos só acreditavam no Pentateuco e como Deuteronômio diz que Deus suscitaria outro profeta semelhante a Moisés, esse profeta seria o Messias. Assim, essa mulher fez uma pergunta honesta: Onde adorar? Jesus respondeu que o importante não é onde, mas como e quem adorar. A verdadeira adoração a Deus é em espírito e em verdade. E de todo o coração e também prescrita pela Palavra de Deus. Os samaritanos adoravam o que não conheciam. Assim, qualquer religião que consista apenas em formalidade, sem fundamentação nas Escrituras, é absolutamente inútil.

A verdadeira adoração é um dos temas centrais das Escrituras. A veneração de imagens de escultura é uma abominação para Deus, pois Deus é plenamente espiritual em sua essência. Quando Jesus diz que Deus é Espírito, isso significa que Deus é invisível, intangível e divino, em oposição a humano. E desconhecido para os seres humanos a menos que decida se revelar (1.18). Da mesma forma que Deus é luz (l Jo 1.5) e amor (l Jo 4.8), também é Espírito (4.24). Esses são elementos da forma em que Deus se apresenta aos seres humanos, da bondosa autorrevelação em seu Filho. Deus escolheu se revelar quando o Verbo se fez carne. Quem vê Jesus, vê o próprio Pai.

O culto prestado a outros deuses é uma ofensa a Deus, pois Deus é um só e não há outro. A adoração a Deus, entre[1]mentes, não pode ser do nosso modo nem ao nosso gosto, pois Deus mesmo estabeleceu critérios claros como exige ser adorado. Muitas igrejas, com o propósito de agradar às pessoas, estabelecem formas estranhas de adoração que não estão prescritas nas Escrituras. Isso é como fogo estranho no altar. O pragmatismo religioso está substituindo a verdade de Deus em muitas igrejas. Muitas pessoas buscam o que funciona, não o que é certo. Procuram o que dá resultado, não a verdade. Estabelecem um culto sensório, não um culto em espírito e em verdade.

A verdadeira adoração não se limita a um lugar, seja o Monte Gerezim ou ao Monte ou a Jerusalém, mas em espírito e em verdade. A adoração não é centrada em lugares sagrados 4.20. Não é neste monte nem naquele. Não existe lugar mais sagrado que outro. Não é o lugar que autentica a adoração, mas a atitude do adorador. Segundo, não é adoração sem entendimento (4.22). Os samaritanos adoravam o que não conheciam. Havia uma liturgia desprovida de entendimento. Havia um ritual vazio de compreensão. Terceiro, não é adoração descentralizada da pessoa de Cristo (4.25,26). Os samaritanos adoravam, mas não conheciam o Messias. Cristo não era o centro do seu culto. Nossa adoração será vazia se Cristo não for o centro. O culto não serve para agradar as pessoas. A música não serve para entreter os adoradores. A verdadeira música vem do céu e é endereçada ao céu (SI 40.3). Vem de Deus por causa de sua origem e volta para Deus por causa de seu propósito.

A adoração falsa é abominação para Deus, e a adoração hipócrita provoca o desgosto de Deus. O profeta Isaías já havia demonstrado o desgosto divino, quando disse que o povo de Israel honrava a Deus com os lábios, mas seu coração estava distante de Deus (Is 29.13). Nessa mesma linha, Amós foi contundente quando escreveu em nome de Deus: Eu detesto e desprezo as vossas festas; não me agrado das vossas assembleias solenes […]. Afastai de mim o som dos vossos cânticos, porque não ouvirei as melodias das vossas liras (Am 5.21,23).

Jesus também diz à mulher samaritana o que a adoração é. Primeiro, a adoração precisa ser bíblica (4.24). O nosso culto é bíblico ou é anátema. Deus não se impressiona com pompa; ele busca a verdade no íntimo. Segundo, a adoração precisa ser sincera (4.24). A adoração precisa ser em espírito, ou seja, de todo o coração. Precisa ter fervor. Não é um culto frio, árido, seco, sem vida.

Jesus desperta em seu coração a fé verdadeira (4.25,26) – A mulher menciona o Messias que havia de vir. Então, Jesus diz: Sou eu, o que está falando contigo. A declaração, sou eu lembra a própria revelação de Deus Eu sou o que sou (Ex 3.14). Jesus disse este “Eu sou” nove vezes nesse evangelho (6.20; 8.24,28,58; 13.9; 18.5,6,8). Até aqui, seis vezes Jesus se dirigiu à mulher, e seis vezes ela lhe respondeu. Na sétima vez, quando Jesus declarou ser o Messias, ela não lhe diz palavra; o quedemos é que ela deixou ali seu cântaro, foi à cidade e disse ao povo: Vinde, vede um homem que me disse tudo o que tenho feito; será ele o Cristo?

A samaritana encontrou o Messias. Saciou sua alma e bebeu da água da vida. De acordo com William Barclay, o fato de a mulher samaritana ter deixado o cântaro aponta para dois fatos: 1) ela estava com pressa para ir à cidade e compartilhar sua experiência com o Messias; 2) ela tinha convicção de que voltaria para estar com Jesus.

Podemos elencar várias evidências de sua verdadeira conversão. Primeiro, a samaritana deixou o cântaro (4.28). Segundo, ela correu à cidade para anunciar Jesus (4.28b[1]30). Ela testemunhou para toda a cidade ter encontrado um homem que para ela era o Messias. Quem encontra Jesus tem pressa em compartilhar essas boas-novas com todos. Sua compreensão sobre Jesus foi progressiva: primeiro, pensou ser um viajante judeu cansado; daí passou a considerá-lo “profeta”; e finalmente, Cristo, a quem o povo de sua cidade chama de “o Salvador do mundo” .

 John MacArthur disse: “que O diálogo de Jesus com a mulher samaritana ilustra três Verdades inegociáveis sobre a salvação. Em primeiro lugar, a salvação vem somente para aqueles que reconhecem sua desesperada necessidade de vida espiritual. Segundo, a salvação vem somente para aqueles que confessam e se arrependem de seus pecados e desejam perdão. Terceiro, a salvação vem somente para aqueles que recebem Cristo como o seu Messias e Salvador”.

4- O SALVO PRECISA SER TESTEMUNHA DE JESUS (4.28-30)

A atitude da mulher samaritana (4.28-30) – A mulher samaritana teve os olhos abertos progressivamente. Agora, ela compreende que está diante do Messias, o esperado Salvador do mundo. Sua alma é dessedentada pela água da vida, e não consta que Jesus tenha bebido a água do poço de Jacó. A transformação da mulher samaritana pode ser confirmada por suas atitudes, como vemos a seguir.

Primeiro, ela abandona o seu cântaro. A mulher deixou ali seu cântaro […] (4.28a). A água que ela foi buscar não tinha mais vital importância agora. A mulher havia encontrado a água da vida. Havia saciado sua alma. Sua vida fora penetrada pela luz do céu, e os segredos do seu coração foram revelados pelo Messias. Havia pressa para contar essa boa-nova à sua cidade, e a samaritana estava disposta a desvencilhar-se de qualquer obstáculo para ganhar celeridade.

Segundo, ela proclama o Messias. […] foi à cidade e disse ao povo: Vinde, vede um homem que me disse tudo o que tenho fito ; será ele o Cristo? Saíram, pois, da cidade e foram ao encontro dele (4.28b-30). No mesmo dia da conversão dessa mulher, ela se tornou uma missionária. O testemunho da mulher samaritana tem alguns componentes que merecem destaque, como veremos a seguir.

Ela faz uma proclamação pública (4.28b). Até então, essa mulher, provavelmente, fazia de tudo para passar despercebida. Preferia as sombras do anonimato. Sua reputação era duvidosa, e sua palavra tinha pouco peso entre os homens daquela cidade. Agora, porém, ela anunciava altissonantemente o Messias. Não havia constrangimento nem temor.

Ela faz um convite veemente (4.29). Sabiamente, essa mulher fez um convite: Vinde. Usando a mesma tática que Filipe empregou com Natanael, ela disse: Vinde, vede um homem que me disse tudo o que tenho feito […]. Ela não desperdiçou tempo usando argumentos confusos; antes, conclamou à verificação. Desejava que aqueles homens tivessem a mesma experiência que ela havia tido. Queria que vissem o mesmo Messias que ela havia visto. Esperava que bebessem a mesma água da vida que ela havia bebido.

Ela faz uma confissão corajosa (4.29). A vida dessa mulher era conhecida na cidade. Todos sabiam que ela já estava morando com o sexto homem. Sua fama de amante das aventuras era o cardápio preferido dos bisbilhoteiros. Mas ela não tem mais a preocupação de encobrir seus pecados. Diz abertamente que o Messias destampou a câmara de horrores do seu coração e trouxe à luz todos os seus pecados ocultos.

Ela vê um resultado extraordinário. Saíram, pois, da cidade e foram ao encontro dele (4.30). Os discípulos de Jesus vão à cidade e voltam sozinhos, com as mãos cheias de pães. A mulher vai à cidade e traz consigo muitas pessoas para conhecerem Jesus. Os discípulos tornaram-se profissionais da religião; ela, uma missionária apaixonada.

Ainda hoje, fazemos o mesmo que os discípulos. Entramos nos supermercados, nas lojas, nas farmácias e compramos, vendemos, trocamos e entramos mudos e saímos calados quanto ao evangelho. Essa mulher samaritana reprova nosso silêncio e nossa covardia.

A atitude de Jesus (4.31 -38) Aproveitando o fato de a mulher samaritana ter se ausentado, os discípulos rogam a Jesus: Rabi, come! Jesus aproveita o ensejo para ensinar a eles uma profunda lição, dizendo que a comida mais saborosa e mais necessária era fazer a vontade do Pai. Uma cidade estava vinda ao seu encontro, e eles deveriam entender que aquele era um momento de colheita para o reino de Deus. Nenhuma necessidade era mais urgente. Nenhuma atividade lhe dava mais prazer.

Os discípulos pensam que ele está falando sobre comida física, pois perguntam: Acaso alguém lhe trouxe o que comer?

Chamo a atenção para cinco verdades a seguir.

Em primeiro lugar, precisamos ter visão. Não dizeis vós faltarem ainda quatro meses para a colheita? Mas eu vos digo: Levantai os olhos e vede os campos já prontos para a colheita (4.35). Os discípulos eram míopes espirituais. Eles não tinham discernimento do momento que estavam vivendo. Jesus está dizendo: “Vocês acham que deve existir certo intervalo entre a semeadura e a colheita, mas eu lhes digo que acabei de semear a semente, e a colheita já está acontecendo (referindo-se ou à mulher samaritana ou ao povo de Sicar que estava se aproximando). Apesar da colheita de grãos estar ainda distante (quatro meses), a colheita de almas já poderia ser feita. Nós, também, precisamos ter visão: visão de que, sem Cristo, o ser humano está perdido. Visão de que as falsas religiões prosperam. Visão de que a ignorância não é um caminho para Deus. Visão de que a obra de Deus precisa ser realizada agora. Se perdermos a nossa geração, perderemos o tempo da nossa oportunidade. Concordo com D. A. Carson quando ele diz que a era escatológica raiou no ministério de Cristo, no qual a semeadura e a ceifa acontecem juntas na colheita do fruto.

Em segundo lugar, precisamos ter paixão. Disse-lhes Jesus: A minha comida é fazer a vontade daquele que me enviou e completar a sua obra (4.34). Faltava aos discípulos paixão pelas almas perdidas. Falta-nos também essa mesma paixão. Sem paixão seremos apáticos e lentos. Sem paixão, seremos omissos e covardes. Precisamos clamar como Paulo: E ai de mim, se não anunciar o evangelho! (ICo 9.16). Precisamos clamar como John Knox: “Dá-me a Escócia para Jesus, senão eu morro”.

Em terceiro lugar, precisamos ter compromisso (4.33). Uma lavoura madura não pode esperar para ser colhida. Ou é colhida imediatamente, ou a colheita é perdida. Sicar estava madura para ser colhida. A cidade estava a caminho, e não havia tempo a perder. Aquela não era hora de comer, mas de trabalhar e fazer a vontade do Pai. A evangelização não é um programa, mas um estilo de vida. Esse compromisso deve arder em nosso peito. Quando o presidente americano John Kennedy foi assassinado em Dallas, em 22 de novembro de 1963, dentro de seis horas a metade do mundo já sabia de sua morte. Jesus, o Filho de Deus, foi crucificado pelos nossos pecados há dois mil anos, e quase a metade do mundo ainda não ouviu essa maior notícia do mundo.

Em quarto lugar, precisamos ter parceria (4.36-38). Jesus falou a respeito do semeador e do ceifeiro. Um planta e o outro ceifa. Jesus havia semeado na vida da mulher samaritana, e os discípulos agora fariam uma colheita do que não haviam semeado. Jesus é o semeador por excelência; mais do que isto, ele é o grão de trigo que cai na terra e morre, para produzir fruto em abundância (12.24). Não há ceifa onde não há semeadura. Nem sempre aquele que semeia é o que ceifa. Tanto o que semeia como o que ceifa, entretanto, têm sua recompensa. Não há maior alegria de que levar uma pessoa a Cristo. Não há maior recompensa do que entesourar frutos para a vida eterna.

O semeador trabalha em antecipação do que está para vir; o ceifeiro nunca deve esquecer que a colheita que ele desfruta é fruto do trabalho de outro. Na ceifa do Senhor, não há competição; deve existir parceria: um planta, outro rega e outro ainda ceifa (ICo 3.6-9).

Em quinto lugar, precisamos ter a certeza da recompensa (4.36). O ceifeiro recebe desde já sua recompensa e entesoura seu fruto para a vida eterna. Quando um pecador se volta para Deus, deve haver alegria não apenas diante dos anjos no céu, mas também diante dos ceifeiros na terra. Quando esses ceifeiros chegarem ao céu, serão recebidos por aqueles que foram alcançados por intermédio de seu ministério (Lc 16.9).

A atitude dos samaritanos (4.39-42) Em resposta ao convite da mulher samaritana, muitos samaritanos foram encontrar-se com Cristo no poço de Jacó. O testemunho da mulher foi impactante, e o resultado foi notório.

Destacamos três fatos importantes nesse ponto.

Em primeiro lugar, a fé dos samaritanos. E muitos samaritanos daquela cidade creram nele, por causa da palavra da mulher, que testemunhava: Ele me disse tudo quanto tenho feito (4.39). A fé vem pelo ouvir a palavra de Cristo. Quando falamos a respeito de Cristo às pessoas, Deus concede a elas a fé salvadora. O milagre da salvação raiou na cidade samaritana, e muitos foram salvos.

Em segundo lugar, o pedido dos samaritanos. Então os samaritanos foram até ele e pediram-lhe que ficasse; e ele ficou ali dois dias (4.40). A barreira da inimizade entre judeus e samaritanos estava caindo. Aonde o evangelho chega, os preconceitos são vencidos. Jesus agora é convidado a permanecer com eles. Os samaritanos não querem apenas ver e ouvir. Querem também ter comunhão com Jesus.

Em terceiro lugar, o testemunho dos samaritanos. E muitos outros creram por causa da sua palavra. E diziam à mulher: Já não é pela tua palavra que cremos; pois agora nós mesmos temos ouvido e sabemos que este é verdadeiramente o Salvador do mundo (4.41,42). Os samaritanos não queriam ouvir apenas a mulher; queriam ouvir diretamente o Messias. E, ao ouvirem o Messias, muitos outros também abraçaram a fé. E todos testemunham que sua experiência pessoal com o Messias lhes deu a plena convicção de que ele verdadeiramente é o Salvador do mundo. Aqui cessa a ideia provinciana de um salvador tribal, de uma divindade regional. Jesus não é um salvador dentre outros; ele é o Salvador do mundo, e não há outro.

CONCLUSÃO

Neste texto de João, podemos ver o amor de Jesus, pelo pecador ao ir salvar a mulher pecadora de Samaria rompendo as barreiras. Mas também ele nos ensina que o pecador precisa se arrepender para ser salvo. Todos os que foram salvos precisam ser testemunhas do Senhor jesus e levar a mensagem do evangelho aos que estão perdidos, na certeza que no Senhor Jesus há salvação para todos os que o aceitam como como seu Senhor e Salvador, pois nele há perdão e graça para o mais vil pecador.

Adap. Pr. Eli Vieira

Referência Bibliográfica:

1- Wiersbe, Warren W. Comentário Bíblico Expositivo : Novo Testamento : volume I / Warren W. Wiersbe ; traduzido por Susana E. Klassen. – Santo André, SP : Geográfica editora, 2006.

2- Lopes, Hernandes Dias – João: As glórias do Filho de Deus / Hernandes Dias Lopes. — São Paulo:  Hagnos, 2015.

Setembro Amarelo: precisamos falar dos pastores que cuidam, mas não são cuidados

 


Listo 3 pontos que considero cruciais para entendermos o motivo pelo qual pastores estão, aparentemente, adoecendo mais emocionalmente, atualmente, do que no passado.

Ao longo desta semana, fiz uma série de publicações abordando o tema da saúde mental, e no texto de hoje não será diferente. O nosso foco aqui, porém, será os cuidados envolvendo àqueles que são responsáveis por algo que exige extrema responsabilidade, que é o ministério pastoral.

Temos visto nos últimos anos, infelizmente com certa frequência, casos de pastores que tiraram a própria vida. O nosso objetivo não é tratar deste assunto no âmbito bíblico-teológico, pois isso exigiria um artigo muito amplo que não convêm ao propósito deste momento.

Trataremos, sim, dos quesitos puramente humanos na lida com cargas emocionais e o psicológico. Sobre isto, listo abaixo três pontos que considero cruciais para entendermos melhor o motivo pelo qual pastores estão, aparentemente, adoecendo mais emocionalmente, atualmente, do que no passado.

Mudança de geração

Cada geração carrega consigo um conjunto de transformações, podendo ser elas boas ou ruins. Os pastores da geração atual, diferentemente de muitos anos atrás, estão tendo que enfrentar mudanças radicais na forma como a sociedade está lidando com temas sobre família, sexualidade, liberdade e religião.

O que antes, no passado, era ponto passivo, atualmente é ponto de discussão e até de acusações, podendo gerar punição contra os que continuam defendendo os valores bíblicos. Consequentemente, ser um pastor fiel à Palavra de Deus na geração de hoje exige um desgaste emocional muito grande, porque o próprio ambiente cultural, no qual a Igreja está inserida, vem lutando contra ela, não mais de forma setorizada, mas generalizada.

Quando esses desgastes não são tratados, a sensação pode ser de esgotamento, consequentemente frustração e outras que vão se acumulando ao longo do tempo, minando a saúde mental do líder.

Visão deturpada do pastorado

Outro ponto que merece muita atenção diz mais respeito à Igreja, porque é o modo como alguns de nós, cristãos, enxergamos a figura do pastor. Como líder, é natural que a gente espere de tais pessoas um bom exemplo de fé e conduta, pois a própria Bíblia diz que eles devem ser “irrepreensíveis”.

Contudo, a mesma Bíblia também nos mostra que grandes homens de fé, alguns tidos como “segundo o coração de Deus”, a exemplo de Davi, caíram em pecado, cometendo erros absurdos. O que isso nos ensina? Que eles, apesar de conhecedores da Palavra e íntimos do Senhor, estão sujeitos às mesmas tentações que nós.

É importante entendermos isso, porque muitos pastores não conseguem se perdoar quando cometem erros e, como resultado disso, carregam em seu emocional um sentimento de culpa não curado, muitas vezes alimentados por irmãos de fé, na igreja, que não os enxerga como dignos de perdão, mas sim condenação.

Nesses casos, devemos saber diferenciar o pastor apóstata daqueles que seguem a Cristo. O primeiro peca e não reconhece seu erro, segue pecando e leva outros a pecarem igualmente. O segundo, por outro lado, age como Davi, prostrando-se aos pés do Senhor, em arrependimento, indicando a sua restauração.

Com isso, não podemos deixar de enxergar a figura do pastor, também como a de um irmão na fé, sendo este alguém que, apesar da autoridade espiritual sobre nós, abaixo de Cristo, está sujeito a sentir as mesmas dores, temores e sofrimentos que afligem a nossa alma e o corpo. 

Solidão ministerial 

Por último, esse é um ponto central quando tratamos da saúde mental dos pastores, porque diz respeito a algo que muitos têm relatado, inclusive em pesquisas já realizadas, que é a solidão ministerial. Ou seja, líderes que trilham a jornada sozinhos, sem qualquer apoio externo.

Por solidão ministerial, aqui, me refiro à relação de pastores com outros pastores. E por que relação? Porque não se trata do mero contato institucional, formal, restrito ao ambiente eclesiástico e as suas atividades – o mais comum!

Se trata de uma relação de cuidado mútuo, onde pastores são pastoreados por outros pastores, sendo estes amigos de caminhada dentro e fora da Igreja, como em família, no campo de futebol ou na praça.

Infelizmente, isso ainda é um desafio para muitos, porque a figura do líder, na cabeça de alguns, faz com que eles sintam receio de compartilhar seus problemas, pois percebem isso como uma exposição de “fraquezas”, “dificuldades” ou “fracasso”, o que está errado.

Acontece que, é justamente por isso que o líder pastoral deve caminhar com outros líderes pastorais, porque isso os faz perceber que fraquezas e dificuldades fazem parte do ministério de todos, sendo a solidão uma condição extremamente perigosa para quem tenta liderar uma igreja de forma isolada.

Aos pastores, portanto, cuidem uns dos outros, como diz a Palavra, em “amor fraternal”.

À Igreja, cuidem dos pastores, também, como irmãos em Cristo, reconhecendo a sua autoridade e responsabilidades como líder, mas também a sua condição humana, onde as mesmas necessidades que nos afetam e exigem atenção, também afetam a eles.

Marisa Lobo é psicóloga, especialista em Direitos Humanos, presidente do movimento Pró-Mulher e autora dos livros “Por que as pessoas Mentem?”, “A Ideologia de Gênero na Educação” e “Famílias em Perigo”.

FONTE: GUIAME, MARISA LOBO

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